Aspectos geológicos e pedológicos dos solos do município de Montes Claros - MG
Regynaldo Arruda Sampaio
1
, Luiz Arnaldo Fernandes
2
*
DOI: https://doi.org/10.35699/2447-6218.2021.33964
Resumo
Objetivou-se realizar o levantamento dos aspectos geológicos e pedológicos bem como interpretações sobre fertilidade
dos solos do
município de Montes Claros MG. O levantamento foi realizado a partir de dados de literatura, de in- cursões a campo para
verificação de informações, de descrição de perfil de solo e de resultados de análises químicas e físicas de solo. Ao final foram
sistematizadas recomendações gerais de uso e manejo para as principais ordens de solo do município, com destaque para a
calagem, fertilização com nitrogênio e fósforo, e adoção de práticas de incremento da matéria orgânica e de conservação do
solo.
Palavras chave:
Levantamento de solo. Capacidade de uso das terras. Classificação de solo.
Geological and pedological aspects of soils in the municipality of Montes Claros - MG
Abstract
The objective was to carry out a survey of the geological and pedological aspects as well as interpretations on soil fertility in
the municipality of Montes Claros MG. The survey was carried out using literature data, field incursions to verify
information, description of the soil profile and results of soil chemical and physical analysis. At the end, general
recommendations for use and management were systematized for the main soil orders in the municipality, with emphasis on
liming, fertilization with nitrogen and phosphorus, and adoption of practices to increase organic matter and soil conservation.
Key words:
Soil survey. Land use capability. Soil classification.
1Universidade Federal de Minas Gerais. Montes Claros, MG. Brasil.
https://orcid.org/0000-0003-3214-6111
2Universidade Federal de Minas Gerais. Montes Claros, MG. Brasil.
https://orcid.org/0000-0002-9877-1924
*Autor para correspondência: luizmcmg@gmail.com
CADERNO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
Agrarian Sciences Journal
2
Sampaio, R. A.; Fernandes, L. A.
Introdução
O solo é um componente fundamental do ecossis-
tema terrestre e representa a interface entre os diversos
compartimentos que influenciam diretamente a vida
humana, como a litosfera, hidrosfera, atmosfera e bios- fera.
Na agricultura tem papel relevante como substrato e fonte de
água, nutrientes e ar para as plantas, bem como, na
regulação dos processos de infiltração, arma- zenamento e
escoamento da água. A sua conservação e manejo
adequados geram riquezas, proporcionando de
forma
sustentável a necessária produção de matéria-prima
que
alimenta a indústria e a economia regional (Lepsch, 2011;
Rezende et al., 2014).
Resultados e Discussão
Contexto geogico
O município de Montes Claros encontra-se sobre
as
unidades litoestratigráficas do Grupo Bambuí e de
coberturas fanerozóicas (Figuras 1, 2 e 3).
Os limites geográficos dessas unidades litoestra-
tigráficas situam-se entre a Serra do Espinhaço, a leste, e o
Rio São Francisco, a oeste, encontrando-se inserida na zona
de transição entre o Cráton São Francisco e a Faixa de
Dobramentos Araçuaí. O Cráton mencionado é
formado por
uma plataforma cristalina surgida em tempos
pré-brasilianos e
que serviu de antepaís para as faixas de dobramentos
firmadas no Brasiliano. Por situar-se externamente ao
cinturão orogênico, as estruturas sedi- mentares sofreram
pouco metamorfismo (Chaves et al., 2011; Chaves e
Andrade, 2014a).
Neste contexto, realizou-se o levantamento dos
aspectos geológicos e pedológicos, e de fertilidade dos
solos, do município de Montes Claros - MG.
Material e Métodos
Para o levantamento dos aspectos geológicos e
pedológicos utilizou-se de informações disponíveis em
Jacomine et al. (1979), Chaves e Benitez (2007), Valadão
et al.
(2008), UFV - CETEC - UFLA FEAM (2010), Cha-
ves e Andrade (2012); IBGE (2012), Chaves e Andrade
(2014a), Chaves e Andrade (2014b), Kuchenbecker e Costa
(2014), Kuchenbecker et al. (2014) e Embrapa (2018), de
incursões a campo para verificação de infor- mações e de
descrição de perfis de solo.
A formação geológica de maior extensão exposta
à
superfície no município é a Lagoa do Jacaré, a qual se
subdivide nas fácies Calcários e Metassiltitos Rítmicos
(Figura 4), ocupando o sudoeste e a faixa central do
munícipio na direção norte-sul. O calcário é maciço, puro e de
cor cinza-escuro, com predominância de calcilutitos e
calcarenitos, enquanto os ritmitos apresentam alternân-
cias de
níveis milimétricos argilo-siltosos de coloração cinza-clara,
com níveis carbonáticos de coloração cin- za-escura. A
formação com calcário caracteriza-se pela
melhor qualidade
dos substratos em relação a fertilidade
do solo, principalmente
de cálcio. Todavia, esse litotipo tende a ocupar faixas de
relevos mais acidentados e com menor aptidão agrícola
(Figura 5).
A partir dos dados de literatura e dos trabalhos de
campo foi apresentada a coluna estratigráfica, foi
sistematizada uma evolução geológica e petrográfica das
unidades estratigráficas do Cráton São Francisco, foram
construídos e, ou adaptados mapas de geologia, de altitude,
de vegetação e de solos e, foi esquematiza- da uma seção, na
latitude 16°44’0”S (porção central do município, na direção
leste-oeste), com informações de
geologia, de geomorfologia,
de pedologia e de vegetação
do município de Montes Claros.
A Formação Serra de Santa Helena, formada de
metassiltitos, tende a formar solos de baixa fertilidade
(Figura 4). Porém, possui uma boa concentração de mus-
covita, o que pode explicar os teores variando de médio a
alto de potássio nos solos dessa formação. Embora
constitua uma faixa de relevo de altitude mais baixa, com
condições hídricas mais favoráveis (Figura 5), as limitações
edáficas contribuem para o estabelecimento
de vegetação de
Cerrado e de Floresta Estacional (Figura
6).
Os aspectos relacionados à fertilidade do solo
foram levantados a parir de análises químicas e físicas de
amostras de solo e de incursões a campo para le-
vantamento da fertilidade natural do solo, friabilidade,
rochosidade, declividade, profundidade efetiva (horizon-
tes
A+B), susceptibilidade à erosão e limitações ao uso agrícola
(médio e alto nível tecnológico) das principais ordens de
solo do município de Montes Claros MG. A partir desses
resultados foram propostas algumas reco- mendações gerais
de uso e manejo das principais ordens de solo do município
de Montes Claros - MG.
A Formação Serra da Saudade, formada de ar-
gilitos, siltitos e diamictitos, tende também a ter solos
menos férteis (Figura 4), embora possua boa concentra- ção
de muscovita, com boa disponibilidade de potássio (Figuras
1 e 3). Neste ambiente, encontram-se os solos
mais
desenvolvidos, como os Latossolos (Figura 7), e pela
condição
hídrica mais limitada, a vegetação de Cerrado ou contato
Cerrado / Floresta Estacional (Figura 4).
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Aspectos geológicos e pedológicos dos solos do município de Montes Claros - MG
Figura 1 Coluna estratigráfica do município de Montes Claros - MG. As espessuras das unidades não se encontram em escala
real. Fonte: Adaptado de Chaves e Andrade (2014a).
Os Depósitos Elúvio-Coluvionares compreendem
uma boa extensão da faixa ocidental do município de
Montes Claros, aflorando em manchas restritas, cobrindo
e
tendo adjacência principalmente a formação Serra da
Saudade e Lagoa do Jacaré (Figura 4). São constituídos por
sedimentos areno-siltosos, de cores amareladas à
avermelhadas, contendo fragmentos de quartzo de veio
esparsos, e presença de superfícies lateritizadas em alguns
locais. Os solos desse ambiente são mais intemperizados e
também com maior restrição hídrica, sendo a área ocupada
por vegetação de Cerrado em contato com a Floresta
Estacional (Figura 6).
