
Métodos de propagação e fatores que interferem na germinação das principais gramíneas nativas de Cerrado
3
Cad. Ciênc. Agrá., v. 12, p. 01–08, 2020. e-ISSN: 2447-6218 / ISSN: 1984-6738
Características gerais e principais gramíneas nativas
de Cerrado
As gramíneas (família: Poaceae) configuram uma
das maiores famílias de angiospermas com uma grande
importância ecológica e econômica devido à agricultura
e pecuária. São encontradas em praticamente todos os
habitats existentes, prevalecendo na vegetação terrestre,
cobrindo aproximadamente 30% da superfície emersa da
Terra. O hábito e os ciclos reprodutivos são caracterís-
ticas morfológicas destas plantas que contribuem para
o sucesso da família Poaceae, por exemplo: os meriste-
mas intercalares, bainhas protetoras nas folhas e colmos
conferem uma grande tolerância a ataque de insetos,
fogo e alagamento. Outras características como a vasta
distribuição espacial, ciclos reprodutivos relativamente
curtos, produção em massa de sementes e capacidade
de reproduzir assexuadamente são fatores dominan-
tes para o estabelecimento desta família de plantas. É
interessante ressaltar que as gramíneas são utilizadas
pelo homem desde a antiguidade, e atualmente além de
grande interesse econômico as gramíneas possuem alta
importância ecológica em comunidades naturais, sendo
relevante tanto na fixação e estruturação dos solos quanto
nas interações com a fauna silvestre (Hodkinson, 2018;
Silva; Haridasan, 2007).
Segundo estudo do Centro de Pesquisas Agro-
pecuária do Cerrado (CPAC), da Embrapa, mostrando a
detecção de espécies de gramíneas nativas mais selecio-
nadas por bovinos desde a década de 1980, as espécies
detectadas foram: Axonopus berbigerus (Kunth) Hitch, A.
marginatus (Trin) Chase, Digitaria Sacchariflora (Raddi)
Henr, Echinolaena inflexa (Poir) Chase (capim-flechinha),
Mesostum loliforme (Hotch) Chase, Paspalum erianthum
Ness (capim-branco) (Silva; Almeida, 1986). As principais
espécies de gramíneas nativas relatadas encontradas no
Cerrado são: Andropogon leucostachyus Kunth, Aristida
riparia Trin, Aristida recurvata Kunth, Aristida setifolia
Kunth, Aristida torta (Nees) Kunth, Axonopus barbigerus
(Kunth) Hitch., Axonpus brasiliensis Kuhlm., Ctenium cha-
padense (Trin.) Doell, Echinolaena inflexa (Poir.) Chase,
Gymnopogon spicatus (Spreng.) Kuntze, Paspalum cari-
natum Humb., Paspalum gardnerianum Nees, Paspalum
reduncum Nees, Paspalum stellatum Humb. e Bonpl. ex
Fluggé, Paspalum trachycoleon Steud., Schizachyrium
microstachyum (Ham.) Roseng, Thrasya glaziouvii AG
Burman e Tristachya leiostachya Nees (Barbosa et al.,
2016; Machado et al., 2013; Carmona et al., 1999).
Somente no Distrito Federal foram detectadas 132
espécies de gramíneas nativas, sendo 13 destacadas com
alto valor forrageiro, são elas: Actinocladum vericillarum,
Agenium goyazense, Arthropogon villosus, Axonopus aureus,
Axonopus chrysoblepharis, Axonopus marginarus, Achino-
laena inflexa, Mesosetum loliiforme, Paspalum erianthum,
Paspahum gardnerianum, Paspalum splendens, Setaria
geniculata e Schizachyrium tenerum. Sendo todas estas 13
espécies perenes, encontradas em habitats abertos (campo
sujo, campo limpo e brejo) e formações florestais (matas
e cerradão). Outras características interessantes são que
todas essas 13 espécies são resistentes ao fogo, porém
essa resistência não é igual para todas elas (Filgueira,
1992). Já na área do Quadrilátero Ferrífero, localizado
na porção sul da Serra do Espinhaço, sendo uma das
áreas mais ricas em biodiversidade e espécies endêmicas
do Estado de Minas Gerais (Brasil) as principais espé-
cies de gramíneas nativas encontradas são: Andropogon
bicornis, Andropogon leucostachyus, Apochloa euprepes,
Cyathea brownii, Echinolaena inflexa e Setaria parviflora
(Figueiredo et al., 2012).
Métodos de propagação de gramíneas nativas de
Cerrado
As duas principais formas de propagação de
gramíneas nativas de cerrado são propagação via semen-
tes e a propagação vegetativa. No entanto, existe uma
escassez de informações sobre a germinação de sementes
de gramíneas nativas do cerrado, provavelmente devido
ao sucesso da propagação vegetativa (Zaidan; Carreira,
2008). Algumas gramíneas nativas de Cerrado têm grande
potencial para serem usadas como vegetação pioneira
na recuperação de áreas degradadas, como as espécies:
Andropogon bicornis L., Andropogon leucostachyus Kunth,
Echinolaena inflexa (Poir.) Chase, Setaria parviflora (Poir.)
Kerguelen e Apochloa euprepes (Renvoize) Morrone & Zu-
loaga, que apresentam como características a morfologia
e fisiologia que lhes permitem sobreviver em ambientes
hostis, fazendo dessas espécies boas gramíneas para serem
utilizadas na reabilitação de áreas de Cerrado (Jacobi et
al., 2008). Outra espécie importante é a Cenchrus bro
-
wnii Roem & Schult que é uma erva nativa com ampla
distribuição nas regiões da América Central e América
do Sul, indicando uma boa capacidade de espalhamento
em ambientes perturbados (Figueiredo et al., 2012).
Propagação de sementes de gramíneas nativas de
Cerrado em laboratório e campo
Devido as limitações da propagação vegetativa
de gramíneas nativas, sempre que possível é preferível se
fazer a propagação por sementes. As espécies de gramí-
neas nativas apresentam várias vantagens em relação a
outras espécies introduzidas, como rapidez de desenvol-
vimento, manutenção da flora e fauna nativas e grande
adaptação às condições edafoclimáticas locais. Devido
a rápida expansão da agricultura no Cerrado, existe um
grande risco de extinção de várias espécies de gramíneas
nativas levando a necessidade da conservação desse
germoplasma. Com isso estudos sobre as características
das sementes de gramíneas nativas são de grande rele-
vância, ajudando a entender suas respostas funcionais
às condições ambientais, como também para manejar
as diferentes espécies com vistas à sua manutenção e
eventual eliminação do pasto nativo (Kolb et al., 2016;
Carmona et al., 1999).
A propagação de espécies de gramíneas nativas de
cerrado: Andropogon bicornis L., Andropogon leucostachyus