Parâmetros nutricionais e bioquímicos de ovinos consumindo volumoso extrusado com di-
ferentes teores de
Uruchloa brizantha
em comparação a silagem de milho tradicional
Carolina Moreira Araújo
1
*; Karla Alves Oliveira
2
; Gilberto de Lima Macedo Junior
3
; Simone Pedro da Silva
4
;
Débora Adriana de
Paula Silva5
DOI: https://doi.org/10.35699/2447-6218.2020.25810
Resumo
Objetivou-se avaliar os parâmetros nutricionais, comportamento ingestivo e metabolismo energético e proteico de ovelhas
alimentadas com diferentes tipos de volumoso extrusado. Vinte ovelhas Santa Inês, adultas, foram alocadas em gaiolas
metabólicas individuais. O experimento teve duração de 21dias: quinze dias de adaptação e seis dias de
coleta de dados. Os
tratamentos foram dietas contendo silagem de milho ou volumoso extrusado com diferentes teores
de Uruchloa brizantha em sua
composição (52,5%, 60% e 65%). Foi realizado ensaio para determinar o consumo de matéria seca (CMS) e digestibilidade
aparente da matéria seca (DMS). A coleta de sangue para análise dos meta- litos sanguíneos foi realizada através de
venopunção jugular. O comportamento ingestivo foi avaliado durante 24 horas. Utilizou-se o delineamento inteiramente ao
acaso, com quatro tratamentos e cinco repetições. As médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste de Tukey ao nível
de 5% de significância. O CMS (kg/dia) e em relação ao peso corporal (PC%) e o consumo de água e (litros/dia) foram
superiores (P<0,05) nos animais que receberam volumoso extrusado. O peso das fezes apresentaram o mesmo padrão de
resposta, e não alteraram o escore fecal. O tempo gasto em ingestão, ruminação e mastigação foram menores (P<0,05) para os
animais que receberam exclusi- vamente silagem de milho, porém suas respectivas eficiências foram menores, quando
comparadas com o volumoso extrusado. Os níveis de ureia sanguínea foram menores para os animais que receberam silagem
de milho (P<0,05). Portanto, a utilização de volumoso extrusado com teor de Uruchloa brizantha de até 65% pode substituir a
silagem de milho sem causar transtornos metabólicos para ovinos.
Palavras-chave:
Extrusão. Fibra. Ovis aries
.
Nutritional and biochemical parameters of sheep consuming extruded roughage with
different contents
of
Uruchloa brizantha
compared to traditional corn silage
Abstract
The objective was to evaluate the nutritional parameters, feeding behavior and energy and protein metabolism of sheep
fed with
different types of extruded roughage. Twenty adult Santa Inês sheep were placed in individual metabolic cages. The
experiment lasted 21 days: fifteen days of adaptation and six days of data collection. The treatments were diets containing corn
silage or extruded roughage with different contents of Uruchloa brizantha in its composition
(52.5%, 60% and 65%). An
experiment was carried out to determine dry matter intake (DMI) and apparent dry matter
1Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia, MG. Brasil.
https://orcid.org/0000-0003-4648-4971
2Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Jaboticabal, SP. Brasil.
https://orcid.org/0000-0002-7792-2615
3Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia, MG. Brasil.
https://orcid.org/0000-0001-5781-7917
4Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia, MG. Brasil.
https://orcid.org/0000-0002-6391-1122
5Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia, MG. Brasil.
https://orcid.org/0000-0003-3052-0544
*Autor para correspondência: carolina.am@hotmail.com
CADERNO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
Agrarian Sciences Journal
2
Araújo, C. M. et al.
digestibility (DMD). Blood collection for analysis of blood metabolites was performed through jugular venipuncture. Feeding
behavior was assessed for 24 hours. A completely randomized design was used, with four treatments and five replications.
The treatment means were compared using the Tukey test at a 5% level of significance. The DMI (kg / day) and in relation to
body weight (BW%) and water intake (liters / day) were higher (P <0.05) in animals that received extruded roughage. The
fecal weight showed the same response pattern, and did not change the fecal score. The time spent in ingestion, rumination
and chewing were shorter (P <0.05) for the animals that received exclusively corn silage, but their respective efficiencies were
lower when compared to the extruded roughage. Blood urea levels were lower for animals that received corn silage (P <0.05).
Therefore, the use of extruded roughage with an Uruchloa brizantha content of up to 65% can replace corn silage without
causing metabolic disorders for sheep.
Key words:
Extrusion. Fiber. Ovis aries.
Introdução
A fibra é o principal constituinte da dieta de ru-
minantes, pois é utilizada pelos microrganismos ruminais
como principal fonte de energia (Mertens et al., 1994). A
utilização de volumoso na composição da dieta de rumi-
nantes é responsável por aumentar o custo de produção, uma
vez que demanda investimentos em maquinários e mão-de-
obra para sua produção, além de ser altamente
dependentes
de fatores climáticos, sendo que alguns erros
podem
comprometer a qualidade do alimento e reduzir o
desempenho dos animais.
Objetivou-se avaliar os parâmetros nutricionais,
comportamento ingestivo e metabolismo energético e
proteico de ovelhas alimentadas com Uruchloa brizantha
extrtusada em diferentes níveis de inclusão em compa- ração
a silagem de milho
Material e todos
O experimento foi realizado na Universidade
Federal de Uberlândia, nos meses de fevereiro e março de
2017. Foram utilizadas vinte ovelhas da raça Santa Inês
com mais de três anos e peso vivo inicial médio de 55 kg,
alocadas em gaiolas metabólicas individuais de piso ripado
suspenso, contendo bebedouro, comedouro e cocho para sal
mineral. O experimento teve duração de 21 dias, sendo
dividido em dois períodos: quinze dias de adaptação e seis
dias destinados à coleta de dados.
