Produção da piscicultura de espécies nativas da Amazônia em Rondônia
Ricardo Gomes de Araújo Pereira
1
Resumo
Este estudo teve como objetivo analisar a piscicultura do estado de Rondônia, procurando descrever a sua situação atual
destacando a produção no setor e seu potencial. O estado de Rondônia tem apresentado uma produção de pes- cado altamente
significativa levando-se em consideração que a cultura vem sendo implantada nos últimos 30 anos. Rondônia é o maior
produtor de peixe em cativeiro do Brasil sendo ainda o maior produtor das espécies tambaqui (Colossoma macropomum,
Cuvier, 1818), e pirarucu (Arapaima gigasem). Para a realização desta pesquisa utilizou-se a técnica de coleta de dados de
documentação indireta voltada para a pesquisa de dados secundários, consultando e analisando diversos bancos de dados
disponibilizados principalmente pela Agência de Defesa Sanitária Agrosilvo- pastoril do Estado de Rondônia-IDARON. A
produção total em 2017 foi de 153.540 t., sendo esta produção 63.383 t., oriunda de propriedades com menos de 5 ha., de
lâmina d’água e 90.157 t., vindas de produtores com mais de 5 ha. Esta produção é oriunda de 35.580 e 4.157 propriedades
respectivamente. O estado de Rondônia apresenta potencial para dobrar sua produção levando-se em consideração os
investimentos realizados em propriedades que o produtor não comercializa a produção
Palavras-chaves:
Tambaqui. Pirarucu. Pescado Nativo.
Production of fish farming of native Amazonian species in Rondônia
Abstract
The aim of this study is to analyze fish farming in the state of Rondônia, seeking to describe its current situation, highlighting
production in the sector and your potential. The state of Rondônia has presented a highly significant fish production taking
into consideration that the culture has been implanted in the last thirty years. Rondônia is the largest captive fish producer in
Brazil and still the largest producer of tambaqui species (Colossoma macropomum, Cuvier, 1818), and pirarucu (Arapaima
gigasem). For the accomplishment of this research it was used the technique of data collection of indirect documentation
directed to the search of secondary data, consulting and analyzing several databases made available mainly by the
Agrosilvopastoril Sanitary Defense Agency of the State of Rondônia-IDARON. Total production in 2017 was 153,540T. This
production is 63,383T., Coming from properties with less than 5 ha., From water slide and 90,157T., coming from producers
with more than 5 ha. This production comes from 35,580 and 4,157 properties respectively. The state of Rondônia has the
potential to double its production considering the investments already made in properties that the producer does not sell the
production.
Keywords:
Tambaqui. Pirarucu. Fish Native.
Recebido para publicação em 01 de novembro de 2019. Aceito para publicação em 05 de janeiro de 2020.
e-ISSN: 2447-6218 /
ISSN: 2447-6218. Atribuição CC BY.
CADERNO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
Agrarian Sciences Journal
2
Pereira, R. G. A.
Introdão
O Brasil tem 7.491 quilômetros de extensão
litorânea, sendo o quinto país do mundo em extensão
territorial, com 8.514.876 km
2
. O país importou no ano de
2017,
374.290 t. de peixe e exportou 34.583 t., ANUAL- PEC
(2018). O país ainda se destaca por possuir 12% do total de
reserva de água doce do planeta (Agência Nacional das
Águas 2019), concentrada principalmente na região
Amazônica. Com relação ao consumo, pela primeira vez, a
marca de 20 kg/hab/ano. No Brasil, o consumo foi de 9,6
kg/ano em 2015. (FAO, 2019). No país a tendência é de
aumento no consumo, entretanto a oferta de peixe em
cativeiro é reduzida principalmente para a população de
baixa renda.
se destaca a capacidade do produtor em investir nesta
cadeia produtiva. Estes investimentos têm interferido
diretamente na vida da população rondoniense. Em 2011,
o
Estado produziu 39.700 t. de tambaqui e 1.300 t. de
pirarucu
(SEBRAE AGRONEGÓCIOS, 2014). A comercia-
lização
dessa produção representou um faturamento de R$ 160
milhões para o setor, sendo Manaus o principal
mercado
consumidor. Segundo dados do IBGE. Em 2014
foram
produzidas 71.000 t., em 11,9 mil há, de lâmina d’água
representando 78% de aumento em relação ao ano de 2010 .
Trabalhando com produtores de tambaqui em
propriedades familiares onde cerca de 84% dos empreen-
dimentos visitados possuíam menos de 5 de lâmina
d’água Meante e Dória (2017) observaram uma produção
média de 7,8 t/há em sistema semi intensivo.
