Avaliação de estradas não pavimentadas como ferramenta de gestão de vias do município
de Viçosa, MG
Rodolfo Alves Barbosa
1
*, Andreza Cristina Santiago Ferreira
2
, Ariadna Santiago Ferreira
3
, Herly Carlos
Teixeira Dias4
DOI: https://doi.org/10.35699/2447-6218.2020.25256
Resumo
O objetivo deste trabalho foi avaliar as condições de rolamento das estradas não pavimentadas e determinar o Índice de
Condição das Rodovias Não Pavimentadas (ICRNP) do município de Viçosa. O trabalho foi realizado no município de Viçosa-
MG, onde foram realizadas expedições a campo para realizar a coleta de informações das rodovias VCS 020, VCS 080 E
VCS 082, para isso foi realizado o lculo do ICRNP, índice que determina as estradas referentes ao estado de conservação
levando em consideração alguns tipos de defeitos. Para a delimitação da área de drenagem da bacia do Rio Turvo Sujo que
exerce influência sobre as estradas rurais do município foi realizado a extração de um modelo digital de elevação do sensor
Alos/Palsar, com 12,5 m de resolução espacial e delimitado a elevação, declivi- dade e hidrografia da bacia processados no
programa ArcGIS 10.5. Foram também utilizados dados de precipitação da estação pluviométrica localizada na cidade de
Viçosa para avaliar efeito sobre a condição das estradas. Os pontos avaliados tiveram baixo valor no ICRNP, sendo o menor
para o ponto VCS 020/1 com valor 16. A bacia do Rio Turvo
Sujo possui grande influência no condicionamento da via devido à
elevada declividade e elevada amplitude altimétrica,
que favorece a concentração da água em menor tempo, causando
alagamentos como na rodovia VCS 080. As estradas
apresentaram baixo condicionamento para tráfego, sendo necessário o
monitoramento contínuo e correção dos defeitos
que afetaram a piora das estradas visando para garantir acesso de serviços
públicos e transporte para a população.
Palavras-chave:
Desenvolvimento Rural. Estradas rurais. Gestão Pública.
Evaluation of non-paved roads as a management tool in the city of Viçosa, MG
Abstract
The objective of this work was to evaluate the rolling conditions of unpaved roads and to determine the Condition Index of
Unpaved Roads (ICRNP) in the municipality of Viçosa. The work was carried out in the municipality of Viçosa-MG, where
field expeditions were carried out to collect information from the VCS 020, VCS 080, and VCS 082 highways, for this
purpose the ICRNP was calculated, an index that determines the roads referring to the state of conservation taking into
account some types of defects. To delimit the drainage area of the Rio Turvo Sujo basin that influences the rural roads of the
municipality, a digital elevation model of the Alos/Palsar sensor was extracted, with 12.5 m of spatial resolution and delimited
the elevation, slope, and hydrography of the basin processed in the ArcGIS 10.5 program. Precipitation data from the rain
station located in the city of Viçosa were also used to assess the effect on the condition of the roads. The evaluated points had
a low value in the ICRNP, being the lowest for the point VCS 020/1 with a value 16. The basin of the Turvo Sujo River has a
great influence on the conditioning of the
1Universidade Federal de Viçosa. Viçosa, MG. Brasil.
https://orcid.org/0000-0001-6015-6558
2Universidade Federal de Viçosa. Viçosa, MG. Brasil.
https://orcid.org/0000-0002-8604-3997 3Universidade
Federal de Viçosa. Viçosa, MG. Brasil.
https://orcid.org/0000-0001-5146-3927
4Universidade Federal de Viçosa. Viçosa, MG. Brasil.
https://orcid.org/0000-0002-6893-0920
*Autor para correspondência: rodolfo.ufv@gmail.com
CADERNO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
Agrarian Sciences Journal
2
Barbosa, R. A. et al.
road due to the high slope and high altimetric amplitude, which favors the concentration of the water in less time, causing
flooding as on the VCS 080 highway. The roads had low traffic conditioning, requiring continuous monitoring and correction of
defects that affected the worsening of the roads to guarantee access to public services and transport for the population.
