CADERNO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
Agrarian Sciences Journal
Acupressão e musicoterapia em equino com distúrbios comportamentais - Relato de Caso
Isabella Isis Rodrigues Vianna
1
, Paula Oliveira Duarte
2
, Raquel Athanasio
3
, Daira Darlen Malta Neri de Melo
4
,
Luiza Oliveira Teixeira
5
, Laura Castro Silva
6
, Luis David Solis-Murgas
7*
Resumo
O objetivo com este relato de caso é mostrar as respostas comportamentais e fisiológicas em equinos sob tratamento
integrativo com acupressão e musicoterapia. O relato de caso foi realizado na escola Pegasus Equitação localizada no
município de Lavras-MG. Um animal foi selecionado por apresentar comportamentos estereotipados mais intensos,
como medos excessivos e não aceitar a montaria, derrubando amazonas e cavaleiros. Este animal demonstrava medo
excessivo de outros animais, barulhos e lonas. Os acupontos utilizados neste estudo (Yin Tang, VB 21, BE 21, BE 22,
BE 23, P 1, VC 17, C 7, PC 6, PC 7, VC 4 e VC 6) foram escolhidos por atuar sobre o estresse, medo, desvios compor-
tamentais e ansiedade. Todos os pontos foram estimulados em ambos os flancos. Além das sessões com os pontos de
acupressão, também foi incluída a musicoterapia com música clássica a partir da segunda sessão, com o objetivo de
auxiliar no relaxamento do animal. Ao início das sessões o animal apresentava constantes quadros de irritabilidade
como abaixamento de orelhas e tensão muscular os quais foram diminuindo no decorrer do tratamento. Ademais,
foi perceptível o aumento de práticas comportamentais que indicam tranquilidade e diminuição da ansiedade do
paciente, como abaixamento de pescoço e fechamento dos olhos durante as sessões. Observou-se que na maior parte
do período as frequências cardíaca e respiratória se apresentaram menores após as sessões realizadas. A proprietária
do animal observou uma melhora comportamental em situações que antes eram consideradas inquietantes, estando
o animal mais tranquilo a cada dia, não ocorrendo mais episódios de derrubar os cavaleiros e amazonas durante a
montaria. Por conseguinte, afirma-se que os tratamentos realizados no animal apresentaram eficácia quanto à redução
do estado de ansiedade do animal.
Palavras-chave: Cavalos. Ansiedade. Stresse.
Acupressure and music therapy in a horse with behavioral disorders - Case
Report
Abstract
The aim of this case report was to show the behavioral and physiological responses in horses under integrative
treatment with acupressure and music therapy. The case report was conducted at Escola Pegasus Equitação located in
Lavras-MG. One animal was selected for exhibiting more intense stereotyped behaviors, such as excessive fears and
not accept to be mounted, knocking down riders. This animal showed excessive fear of other animals, noises and
tarps. The acupoints used in this study (Yin Tang, VB 21, BE 21, BE 22, BE 23, P 1, VC 17, C 7, PC 6, PC 7, VC 4 e VC
1
Universidade Federal de Lavras. Curso de Medicina Veterinária. Lavras, MG. Brasil.
http://orcid.org/0000-0001-9333-7857
2
Universidade Federal de Lavras. Curso de Medicina Veterinária. Lavras, MG. Brasil.
http://orcid.org/0000-0002-2166-7096
3
Universidade Federal de Lavras. Curso de Medicina Veterinária. Lavras, MG. Brasil.
http://orcid.org/0000-0003-3109-767X
4
Universidade Federal de Lavras. Curso de Medicina Veterinária. Lavras, MG. Brasil.
http://orcid.org/0000-0002-2171-0920
5
Universidade Federal de Lavras. Curso de Medicina Veterinária. Lavras, MG. Brasil.
http://orcid.org/0000-0003-3887-2835
6
Universidade Federal de Lavras. Curso de Medicina Veterinária. Lavras, MG. Brasil.
http://orcid.org/0000-0002-8600-2204
7
Universidade Federal de Lavras. Curso de Medicina Veterinária. Lavras, MG. Brasil.
http://orcid.org/0000-0002-0066-7505
*Autor para correspondência. lsmurgas@ufla.br
Recebido para publicação em 02 de novembro de 2019. Aceito para publicação em 06 de dezembro de 2019.
e-ISSN: 2447-6218 / ISSN: 2447-6218 / © 2009, Universidade Federal de Minas Gerais, Todos os direitos reservados.