Uma alternativa para melhorar a digestibili- dade
da fibra do alimento, é a utilização de volumosos
extrusados. O processo de extrusão caracteriza-se pelo
cozimento em alta pressão (30 a 60 atm), umidade (19 até
25%) e temperatura (130 a 140°C), em curto espaço de tempo
(10 a 30 segundos) (Fagundes, 2005), o que promove
alterações no alimento e provocam aumento na
digestibilidade da fibra, amido e proteínas.
Os tratamentos utilizados foram: silagem de milho
(controle, forma convencional), Foragge® 52,5% (com
52,5% de Uruchloa brizantha na forma extrusa- da),
Foragge® 60,0% (com 60,0% de Uruchloa brizantha na forma
extrusada) e Foragge® 65,0% (com 65,0% de Uruchloa
brizantha na forma extrusada). Por se tratar de um produto
comercial protegido por lei de patente segue apenas a
informação dos constituintes do produto Foragge®
(Composição: Uruchloa brizantha, amido, sal
mineral e
farelo de girassol). A alimentação foi fornecida duas vezes ao
dia, as 8:00 e 16:00 horas. Os tratamentos
foram ofertados
como único alimento suprindo 3,5% do peso corporal
inicialmente. Na tabela 1 tem a composi- ção bromatológica
da silagem de milho e do volumoso extrusado (Forrage®)
em diferentes níveis de inclusão da Uruchloa brizantha.
O processo de extrusão pode ainda melhorar a
palatabilidade do alimento, o que associado à facilidade de
apreensão do mesmo pode aumentar a eficiência de ingestão
pelos animais (Andrigueto et al., 1981).
A falta ou excesso de nutrientes em uma dieta
pode causar desbalanços no metabolismo dos animais
devido ao desbalanço entre ingresso de nutrientes, sua
metabolização e posterior excreção, podendo ocasionar
possíveis quedas nos parâmetros nutricionais (Wittwer,
2000). O estudo do metabolismo animal surge como
alternativa para evitar tais alterações, pois as mudanças são
rapidamente detectadas.
Outra ferramenta que auxilia na avaliação nu-
tricional dos ruminantes é o estudo do comportamento
ingestivo. De acordo com Van Soest (1994), o tempo de
ruminação é influenciado pela natureza da dieta, logo, o
processo de extrusão pode ser uma alternativa para reduzir
o tempo em ruminação.
Para determinação do consumo alimentar, as so-
bras
foram pesadas e sempre que os valores foram iguais à zero,
aumentou-se a quantidade de alimento fornecido
até atingir
sobras equivalente a 10% do ofertado. As sobras de
alimento foram colhidas e armazenadas em
sacos plásticos
devidamente identificados e mantidas em congelador a -10°C.
Após o período de coleta as amostras
eram homogeneizadas
individualmente e uma alíquota representativa era separada
para realização das análises bromatológicas.
Sendo assim, faz-se necessário a avaliação nutri-
cional de volumosos extrusados a fim de se estabelecer
como os mesmos devem atender as exigências dos animais
e
alcançar o máximo desempenho.
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Parâmetros nutricionais e bioquímicos de ovinos consumindo volumoso extrusado com diferentes teores de
Uruchloa brizantha
em comparação a silagem de milho tradicional
Tabela 1 Composição bromatológica da silagem de milho e do volumoso extrusado em diferentes níveis de inclusão da
Uruchloa brizantha
Uruchloa
brizantha
Tratamento
MS
PB
FDN
FDA
NDT
EE
Amido
Silagem de milho
Foragge® 52,5%*
Foragge® 60,0%*
Foragge® 65,0%*
-
52,20
60,00
65,00
31,20
90,00
91,20
91,50
8,00
7,98
7,67
7,65
51,11
47,46
50,33
53,59
36,17
29,54
33,38
35,78
59,66**
66,00
65,81
63,91
-
2,19
1,66
1,54
-
28,68
24,34
20,64
MS = Matéria seca; PB = Proteína bruta; FDN = Fibra em detergente neutro; FDA = Fibra em detergente ácido; NDT = Nutrientes digestíveis totais; EE Extrato
etéreo; *Dados fornecidos pelo fabricante. *Teor de 52,5, 60 e 65% de capim Uruchloa brizantha no produto Forrage® (Composição: Uruchloa brizantha,
amido, sal mineral e farelo de girassol). **NDT = 87,84 (0,779 x %FDA) (Rodrigues, 2010).
O separador de partículas PennState
®
foi utilizado
para
quantificar o tamanho de partículas do alimento ofertado e
das sobras de silagem. Os tamanhos das pe- neiras da
PennState® são > 19 mm (peneira 1); 8 a 19
mm (peneira 2); 1,18 a 8 mm (peneira 3); <1,18 mm
(peneira fundo). Cada amostra de ofertado e sobra do
alimento foi subdividida em quatro subamostras de 500
g. Essas subamostras foram colocadas na PennState® e para
obter a separação das partículas foram realizados
quatro
movimentos “vai e vem” para cada lado da PennS-
tate,
totalizando 16 movimentos para cada subamostra.
Posteriormente obteve-se a média das repetições, possi-
bilitando calcular a porcentagem de partículas retidas em
cada peneira (Gráfico 1).