4). Nestes substratos são encontradas coberturas arenosas finas
a dias, consolidadas ou semiconsolidadas, sendo em geral
de coloração vermelha intensa, indicando contri-
buição
ferruginosa. É uma área de grande ocorrência de Nitossolos
(Figura 7), sendo um ambiente de mais baixa altitude (Figura
5) e de maior conservação de umidade. A vegetação
característica deste ambiente é a Floresta Estacional-
Caducifólia (Figura 6).
A Formação Urucuia distribui-se de forma esparsa do
centro ao sul do município e é constituída por arenitos
finos,
com intercalações locais de siltitos (Figura 4). Os arenitos
são predominantes, possuindo cores variando de branca a
branca-avermelhada, enquanto os arenitos siltosos e siltitos
apresentam coloração roxa. Esta for-
Os Depósitos detrítico-lateríticos abrangem uma boa
parte da porção norte/nordeste do município (Figura
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Sampaio, R. A.; Fernandes, L. A.
mação encontra-se em altitude mais elevada (Figura 5), sendo
os solos desse ambiente o Latossolo, o Cambissolo e o
Neossolo (Figura 7). Pelas restrições hídricas e baixa
fertilidade dos solos, a área é principalmente de ocorrência
de
vegetação de Cerrado (Figura 6).
Figura 2 Evolução geológica e petrografia das unidades estratigráficas 1, 2, 3 4 e 5 do Cráton São Francisco.
A Formação Abaeté, pertencente ao grupo Area- do,
distribui-se de forma esparsa na porção meio norte e
noroeste
do município (Figura 4). Essa unidade é formada
de
conglomerados clasto-sustentados, polimíticos, com
seixos
de quartzitos, quartzo e metapelito, com ocorrência em
condições de maior altitude (Figura 5). O Latossolo é a ordem
predominante deste ambiente (Figura 7), sendo
ocupado pela
vegetação de Cerrado (Figura 6).
baixas altitudes do município (Figura 5) e são formados de
sedimentos arenosos com cascalhos inconsolidados,
com
ampla presença de seixos de quartzo arredondados e por
sedimentos de silte e argila. Solos como os Neossolos
e
Argissolos são encontrados neste ambiente (Figura 7), bem
como a predominância de Floresta estacional-cadu- cifólia
(Figura 6).
Distribuição e atributos das principais ordens de solos
do
município
Os Depósitos aluvionares constituem a menor e a
mais recente unidade geológica, situada na porção norte do
município sobre a Formação Serra de Santa Helena
(Figura
4). Os depósitos têm ocorrência nas áreas de mais
A área total do município de Montes Claros é de
3.576,76 km2, sendo as ordens de solos, conforme o
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Evolução geológica
(1)
Petrografia(1)
1 - Deposição dos sedimentos arenosos da Formação Duas Barras, basal
do Grupo Macaúbas, em ambiente marinho raso a fluvial, numa idade
inferior a aproximadamente 900 milhões de anos, cobrindo os sedimentos
siliciclásticos mesoproterozóicos do Supergrupo Espinha- ço (que ocorrem
a sul e leste, fora da área), principal abastecedor de material clástico dessa
formação.
Formação Duas Barras: Quartzo-metarenitos
impuros formados à base de quartzo (85- 94%),
fragmentos de rochas (0-10%), óxidos e
argilominerais (5-6%). Presença de musco- vita,
rutilo e limonita dispersos na estrutura da rocha.
2 - A Formação Duas Barras é sobreposta pelos diamictitos de am- biente
glacial da Formação Serra do Catuni. Embora na área esses sedimentos
estejam mal expostos, e ainda bastante mascarados pela deformação, a sul
eles foram caracterizados como de origem glacio- marinha proximal. A
idade máxima de sedimentação para tais depó- sitos é balizada em cerca de
850 milhões de anos.
Formação Serra do Catuni: Metadiamictitos
formados de argilominerais (4-80%), quart- zo
(15-65%), carbonatos e óxidos (0-5%),
sericita (0-1%), fragmentos de rochas (0- 30%).
Presença de biotita dispersa na estru- tura da
rocha.
3 - É possível que tenha ocorrido um hiato sedimentar expressivo, até
iniciar a sedimentação pelito-carbonática do Grupo Bambuí. Esses
depósitos foram acumulados em um mar epicontinental preferencial- mente
raso, com certas porções localizadas mais profundas, numa bacia de
antepaís (foreland), onde a principal área-fonte de detritos estaria a oeste,
na região da Faixa Brasília.
-
4 - A seção basal do Grupo Bambuí, Formação Sete Lagoas (não pre- sente
no município de Montes Claros), foi datada em 740 milhões de anos,
que indicam os quase 100 milhões (máximos) de anos de diferença para a
sequência inferior, cujos calcários representam típi- cos Cap carbonates.
Nesta etapa, pode ter havido um expressivo hiato deposicional dentro da
própria sequência.
-
5 - A sedimentação das formações Serra de Santa Helena e Lagoa do
Jacaré na área enfocada, marca regionalmente o segundo megaciclo
deposicional da Bacia Bambuí, o qual se caracteriza por uma sequên- cia
basal marinha transgressiva (Formação Serra de Santa Helena) que evolui
para outra, regressiva (Formação Lagoa do Jacaré), com seus depósitos
típicos de mar bastante raso.
Formação Serra de Santa Helena: Metassil- titos
formados de quartzo (50%), argilomi- nerais
(30%), muscovita (10%) e óxidos de ferro
(10%).
Formação Lagoa do Jaca (Metassiltitos
Rítmicos): Base síltica com argilominerais (92-
94%), quartzo (2-5%), óxidos (1-2%) e
muscovita (1-2%).
Formação Lagoa do Jacaré (Calcários): Cal-
cilutitos e calcarenitos com 95-98% de car-
bonato e 2-5% de argilominerais, sulfetos
(pirita) e quartzo.
5
Aspectos geológicos e pedológicos dos solos do município de Montes Claros - MG
Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (Embrapa,
2018), na escala de 1:100.000, distribuídas da seguin- te
forma: Nitossolo Háplico (1.623,49 km2), Latossolo
Vermelho-Amarelo (780,45 km2), Cambissolo Háplico
(437,08 km2), Neossolo Litólico (382,00 km2), Argissolo
Vermelho-Amarelo (227,48 km2) e Latossolo Vermelho
(126,26 km2) (Figura 7).
Figura 3 Evolução geológica e petrografia das unidades estratigráficas 6, 7, 8 e 9 do Cráton São Francisco.
(1) Adaptado de Chaves et al. (2011) e Chaves e Andrade (2014a).
A ordem Nitossolo Háplico é a que ocupa maior
área no município (45,39% da área total), apresentando,
em
geral, como principais atributos, o Horizonte A de
textura argilosa ou muito argilosa, com estrutura do tipo
blocos, de tamanho médio, consistência seca, moderada
ou
forte e consistência úmida firme, com transição gradual
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Evolução geológica
1
Petrografia1
6 - O terceiro megaciclo de sedimentação do Grupo Bambuí é ca-
racterizado na região pela sedimentação dos argilitos e diamictitos da
Formação Serra da Saudade, os quais evidenciam uma nova fase
transgressiva, cujos depósitos possuem localmente evidências de mar mais
profundo. Neste período, a sedimentação que vai caracterizar uma nova
regressão marinha, representada pelos depósitos arenosos da Formação
Três Marias, não ocorre na região (somente a oeste), constituindo o topo
do Grupo Bambuí.
Formação Serra da Saudade: Rocha pelítica
formada por argilominerais (25-60%), mus-
covita (10-30%), quartzo (15-30%) e óxidos
(5-10%).