Vianna, I. I. R. et al.
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6) were chosen for their performance on stress, fear, behavioral deviations and anxiety. All points were stimulated
on both flanks of the animal. In addition to the sessions with acupressure points, music therapy with classical music
from the second acupressure session was also included, with the purpose of assisting the relaxation of the animal. At
the beginning of the sessions, the animal presented constant irritability, such as lowering of ears and muscle tension,
which decreased during treatment. In addition, it was noticeable the increase in behavioral practices that indicate
tranquility and decreased anxiety of the patient, such as lowering the neck and closing the eyes during the sessions.
It was observed that during most of the period the heart rate and respiratory rate decreased after the sessions. The
owner of the animal observed a behavioral improvement in situations that were previously considered unsettling,
being the animal calmer every day, no longer running episodes of knocking down riders. It is therefore stated that
the treatments performed on the animal were effective in reducing the anxiety state.
Keywords: Equine. Anxiety. Stress.
Introdução
Para que o animal seja dócil e hígido é importante
se atentar ao bem-estar, que pode ser avaliado desde
ruim até muito bom. Esse conceito implica nas tentativas
do indivíduo de se adaptar e relacionar ao ambiente no
qual está inserido (Gontijo, 2010). Os sinais do bem-estar
podem ser avaliados no animal por meio de variáveis
fisiológicas como frequência cardíaca (FC) e respiratória
(FR), e análise do comportamento individual e da espécie
(Gontijo, 2010).
Em relação à espécie, o comportamento dos
equinos deriva da busca por sobrevivência e adaptação
em meio selvagem como campos e pradarias de onde
esses animais são originados. Essas ações garantem a
integridade do indivíduo e do rebanho, além de permitir
que haja reprodução, fuga de predadores, segurança para
os potros e pastejo em locais propícios (Konieczniak et
al. 2014).
Os cavalos livres passavam a maior parte do
tempo em pastejo e convivendo dentro de grupo definido,
por serem animais gregários. Para a convivência, uma
hierarquia que coloca o macho em atividade reprodutiva
em papel de dominante, responsável por proteger o re-
banho de ataques de predadores, e a fêmea mais velha,
com a função de liderar as atividades diárias (Mcdonnell,
2016; Sackman e Houpt, 2019). Com a domesticação
desses animais, muitas vezes o comportamento natural
da espécie e o critério de organização do grupo não po-
dem ser plenamente exercidos, ocasionando problemas
comportamentais e estereotipias (Gontijo, 2010). Para
contrabalancear essas questões comportamentais, pode-
-se utilizar diversas técnicas que abrangem as práticas
da medicina veterinária integrativa, como nesse caso, a
acupressão e musicoterapia.
A técnica de acupressão é baseada na medicina
tradicional chinesa, sendo considerada integrante da
prática de acupuntura. É estudado e demonstrado po-
tencial terapêutico em diversas condições e doenças de
seres humanos e animais ao longo dos anos. Por ser não
invasiva, o uso da técnica cresce na medicina veterinária
em diversos âmbitos e espécies animais.
A acupressão utiliza da pressão aplicada ao longo
dos acupontos existentes nos meridianos como forma de
estímulo. Esses são conhecidos como os canais nos quais o
Qi, ou seja, a energia vital circula. Para a completa saúde
do indivíduo, a energia circulante deve estar em pleno
equilíbrio. Estimular os meridianos corretos corrige o
desequilíbrio energético e produz melhora no problema
apresentado pelo paciente. O reequilíbrio possui função
terapêutica, melhorando as funções fisiológicas do orga-
nismo (Mehta et al. 2017).