Gráfico 1 Distribuição do tamanho das partículas de ofertado e sobras de silagem, utilizando o separador de partículas
Penn State®
O cálculo do consumo de água oferecida no balde
foi feito com base na diferença entre o ofertado (6
litros/animal) e as sobras, e, o cálculo do consumo de água
total foi feito somando-se a água do balde com a água
contida na ração ingerida. Ambos os cálculos fo-
ram feitos
descontando a quantidade de água evaporada
no dia, que foi
obtida colocando-se 6 litros de água em um balde e
subtraindo a sobra no dia seguinte. O balde utilizado para
evaporação era igual aos utilizados como bebedouro pelos
animais e alocado na mesma altura e próximo às gaiolas.
Abaixo das gaiolas metabólicas era mantido artefato que
permitia separação das fezes e unira, possibilitando
avaliação da digestibilidade. Para realizar colheita total de
fezes, as gaiolas eram limpas todos os dias pela manhã,
com o auxílio de espátula e
vassoura. As fezes foram pesadas, homogeneizadas e
coletada alíquota representativa da amostra uma vez ao
dia sempre no período da manhã. As alíquotas foram
acondicionadas em sacos plásticos, identificados e man-
tidos em congelador a -100 C.
Para avaliação do escore fecal utilizou-se a escala
proposta por Gomes et al. (2012): 1- fezes ressecadas e
sem brilho, 2- fezes normais, 3- fezes ligeiramente
amolecidas, 4- fezes amolecidas, perdendo o formato e
coladas umas às outras (cacho de uva), 5- fezes amo- lecidas
e sem formato normal, 6- fezes diarreicas. Era adicionado
100 mL de ácido sulfúrico (H2SO4, 2 N) nos baldes coletoras
de urina, evitando assim que houvesse
perdas de nitrogênio
por volatilização. O volume de urina
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Araújo, C. M. et al.
foi mensurado diariamente pela man com o auxílio de
proveta graduada (plástico). A densidade da urina foi
avaliada no mesmo momento com o auxílio de refra- tômetro
manual Megabrix®. Foram retiradas alíquotas
representativas
deste material uma vez ao dia no período
da manhã, e
posteriormente foram acondicionadas em garrafas
devidamente identificados e armazenadas em
congelador a -
10°C. Antes de serem armazenadas as amos-
tras foram
filtradas com filtro de papel (utilizados para
coar café)
retirando-se possíveis contaminações. Ao final do período de
coleta, as amostras correspondentes a cada animal foram
descongeladas, homogeneizadas e filtradas
novamente
utilizando-se filtro de papel, sendo retirada
alíquota de 20% para posteriores análises laboratoriais.
Posteriormente foi feita a primeira secagem das amostras
de
sobras e fezes em estufa de circulação forçada de ar, a 55°C
por 72 horas, até obter peso constante. Feito isto, as amostras
foram moídas, em moinho de facas do tipo Willey, em
partículas de 1 mm.
Logo após, as amostras foram levadas ao labo-
ratório onde foi realizada a matéria seca das amos- tras
de sobras e fezes, em estufa a 105°C por 24 horas, sendo
então possível calcular a matéria seca definitiva das
mesmas e teor dos nutrientes, e posteriormente, a
digestibilidade aparente dos nutrientes e matéria seca
através das seguintes fórmulas (Maynard et al., 1984):
CN = (Cons x %Cons) (Sob x %Sob); DA = (CN (Fez x %Fez)) / CN x 100
Onde: CN = consumo de nutriente (kg); Cons = quantidade de alimento consumido (kg); %Cons = teor de nutriente no alimento fornecido (%); Sob =
quantidade de sobra retirada (kg); %Sob = teor do nutriente nas sobras (%); DA = digestibilidade aparente (%); Fez = quantidade de fezes coletada (kg); %Fez =
teor do nutriente nas fezes (%);
Para o estudo do comportamento ingestivo os
animais foram submetidos à observação visual por pes-
soas
treinadas, em sistema de revezamento, dispostas de maneira a
não incomodar os animais, por um período de
24 horas, no
último dia de coleta de dados. No período noturno, o
ambiente recebeu iluminação artificial, e as luzes
permaneceram acessas durante cinco dias antes da
avaliação
para promover a adaptação dos animais. Foram
verificados a
cada cinco minutos, se os animais estavam realizando
ingestão do alimento e água, ruminação ou ócio, de acordo
com a metodologia proposta por Fischer et al. (1998).
em freezer a -5°C para posterior análise laboratorial. Os
componentes bioquímicos para determinação do me-
tabolismo energético foram: triglicerídeos, colesterol e
VLDL (lipoproteína de muito baixa densidade); e, para
determinação do metabolismo proteico foram: proteína
total,
albumina, globulina, ácido úrico, ureia e creatinina.
A avaliação glicêmica foi feita no último dia de
coleta, sendo que neste dia a primeira alimentação foi
realizada logo após a primeira coleta de sangue e a segunda
alimentação após a última coleta. As coletas de sangue foram
realizadas às 8:00, 11:00, 14:00, 17:00 e
20:00 horas, sendo
as amostras coletadas por venopunção
jugular com auxílio de
Vacutainer® com fluoreto. Todas
as amostras foram
processadas em analisador bioquímico
automatizado
(Bioplus® 2000), usando kit comercial da GT Lab®.
Os cálculos das atividades foram feitos em mi-
nutos por dia, admitindo que, nos cinco minutos sub-
sequentes a cada observação, o animal permaneceu na
mesma atividade. o tempo total gasto em mastigação
(MAST) foi determinado somando-se os tempos gastos em
ingestão (ING) e ruminação (RUM). As eficiência de
ingestão (EIng), mastigação (EMast) e ruminação (ERum)
foram obtidas segundo Polli, et al. 1996, de acordo com as
equações: EIng (g/min) = CMS/Tal; EMast (g/min)
= CMS/Tmast e ERum (g/min) = CMS/Trum; em que CMS
é consumo de MS (g/MS/dia), Tal é o tempo de
alimentação
(h/dia), Tmast é o tempo em mastigação (h/
dia) e Trum é o
tempo em ruminação (h/dia) (Bürger et al. 2000).