Key-words
: Public Mangement. Rural Development. Rural Roads.
Introdução
As estradas rurais não pavimentadas possuem
grande importância social, econômica e ambiental nos
países em desenvolvimento, pois representam o maior
acesso da população rural à educação e saúde serviços, além
de fornecer rotas para o transporte de produtos agrícolas.
No Brasil, 78,5 % da malha rodoviária são de estradas
não pavimentadas, com 1,34 milhões de km de rodovias
(CNT, 2019). Dessa forma, é de grande importância a
manutenção e conservação das estradas, apesar que existe
uma precarização na abertura e ma- nutenção das estradas,
por gestão ineficiente e falta de conhecimento técnico
causando prejuízos econômicos consideráveis, degradação
ambiental e danos sociais (Sewell et al., 2019).
a tomada de decisão, para priorização das estradas rurais
a
serem recuperadas.
Material e todos
O município de Viçosa, com uma área de 300,2
km², está localizado ao norte da Zona da Mata do estado de
Minas Gerais, a 229 km de Belo Horizonte, a uma altitude
média de 650 metros. Limita-se ao norte com os municípios
de Teixeiras e Guaraciaba, ao sul com Paula Cândido e
Coimbra, a leste com Cajuri e São Miguel do Anta e a oeste
com o município de Porto Firme (Figura 1).
A área de realização do trabalho está situada na
bacia
hidrográfica do rio Turvo Sujo que apresenta a área
de
drenagem de 380,13 km².
A perda de solo existente devido a processos
erosivos implica na degradação da estrada, causando
transporte de sedimentos para a rede de drenagem, acar-
retando impactos ambientais em cursos hídricos como o
assoreamento de cursos d’água e em reservatórios (Farias,
2016; Nkomo et al., 2019).
As rodovias não pavimentadas analisadas foram VCS
020, VCS 080 e VCS 082 do município de Viçosa-MG.
Essas
rodovias foram escolhidas, pois são as vias muito
importantes para o acesso da comunidade rural, facili-
tando o transporte de pessoas e que mais apresentaram os
tipos de defeitos.
Fu et al. (2010) afirma que estradas não pavimen- tadas
são geralmente formadas com material originário no
local e
pode apresentar elevada proporção de partículas finas
facilmente erodíveis, causando baixa taxa de infil-
tração
quando comparada com outras bacias hidrográficas (Ziegler e
Giambelluca, 1997; Ziegler et al., 2007; Sajjan et al., 2013), ter
alto coeficiente de escoamento superficial
da água de chuva
(Rijsdijk, Bruijnzeel e Sutoto, 2007) e apresentar elevadas
cargas de sedimentos (Motha et al., 2004; Ramos-Scharrón,
2012; Thomaz, Vestena e Ramos-Scharrón, 2014; Farias,
2016).
As condições das rodovias inspecionadas foram
apresentadas através do Índice de Condição de Rodovia Não
Pavimentada - ICRNP, que avalia a integridade das rodovias
não pavimentadas e as condições de operação, a fim de
retratar a condição superficial do pavimento sob avaliação.
O índice avalia a condição superficial do pavimento das
rodovias, colocando em uma escala de prioridades para
manutenção. Essas condições estão relacionadas aos tipos
de defeitos como buracos, trilha de rodas, perda de
agregados, corrugações, drenagem inadequada, seção
transversal impropria e excesso de poeira nos trechos das
vias em consideração.
As estradas rurais devem apresentarm uma pista
de
rolamento em que a agua de chuva precipitada sobre a sua
superficie seja rapidamente conduzida para os escoadouros
naturais, artificiais, bacias de captação de agua pluvial
localizadas (Pruski et al., 2012) .