Segundo a literatura, o estímulo dos diversos tipos
de acupuntura é capaz de atuar nos “portões” neurais
com efeito de fortalecer o limiar de dor ou diminuir a
percepção. Além da dor, a acupressão age sobre o estres-
se, angústia, medo e depressão, além de proporcionar
relaxamento e serenidade para o paciente. Sendo assim,
a acupressão é não farmacológica e não invasiva, com
múltiplos benefícios a serem explorados e usados nos
animais (Mehta et al. 2017).
Outra forma de relaxamento induzido em equinos
sob condições de medo ou estresse é a musicoterapia. Essa
técnica vem sendo estudada como recurso para enrique-
cimento ambiental, remanso e aumento da produção de
animais, com atuação na diminuição do estresse durante
o manejo. O manejo incorreto e a falta de bem-estar
animal são indicadores de problemas psicogênicos e
uma das causas de estereotipias em animais estabulados,
aumentando os níveis de estresse considerados toleráveis
para a espécie (Albuquerque, 2018).
Os animais são dotados de senciência, ou seja,
percebem, interagem e são influenciados pelo meio ao
qual estão inseridos. Possuem também a capacidade de
experimentar sensações de forma consciente. Sendo as-
sim, são capazes de perceber e serem influenciados por
ruídos e melodias presentes no ambiente (Calamita et al.
2016).
A música pode alterar de forma positiva o bem-es-
tar e qualidade de vida, com capacidade de proporcionar
conforto, tranquilidade e relaxamento, parâmetros que po-
dem ser avaliados nos indivíduos através da mensuração
do cortisol, frequência cardíaca, frequência respiratória
e pressão arterial. Contudo, o tipo de melodia deve ser
escolhido com cuidado (Calamita et al. 2016). Estudos
realizados com cães e ratos de laboratório demonstraram
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que a música clássica causou efeitos positivos no com-
portamento e bem-estar animal, enquanto os gêneros
musicais rock e heavy metal aumentaram a agitação,
vocalização e comportamento agressivo. Quando se trata
de equinos, a música clássica, jazz ou rock não foram
significantes nos efeitos relaxantes, sobressaindo o efeito
benéfico da música country. Porém, poucos estudos têm
sido conduzidos para se determinar a preferência musical
de equídeos (Dhungana et al. 2018).
Em equinos utilizados para a corrida e submetidos
a sessões de musicoterapia observou-se a música como
ferramenta capaz de causar alterações neuronais e esti-
mular a predominância do sistema parassimpático sobre
o simpático, medido por alteração na frequência cardíaca
com esta menor no grupo experimental comparado com
o controle. A partir desse dado, os autores chegaram
à conclusão de que o sistema nervoso parassimpático
suprimiu a excitação emocional dos cavalos de corrida
(Stachurska et al. 2015).
Em outro estudo realizado por Wi`sniewska, et al.
(2019), foram avaliados 20 equinos geriatras, com idade
de vinte anos ou mais sofrendo de degeneração da coluna
espinhal e sem receber qualquer tipo de analgésico. Os
resultados apresentaram diferenças significativas do grupo
experimental e controle com redução da excitabilidade
dos equinos geriátricos submetidos à musicoterapia.
Sendo assim, nota-se o estímulo positivo não
invasivo e não farmacológico da música como desen-
cadeador da redução do estresse em diversas espécies
animais, como os equinos. Tanto a acupressão como a
musicoterapia são técnicas promotoras de efeitos positivos
sobre o bem-estar dos animais, sendo métodos viáveis e
acessíveis. Os efeitos positivos sobre o bem-estar animal
e estresse justificam a aplicação em equinos com diversos
tipos de desvios comportamentais.