Utilizou-se o delineamento inteiramente ao acaso, com
quatro tratamentos e cinco repetições por tratamento.
As médias
dos tratamentos foram comparadas pelo teste de SNK ao
nível de 95% de significância, utilizando o pacote
estatístico SAEG 9.0. A glicemia foi em esquema
de parcelas
subdivididas, sendo tratamentos nas parcelas
e horários
(foram analisados por estudo de regressão) de colheita nas
subparcelas. As médias de escore fecal foram avaliadas pelo
teste não paramétrico de Kruskal e Wallis (1952). Para
todas as variáveis foram testadas a normalidade e
homogeinicidade dos dados.
As colheitas de sangue para avaliação dos com-
ponentes bioquímicos foram realizadas por venopunção
jugular com auxílio de tubos Vacutainer® sem anti-coa-
gulante, durante três dias alternados (primeiro, terceiro e
quinto dia de coleta de dados). Os dados apresentados foram
obtidos através da média dos três dias de coleta.
Todas as
colheitas de sangue foram realizadas no período
da manhã,
antes do fornecimento da primeira alimenta-
ção. As amostras
de sangue coletadas foram centrifugadas
a 3000 rpm por 10
minutos, sendo os soros separados em alíquotas, guardados
em microtubos e armazenados
Resultados e discussão
Os animais alimentados com volumoso extrusado
contendo diferentes teores de Uruchloa brizantha (52,5%,
60,0% E 65,0%) tiveram maior consumo de matéria seca
expresso em kg/dia e em relação ao peso corporal do que
os
animais alimentados com silagem de milho (P<0,05; Tabela
2). De acordo com o NRC (2007) o consumo de matéria seca
ideal para ovelhas adultas em manutenção
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Parâmetros nutricionais e bioquímicos de ovinos consumindo volumoso extrusado com diferentes teores de
Uruchloa brizantha
em comparação a silagem de milho tradicional
é de 1,83% em relação ao peso corporal. Entretanto, no
presente estudo, o consumo manteve-se acima do
recomendado em todos os tratamentos.
silagem de milho. Ou seja, a silagem por conter partículas
maiores permaneceu no rúmen por mais tempo (gráfico
1),
sofrendo os efeitos físicos, provenientes da mastigação
durante
o processo de ruminação e da digestão pelos
microrganismos ruminais. Como observado, 59,25% do
alimento ofertado continham partículas com tamanho entre
8 e 19 mm (Gráfico 1) o que contribuiu para este efeito.
Para o tratamento silagem o consumo foi 8,04%
acima do recomendado, enquanto o tratamento extrusado
65,0% foi 59,33% acima do recomendado. Esta diferença
pode
estar relacionada ao efeito de enchimento ruminal causado
nos animais que consumiram exclusivamente
Tabela 2 Consumo e digestibilidade aparente da matéria seca em ovelhas alimentadas com diferentes níveis de Uru- chloa
brizantha no volumoso extrusado em comparação à silagem de milho.
Tratamento
CMS (kg/dia)
CMS/PC (%)
DMS (%)
Silagem de milho*
Foragge®52,5%
Foragge®60,0%
Foragge®65,0%
1,08 B
2,33 A
2,44 A
2,60 A
1,99 B
3,70 A
4,37 A
4,50 A
58,84
61,46
53,61
61,20
MG
CV
2,09
18,90
3,64
17,10
58,78
10,61
CMS = Consumo de matéria seca; PC = Peso corporal; DMS = Digestibilidade da matéria seca; MG = Média geral; CV = Coeficiente de variação; Letras
distintas na coluna diferem-se pelo Teste de Tukey a 5%. *Silagem de milho na forma convencional como tratamento controle.
Os primeiros estudos que comprovam isso foram
conduzidos por Campling et al. (1961), quando observa-
ram
que quando haviam taxas semelhantes de matéria
seca no
retículo-rúmen de vacas o consumo passava a ser dependente
da velocidade de escoamento deste material.
O consumo
observado por estes autores aumentou sig-
nificativamente
quando o alimento ingerido era retirado
através de cânulas
ruminais. O tamanho e quantidade de fibra presente na dieta
pode influenciar na formação do “match” ruminal,
constituído por um emaranhado de partículas flutuantes do
alimento, recém ingeridas e em
processo de fermentação pelos
microrganismos no rumen.
Quanto maiores as partículas de
alimento ingeridas, maior será a formação do “match”
ruminal, retardando a taxa de passagem do alimento e
consequentemente diminuindo o CMS (Gomes et al. 2012).
O volumoso extrusado, por sua vez, possui partículas
menores (2 mm) e os nutrientes apresentarem-se mais
facilmente digestíveis, pelo processo de extrusão, o que
permitiu que os animais consumissem até que pudessem
atingir sua demanda energética e física.
do presente estudo que foi em média 58,75%. Isso mostra
que o
volumoso extrusado usado nesse estudo pode ser mais
eficiente quando comparado a silagem de milho, pois
permitiu maior CMS sem afetar a digestibilidade e está
ainda se manteve acima do observado para silagens
convencionais na literatura como citado acima.