7 A sedimentação da Bacia Bambuí ocorreu em parte paralelamente à
edificação das faixas Brasília (a oeste) e Araçuaí (a leste) às mar- gens do
Cráton São Francisco, durante a orogenia Brasiliana. Esse período
orogênico teve seu clímax desenvolvido entre 630 e 490 milhões de anos,
promovendo dobramentos e falhamentos na zona externa ao cráton,
afetando ainda as unidades inferiores do Grupo Bambuí, principalmente
nas áreas próximas às margens cratônicas.
8 - Um longo período de quiescência tectônica sobreveio ao final do
Brasiliano. A geração da Bacia Sanfranciscana, termo utilizado para
designar a depressão na qual se acumularam as coberturas fanerozói- cas
sobre o Cráton São Francisco, iniciou-se no final do Paleozóico,
possuindo representantes na área enfocada com os depósitos conti- nentais
fluviais e eólicos, respectivamente, possuindo idades cretáci- cas inferior
(Formação Abaeté) e superior (Formação Urucuia).
Formação Abaeté: Conglomerados clasto-
-sustentados, polimíticos, com seixos de
quartzitos (predominantes), quartzo e meta-
pelito, com quase ausência de matriz e um
cimento silicoso, depositados em sistemas
fluviais e de leques aluviais.
Formação Urucuia: Formada por arenitos finos,
vermelhos, de sedimentação eólica, compostos
de quartzo (60-95%), argilomi- nerais (2-20%),
óxidos (1-20%) e fragmen- tos de rochas (0-
2%). Presença de muscovita dispersa na estrutura
da rocha.
9 No final, essas unidades cretácicas de cobertura do cráton são
soerguidas e capeadas, durante o Cenozóico, por sedimentos incon-
solidados, representados por depósitos detrítico-lateríticos, colúvio-e-
luviais e aluvionares.
Depósitos detrítico-lateríticos: Coberturas
arenosas finas a médias, consolidadas ou se- mi-
consolidadas, em geral de coloração ver- melha
intensa denotando contribuição ferru- ginosa,
com formação em diversos locais de horizontes
lateríticos.
Depósitos colúvio-eluviais: Sedimentos are- no-
siltosos amarelos a avermelhados, con- tendo
fragmentos de quartzo de veio espar- sos, com
ocorrência restrita de superfícies laterizadas.
Depósitos aluvionares: Sedimentos arenosos
com cascalhos inconsolidados, com amplo
predomínio de seixos de quartzo arredonda- dos,
e também por sedimentos enriquecidos por silte
e argila.
6
Sampaio, R. A.; Fernandes, L. A.
e plana entre horizontes. O horizonte B nítico é de textura
argilosa ou muito argilosa, com estrutura prismática ou
em
blocos, de tamanho médio e grau moderado ou forte, e
consistência muito dura, friável, muito plástica e muito
pegajosa, com cerosidade comum e forte, e transição di-
fusa e plana. São solos com profundidade dos horizontes
A+B
maiores do que 100 cm, apresentando matiz da
amostra
úmida e seca de 5,0YR e 7,5YR, respectivamente,
e relação
silte/argila menor do que 0,7.
Figura 4 Mapa geológico do município de Montes Claros. Adaptado de Chaves e Benitez (2007); Chaves e Andrade
(2012);
Chaves e Andrade (2014a); Chaves e Andrade (2014b); Kuchenbecker e Costa (2014); Kuchenbecker
et al. (2014).
Em condição de escala mais detalhada, observa-se na
área de ocorrência de Nitossolos Háplicos, em situações
onde há maior concentração de ferro, a presença também do
Nitossolo Vermelho, com matiz 10 R, ou, onde existem
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7
Aspectos geológicos e pedológicos dos solos do município de Montes Claros - MG
cores policromáticas, encontra-se Argissolos, os quais são
classificados assim apenas por não atenderem ao critério
de
ausência de policromia, mesmo não apresentando gradiente
textural ou mudança textural abrupta.
tróficos, ácidos, com índice de saturação por alumínio
acima de 50%, necessitando da aplicação de corretivos de
acidez e adubação para o cultivo de plantas. Quando
derivados de rochas calcárias, apresentam pH neutro, alta
saturação por bases e baixa saturação por alumínio. Do
ponto de vista físico, são solos com taxas de infiltração de
água não muito elevadas e baixa capacidade de água
disponível, com susceptibilidade a erosão laminar, sendo
indispensável em seu manejo agrícola, o incremento de
matéria orgânica.
Os Nitossolos Háplicos concentram-se na faixa
central e leste do município, em altitudes mais baixas, em
relevos planos a suave ondulados, com declives de até 8%,
com boa profundidade e boa aptidão agrícola. Contudo, são
solos cauliníticos, com baixa CTC, dis-
Figura 5 Mapa de altitude do município de Montes Claros. Adaptado de Chaves e Andrade (2014a).
O Latossolo Vermelho-Amarelo é a segunda or-
dem de maior ocorrência no município de Montes Claros
(21,82% da área total), situando-se na região oeste da
localidade e tendo como atributos gerais, o Horizonte A de
textura média, na forma de grãos simples, com
consistência da amostra úmida e seca do tipo solta, e
consistência molhada do tipo não plástica e não pegajosa,
com
transição gradual e plana. O Horizonte B latossóli- co é de
textura média, na forma de grãos simples, com consistência
similar ao Horizonte A e transição difusa e
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Sampaio, R. A.; Fernandes, L. A.
plana entre horizontes. São solos com profundidade dos
horizontes A+B maiores do que 200 cm, apresentando
matiz da amostra úmida e seca de 5,0 a 7,5 YR, respec-
tivamente, e relação silte/argila menor do que 0,7.
Figura 6 Mapa de vegetação do município de Montes Claros. As pequenas variações de vegetação locais não estão
representadas no mapa em razão da escala pouca detalhada. Adaptado de IBGE (2012).
Na área de ocorrência desse solo, verifica-se em
condição de maior detalhamento da escala, a associação com
Neossolo Quartzarênico, o qual apresenta ausência de
Horizonte B e textura arenosa até pelo menos 150 cm de
profundidade ou até o contato lítico.
corretivos de acidez, bem como, de adubação para o
cultivo
de plantas. Do ponto de vista físico, são solos com taxas de
infiltração de água não muito elevadas, em razão
da elevada
percentagem de areia fina ( 50 dag kg-1), e baixa
capacidade de retenção e de água disponível, com
susceptibilidade a erosão laminar, sendo indispensável em
seu
manejo agrícola, o incremento de matéria orgânica. É um
solo com limitações agrícolas muito mais pronun- ciadas do
que a ordem Nitossolo Háplico antes descrita.
Os Latossolos Vermelho-Amarelos na região si-
tuam-se em relevos planos a suave ondulados, com de-
clives de até 8%, com boa profundidade e boa aptidão
agrícola. Contudo, são solos muito pobres em ferro, com
predominância de caulinita, com CTC extremamente baixa,
distróficos, ácidos, necessitando da aplicação de
O Cambissolo Háplico é a terceira ordem de
solos de maior ocorrência no município (12,22% da
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Aspectos geológicos e pedológicos dos solos do município de Montes Claros - MG
área total), concentrando-se mais na área centro-sul e
sudeste da localidade. Como atributos gerais desta ordem
verifica-se Horizonte A com textura argila-siltosa, com
estrutura maciça e consistência da amostra seca e úmida
dura e
friável, respectivamente, e consistência da amostra
molhada
plástica e pegajosa, apresentando ainda transi- ção clara e
plana. O Horizonte B incipiente é de textura
argilo-siltosa, do tipo blocos pequenos e médios e grau
fraco, com consistência da amostra seca e úmida dura e
muito friável, respectivamente, e consistência molhada
plástica e pegajosa, com transição gradual e plana, com
matiz da amostra úmida e seca variando de 5YR a 10YR, e
relação silte/argila superior a 0,7.