Objetivos
O objetivo com este estudo foi verificar as res-
postas comportamentais e fisiológicas em um equino sob
tratamento integrativo com acupressão e musicoterapia.
Metodologia
Local do estudo e preceitos éticos: este relato
foi realizado na Escola Pegasus Equitação, localizada no
município de Lavras-MG-Brasil. Todos os procedimentos
foram realizados seguindo os preceitos de bem-estar
animal e comportamento ético do médico veterinário de
acordo com a Resolução 1138 do CFMV (2016), tendo
um médico veterinário inscrito no CFMV responsável por
todo o procedimento descrito neste relato.
Critérios para inclusão de animais na pesquisa: O
cavalo selecionado apresentava estereotipias de natureza
diversa, como derrubar cavaleiros e amazonas durante
a montaria e realizar comportamento conhecido como
“dança do urso” – consiste em andar de um lado para o
outro dentro da baia –, além da manifestação de medos
excessivos.
Avaliação clínica: O animal foi avaliado clini-
camente por médica veterinária especialista em clínica
de equinos. Realizou-se o exame físico completo com
avaliação dos parâmetros vitais e coleta sanguínea para
análise de hemograma. Após comprovada a saúde física
integral do paciente, o tratamento foi iniciado.
Sessões de Acupressão: foram realizadas duas
vezes na semana, sempre nos mesmos dias (segunda e
quinta-feira) e em horários de manhã e tarde. Todas as
sessões foram realizadas em local distante da área onde
o animal é colocado para treinar no intuito de evitar a
presença de outros animais, pessoas ou ruídos externos.
A abordagem ao animal foi cautelosa, sendo feita
por grupos de duas pessoas em cada dia da semana e
com cautela para que não fosse de maneira imponente,
altiva ou brusca. O aplicador da técnica realizou alguns
exercícios antes de cada sessão com o objetivo de relaxar
a si próprio e integrar as emoções positivas com as do
cavalo como sugerido por Gösmeier (2016). A seguir são
descritos, em ordem, os exercícios realizados:
•
Permanecer em posição estática e relaxar os
músculos, com respiração calma e lenta. Inspi-
rar profundamente de uma a cinco vezes. Essa
técnica ajuda a reunir a energia. Concomitante
à respiração, pressiona-se a mão delicadamente
pouco acima da linha média do umbigo.
•
Esfregar as mãos para gerar calor, usando a mão
esquerda para aquecer o dorso da mão direita.
Para distribuir o calor, o inverso foi realizado.
Esse procedimento ativa a energia e o Qi.
•
Inicia-se no pulso esquerdo, com utilização do
punho direito para bater suavemente o interior
do braço esquerdo, trabalhando em direção ao
ombro esquerdo. Esta prática ativa os meridianos
yin dos pulmões, coração e pericárdio.
•
Na altura do ombro, move-se o punho para fora e
faz-se movimentos suaves para voltar pelo braço
até o pulso. Este exercício estimula os meridianos
yang dos intestinos delgado e grosso e o triplo
aquecedor. O mesmo procedimento também foi
realizado no lado oposto.
Abordagem ao animal
Este tipo de abordagem foi sugerida por Gös-
meier, (2016). Primeiramente permite-se o primeiro
contato físico com o animal deixando-o cheirar as mãos
do aplicador. A seguir, acaricia-se o pescoço, o dorso e
a garupa. Somente quando o cavalo demonstrou estar
Vianna, I. I. R. et al.
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confiante e livre de medo ou estresse a sessão de acu-
pressão foi iniciada.
Os acupontos e suas localizações anatômicas
utilizados, foram sugeridos por Xie e Preast (2006). A
escolha considerou a atuação sobre o estresse, medo,
desvios comportamentais e ansiedade. Todos os pontos
foram estimulados em ambos os flancos do animal, em
ordem sequencial:
Yin Tang: Proporciona estado geral de calmaria.
A acupressão foi iniciada por este ponto.