O consumo de água total (CH2O) foi maior para os
animais alimentados com volumoso extrusado (P>0,05;
Tabela 3) em comparação aos que receberam silagem de
milho, o que se deve ao teor de matéria seca dos volumosos,
sendo que a silagem de milho apresenta 31,20% de MS
enquanto o volumoso extrusado variou entre 88,43 e
91,00% de MS. De acordo com a equação proposta por
Forbes (1968) que possibilita calcular o
requerimento de
ingestão de água diária a partir do CMS
através da fórmula:
CH2O = 3,86 x CMS - 0,99, temos que a recomendação de
ingestão de água pelos animais que foram alimentados com
silagem de milho é de 3,18 l/dia enquanto para os
alimentados com volumoso ex- trusado é de 8,46 l/dia.
Nota-se que a volume de água ingerida pelos animais ficou
67 e 51% abaixo do valor recomendado para aqueles que
consumiram silagem e volumoso extrusado,
respectivamente (Tabela 3).
Apesar do maior consumo de matéria seca pe- las
ovelhas que receberam volumoso extrusado, não houve
efeito sobre a digestibilidade da matéria seca (P>0,05;
Tabela 2). Este resultado é interessante, visto que a fibra é
responsável por auxiliar na manutenção da saúde ruminal.
O processo de extrusão torna a fibra
mais facilmente
digestível, contribuindo para a obtenção
destes resultados.
Senger et al., (2005) encontraram valores para
digestibilidade in vitro da matéria seca da silagem de milho
variando de 46,2 a 57,9%, valor este mais baixo do
apresentado pelos volumosos extrusados
O volume e a densidade da urina não foram in-
fluenciados pelos tipos de volumosos estudados (P<0,05;
Tabela 3). Indicando que de fato, o maior consumo de água
pelos animais recebendo volumoso extrusado foi
para suprir
sua falta no alimento. Segundo Reece (2006), a excreção de
urina deve ser entre 100-400 mL para cada
10 kg de peso
corporal em ovinos. Sendo assim, a excre- ção média de
0,524 mL de urina observada no presente
Cad. Ciênc. Agrá., v. 12, p. 0111, https://doi.org/10.35699/2447-6218.2020.25810
6
Araújo, C. M. et al.
estudo manteve-se dentro da normalidade. A média de
densidade da urina manteve-se 1,7% acima do proposto por
Hendrix (2005), que sugere uma variação de 1,020 a 1,040
g/dL. Mesmo com a baixa ingestão de água os
animais não
apresentaram queda no CMS e DMS (Tabela
2), sendo assim,
podemos concluir que os mesmos não sofreram estresse
hídrico, uma vez que este é o maior limitante para o CMS
(Araújo Filho, 2006).
maior peso das fezes na matéria natural. para o peso
das
fezes na matéria seca, valores superiores foram obser- vados
em todos os tratamentos com volumoso extrusado
e inferior
para silagem de milho (o valor médio do peso das fezes na
matéria seca dos tratamentos com Uruchloa
brizantha em
diferentes níveis de inclusão foi 111% maior
em comparação
ao de silagem de milho). Maior peso de
fezes é resultado do
maior consumo (Tabela 2), entretan-
to, não houve queda da
digestibilidade e o escore fecal manteve-se dentro dos
valores considerados normais. Segundo Gomes et al.,
(2012) o escore ideal seria 2, e é um indicativo da condição
de saúde dos animais dentro da normalidade.
Houve efeito do tipo de volumoso sobre o peso das
fezes na matéria natural e na matéria seca (P<0,05; Tabela 3).
As ovelhas alimentadas com volumoso extru- sado contendo
60 e 65% de Uruchloa brizantha tiveram
Tabela 3 Consumo de água total (CH2O), consumo de água em relação ao consumo de matéria seca (CH2O/CMS), volume
urinário (Vol. Ur.), densidade urinária (Dens. Ur.), produção fecal expresso na matéria natural (PFMN), expresso
na matéria seca (PFMS), matéria seca das fezes (MSF) e escore fecal (EF) de ovelhas alimentadas com diferentes
níveis de Uruchloa brizantha no volumoso extrusado em comparação à silagem de milho
Tratamento
CH
2
O (L)
CH
2
O/CMS (L/kg)
Vol. Ur. (L)
Dens. Ur.
Silagem de milho*
Foragge®52,5%
Foragge®60,0%
Foragge®65,0%
1,05 B
4,00 A
4,49 A
3,87 A
1,86
1,65
1,82
1,75
0,805
0,408
0,407
0,478
1,0262
1,0454
1,0424
1,1186
MG
CV
3,35
33,19
1,77
12,41
0,524
38,56
1,0581
8,56
Tratamento
PFMN (kg)
PFMS (g)
MSF (%)
EF*
Silagem de milho*
Foragge®52,5%
Foragge®60,0%
Foragge®65,0%
1,40 B
2,32 AB
3,34 A
2,84 A
0,510 B
0,952 A
1,104 A
1,178 A
38,03
40,84
35,70
40,98
2,16
3,04
2,76
2,64
MG
CV
2,47
32,31
0,936
34,13
38,89
28,97
2,65
xxx
MG = Média geral; CV = Coeficiente de variação; *Estatística não paramétrica; Letras distintas na coluna diferem-se pelo Teste de Tukey a 5%.
*Silagem de milho na forma convencional como tratamento controle.