Figura 7 Mapa de solos do município de Montes Claros (Adaptado de UFV - CETEC - UFLA - FEAM, 2010).
Os Cambissolos plicos no município situam-se em
relevo ondulado e forte ondulado, com declives entre
8 e 45%,
não muito profundos, apresentando algumas restrições ao
uso agrícola. Quando mal manejados e expostos a erosão,
tendem a apresentar exposição de
“toá”. São solos
predominantemente cauliníticos, ácidos,
com baixa CTC e
baixa saturação por bases, e índice de saturação por
alumínio elevado, necessitando da apli- cação de corretivos
de acidez, bem como, de adubação para o uso agrícola.
Todavia, quando sob influência de Formação Lagoa do
Jacaré (calcário), tem pH básico e alta saturação de bases,
com boa fertilidade. Do ponto de vista físico, são solos com
taxas de infiltração de água baixos, principalmente em razão
do alto teor de silte, e, tanto pela declividade quanto pela
baixa infiltração de
água, são solos muito susceptíveis a erosão. Requerem para
o seu uso agrícola a adoção de práticas intensivas de
conservação do solo e da água.
Os Neossolos Litólicos ocupam 10,68% da área
total do município de Montes Claros, situando-se na área
sudoeste da localidade, em área de relevo ondulado a
montanhoso, com declives entre 20 e 45%. Apresentam
contato lítico ou lítico fragmentário numa profundida- de de
até 50 cm, apresentando horizonte A assentado diretamente
sobre a rocha ou sobre um horizonte C ou Cr ou sobre
material com 90% ou mais, por volume, de sua massa
constituída por fragmentos grosseiros, como cascalhos,
calhaus e matacões.
Cad. Ciênc. Ag., v. 13, p. 0118, https://doi.org/10.35699/2447-6218.2021.33964
10
Sampaio, R. A.; Fernandes, L. A.
Quando formados por influência do calcário, o
Horizonte A é de textura franco-argilosa, com estru- tura
granular de tamanho pequeno a muito pequeno, grau
moderado, e consistência da amostra seca e úmida
ligeiramente dura e muito friável, respectivamente, e
consistência molhada plástica e pegajosa, com transição
abrupta e plana. São solos cauliníticos, com pH próximo a
neutralidade, sem alumínio trocável, com alta percen-
tagem
de saturação de bases, relação silte/argila próxima de 1 e cores
de amostras de solos secas e úmidas variando
de 5YR a 10YR.
Os Latossolos Vermelhos ocupam 3,53% da área
total do município, situando-se na porção sudoeste da lo-
calidade, em relevos planos a suave ondulados, com decli- ves
de até 8%. De modo geral, apresenta como principais
atributos, o Horizonte A de textura média, na forma de
grãos
simples, com consistência da amostra seca e úmida
do tipo
macia e muito friável, e consistência molhada do tipo
ligeiramente plástica e ligeiramente pegajosa, com transição
gradual e plana. O Horizonte B latossólico é de textura
média, na forma granular, com consistência similar ao
Horizonte A e transição difusa e plana entre horizontes. São
solos com profundidade dos horizontes A+B maiores do que
200 cm, apresentando matiz da amostra úmida e seca de
2,5YR ou mais vermelho, e relação silte/argila menor do
que 0,7.
Por outro lado, quando formados a partir de ardó- sia e
metargilito, apresentam textura franco argilo-siltosa,
com
estrutura em blocos de tamanho pequeno e médio, e grau
moderado, com consistência seca e úmida ligei- ramente
dura e friável, respectivamente, e consistência molhada
muito plástica e muito pegajosa, com transição clara e plana.
São solos cauliníticos, com pH acima de 5,5, com índice de
saturação de alumínio muito baixo, com percentagem de
saturação de bases acima de 50%, relação silte/argila acima
de 1,5 e cores de amostras de solos secas e úmidas com
matiz variando de 5YR a 10YR. Apesar da boa fertilidade,
são solos rasos, pouco desenvolvidos e muito erosivos,
prestando-se somente para uso como área de reserva
ambiental.
Os Latossolos Vermelhos possuem uma concen-
tração um pouco mais elevada de ferro e situam-se em
relevos planos a suave ondulados, com declives de até 8%,
com boa profundidade e boa aptidão agrícola. Con- tudo, são
solos com predominância de caulinitas, com
CTC baixa,
distróficos, ácidos, necessitando da aplicação
de corretivos de
acidez, bem como, de adubação para o cultivo de plantas.
Em algumas áreas sob influência de
calcário no material de
origem, apresentam boa fertilidade natural. Do ponto de vista
físico, o solos com boas taxas
de infiltração de água,
todavia, com baixa capacidade de retenção e de água
disponível, com susceptibilidade a erosão laminar ligeira,
sendo indispensável em seu manejo agrícola, o incremento
de matéria orgânica.
Os Argissolos Vermelhos-Amarelos ocupam 6,36%
da
área total do município, situando-se principalmente na
porção sudeste da localidade, em relevo suave ondu- lado a
forte ondulado, com declividades variando de 3 a 45%. São
solos que apresentam, em geral, Horizonte A com textura
franco-argilosa ou argilosa, estrutura gra- nular ou em blocos
de tamanho variando de pequeno a médio, com grau
moderado e consistência da amostra
seca e úmida dura e
firme, e consistência molhada muito plástica e muito pegajosa;
com transição clara e plana. O
Horizonte B tem textura muito
argilosa, com estrutura do tipo blocos de tamanho médio e
grau moderado, e cerosidade abundante e moderada, com
consistência da amostra seca e úmida dura e firme, e
consistência da amostra molhada plástica e muito pegajosa,
e relação
silte/argila inferior a 0,7. As cores dos horizontes
variam
de 7,5 a 2,5YR, o que confere a estes solos a
presença de policromia, sendo esse fato determinante para a
sua
diferenciação dos Nitossolos, uma vez que pode apresentar
gradiente textural insuficiente para atender ao critério de
classificação do horizonte diagnóstico como B textural.
Convém ressaltar que outras ordens de solos são
constatadas no município, porém, de forma muito
localizadas, como os Gleissolos e Vertissolos nas proxi-
midades de rios e lagos, bem como, de Plintossolos em
ambientes mal drenados e com segregação de ferro. Em
substrato calcário, onde maior acúmulo de matéria
orgânica e teores elevados de bases trocáveis, e de carbo-
natos, nota-se a presença de horizonte A Chernozêmico e,
consequentemente, de Chernossolos. Em algumas
depressões podem ocorrer teores mais elevados de sódio
(percentagem de sódio trocável igual ou maior do que
15%), causando dispersão de argilas e impermeabiliza- ção
do solo quando as concentrações de sais na solução do solo
são baixas (condutividade elétrica do extrato de saturação do
solo menor do que 4 dS m-1).
Considerando as variações topográficas dentro da
formação geológica Serra de Santa Helena, a qual é
formada por metassiltitos com folhelhos ardosianos
intercalados, verifica-se a sequência de evolução de so- los
apresentada na Figura 8. Destaca-se, neste caso, a formação
de um saprolito sobre a rocha, o qual é menos denso do que a
rocha original e com cores amareladas e vermelho-
amareladas, denotando perdas e reações de oxidação do
ferro, apresentando ainda um pouco de porosidade. Esses
fragmentos, quando expostos na su- perfície por erosão da
camada de solo superficial, recebe a denominação popular de
“toá” (Matos, 2008), sendo
considerado pelos agricultores
como um indicativo de área
São solos cauliníticos, ácidos, com baixa CTC,
baixa saturação de bases e alto índice de saturação de
alumínio, necessitando da aplicação de corretivos de acidez,
bem como, de adubação para o cultivo. Do pon- to de vista
físico, são solos com taxas de infiltração de água não muito
elevadas e baixa capacidade de água
disponível, com
susceptibilidade a erosão laminar, sendo
indispensável em seu
manejo agrícola, o incremento de matéria orgânica e práticas
de conservação do solo.
