
Ferreira, E. B.; de Paula, I. Q.
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Cad. Ciênc. Agrá., v. 11, p. 01–08, 2019. e-ISSN: 2447-6218 / ISSN: 1984-6738
Introdução
A qualidade de alimentos tem sido um fator
importante nos últimos anos. Os consumidores estão se
tornando cada vez mais exigentes, críticos e fragmenta-
dos quando se trata da escolha de alimentos, o que leva
a situações em que se faz necessário produzir alimentos
com um diferencial na qualidade (Grunert, 2005).
A análise sensorial é uma ciência que envolve
a avaliação de atributos organolépticos de um produto
através dos sentidos, segundo a ISO 5492 (2008). No setor
alimentício, a análise sensorial tem grande importância
na avaliação da aceitabilidade no mercado e qualidade
do produto, sendo imprescindível para o controle de
qualidade industrial (Teixeira, 2009).
Para se obter resultados adequados, é importante
selecionar uma equipe de pessoas, denominadas juízes
ou degustadores, que é responsável por avaliar sensorial-
mente um produto e constitui o painel de análise sensorial
(Teixeira, 2009). Os painéis desempenham um papel
importante na ciência sensorial, que está intimamente
ligada à sensometria. Enquanto a ciência sensorial lida
com a percepção humana dos estímulos e a maneira como
eles atuam, a sensometria é o campo da Estatística que
analisa dados dessa ciência (Brockhoff, 2011). A Estatís-
tica pode ser aplicada de diversas formas, para averiguar
se há diferença significativa entre tratamentos como foi
realizada por Pretto et al. (2017) em filés de grumatã
com diferentes períodos de depuração e como foi reali-
zado por Farias et al. (2016) em análise da viabilidade
de bactérias lácticas por meio da estatística descritiva e
análise de modelos.
A seleção e treinamento de juízes, com habili
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dades discriminativas, são etapas que permitem formar
painéis pequenos e bem eficientes. O treinamento desen-
volve a memória e sensibilidade de um indivíduo a fim
de se obter medidas sensoriais consistentes, precisas e
padronizadas. Sendo assim, membros do painel devem
ser treinados de forma a desenvolver e estabelecer um
vocabulário descritivo em conotação com o que for pre-
viamente estabelecido, desconsiderando suas preferências
pessoais (Poste et al., 1991).
Para averiguar a habilidade discriminativa, utili-
za-se bastante o teste triangular na seleção de provadores,
em que se aplica uma série de ensaios para calcular a
porcentagem correta de identificação das amostras dife-
rentes. Além disso, esse teste pode ser empregado para
avaliar se há alteração perceptível entre duas amostras
submetidas a processamentos diferentes ou que passa-
ram por alguma substituição de ingrediente (Poste et al.,
1991). Portanto, além de ser relevante ao processo de
seleção, o teste triangular tem aplicação no controle de
qualidade.
Na seleção de provadores, há uma discussão a
respeito dos critérios a serem utilizados (Alvelos, 2002).
Os critérios são bem diversificados, podendo variar a
porcentagem requerida para seleção, bem como o núme-
ro de repetições do teste triangular. Diante da enorme
importância dessas etapas, o teste estatístico empregado
para decidir se o candidato deve ou não passar para
a fase de treinamento deve apresentar características
ótimas de erro tipo I e poder. Ou seja, deve ser capaz de
recusar candidatos com pouca habilidade discriminativa
e acolher candidatos habilidosos.
Sabe-se que a matemática envolvida na estima-
ção intervalar e no teste de hipóteses está intimamente
relacionada. Ambas são grandes áreas da inferência es-
tatística, em que é possível desenvolver métodos para
testar hipóteses e aplicá-los em alguns problemas. Con-
comitantemente, a obtenção de estimadores intervalares
fornece uma ideia de qual seria um ótimo intervalo. A
estimação e decisão levam a uma afirmação sobre os
parâmetros (Mood et al., 1974).
Sendo assim, a transformação de um estimador
intervalar em teste é bastante corriqueira. No entanto,
deseja-se estudar possíveis testes que permitam selecio-
nar provadores de forma que sejam cometidas menores
taxas de erros, a fim de recomendar o melhor. Então,
este trabalho tem como objetivo, reescrever estimado-
res intervalares como testes, adaptados a seleção de
provadores em testes triangulares, e compará-los por
desempenho (erro tipo I e poder), elegendo assim o de
melhor desempenho a fim de recomendá-lo.
Material e métodos
Estabelecimento dos testes
Como o interesse do presente trabalho é a com-
paração de testes de hipóteses acerca da proporção de
acertos, faz-se necessário reescrever convenientemente
alguns estimadores intervalares em pontos críticos ao
longo do número de ensaios (n). Os testes foram obti-
dos a partir de três estimadores intervalares da Normal,
denominados TN1, TN2 e TN3; um da Distribuição F
denominado TF; um do teste Sequencial ou TS; um da
aproximação da Poisson, utilizando o quantil χ
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, chamado
TP. Os estimadores intervalares para o parâmetro p de
uma binomial, utilizados na obtenção desses testes, foram
provenientes de Ferreira (2005) e o teste sequencial de
Shirose e Mori, (1996).
Também, deve-se levar em consideração que,
na utilização desses testes, assume-se que as variáveis
aleatórias são independentes em cada ensaio e possuem
probabilidade constante de ocorrência de acerto ou fra-
casso. Pois, a distribuição Binomial se trata de n ensaios
independentes de Bernoulli com p constante (Mood et
al., 1974).