Há poucas décadas achava-se que muitas espé- cies
de peixes estariam fadadas a extinção porque não se
dominava a tecnologia de criação e principalmente
reprodução em cativeiro. As espécies nativas eram as mais
ameaçadas sendo reduzido o tamanho e peso para
o abate.
Com o desenvolvimento de tecnologias nas áreas
de
reprodução e criação, mudou o cenário e o produtor de
peixes em Rondônia investiu para que se tenha hoje o
Estado
como referencia nacional na produção de pescado nativo da
região Amazônica. Com o aumento da população na região,
principalmente com a zona franca de Manaus e nas capitais
como: Belém-PA, Porto Velho-RO e Rio Branco (AC), as
reservas de pescado, principalmente tambaqui e pirarucu,
foram reduzindo a números que comprometiam
as espécies
citadas. As técnicas de produção de alevinos em laboratórios
e a criação dessas espécies em cativeiro
possibilitou preservar
a produção nas bacias hidrográficas
e aumentar
significativamente a oferta de pescado para toda a Região
Norte, outros estados da federação e para exportação.
Segundo Silva e Araujo (2017) a piscicultura em
Rondônia ainda depende de fatores como a limitada
capacidade de processamento, os elevados custos de
produção e as limitações zootécnicas onde problemas de
sanidade têm causado prejuízos zootécnicos e econômicos.
Este estudo teve como objetivo analisar a pisci-
cultura do estado de Rondônia, procurando descrever a sua
situação atual destacando a produção no setor e seu potencial.
Material e métodos
Para a realização desta pesquisa utilizou-se a
técnica de coleta de dados de documentação indireta
voltada
para a pesquisa de dados secundários, consultando
e analisando
diversos bancos de dados disponibilizados
principalmente
pela Agência de Defesa Sanitária Agrosil- vopastoril do Estado
de Rondônia-IDARON. Os dados são
fornecidos pelo
IDARON que possui cadastro individual de cada
propriedade com visita dos técnicos onde são tabulados os
dados de produção e comercialização. A cada venda é
emitido guia de transporte animal (GTA) e o controle da
produção se da por este documento. A
lâmina de água por
hectare é informada por cada produ-
tor além da quantidade
de peixe e a espécie. Com estas informações é possível
avaliar-se os dados utilizados neste trabalho.
O estado de Rondônia tem apresentado uma pro-
dução de pescado altamente significativa, principalmente
levando-se em consideração que a cultura vem sendo
implantada nos últimos 30 anos. Atualmente, o Estado é o
maior produtor de peixe em cativeiro do Brasil sendo ainda o
maior produtor da espécie tambaqui (Colossoma
macropomum, Cuvier, 1818), e pirarucu (Arapaima giga-
sem)
em tanque escavado, tendo como principais polos o Vale do
Jamari e a Região Central do Estado de acordo com o
(Anuário Peixe BR da Piscicultura, 2019).
A bacia hidrográfica do estado de Rondônia tem uma
significativa contribuição no contexto da Bacia Ama- zônica e
está inserida numa área fluvial com extensão de
1.500 km, com destaque para os rios Madeira, Mamoré,
Guaporé e seus principais afluentes, constituindo-se, as-
sim,
em uma região possuidora de um excelente manancial hídrico,
com grande potencial de recursos naturais aptos
para serem
explorados racionalmente.
Segundo a classificação de Koppen, o estado de
Rondônia apresenta clima tropical chuvoso, do tipo Aw,
Clima Tropical Chuvoso que se caracteriza por total pluvio-
métrico anual e moderado período de estiagem. O Estado
possui uma área de 237.765,233 km² e uma população de
1.757.589 pessoas, distribuídos em 52 municípios. O clima
de Rondônia caracteriza-se por apresentar uma
homogeneidade espacial e sazonal da temperatura média do ar.
Estando sob a influência do clima tropical chuvoso,
a média
anual da precipitação pluvial varia entre 1400 e 2600
milímetros ao ano e mais de 90% desta ocorre na
A produção de peixe em Rondônia mudou o
cenário das propriedades rurais e vem cada vez mais
interferindo na oferta de um pescado de qualidade onde
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Produção da piscicultura de espécies nativas da Amazônia em Rondônia
estação chuvosa. A média anual da temperatura do ar gira
em torno de 24°C e 26°C, com temperatura máxima entre
30°C e 35°C, e mínima entre 16°C e 24°C. A média anual da
umidade relativa do ar varia de 80% a 90% no verão, e em
torno de 75%, no outono e no inverno. O período chuvoso
ocorre entre os meses de outubro e abril, e o período seco
entre maio e agosto. A insolação é de aproximadamente 1770
h e a evaporação está acima de 750mm.
produzidas em cativeiro em Rondônia, produção de pei- xes,
lâmina d’água em ha e número de produtores que
comercializam ou não sua produção. Rondônia possui um
numero total de 7.258 produtores perfazendo uma lâmina
d’água de 9.301 ha., sendo que 1.636 produtores com lâmina
de 5.516 ha., que respondem por 59,31% comercializam sua
produção enquanto 5.622 produto- res com lâmina de 3.785
ha., respondem por 40,69% não comercializam sua
produção quantidade total é de 26,513 milhões de peixes
sendo 78,37% para os que
comercializam e 21,13% para os
que não comercializam.