VB 21: Esse meridiano (vesícula biliar) regula
emoção e energia, sendo conhecido como o me-
ridiano da decisão e julgamento. Apesar de os
cavalos não possuírem vesícula biliar, a espécie
conta com sistema biliar regulando o fluxo da
bile. A estimulação desses pontos foi feita com
o propósito de regular o fluxo de Qi e propor-
cionar um efeito miorrelaxante. A localização
anatômica é a depressão na metade da borda
cranial da escápula.
Circuito do meridiano da bexiga (BE 21, 22 e
23): Este meridiano é conhecido como o grande
mediador, com capacidade de auxiliar no equi-
líbrio de todos os outros e abordar depressão,
agitação e medo. A estimulação dos três pontos
da bexiga foi realizada ao mesmo tempo com o
VB21, pois essa junção é conhecida por possuir
efeito calmante. Foi pressionada gentilmente a
ponta dos dedos de uma mão no VB 21 e tocado
os pontos do meridiano da bexiga com a mão
livre.
BE 21 - Associa o meridiano do estômago e aju-
da a equilibrar o Qi. A localização anatômica é caudal à
última costela, sendo lateral à linha dorsal.
BE 22 - Associa o meridiano triplo aquecedor
(responsável pelo equilíbrio e harmonia, além de trans-
portar o Qi para todas as partes do corpo). A localização
anatômica deste ponto se encontra no primeiro espaço
intervertebral lombar, lateral à linha dorsal.
BE 23 - Associa o meridiano do rim, aflorando a
capacidade de lidar com os sentimentos de sobrevivência
e medo, sendo conhecido o meridiano de residência da
resolução. O cavalo que demonstra reações de medo ou
falta de segurança se beneficia do trabalho ao longo do
meridiano do rim. Este ponto está localizado anatomica-
mente no segundo espaço intervertebral lombar e lateral
à linha dorsal.
Os próximos pontos possuem o mesmo objetivo comum
de trabalhar e melhorar a ansiedade de forma geral. Por-
tanto, serão descritas apenas as localizações anatômicas
de cada ponto, segundo Xie e Preast (2006).
P 1: Encontra-se na depressão no meio do múscu-
lo peitoral descendente, lateral ao sulco peitoral.
Pode-se usar como referência o primeiro espaço
intercostal.
VC 17: A localização anatômica deste ponto está
na linha média ventral ao nível da margem cau-
dal do cotovelo ou ao nível do quarto espaço
intercostal.
C 7: Localizado no aspecto caudolateral do rádio,
ou seja, na depressão ulnar lateral caudal ao nível
do osso carpal acessório.
PC 6: Está diretamente cranial à borda inferior
da “castanha”, ou seja, no sulco entre o flexor
radial do carpo e o flexor ulnar do carpo.
PC 7: Ao nível do osso carpal acessório, cranial
ao flexor ulnar do carpo.
VC 4: Encontra-se na linha média ventral, no
aspecto caudal ao umbigo.
VC 6: Encontra-se na linha média ventral caudal
ao umbigo, porém mais cranial do que o ponto
VC6.
Todos os pontos de acupressão foram estimu-
lados por massagem durante três minutos inteiros por
duas vezes na semana, durante dez sessões. É possível
observar alguns dos pontos escolhidos nas Figuras 1 e 2.
Figura 1 – Pontos de aplicação da acupressão- PC-6, C-7 e PC-7.
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Figura 2 – Pontos de aplicação da acupressão. VB-21, C-7 e BE-21
Musicoterapia: Além da acupressão, também foi
incluída a musicoterapia com música clássica a partir da
segunda sessão com o objetivo de ajudar no relaxamento
do animal. Essa forma de terapia não foi incluída a partir
do primeiro atendimento para garantir o ajuste do animal
primeiramente com a técnica de acupressão. A terapia foi
aplicada em conjunto com a estimulação dos pontos por
dez sessões até o encerramento. Técnicas de musicoterapia
estão em processo de amplo estudo e comprovação na
medicina veterinária, sendo aplicada por alguns autores
(Stachurska et al. 2015; Wi`sniewska, et al. 2019).