A matéria seca fecal apresentou média de 38,89%
(Tabela 3), estando dentro do recomendado para a espécie
segundo Van Clef et al. (2010) que é de 37 a 44%. As
diferenças citadas acima estão diretamente relacionadas com
o aumento no CMS pelos animais que consumiram
volumoso extrusado, e possivelmente maior tempo de
retenção da digesta no rúmen pelos animais que consu-
miram exclusivamente silagem, devido ao maior tamanho
de
partícula deste alimento (Gráfico 1).
ingestão foi gasto pelos animais que receberam volumoso
extrusado com 52,5% de inclusão de capim-braquiária
(Tabela 4), aumentando simultaneamente com o aumen-
to na
porcentagem de fibra no volumoso extrusado. O volumoso
extrusado é mais facilmente apreendido pelos animais
quando comparado à silagem de milho, o que leva ao menor
tempo gasto em ingestão dos alimentos extrusados.
Concomitantemente, a eficiência de inges- tão (Ef. Ing.) foi
maior para os animais que receberam ração extrusada,
independente do nível de inclusão de fibra, o que não
ocorre em dietas contendo volumosos convencionais, pois
estes requerem maior tempo para a manipulação do alimento
pelo animal, e para a digestão pelos microrganismos
ruminais. Novamente, as mudan- ças que ocorrem nos
nutrientes durante o processo de
Todas as variáveis analisadas no comportamento
ingestivo dos animais apresentaram diferença significativa
(P<0,05) entre os tratamentos (Tabela 4). As ovelhas que
receberam silagem de milho como volumoso per-
maneceram maior tempo em ingestão. Menor tempo em
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Parâmetros nutricionais e bioquímicos de ovinos consumindo volumoso extrusado com diferentes teores de
Uruchloa brizantha
em comparação a silagem de milho tradicional
extrusão (gelatinização do amido, ruptura das ligações entre
carboidratos e proteínas) contribuíram para estes
resultados,
além da diferença no tamanho das partículas.
Vale ressaltar
que o tratamento com 65% de Uruchloa apresentou tempo
em ingestão igual ao tratamento con-
tendo apenas silagem,
mostrando que a maior inclusão de fibra no volumoso
extrusado o deixou com características
semelhantes à
silagem. Isso mostra que além do tama-
nho da partícula do alimento, outro fator que interfere no
tempo de ingestão é a porcentagem de fibra, pois o
tratamento com 65% de Uruchloa continha maior teor de
FND
quando comparados aos demais (Tabela 1). A fato dos
animais alimentados com 65% de Uruchloa extru- sada
terem apresentado maior CSM e CMS/PC (Tabela 2)
também pode ter contribuído para o maior tempo em
ingestão.
Tabela 4 Comportamento ingestivo (minutos/dia) e consumo de matéria seca em relação ao tempo de ingestão, ruminação e
mastigação total (g/min) em ovelhas alimentadas com diferentes níveis de Uruchloa brizantha no volumoso
extrusado em comparação à silagem de milho.
Tratamento
ING (min)
RUM (min)
ÓCIO (min)
MAST (min)
Silagem de milho*
Foragge®52,5%
Foragge®60,0%
Foragge®65,0%
267,0 A
147,0 C
169,0 BC
232,0 AB
396,0 A
185,0 B
179,0 B
166,0 B
777,0 B
1.108,0 A
1.092,0 A
1.042,0 A
663,0 A
332,0 B
348, 0 B
398, 0 B
MG
CV
203,75
27,74
231,50
32,22
1.004,75
10,73
435,25
24,76
Tratamento
E.Ing (g/min)
E.Rum (g/min)
E.Mast (g/min)
Silagem de milho*
Foragge®52,5%
Foragge®60,0%
Foragge®65,0%
4,05 B
15,87 A
15,38 A
12,12 A
2,81 B
13,33 A
13,90 A
18,41 A
1,65 B
6,84 A
7,09 A
7,06 A
MG
CV
11,85
28,73
12,11
40,68
5,66
27,37
Ing. = Ingestão; Rum. = Ruminação; Mast. = Mastigação; E. = Eficiência; MG = Média geral; CV = Coeficiente de variação. Médias seguidas de letras
distintas na coluna diferem entre si pelo teste de Tukey. *Silagem de milho na forma convencional como tratamento controle.
O tempo gasto para ruminação (minutos/dia) foi
maior nos animais que receberam silagem de milho (P<0,05;
Tabela 4). Isso ocorre porque no volumoso extrusado os
nutrientes são altamente digestíveis e pos- suem partículas
menores (2 mm), levando a um menor tempo em ruminação,
como verificado por Gomes et al. (2012). Ao contrário do
volumoso extrusado, a silagem de milho possui partículas
maiores, entre 8 e 19 mm (Gráfico 1), e os nutrientes são
menos digestíveis e a taxa de passagem do alimento é
reduzida, sendo assim é necessário maior tempo em
ruminação para que estas partículas atinjam tamanhos
desejados e possam seguir
para os próximos compartimentos
digestórios, indicando a possível formação do match ruminal.
Isso também explica o aumento no consumo de MS (Tabela 2)
para os animais
alimentados com volumoso extrusado. Esse
aumento no CMS está relacionado ao menor tempo gasto em
rumi- nação, indicando maior taxa de passagem do alimento
pelo trato gastrointestinal e consequente esvaziamento
do
rúmen. Mesmo assim, a digestibilidade o foi afetada
(Tabela
2) indicando que o tempo gasto em ruminação foi suficiente
para suprir as necessidades fisiológicas dos
animais. Menor tempo em ruminação pode diminuir a
produção de saliva e causar desequilíbrios na manutenção
do
pH ruminal. Mesmo havendo diferença de tempo de
ruminação de 3 horas e 31 minutos entre o tratamento
silagem e o extrusado, nenhum distúrbio ruminal foi
observado. Esta diferença está também relacionada aos
maiores tamanhos das partículas da silagem de milho
(Gráfico 1).