Cálculo do índice de Condição de Rodovia Não Pa-
vimentada- ICRNP
Este trabalho teve como objetivo realizar a ava-
liação da integridade e condiçoes de transito de estradas
não
pavimentadas e a determinação do Índice de Condição das
Rodovias Não Pavimentada -ICRNP, como ferramentas
para a
criação de um banco de dados para a gestão das atividades
de manutenção da malha de estradas não pavimentadas do
município de Viçosa-MG, colocando ao alcance de gestores
públicos, ferramentas através de arquivos digitais em SIG,
com informações para auxiliar

O cálculo do índice de Condição de Rodovia Não
Pavimentada é composto das seguintes etapas:
Divisão dos trechos das estradas em estudo, em
ramos, seções e em unidades simples. Cada seção
foi
dividida em unidades simples para fins de
execução das inspeções das condições da rodo- via,
dos trechos estudados. Sendo uma unidade simples
definida como um trecho de rodovia
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Avaliação de estradas não pavimentadas como ferramenta de gestão de vias do município de Viçosa, MG
com aproximadamente 250 m2 (cerca de 50m de
extensão).
gem inadequada, buracos, poeira, corrugações,
perdas de agregados e trilhas de rodas. Esses
defeitos foram classificados em três níveis de
severidade (baixo, médio ou alto) conforme es-
pecificações pré-estabelecidas.

Caracterização e classificação dos tipos de defei- tos
nas vias: seção transversal imprópria, drena-
Figura 1 Localização do Município de Viçosa, Minas Gerais, Brasil.
Com a extensão do defeito definida, calcula-se a
densidade (Equação 1) para cada defeito, exceto para o
defeito de excesso de poeira, como segue: extensão/ área da
unidade simples.
𝑞𝑞𝑞𝑞
𝑞𝑞𝑞𝑞
𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷
𝑞𝑞𝑞𝑞
𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷
𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷
𝐷𝐷𝐷𝐷
𝐷𝐷𝐷𝐷
𝐷𝐷𝐷𝐷
𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷
𝑑𝑑𝑑𝑑
𝐷𝐷𝐷𝐷
𝐷𝐷 𝐷𝐷
𝑞𝑞𝑞𝑞
𝑑𝑑𝑑𝑑
𝐷𝐷𝐷𝐷
𝑥𝑥𝑥𝑥
𝑘𝑘𝑘𝑘
𝑥𝑥𝑥𝑥
100
𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷
=
á
𝑟𝑟𝑟𝑟
𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷
𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷
𝑞𝑞𝑞𝑞
𝐷𝐷𝐷𝐷
𝐷𝐷𝐷𝐷
𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷
𝐷𝐷𝐷𝐷
𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷
𝑠𝑠𝑠𝑠
𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠𝑠
𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷
Onde K é um coeficiente para correção de uni-
dades métricas, cujo valor para cada tipo de defeito en-
contra-se apresentado na tabela a seguir.
Tabela 1 Tipos de defeitos- ICRNP.
Tipo de defeito
k
8.1 - Seção Transversal Imprópria
8.2 - Drenagem Inadequada
8.3 - Corrugações
8.5 - Buracos
8.6 - Trilha de roda
8.7 - Perda de Agregados
3,281
3,281
1,000
10,764
1,000
3,281
Fonte: Baesso Gonçalves 2003
Utilizando-se das curvas de dedução de valores,
determinou-se os valores dedutíveis para cada tipo de
defeito e nível de severidade (Figura 2).
Foi feita a divisão dos trechos das estradas em
estudo, em ramos, seções e em unidades simples. Cada
seção foi dividida em unidades simples para fins de exe-
cução das inspeções das condições da rodovia.
As medidas dos defeitos são baseadas em valores
dedutíveis. O valor dedutível é um número de 0 (zero) a 100
(cem), em que o valor zero significa que o defeito não tem
impacto na condição de serventia da estrada e o valor cem
significa que a condição de serventia está completamente
comprometida com o defeito. Com o valor dedução total e o
valor “q”, encontrou-se o índice de condição de rodovia não
pavimentada (ICRNP).