Cad. Ciênc. Ag., v. 13, p. 0118, https://doi.org/10.35699/2447-6218.2021.33964
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Aspectos geológicos e pedológicos dos solos do município de Montes Claros - MG
inadequada para a prática agrícola e bastante vulnerável.
“O
“toá” é um termo regional, possivelmente derivado da
palavra tauá (taguá), que significa barro na língua Tupi-
Guarani. O tauá quando umedecido pode ser utili- zado, por
exemplo, para pintar casas (taba). Combinada com a palavra
“tinga” (cor branca), tauá-tinga, ambas do Tupi-Guarani,
podem ter originado a palavra “Taba- tinga” (barro branco)
(Bueno, 1987, citado por Resende et al., 2014).
regime hídrico dos solos, com alternância de condições
de
alagamento (redução) e de déficit hídrico (oxidação),
o que
permite a movimentação e precipitação de ferro e manganês
no solo (Oliveira et al., 2001).
Conforme já comentado, os solos desse ambiente
calcário apresentam boa fertilidade (Figura 9). Contudo,
o
relevo mais movimentado requer sempre a adoção de
práticas de conservação dos solos, para evitar as perdas
por
erosão. Quando bem manejados, com curvas de nível, cordões
de retenção, terraços, adição de matéria orgânica,
preparo do
solo e sistema de cultivo adequados, perma- necerão como
um meio de produção agrícola valioso e proveitoso.
Em ambientes de substrato calcário (Formação
Lagoa do Jacaré), pode ocorrer nos horizontes mais pro-
fundos a presença de nódulos ferromanganosos do tipo
“chumbinho de caça”, que estão associados aos carbonatos de
cálcio. Esses dulos são indicadores de alterações no
Figura 8 Sequência de material de origem e de solos da Formação Serra de Santa Helena: Metassiltito (A); Saprolito do
Metassiltito “toá” (B); Superfície do solo erodida com exposição de “toá” (C); Neossolo Litólico (D);
Cambissolo Háplico (E) e Nitossolo Háplico (F).
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12
Sampaio, R. A.; Fernandes, L. A.
Na condição de relevo de mais baixa altitude,
típico de Floresta Estacional-Caducifólia (Figura 10),
ocorrem as melhores condições hídricas para a atividade
agrícola. Condição essa que se sobrepõe a da fertilidade
do
solo, uma vez que se trata de um município com baixo
índice pluviométrico e distribuição de chuvas. Neste
contexto, as práticas de conservação de água e solo
mencionadas devem ser estimuladas, a fim de tornar esse
ambiente ainda mais conservador de umidade.
Figura 9 Detalhes de um Neossolo Litólico com exposição de rocha calcária (A) e de um Cambissolo Háplico (B) na
Formação Lagoa do Jacaré (Calcários).
Figura 10 Seção geológica, geomorfológica, pedológica e de vegetação do município de Montes Claros na latitude
16°44’0”S (porção central, direção leste-oeste).
Fertilidade e Uso Agrícola dos Solos
De modo geral, os solos do município de Montes
Claros apresentam baixa fertilidade natural, exceto algu-
mas
manchas (pequenas áreas) de influência de rochas calcárias.
Nas áreas de Latossolo Vermelho-Amarelo,
Latossolo
Vermelho e Argissolo Vermelho-Amarelo, o pH,
os teores de
nutrientes (cálcio, magnésio, potássio e fós-
foro) e os valores
de saturação por bases e capacidade de
troca de cátions (CTC)
variam de muito baixos a baixos, enquanto que os valores de
alumínio (acidez trocável) são elevados, exceto no
Latossolo Vermelho-Amarelo, que varia de baixo a médio
(Tabela 1).
Na Tabela 1 são apresentados os valores de alguns
atributos físicos e químicos de amostras de solo coletadas
na
camada superficial (0 a 20 cm de profundidade), em áreas de
vegetação nativa / não cultivada, das principais ordens de solo
que ocorrem no município de Montes Claros. Todavia,
recomenda-se, para fins de manejo da fertilidade do solo e de
irrigação, uma amostragem mais
detalhada da área a ser
manejada, em função da variabi- lidade espacial dos atributos
do solo e da escala utilizada
nesse trabalho.
Cad. Ciênc. Ag., v. 13, p. 0118, https://doi.org/10.35699/2447-6218.2021.33964
13
Aspectos geológicos e pedológicos dos solos do município de Montes Claros - MG
Tabela 1 Atributos químicos e físicos do solo (média ± desvio padrão) de amostras coletadas na camada superficial (0 a 20 cm
de profundidade) em áreas de vegetação nativa / não cultivada. Análises químicas realizadas de acordo com as
metodologias descritas em Ribeiro et al. (1999) e físicas, de acordo com Teixeira et al. (2017).
Solo
(1)
pH
H2O
P
K
Ca
Mg
Al
H+Al
t
T
mg dm-3
cmolc dm-3
LV
A
LV(2)
PVA(2)
NX
(2)
CX
(2)
RL
(3)
5,2 ± 0,2
4,7 ± 0,1
5,2 ± 0,2
5,5 ± 0,3
5,4 ± 0,2
6,7 ± 0,2
2 ± 0,5
5 ± 0,2
5 ± 0,3
8 ± 0,5
4 ± 0,2
3 ± 0,3
18 ± 1,2
30 ± 2,7
38 ± 3,4
63 ± 9,4
48 ± 5,6
115 ± 12,5
0,2 ± 0,1
0,6 ± 0,1
0,6 ± 0,1
1,1 ± 0,3
0,8 ± 0,2
4,1 ± 0,8
0,1 ± 0,1
0,1 ± 0,1
0,2 ± 0,1
0,3 ± 0,1
0,2± 0,1
1,3 ± 0,4
0,5 ± 0,2
1,3 ± 0,5
1,1 ± 0,3
1,0 ± 0,2
1,0 ± 0,2
0,2 ± 0,1
1,8 ± 0,5
3,2 ± 0,3
3,2 ± 0,2
2,5 ± 0,2
2,8 ± 0,1
2,9 ± 0,6
0,8 ± 0,3
2,1 ± 0,4
2,0 ± 0,2
2,6 ± 0,5
2,1 ± 0,2
5,9 ± 0,7
2,1 ± 0,4
4,0 ± 0,5
4,1 ± 0,3
4,1 ± 0,4
3,9 ± 0,4
8,6 ± 0,6
Solo
T
V
S
B
Cu
Fe
Mn
Zn
MOS
%
mg dm-3
- dag kg-1 -
0,71 ± 0,4
1,8 ± 0,9
2,0 ± 0,8
2,3 ± 1,1
1,9 ± 0,8
1,1 ± 0,6
LV
A
LV(2)
PVA(2)
NX
(2)
CX
(2)
RL
(3)
59 ± 5,2
63 ± 6,1
55 ± 4,8
39 ± 4,1
47 ± 3,5
3,4 ± 04
16 ± 1,3
20 ± 1,0
22 ± 1,2
38 ± 2,4
29 ± 2,2
66 ± 5,8
1,1 ± 0,8
2,3 ± 1,2
5,5 ± 3,9
7,8 ± 4,4
6,9 ± 3,5
1,1 ± 0,9
0,1 ± 0,1
0,2 ± 0,1
0,2 ± 0,1
0,4 ± 0,2
0,3 ± 0,2
0,1 ± 0,1
0,4 ± 0,2
0,6 ± 0,4
0,7 ± 0,4
0,9 ± 0,6
0,7 ± 0,3
0,4 ± 0,2
22 ± 8
43 ± 15
40 ± 17
46 ± 18
44 ± 16
31 ± 14
5 ± 2
13 ± 5
15 ± 5
21 ± 10
19 ± 8
8 ± 6
0,2 ± 0,1
1,5 ± 0,8
2,4 ± 1,3
4,7 ± 3,4
3,5 ± 2,3
1,3 ± 1,0
Dispersão em NaOH
Constantes hídricas
Argila
dispersa
em água
Grau de
flocula-
ção
Areia
grossa
Areia
fina
Silte/ar-
gila
Solo
Silte
Argila
1/3 atm
15 atm
dag kg-1
%
LV
A
LV(2)
PVA(2)
NX
(2)
CX
(2)
RL
(3)
26± 4,1
29 ± 3,2
32 ± 2,4
7 ± 0,5
7 ± 0,6
8 ± 0,5
52 ± 5,7
38 ± 2,3
4 ± 0,8
2 ± 0,2
2 ± 0,3
4 ± 0,5
7 ± 0,9
7 ± 0,8
9 ± 1,1
26 ± 4,3
51 ± 7,2
50 ± 7,3
15 ± 0,9
26 ± 1,8
55 ± 3,9
65 ± 4,8
40 ± 3, 7
38 ± 3, 3
0,5 ± 0,1
0,3 ± 0,1
0,2 ± 0,1
0,4 ± 0,1
1,3 ± 0,3
1,3 ± 0,3
8 ± 0,5
9 ± 0,5
44 ± 2,8
42 ± 3,1
28 ± 1,4
30 ± 2,5
53 ± 5,5
35 ± 2,3
20 ± 1,5
35 ± 2,1
30 ± 2,2
22 ± 1,6
3,9
10,2
18,7
22,3
22,6
Nd
(4)
2,8
7,8
15,9
19,8
18,4
Nd
(1) LVA: Latossolo Vermelho-Amarelo; LV: Latossolo Vermelho; PVA: Argissolo Vermelho-Amarelo; NX: Nitossolo Háplico; CX: Cambissolo Háplico; RL:
Neossolo Litólico. (2) Algumas manchas de LV, PVA, NX e CX apresentam valores mais elevados de pH e de Ca+Mg quando desenvolvidos a partir de rochas
calcárias. Em algumas machas desses solos, principalmente de PVA, os teores de K são elevados, em função da ocorrência de muscovita no material de origem.