O tempo gasto em mastigação foi menor (P<0,05)
para
os animais que receberam volumoso extrusado (Ta- bela 4). O
processo de mastigação pelos ruminantes é
fundamental para
a manutenção da saúde ruminal, tendo
em vista que durante a
mastigação ocorre a produção da saliva que é rica em íons
fosfato e bicarbonato que são agentes tamponantes e que
evitam quedas no pH do rúmen, o que reduz o
desenvolvimento de problemas, como por exemplo, acidose.
Ressalta-se que tais proble- mas não foram vistos nesse
experimento como citado anteriormente.
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Araújo, C. M. et al.
A eficiência de ruminação foi menor para o tra-
tamento silagem de milho. O tempo de permanência em ócio
foi maior para os animais que receberam volumo- so
extrusado (P<0,05; Tabela 4). Como estes animais
passaram menor tempo ingerindo e ruminando, conse-
quentemente permaneceram maior parte do dia em ócio,
comparado com aqueles que receberam silagem de milho,
o
que aumenta a probabilidade de elevar o CMS, como
observado na Tabela 2. A diferença de tempo de perma-
nência em ócio entre os tratamentos silagem de milho e
volumoso extrusado foi de aproximadamente cinco horas.
Maior tempo em ócio pode garantir aos animais
menor gasto
energético para desempenhar outras funções, proporcionando
possíveis ganhos no seu desempenho. Os
parâmetros
avaliados para o comportamento ingestivo foram
influenciados de forma positiva pela inclusão de volumoso
extrusado até 65%, não alterando de forma negativa o
comportamento ingestivo dos animais.
tiveram as maiores concentrações de ureia sanguínea
(P<0,05; Tabela 5), enquanto os animais alimentados
exclusivamente com silagem de milho tiveram as meno- res
concentrações. Segundo González e Scheffer (2002) a ureia é
indicador sensível e imediato da ingestão de proteína e é
sintetizada em quantidades proporcionais a concentração de
amônia produzida no rúmen, sendo esta tóxica para
ruminantes quando presente em altas concentrações. A
menor concentração de ureia sanguí- nea observada nos
animais que receberam exclusiva- mente silagem pode
indicar melhor uso do nitrogênio no rúmen. Enquanto, as
maiores concentrações obtidas
podem indicar falta de
sincronismo entre os carboidratos
e nitrogênio no ambiente
ruminal, refletindo em picos de ureia. Além disso, podemos
observar que os níveis de amido diminuíram à medida em
que houve aumento na inclusão de fibra no volumoso
extrusado (Tabela 1), indicando que pode ter ocorrido falta
de esqueleto de carbono de rápida degradação ruminal.
As ovelhas que receberam volumoso extrusado
com maiores teores de Uruchloa brizantha (60 e 65%)
Tabela 5 Metabolitos proteicos e energéticos de ovelhas alimentadas com diferentes níveis de Uruchloa brizantha no volumoso
extrusado em comparação à silagem de milho.
Creatinina
(mg/dL)
Ureia
(mg/dL)
Ácido úrico
(mg/dL)
Albumina
(g/dL)
Tratamento
Silagem de milho*
Foragge®52,5%
Foragge®60,0%
Foragge®65,0%
0,86
0,77
0,77
0,85
16,6C
21,53 B
34,5A
28,0A
0,16
0,26
0,20
0,13
3,49
3,54
3,58
3,30
MG
CV
VR*
0,81
14,98
1,2-1,9
25,21
12,36
17-43
0,18
28,37
0-1,9
3,47
8,6
2,4-3,0
Tratamento
PT (g/dL)
Triglicerídeo (mg/dL)
Colesterol (mg/dL)
Silagem de milho*
Foragge®52,5%
Foragge®60,0%
Foragge®65,0%
5,27
5,05
5,47
5,35
22,47
15,33
18,77
20,67
60,80
54,67
55,5
55,67
MG
CV
VR*
5,28
6,25
6,0-7,9
19,31
8,81
9-30
56,66
13,95
56-72
PT = Proteína bruta; MG= média geral; CV= coeficiente de variação; VR = valor de referência; * Kaneko et al., (2008); González (2000); Meyer (2004).
*Silagem de milho na forma convencional como tratamento controle. *Silagem de milho na forma convencional como tratamento controle.
Segundo Van Soest (1994), o amido tem alta
digestibilidade, entretanto sua extensão de digestão ru- minal
pode ser influenciada entre outros fatores pelo
processamento do grão e nível de ingestão. Neste senti- do, o
aumento no CMS pelos animais alimentados com volumoso
extrusado refletiu em maiores concentrações
de ureia sanguínea, obtidas devido a maior disponibili-
dade
de proteína altamente degradável no rúmen após a
extrusão.
Mertens (2011) e Patton (1994) encontraram níveis de
amido na silagem de milho de 27,7% e 39,4
± 9,5% respectivamente, valores estes superiores ao
volumoso extrusado.