Fornecendo assim a medida da integridade e das
condições de operação da rodovia de acordo com as
seguintes classes propostas por Baesso e Gonçalves (2003):
Excelente (100 < ICRNP > 85); (b) Muito Boa (85 = ICRNP
> 70); (c) Boa (70 = ICRNP > 55); (d)
regular (55 = ICRNP > 40); (e) pobre (40 = ICRNP > 25);
(f) Muito Pobre (25 = ICRNP > 10); e (g) péssima (10 =
ICRNP > 0).
Figura 2 Valores Dedutíveis Totais.
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Barbosa, R. A. et al.
Fonte: Baesso e Gonçalves 2003.
Essa avaliação foi feita percorrendo as unidades
amostrais de três trechos VCS 080 (estrada vicinal Córrego
São
Joao), quatros trechos da VCS 082 (estrada vicinal Paraíso)
e três trechos VCS 020 (estrada vicinal Buieie)
das rodovias
pavimentadas inspecionadas e anotando-se em planilha
elaborada para esse propósito, os valores das
áreas das
unidades amostrais abrangidas e o número de
defeitos com os
seus respectivos atributos de severidade,
conforme
apresentado na tabela 2.
dos pontos durante os meses de setembro, outubro e
novembro de 2019.
As estradas avaliadas estão localizadas dentro da
bacia hidrográfica do Rio Turvo Sujo. Para avaliar o efeito
do relevo na qualidade das estradas foi delimitada a
hidrografia e área de drenagem com processamento dos
dados realizados no programa ArcGIS 10.2.5.
O modelo digital de elevação do sensor Alos Palsar
(12,5 m) de resolução espacial https://asf.alaska.edu/ . Foi
realizada a correção de anomalias, direcionamento do fluxo
e fluxo acumulado, depois foi possível extrair a hidrologia
dos principais cursos d’água do trabalho e a delimitação da
bacia de contribuição abrangendo toda a área das estradas
avaliadas.
Os atributos de severidade são os seguintes: B:
Baixo, M: Médio, A: Alto. Código de defeitos do método de
Baesso e Gonçalves et al (2003).
Para a elaboração do mapa dos trechos das es-
tradas percorrida, foram coletados pontos nos trajetos dos
mesmos através de um receptor de sinal GPS, GPS
Essentials®. A opção por esse receptor para coleta de dados
deu-se pelo fácil acesso do mesmo adquirido por mim para
uso da pesquisa. Foi realizado o levantamento
A declividade do relevo da bacia do Ribeirão
Turvo Sujo foi obtida por meio da ferramenta slope do
programa ArcGIS e classificadas conforme as classes de
declividades da Embrapa (1979).
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Avaliação de estradas não pavimentadas como ferramenta de gestão de vias do município de Viçosa, MG
Tabela 2 Ficha de inspeção de rodovia não pavimentada.
As informações obtidas sobre a condição de ro-
dovia não pavimentada foram inseridas no SIG Arc Map para
identificação e visualização em mapa temático do sistema
viário dos trechos prioritários para fins de inter- venção e
manutenção.
valor 16, classificada de acordo com o Baesso e Gonçalves
como muito pobre.
Os serviços básicos de manutenção das estra- das
não pavimentadas compreendem na melhoria da superfície
de rolamento, melhoria e reforço do subleito, construção de
camada de revestimento primário, ade- quação do sistema
de drenagem, tais como as caixas de captação, afim de
reduzir a velocidade da agua da chuva e remover pontos
críticos da via que impedem o fluxo continuo e seguro do
trafego.
Resultados e Discussão
O ICRNP foi obtido nos trechos das estradas
localizadas no Buieie VCS 020, Córrego São João VCS
080
e Paraíso VCS 082 onde foram coletados dados sobre
a
quantidade e severidade de sete defeitos em unidades
amostrais de 50m.
O conhecimento da declividade e da hidrogra- fia
da área onde está localizada a estrada em estudo,
proporciona um apoio no esclarecimento dos resultados
obtidos apresentado na análise das condições da rodovia
e no
valor do ICRNP encontrado.