Algumas manchas de NX apresentam teores médios a altos de P. (3) Apesar de apresentarem acidez fraca ou neutra e elevada saturação por bases, os teores de
P são baixos. (4) Não determinado.
Em algumas manchas de Latossolo Vermelho a
CTC pode alcançar valores elevados em função dos altos
teores de matéria orgânica do solo e, ou, de saturação por
bases, como naqueles originados e, ou, de influência de
rochas calcárias. Da mesma forma, podem ocorrer manchas
de Argissolo Vermelho-Amarelo com teores médios a
elevados de potássio em função do material de origem, por
exemplo, presença de muscovita.
Nas áreas de ocorrência de Nitossolo Háplico e
Cambissolo Háplico os solos apresentam baixos teores de
fósforo, cálcio e magnésio, enquanto que os de potássio
variam de baixos a médios (Tabela 1). Os valores de
alumínio (acidez trocável) são elevados e os valores de pH,
de saturação por bases e de CTC são baixos. Nessas
áreas
ocorrem manchas de solo com teores mais elevados
de cálcio,
magnésio, potássio e CTC, e baixos teores de
Cad. Ciênc. Ag., v. 13, p. 0118, https://doi.org/10.35699/2447-6218.2021.33964
14
Sampaio, R. A.; Fernandes, L. A.
alumínio trocável. Principalmente nas áreas de Nitossolo
Háplico ocorrem manchas com teores de fósforo mais
elevados, quando comparados aos encontrados nos de- mais
solos do município, que variam de muito baixos a baixos.
(2015), os elevados valores de saturação por bases dos
solos
foram devidos aos teores alto e muito alto de cálcio
e potássio,
respectivamente. Por outo lado os tores de magnésio eram
baixos, contribuindo para elevadas rela- ções Ca/Mg. Nessa
situação, dependendo das exigências nutricionais das
culturas, a necessidade de adubação com magnésio.
Os Neossolos Litólicos, tantos os formados a partir
de
rochas calcárias quanto àqueles formados a partir de ardósias
e metargilitos / metassiltitos, apresentam teo- res elevados
de lcio, magnésio e potássio, e alta CTC, bem como,
muito baixos teores de alumínio trocável e de fósforo
disponível (Tabela 1). No entanto, os teores de cálcio,
magnésio e potássio dos Neossolos Litólicos originados de
ardósias e metargilitos / metassiltitos, são ligeiramente
menores do que aqueles encontrados nos Neossolos
Litólicos originados de rochas calcárias. Além disso, os
Neossolos Litólicos originados de ardósias e metargilitos /
metassiltitos apresentam teores mais ele- vados de alumínio
trocável. Os valores de CTC elevados se devem
principalmente aos altos teores de cálcio e magnésio, uma
vez que, a CTC potencial (T) é estimada pela soma das bases
trocáveis (Ca+2, Mg+2 e K+) e acidez potencial (H+ + Al+3).
Apesar das limitações de fertilidade do solo se- rem
relativamente fáceis de serem corrigidas, os fatores
climáticos e físicos podem ser limitantes ao uso agrícola
mais intensivo das terras. Por exemplo, a seca prolon- gada,
a pouca profundidade efetiva (horizontes A+B), a
ocorrência de afloramentos rochosos e, ou elevada
declividade do terreno são os fatores mais limitantes ao uso
agrícola das terras do município. Na região Norte de Minas,
o período chuvoso concentra-se nos meses de outubro a
março, com alta probabilidade de veranicos. Clima do
município, de acordo com a classificação de
Köppen, é do
tipo Aw (tropical com inverno seco) (Alvares
et al., 2013).
Dessa forma, o uso agrícola das terras sem irrigação
apresenta limitações moderadas a fortes devi- do ao período
de seca prolongado e, ou, ocorrência de veranicos. Os
Latossolos Vermelho-Amarelo e Neossolos Quartzarênicos,
comuns nas Chapadas do Norte de Mi-
nas, por serem mais
arenosos, apresentam, teoricamente,
em anos normais de
precipitação pluviométrica, menor disponibilidade de água
para as plantas nos horizontes superficiais seca edafológica
(Fernandes et al., 2008).
Regionalmente é denominada por
Chapada a porção mais elevada da paisagem, com relevo plano
a suave ondulado,
solos arenosos e vegetação de Cerrado
típico.
Os teores de enxofre e micronutrientes variam de
baixo a alto, sendo os valores mais elevados encontrados nos
solos Nitossolo Háplico, Argissolo Vermelho-Amarelo
e
Cambissolo Háplico (Tabela 1). os teores de matéria
orgânica do solo variam de muito baixo a médio (Tabela 1),
provavelmente devido às condições climáticas da região,
como, por exemplo, elevadas temperaturas ao longo do ano,
que favorecem o processo mineralização pelos
microrganismos do solo. Verificou-se uma grande
variabilidade espacial dos solos em relação a esses atri-
butos, reforçando a necessidade de amostragens mais
detalhadas da área a ser manejada / cultivada.
Em relação à irrigação, águas de poços tubulares que
exploram aquíferos cársticos apresentam valores ele- vados de
condutividade elétrica, de cálcio, e de carbonatos
e
bicarbonatos, entre outros, que podem comprometer a
produtividade das culturas. O excesso de lcio e de
carbonatos livres contribuem para elevar o pH do solo,
diminuir a disponibilidade de micronutrientes (boro, zinco,
cobre, ferro, manganês) e de fósforo, desequili- brar as
relações entre nutrientes, principalmente cálcio
/ magnésio / potássio, favorecer perdas de nitrogênio e
alterar o metabolismo das plantas, entre outras conse-
quências. Mesmo em solos ácidos, com poucos ciclos de
cultivos irrigados com águas calcárias o pH atinge valores
próximos ou acima de 7,0.