As espécies mais produzidas são o
tambaqui com uma lâmina d’água de 6.789 ha., pintado
surubim e cachara
1.293 ha., tilápia 778 ha., pirarucu 726 ha., e jatuarana 318
ha.
Resultados e discussão
Analisando dados fornecidos pela Agência de De-
fesa Agrosilvopastoril do Estado de Rondônia (IDARON)
declarados pelos piscicultores no período 15/10/17 a
15/11/17. A Figura 1 apresenta as principais espécies
Figura 1
Principais espécies produzidas em cativeiro em Rondônia
Fonte: IDARON (2018).
A produção total em 2017 foi de 153.540 t., sendo
esta produção 63.383 t., oriunda de propriedades
com menos
de 5 ha., de lamina d’água e 90.157 t., vindas
de produtores
com mais de 5 ha, (Pereira et al., 2019). Essas produções
estão de acordo com as observadas por Silva e Araujo (2017)
e Meante e Dória (2017).
sucessivamente o que garante uma elevação na produção
de
pescado e maior capacidade de exportação. Provavel-
mente o
fato dos empreendimentos estarem concentrados
em duas
regiões produtoras uma na região central e a outra no Vale
do Jamari tenha sido um facilitador para o desenvolvimento
da piscicultura.
As exportações de peixe produzido em Rondônia
tiveram início em 2017 com destino ao Vietnã, segundo
dados do ComexStat. Em 2019, de janeiro a junho foram
exportados mais de 259 toneladas de peixe para o Peru,
Bolívia. Além da exportação que se inicia no estado,
Rondônia vem abastecendo os estados do Pará, Distrito
Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Tocantins,
Rio de Janeiro e Acre tendo como principal
parceiro o estado
do Amazonas, (Figura 2). Essa tendência
de aumento das
exportações, puxada pelo câmbio favo-
rável, mas também
pela maior demanda internacional de alimentos e,
particularmente, pelo aumento do consumo
foi observada por
Schulter e Vieira Filho (2017).
A implantação da cadeia produtiva no estado
intensificou o uso de rações comerciais com a implan- tação
de fábricas, priorização de espécies autóctones da Amazônia,
uso intensivo de equipamentos nos sistemas de criação,
abertura de mercados internos e externos e aumento de
emprego e renda.
Conclusões
A piscicultura em Rondônia é destaque nacional
na
produção de peixe em cativeiro tendo garantido em-
prego e
renda para os produtores do Estado e a população
em geral ao
longo de toda sua cadeia produtiva.
O estado de Rondônia apresenta potencial para
dobrar sua produção levando-se em consideração as
condições edafoclimáticas, os investimentos realizados
em
propriedades onde o produtor não comercializa a produção.
Nos últimos três anos segundo dados da Secreta- ria
de Estado de Desenvolvimento Ambiental (Sedam), a área total
destinada a piscicultura no estado de Rondônia
cresceu 8,63%,
(SEAGRI, 2019). Este aumento de áreas
alagadas onde são
produzidos os pescados tem acontecido
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Pereira, R. G. A.
Figura 2 Destinos da venda de pescado para os estados no ano de 2018
UF
Destino
%GT
A
Abate
Kg Peixe
AC
A
M
AP
BA
DF
GO
M
A
MS
PA
RO
RJ
SP
TO
19
580
2
10
140
126
13
44
154
766
1
35
1
1,0%
30,7%
0,1%
0,5%
7,4%
6,7%
0,7%
2,3%
8,1%
40,5%
0,1%
1,9%
0,1%
175.200
7.034.916
23.000
81.000
1.520.158
1.112.618
87.120
316.266
1.479.130
4.904.215
12.000
311.315
4.700
1,0%
41,2%
0,1%
0,5%
8,9%
6,5%
0,5%
1,9%
8,7%
28,7%
0,1%
1,8%
0,0%
TOTA
L
1891
100,0%
17.061.638
100,0%
Fonte: IDARON (2018)
A produção de peixe em Rondônia mudou o
cenário das propriedades rurais e intensificou o uso de
rações comerciais com a implantação de fábricas, priori-
zação de espécies autóctones da Amazônia, uso intensivo
de equipamentos nos sistemas de criação, abertura de
mercados internos e externos e aumento de emprego e
renda.
Referências
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