Na figura 3 o apresentados o mapa dos trechos
avaliados das estradas percorridas (VCS 020. VCS 080,
VCS 082) e o ICRNP obtidos pelo método apresentado
neste estudo, conjuntamente com as respectivas iden-
tificações e classificações dos trechos inspecionados. O
local que apresentou pior ICRNP foi o VCS 020/1 com
As estradas avaliadas estão presentes em uma
bacia com elevada declividade, apresentando 52% do ter-
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Ficha de inspeção de estradas não pavimentadas
1. Estrada: Viçosa-Buieie VCS 020
2. Trecho: VCS 020
3. Data: 09/10/19
4. Trechos Selecionados: Seção 1
5. Área do trecho: 50 m
6. Avaliadora: An-
dreza
7. Desenho
8. Tipos de defeitos
8.4. Poeira
8.1. Seção Transversal Inadequada
8.5. Buracos
8.2. Drenagem lateral inadequada
8.6. Trilha de Rodas
8,3. Corrugações / Ondulações
8.7. Segregação de
agregados
Quantidade e severidade dos defeitos
Tipos
8.1
8.2
8.3
8.4
8.5
8.6
8.7
Quantidade e
severidade
Baixo
13
Médio
X
47
36
23,6
Alto
50
50
9. Cálculo do ICRNP
Tipo de defeito
Densidade
Severidade
Valor de-
dutível
Anota-
ções
8.1
23,73
M
27
8.2
23,74
A
27
8.3
26
B
19
8.4
M
4
8.5
8,62
B
52
8.6
28,31
M
23
8.7
16,4
M
28
Valor de dedução (TDV): 176
q = 6
ICRNP: 27
6
Barbosa, R. A. et al.
reno fortemente ondulado e 9% em terreno montanhoso
(Figura 3). Esta condição contribui para o escoamento da
água da chuva, fazendo com que exista uma concentração
em
determinados pontos críticos na estrada.
Figura 3
(a) Mapa dos pontos dos trechos das estradas percorridas para a avaliação; (b) resultado dos cálculos ICRNP
obtidos
pelo método avaliado em dez locais de avaliação de condicionamento, por local de avaliação.
Estradas como as apresentadas no trabalho além
de
serem prejudicados pela sua localização no perfil to-
pográfico sofrem a influência da drenagem dos açudes e
retentores de água. Para isso poderiam ser construídas
alternativas conservacionista como barraginhas para as quais
a agua da estrada são desviadas, abaulamento das
estradas
para que a agua percorra um caminho preferen-
cial, evitando
o acumulo da agua na estrada.
Sujo apresenta ordem cinco de ramificação. Quanto mais
ramificada a rede, mais eficiente o sistema de drenagem
(Barbosa, 2019; Oliveira et al., 2015). A sub-bacia hidro-
gráfica do rio Turvo Sujo possui ramificação em forma
dendrídica, apresentando 459 nascentes (Figura 5b). As
características da bacia acabam determinando nas curvas e
elevações das estradas avaliadas, além de seu
condicionamento.
As estradas vicinais foram construídas de forma
a
acompanhar os cursos dos rios considerando que é mais
viável
a sua construção, pois sendo implantadas em tais condições
utiliza a melhor localização e facilidades do terreno.
Pelos mapas apresentados é possível visualizar que
a bacia contribui para a chegada da agua nas estra- das, pois
as estradas estão localizadas próximas ao leito do rio
principal e próximo da foz da bacia. Isso reforça a
importância da manutenção das estradas.
A declividade de uma bacia hidrográfica determi- na
os percentuais de escoamento superficial e sub-super-
ficial,
sendo relevante também para o planejamento da gestão. A
velocidade de escoamento é determinada pela
cobertura
vegetal, pelo tipo de solo e pela intensidade das chuvas, entre
outros fatores. Áreas sem cobertura vegetal
e com declividade
maior apresentam maior velocidade de escoamento, o que
resulta em menor quantidade de água disponível (Tonello et
al., 2006).
Para ter um controle maior sobre a manutenção
das
estradas e também uma logística apropriada do trajeto
que deve
ser realizado para épocas em que elas ficam precárias.