Do ponto de vista do manejo da fertilidade do solo
para fins de cultivos agrícolas para a obtenção de médias a
altas produtividades, a necessidade de cor- reção da
acidez do solo e de adubações, uma vez que, no município
de Montes Claros, a maioria dos solos são
ácidos e o sforo
é o nutriente que se encontra em menor
disponibilidade para
as plantas. A baixa fertilidade dos solos do município pode
ser superada com o emprego de tecnologias adequadas, não
sendo, portanto, por si só, restritiva à agricultura. Nas áreas
de ocorrência de solos eutróficos (V > 50%), originados ou
de influência
de rochas calcárias, uma grande resposta das
culturas
à adubação fosfatada.
Nas manchas de Nitossolo Háplico e Cambissolo
Háplico, e nos Neossolos Litólicos, que apresentam natu-
ralmente valores mais elevados de saturação por bases e de
pH (próximos a neutralidade), é comum diagnosticar
plantas
com sintomas visuais de deficiências nutricionais
causadas
pela baixa disponibilidade de micronutrientes,
como boro,
zinco, cobre, manganês e ferro, principalmente
no período seco.
Duarte et al. (2015) verificaram ganhos signifi-
cativos de produtividade de lavouras de milho cultivadas em
Latossolo Vermelho eutrófico e Nitossolo Háplico eu- trófico
do município de Montes Claros. O termo eutrófico,
usado para
designar solos de alta fertilidade, refere-se à proporção de
cátions básicos trocáveis (Ca+2, Mg+2 e K+) em relação à
CTC potencial. De acordo com esse conceito, solos com
alta saturação por bases (V > 50%)
são denominados
eutróficos. No trabalho de Duarte et al.
Uma das alternativas para reduzir o pH dos solos
alcalinos é a utilização do fertilizante sulfato de amônio
(NH4)2SO4) nas adubações nitrogenadas. Valadares et al.
Cad. Ciênc. Ag., v. 13, p. 0118, https://doi.org/10.35699/2447-6218.2021.33964
15
Aspectos geológicos e pedológicos dos solos do município de Montes Claros - MG
(2014), trabalhando com um Cambissolo Háplico eutró-
fico
do município de Montes Claros, conseguiram reduzir
o pH de
7,2 para 5,6 com a aplicação de 120 kg ha-1 de nitrogênio na
forma de sulfato de amônio na cultura do milho. De acordo
com os autores, essa redução de pH foi devida as reações do
processo de nitrificação, que geram acidez, ou seja,
acidificam o solo. Nesse processo,
Nas áreas de ocorrência dos solos Cambisso- lo
Háplico e Argissolo Vermelho-Amarelo, com relevo
ondulado, limitações moderadas ao risco de erosão e de
impedimento à mecanização. Nessas áreas, além das
práticas conservacionistas citadas anteriormente,
recomenda-se a construção de terraços como prática de
conservação do solo e da água. Nas áreas de relevo forte
ondulado, ocorrem limitações fortes a muito fortes de risco de
erosão e impedimento à mecanização, sendo mais apropriado
o uso dessas áreas para pastagens e, ou preservação da fauna
e flora silvestres.
o amônio (NH +) é transformado em nitrato (NO3-) por
4
microrganismos quimioautotróficos presentes no solo,
conforme a seguinte reação simplificada: (NH4)2SO4 +
4O 2NO - + SO +2HOH + 4H .
-2
+
2
3
4
É importante ressaltar que solos com altos va-
lores de pH, condutividade elétrica e sódio trocável são de
difícil manejo. No entanto, nos solos do município de
Montes Claros os teores de sódio são muito baixos,
exceto
em alguns pontos muito localizados da paisagem,
principalmente em depressões do terreno, em que o sódio
pode
estar em concentrações mais elevadas. Em relação a
condutividade elétrica e a salinidade, mudas de algu- mas
espécies nativas do Cerrado, como pequi (Caryocar
brasiliense Camb), na fase de viveiro, têm se mostrado
muito sensíveis a irrigação com águas de poços tubulares
e até
mesmo com águas tratadas. Como exemplo, a água de poço
tubular utilizada para a irrigação da área do trabalho de
Valadares et al. (2014), apresentava: pH = 7,8;
condutividade elétrica = 1,84 dS m-1; Ca+2 = 15,3 mmol L-1;
Mg+2 = 5,6 mmol L-1; Na+ = 33,1 mmol L-1; Cl- = 5,2 mmol
L-1; HCO3- = 19,0 mmol L-1 e; razão de adsorção de sódio
(RAS) = 12,7. Os teores mais eleva- dos de alguns
elementos, princialmente de cálcio, tanto no solo quanto na
água de irrigação, contribuem para o desequilíbrio
nutricional das plantas.
Outra propriedade importante para o uso agrícola
das
terras é a consistência do solo. A consistência reflete as
forças de coesão e de adesão das partículas lidas em
função da umidade, sendo influenciada pela textura, matéria
orgânica e mineralogia do solo. De acordo com Resende et
al. (2014), quanto maior o teor de argila do solo, maior a
expressão das forças de coesão e adesão, e elevados teores
de silte e areia muito fina favorecem o encrostamento da
superfície.
A consistência é geralmente determinada com o solo
seco, úmido e molhado. A consistência do solo seco e a
consistência do solo úmido podem ser verificadas pela
compressão de um torrão ou agregado entre os dedos: seco,
estima-se a dureza e úmido, estima-se a friabilidade. A
consistência do solo molhado é avaliada pelo manuseio de
uma amostra de solo até atingir a saturação, estimando-se a
plasticidade e pegajosidade
(Lepsch, 2011). No município de
Montes Claros - MG, os
solos Argissolo Vermelho-Amarelo,
Nitossolo Háplico e
Cambissolo plico são menos friáveis
que os Latossolos,
ou seja, são mais duros quando secos e
mais pegajosos e plásticos quando molhados.
Considerando o uso de irrigação, os solos Nitos-
solo Háplico, Latossolo Vermelho-Amarelo, Latossolo Ver-
melho, Cambissolo Háplico e Argissolo Vermelho-Amarelo,
localizados em áreas com relevo plano a suave ondulado
apresentam limitações ligeiras a moderadas à agricultura
mais
intensiva, devido ao risco de erosão. Nessas áreas,
recomendam-se práticas simples de conservação do solo,
tais
como, cultivo em nível, rotação de culturas, cultivos
consorciados e manutenção da cobertura e da matéria
orgânica do solo.
O preparo do terreno para plantio, por exemplo, deve
ser realizado quando o solo estiver na faixa de umi-
dade
correspondente à friabilidade, uma vez que nessa faixa
apresenta baixa resistência ao destorroamento e menor
susceptibilidade à compactação. De acordo com essa
recomendação, os Latossolos, principalmente o La- tossolo
Vermelho-Amarelo, podem ser trabalhados em uma faixa
de umidade mais ampla.
Ainda em relação as propriedades físicas do solo,
as
estradas não pavimentadas, que ocorrem nas áreas de
Latossolo Vermelho-Amarelo, praticamente não são
lamacentas no período chuvoso e não apresentam gran- des
quantidades de poeira (partículas finas de solo em
suspensão) no período seco. as estradas nas áreas de
Argissolo Vermelho-Amarelo, Nitossolo Háplico e Cam-
bissolo Háplico podem formar grandes quantidades de
lama
no período chuvoso e, no período seco, formar muita poeira,
principalmente no Cambissolo Háplico que possui
elevados
teores de silte.
Os solos Nitossolo Háplico, Cambissolo Háplico e
Argissolo Vermelho-Amarelo, em função da mineralogia
(predominância de caulinitas), são facilmente compac- tados
pelo tráfico de máquinas agrícolas e pisoteio de animais.
Nessas áreas, além das práticas de manejo citadas,
recomenda-se o cultivo mínimo, plantio direto e a
subsolagem periódica. Principalmente nas áreas de
Latossolos, onde a vegetação predominante é a de Cer- rado,
é importante destacar que nesse ambiente a coleta de frutos
nativos é uma atividade econômica também importante para
a população local.