As frequências cardíaca (FC) e respiratória (FR)
foram medidas em padrão de 60 segundos antes e após
cada sessão. A frequência cardíaca foi determinada por
meio da contagem dos batimentos cardíacos por minuto
(bpm) e a frequência respiratória por inspeção direta
dos movimentos do tórax e fossas nasais corresponden-
tes ao número de respirações por minuto (rpm). Esses
parâmetros foram avaliados antes e após cada sessão. A
temperatura retal foi avaliada com termómetro digital
antes e após casa sessão.
Resultados e discussão
Ao início das sessões o animal apresentava cons-
tantes quadros de irritabilidade como abaixamento de
orelhas e tensão muscular, com diminuição no decorrer
do tratamento. Ademais, foi perceptível o aumento de
práticas comportamentais indicadoras de tranquilidade e
diminuição da ansiedade do paciente, como abaixamento
de pescoço e fechamento dos olhos. Esses comportamentos
estão ilustrados nas Figuras 3 e 4.
Figura 3 – Postura de relaxamento do animal
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Figura 4 – Postura de relaxamento de todo o animal
Na Figura 5, pode ser observada a frequência
cardíaca registrada durante todo o período de tratamento.
Observou-se que na maior parte do período a frequência
cardíaca foi menor após as sessões. A liberação aguda de
adrenalina e noradrenalina no tecido cardíaco promove a
ação dos receptores β- adrenérgicos, com capacidade de
promover o influxo de cálcio no miocárdio e aumentar a
força de contração do coração e frequência cardíaca em
decorrência do aumento da contratilidade, da conduti-
vidade e da excitação. Em equinos a FC normal gira em
torno de 28 a 40 bpm segundo (Feitosa, 2008).
Figura 5 – Frequência Cardíaca (bpm) registrada antes e depois das sessões durante o período de tratamento.
O estresse é definido como evento psicofisiológico
desencadeado por estado antecipado ou real de ameaça
ao equilíbrio, capaz de conduzir o animal ao estado de
alta tensão, com o intuito de restabelecer o equilíbrio
através de complexo conjunto de respostas fisiológicas e
comportamentais (Santos e Calles, 2017). Sendo assim,
como o organismo tende a buscar sempre o equilíbrio
e a homeostase, a consequência de qualquer disfunção
emocional acarreta em respostas em cadeia no sistema
cardiovascular, metabólico, imunológico gastrointestinal,
sistema respiratório, assim como outros sistemas (Zuardi,
2014).
A resposta aguda ao estresse induz rápida mo-
bilização de energia nos locais apropriados. Conforme
enfatiza Zuardi (2014), o aumento da frequência cardíaca,
da pressão arterial, da frequência respiratória (FR) e a
mobilização de glicose dos depósitos orgânicos, contri-
buem para a disponibilização de energia e por conseguinte
contribuir com a resposta de luta e fuga.
O Sistema Nervoso Autônomo (SNA) é o primeiro
a ser influenciado por fatores de estresse e é o principal
responsável pelo controle do sistema cardiovascular.
Segundo Santos e Calles (2017), quando o indivíduo
sofre de ansiedade, depressão ou estresse físico e mental,
uma das respostas fisiológicos do SNA é o desequilíbrio
dos marcadores quantitativos da atividade autonômica.
Contudo, o aumento da ação da via simpática somado
a redução da via parassimpática induz um aumento da
frequência cardíaca.
No presente estudo, as sessões de acupressão
foram recomendadas para diminuir os efeitos de resposta
ao estresse do animal na tentativa de melhora os sinais
de medo e aflição com fatores externos, lonas, outros
animais, barulhos entre outros capazes de interferir de
forma direta no melhor desempenho na hora da montaria.