A maior parte dos danos ocorridos nas estradas
avaliadas são devido à inexistência ou insuficiência de
mecanismos adequados de drenagem, como lombadas,
caixas de contenção que desempenham importante função de
redução da velocidade e volume de água escoado pela
estrada,
conforme registrado na figura 6.
De acordo com a classificação de Strahler, o sis-
tema de drenagem da sub-bacia hidrográfica do rio Turvo
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Avaliação de estradas não pavimentadas como ferramenta de gestão de vias do município de Viçosa, MG
Figura 4 Classes de declividade presentes na bacia onde as estradas estão presentes em Viçosa, MG.
Figura 5 Mapa de Elevação (a) e da hidrografia da bacia Hidrográfica do Rio Turvo Sujo, onde está localizada as estradas
avaliadas do município de Viçosa, MG.
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8
Barbosa, R. A. et al.
Figura 6 Locais avaliados das estradas não pavimentadas do município de Viçosa, MG.
Na área de estudo isso foi evidenciado princi-
palmente nos períodos de chuvas mais severas em que as
vias ficam intransitáveis. No dia 26 de outubro houve um
evento pluviométrico de 113 mm que influenciou
positivamente no aumento da vazão causando inundações
nas
vias VCS 080 conforme registrado na figura 7.
críticos na malha viária das estradas não pavimentada do
município de Viçosa.
Conclusões
Os locais avaliados possuem alguns dispositivos de
drenagem. Porém, muitos desses estão sem manutenção
ou
estão inadequados, ou seja, foram construídos de forma
irregular
e por isso não tem a eficiência desejada, não contribuindo
para a redução do escoamento superficial.
As estradas não pavimentadas possuem alta
incidência de escoamento superficial devido à baixa
capacidade de infiltração de água contribuindo para o
carreamento de sedimentos da bacia em caso de tempes- tades,
podendo acarretar em degradação de importantes
áreas
ambientais a jusante das microbacias que estão localizadas
(Ramos-Scharrón; LaFevor, 2016).
Nesse contexto a implantação de um sistema de
gestão de estradas, composta pela definição da agenda,
identificação de alternativas, avaliação das opções, seleção das
ações, implementação da avaliação das condições de
serventia
das estradas não pavimentadas do município,
melhoraria a
dinâmica do serviço público, nos seus aspec- tos relacionados à
melhoria das estradas rurais. Com vista a viabilizar o transporte
escolar, a produção de alimentos,
as feiras da agricultura
familiar, e adequação ambiental das estradas. Assim, a base
de dados poderá servir para a definição de rotas de
transporte, quilometragem das rotas e priorização das vias
para manutenção.
Baesso e Gonçalves, (2003 apontam que as con-
sequências do fluxo de água sobre pista de rolamento ao
longo do tempo afetam as condições de suporte dos
materiais que constituem seu subleito, fazendo com que a
situação evolua para os defeitos mais severos, como
atoleiros ou até trilhas de roda.
O controle do serviço executado poderá ser rea-
lizado pela secretaria de obra com a inspeção periódica
desses locais, executando as práticas conservacionistas
citadas nessa pesquisa e com a obtenção dos seus respec-
tivos
ICRNP juntamente com práticas conservacionistas citadas
no trabalho. Pois este índice permite o geren- ciamento da
manutenção periodicamente dos pontos
Agradecimentos
Prefeitura municipal de Viçosa pelo apoio no
levantamento de dados e a UFV pela colaboração dos
discentes e docentes.
Cad. Ciênc. Ag., v. 12, p. 0110, https://doi.org/10.35699/2447-6218.2020.25256
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Avaliação de estradas não pavimentadas como ferramenta de gestão de vias do município de Viçosa, MG
Figura 7
Precipitação ocorrente no município de Viçosa entre 1 de agosto e 30 de novembro de 2019 (a); e condi-
cionamento de alagamento da rodovia VCS 080 após uma precipitação de grande intensidade no dia 26 de outubro
de 2019 (b).
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