Cad. Ciênc. Ag., v. 13, p. 0118, https://doi.org/10.35699/2447-6218.2021.33964
16
Sampaio, R. A.; Fernandes, L. A.
Figura 11 Atributos gerais e limitações de uso das principais ordens de solo do município de Montes Claros - MG.
(1) LVA: Latossolo Vermelho-Amarelo; LV: Latossolo Vermelho; PVA: Argissolo Vermelho-Amarelo; NX: Nitossolo Háplico; CX: Cambissolo Háplico; RL:
Neossolo Litólico. (2) Algumas manchas de LV, PVA, NX e CX apresentam valores mais elevados de pH e de Ca+Mg quando desenvolvidos a partir de
rochas calcárias. Em algumas machas desses solos, principalmente de PVA, os teores de K são elevados, em função da ocorrência de mus- covita no material de
origem. Algumas manchas de NX apresentam teores médios a altos de P. (3) Apesar de apresentarem acidez fraca ou neutra e elevada saturação por bases, os
teores de P são baixos. (4) NSE: Não se enquadra em função da rochosidade. (5) Algumas manchas de NX ocorrem em relevo forte ondulado, com riscos
severos de erosão.
Cad. Ciênc. Ag., v. 13, p. 0118, https://doi.org/10.35699/2447-6218.2021.33964
Atributos do solo e limitações de uso
Solo(1)
LVA
LV
PVA
NX
CX
RL
Fertilidade natural
Baixa(2)
Média a alta(3)
Profundidade efetiva (horizontes A+B)
Rasa (< 50 cm)
Pouco profundo (50 -100 cm)
Profunda a muito profunda (> 100 cm)
Friabilidade
Pouco friável
NSE
(4)
Fiável
Rochosidade
Muito a extremamente rochosa (afloramentos de rocha)
Declividade
Plana a suave ondulada (declividade menor que 8%)
Ondulada a forte ondulada (declividade de 8 a 45%)(5)
Ondulada a escarpada (declividade maior que 8%)
Susceptibilidade à eroo
Ligeira
Moderada
Severa(5)
Muito a extremamente severa
Limitações ao uso agrícola (médio e alto vel tecnológico)
Seca prolongada e ocorrência de veranicos
Alta probabilidade de compactação
NSE
Elevada susceptibilidade à erosão
Impedimento ligeiro à mecanização
Impedimento moderado à forte à mecanização
Impedimento muito forte à mecanização
17
Aspectos geológicos e pedológicos dos solos do município de Montes Claros - MG
Figura 12 Recomendações gerais de uso e manejo dos principais solos do município de Montes Claros - MG.
(1) LVA: Latossolo Vermelho-Amarelo; LV: Latossolo Vermelho; PVA: Argissolo Vermelho-Amarelo; NX: Nitossolo Háplico; CX: Cambissolo Háplico; RL:
Neossolo Litólico. (2) Não considerada a restrição do fator climático: seca prolongada e veranicos.
Os Neossolos Litólicos, devido à pouca profundi-
dade efetiva do solo, afloramentos de rochas e declividade
acentuada, apresentam riscos elevados de erosão e limi-
tações muito fortes à mecanização. Essas áreas devem ser
utilizadas para a preservação da fauna e flora silvestres e
recreação. Nas áreas de ocorrência de Cambissolo Háplico
e
Neossolo Litólico em relevos forte ondulado e monta-
nhoso, a vegetação nativa predominante é a transição
Cerrado-Floresta Estacional e, ou Floresta Estacional, onde
a diversidade e disponibilidade de frutos nativos são
menores do que nas áreas de Cerrado. No entanto, além de
frutos nativos, a coleta de plantas medicinais e apicultura,
por exemplo, são alternativas econômicas para essas áreas,
de modo a gerar renda e preservar os recursos naturais.
algumas recomendações gerais de uso e manejo dos
principais solos do município de Montes Claros - MG.
Conclusões
No município de Montes Claros predominam solos
profundos, com bom desenvolvimento pedológico, sendo que,
quando sob influência de calcários, possuem maior
fertilidade química. Todavia, mesmo aqueles for- mados sob
a influência de metassiltitos / metargilitos, com baixa
fertilidade química, possuem bons atributos para a
agricultura. Para uma elevada e sustentável pro- dutividade
agrícola é necessário adotar um manejo que contemple a
calagem em solos ácidos, inclusive tendo-se
o cuidado de
equilibrar a relação do magnésio com outros
cátions, e a
fertilização, principalmente com nitrogênio e fósforo. Para
os solos de origem calcária, é importante o uso de adubos
amoniacais para reduzir a alcalinidade
e prevenir a
deficiência de micronutrientes. Independen-
temente do
material de origem do solo, é necessário a adoção de
práticas de incremento de matéria orgânica e
de conservação,
proporcionando uma maior infiltração e
armazenamento de
água, de forma a atenuar o impacto do intenso déficit hídrico
que ocorre na região.
Embora as principais características e proprie-
dades dos solos predominantes no município de Montes
Claros, aqui descritas, constituam um importante ponto de
referência para o adequado manejo da fertilidade do solo e
da irrigação, tendo em vista o uso racional de corretivos da
acidez do solo, de fertilizantes e da água, recomenda-se a
análise química e física do solo da área a ser cultivada.
Agradecimentos
Por fim, o uso agrícola dos solos deve considerar
o
nível tecnológico e o conhecimento local dos agricul- tores,
construídos ao longo do tempo, sobre o uso das terras e de
convivência com as limitações e diversidades ambientais
locais, e a preservação e aproveitamento dos recursos
naturais (Fernandes et al., 2008).
Os autores agradecem ao Programa de Pós-Gra-
duação em Produção Vegetal do Instituto de Ciências
Agrárias da UFMG pelo apoio a realização deste trabalho, ao
Dr. Danilo Augusto de Oliveira Naliato pela confecção
dos
mapas, ao técnico em audiovisual Jorge Luiz Pereira Alves
pelas fotografias e aos professores Dr. Expedito José
Ferreira e Dr. Igo Fernando Lepsch pela revisão do trabalho.
Na Figura 11 são resumidos os principais atri-
butos químicos e físicos dos solos e as limitações para o uso
agrícola, enquanto, Na Figura 12, são apresentadas
Cad. Ciênc. Ag., v. 13, p. 0118, https://doi.org/10.35699/2447-6218.2021.33964
Solo(1)
Uso Agrícola
(2)
Práticas de manejo
Uso alternativo / convivência
LVA, LV
Culturas anuais e pere- nes;
Pastagens; Silvicul- tura.
Correção da acidez e adubação; Constru- ção
de terraços; Preparo do solo e plan- tio em
nível; Manutenção da cobertura do solo e
da matéria orgânica.
Extrativismo de frutos nativos do
Cerrado e plantas medicinais.
PVA, NX
Culturas anuais e pere- nes;
Pastagens; Silvicul- tura.
Correção da acidez e adubação; Constru- ção
de terraços; Preparo do solo e plan- tio em
nível; Manutenção da cobertura do solo e
da matéria orgânica; Cultivo mínimo;
Plantio Direto; Subsolagem.
Conservação da fauna e flora; Ex-
trativismos de plantas medicinais;
Apicultura.
CX
Pastagens plantadas e, ou,
nativas.
Correção da acidez e adubação; Constru- ção
de terraços; Preparo do solo e plan- tio em
nível; Manutenção da cobertura do solo e
da matéria orgânica.
Conservação da fauna e flora;
Extrativismo de frutos nativos do
Cerrado e plantas medicinais; Api-
cultura.
RL
Não recomendado
-
Conservação da fauna e flora; Re-
creação; Extrativismos de plantas
medicinais; Apicultura.
18
Sampaio, R. A.; Fernandes, L. A.
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