Cad. Ciênc. Agrá., v. 12, p. 0111, https://doi.org/10.35699/2447-6218.2020.25810
9
Parâmetros nutricionais e bioquímicos de ovinos consumindo volumoso extrusado com diferentes teores de
Uruchloa brizantha
em comparação a silagem de milho tradicional
A creatinina possui estreita relação com a massa
muscular que varia de acordo com o grau de exercício
realizado pelos animais (Schutte et al., 1981). Os valores
observados neste experimento ficaram 67,5% abaixo do
nível mínimo indicado na literatura (Tabela 5). Isto está
relacionado à limitação de movimentação por parte dos
animais, uma vez que foram mantidos em gaiolas
metabólicas e não realizavam atividades rotineiras da
espécie, como pastejar, andar, entre outras. Além disso, a
creatinina também está ligada às funções renais, o que
poderia ter contribuído para um aumento na densidade de
urina, associada a baixa ingestão de água (Tabela 3). Porém,
vale ressaltar que os animais não passaram por
estresse
hídrico e suas funções renais não foram alteradas (Tabela 3),
uma vez que a densidade de urina se manteve
apenas 1,7%
acima do recomendado.
demandas energéticas do corpo. A concentração sérica dos
triglicerídeos está de acordo com as faixas recomendadas
para
a espécie ovina (Kaneko et al. 2008) (Tabela 5). O
colesterol
não sofreu influência dos tratamentos (P>0,05)
e manteve-se
próximo ao valor mínimo recomendado na
literatura (Tabela
5). Colesterol e ureia utilizam o mesmo
substrato para sua
formação, o piruvato. O piruvato origem a Acetil CoA e
está molécula é responsável pelo enlongamento da cadeia
lipídica, enquanto que para a formação da ureia é utilizado o
oxalacetato, que por sua
vez também é derivado do piruvato
(Motta, 2011). Como
houve aumento nos níveis de ureia
sanguínea, houve redução na formação do colesterol,
devido ao possível
desvio do substrato piruvato. Além disso,
os ingredientes
que compunham a dieta continham baixa
quantidade de EE (Tabela 1).
A concentração de ácido úrico indica correlação
positiva com a quantidade de proteína microbiana dis-
ponível para a digestão intestinal no animal (Giesecke et
al.,
1994) e capacidade fermentativa do rúmen, estando
relacionado com os valores observado para a DMS (Tabela
2).
Os valores encontrados no presente estudo mantive-
ram-se
dentro do indicado para espécie ovina (Tabela 5).
Não houve efeito dos tipos de volumosos e do
período de coleta a concentração de glicose sanguínea nos
animais (P>0,05; Tabela 6). Todos os valores de gli-
cemia
mantiveram-se dentro da faixa descrita por Kaneko (2008), de
50 80 ml dL
-1
. De acordo com o NRC (2007)
dietas que
elevam a proporção do ácido propiônico na
fermentação
ruminal podem elevar a produção de glicose no fígado.
Diversos estudos relacionam o aumento de áci-
do propiônico
com a inclusão de concentrado nas dietas (Amaral et al.
2009; Lana e Russel, 2001. A presença de amido tanto na
silagem de milho quanto no volumoso extrusado contribuiu
para esta normalidade, além de proporcionar manutenção da
estabilidade energética durante todo o período, evitando
possíveis problemas fisiológicos. No ruminante, o amido
passa primeiro por fermentação microbiana no rúmen, com
consequente
produção de células microbianas e ácidos graxos
voláteis (AGV), e o que não é transformado sofre,
posteriormente, digestão enzimática no intestino delgado com
liberação de
glicose (Waldo, 1973). A manutenção de níveis
estáveis para glicemia ao longo do dia mantém o aporte
energé- tico para os animais e evita a ocorrência de
distúrbios metabólicos.
A concentração de albumina manteve-se em
média
0,47 g/dL acima do recomendado (Tabela 5). Este metabólito
constituiu as principais proteínas plasmáticas,
desempenhando
várias funções como: manutenção da pressão osmótica e
viscosidade do sangue, transporte de nutrientes, metabólitos,
hormônios e produtos de excre- ção, regulação do pH
sanguíneo e coagulação sanguínea
(González, 2006). A
albumina também é considerada um
indicador mais sensível
para determinar o estado nutri- cional proteico, de modo que
valores persistentemente baixos sugerem inadequado
consumo proteico. Nesse sentido, podemos concluir que
não houve consumo de proteína abaixo do requerido pelas
ovelhas no presente estudo.
A quantidade de proteína total indica o estado
nutricional proteico do animal e sua redução pode oca-
sionar falhas hepáticas, renais, intestinais, hemorragias e
deficiências nutricionais (González, 2000). Apesar de
apresentar valores médios de 12% abaixo do ideal para a
espécie (Tabela 5) não foram observados problemas
fisiológicos durante o experimento. Isso indica que não se
pode analisar um metabólito isolado do outro, uma vez que
os demais relacionados ao estado proteico da dieta
mantiveram-se dentro do previsto na literatura, como por
exemplo a ureia (Tabela 5), e o CMS esteve acima do
recomendado para a espécie (Tabela 2).
Conclusão
O volumoso extrusado com até 65% de Uruchloa
brizantha em sua composição pode substituir a silagem
de
milho sem causar transtornos metabólicos para ovinos.
Sua
utilização promove aumento no consumo de maté- ria seca
pelos animais sem reduzir a digestibilidade do alimento e
sem causar efeitos deletérios nos parâmetros bioquímicos e
comportamento ingestivo.
Aprovação do Comitê de Ética
Os triglicerídeos servem, principalmente, como
fonte de energia metabólica celular, acumulando-se no
tecido adiposo, de onde são mobilizados em resposta às
Os dados foram submetidos ao Comitê de Ética na
Utilização de Animais obtendo aprovação sob o pro- tocolo
094/17.
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10
Araújo, C. M. et al.
Tabela 6 Glicemia e curva glicêmica de ovelhas alimentadas com diferentes tipos de volumoso extrusado em com- paração à
silagem de milho.
Tratamento
Glicemia (mg/dL)
Silagem de milho
Foragge®52,5%
Foragge®60,0%
Foragge®65,0%
56,76
62,64
61,96
61,48
CV
MG
11,16
60,71
Horário
Glicemia (mg/dL)
08:00
11:00
14:00
17:00
20:00
57,25
62,25
61,30
61,25
61,50
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