Na Figura 6 pode ser observada a frequência
respiratória registrada durante todo o período de tra-
tamento. Observou-se que na maior parte do período
a FR foi menor após a as sessões realizadas, uma vez
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que estímulos do estresse desencadeiam o aumento da
frequência respiratória e dilatação dos brônquios no
intuito de captar e receber mais oxigênio. Em equinos a
FR normal gira em torno de 8 a 16 rpm (Feitosa, 2008).
Figura 6 – Frequência Respiratória registrada antes e depois das sessões durante o período de tratamento.
Segundo alguns autores, o organismo reage ao
estímulo de um agente agressor alterando a frequência
respiratória, tornando-a mais profunda e rápida (Dantzer
e Mormed, 1984). Neste sentido, é esperado que o relaxa-
mento do animal afete de forma direta neste parâmetro,
com tendência a diminuir ao decorrer da sessão. Ademais,
a alteração da frequência cardíaca altera diretamente a
frequência respiratória, uma vez que, a interligação dos
sistemas é um indicador da atuação do nervo vago sobre
o coração (Villas Boas, 2017).
Na Figura 7 pode ser observada a temperatura
registrada durante todo o período de tratamento. Obser-
vou-se que na maior parte das sessões, o animal manteve a
temperatura dentro da faixa de variação fisiológica sendo
que antes de algumas sessões a temperatura corporal
do animal se apresentou abaixo da faixa de variação
fisiológica e após a sessão correspondente a temperatura
retornou ao normal. Em equinos a temperatura normal
em um cavalo adulto está em torno de 37,5 a 38,5°C
(Feitosa, 2008).
Estímulos físicos, como estresse térmico, pouco
interferem no aumento da temperatura retal (TR) do
animal, uma vez que animais homeotérmicos possuem
mecanismos termorreguladores autonômicos controla-
dos pelo sistema nervoso central a fim de permitir ao
organismo evitar variações, mesmo que a temperatura
ambiente sofra grandes alterações. Segundo pesquisa
realizada por Lucena et al. (2013) a TR fisiológica per-
manece em níveis adequados à espécie evidenciando boa
adaptação ao calor. Nesse estudo a temperatura do ar
não influenciou TR do animal.
Figura 7 – Temperatura registrada antes e depois das sessões durante o período de tratamento.
Vianna, I. I. R. et al.
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O aumento da atividade fisiológica ao longo do
dia resulta em variações na temperatura corporal do
animal, sendo 0,5°C mais baixa pela manhã e 0,5°C mais
elevada pela tarde (Santos, 2014), o que explica peque-
nas variações de temperatura retal durante o final da
sessão. Estímulos de acupressão e musicoterapia mesmo
que afetem a FR e FC, pouco interferem na temperatura
retal, uma vez que seria necessário um fator altamente
estressante para influenciar drasticamente essa variável.
Conclusão
Nas condições deste relato de caso, os mecanismos
de ação da acupressão e da musicoterapia influenciaram
positivamente nos parâmetros fisiológicos do animal como
frequências cardíaca e respiratória, além da observação
na melhora comportamental em situações que antes eram
consideradas inquietantes, com relatos da proprietária
acerca de o animal demonstrar estar mais tranquilo a
cada dia e falta de ocorrências de comportamentos antes
comuns, como derrubar cavaleiros e amazonas durante
a montaria. Por conseguinte, tais tratamentos se de-
monstraram eficazes em animais com aversão e estresse
a determinadas circunstâncias.
Agradecimentos
À Escola Pegasus Equitação pela disponibilidade
do animal e do local.
Referências
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Trabalho apresentado como pré-requisito para a conclusão do curso
de Bacharelado em Zootecnia, da Universidade Federal de Roraima.
33f. Universidade Federal de Roraima, Boa Vista, Roraima.
Calamita, S. C.; Silva, L. P.; Carvalho, M. D.; Costa, A. B. L. 2016.
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animais. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e
Zootecnia do CRMV-SP, São Paulo: Conselho Regional de Medicina
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