Introdução
A bacia hidrográfica ou bacia de drenagem de
uma seção de um curso d’água é a área que capta natural-
mente a água proveniente da chuva, gerando escoamentos
superficiais para um único ponto de saída, sendo formada
basicamente de um conjunto de superfícies vertentes e
de uma rede de drenagem constituída por cursos de água
que confluem até resultar um leito único no exutório
(Tucci, 2009).
A Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH),
instituída pela Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997,
incorpora princípios e normas para a gestão de recursos
hídricos adotando a definição de bacias hidrográficas
como unidade de estudo e gestão. Assim, é de grande
importância para gestores e pesquisadores a compreensão
do conceito de bacia hidrográfica e de suas subdivisões
para auxiliar na tomada de decisão (Curtarelli, 2009).
O estudo morfométrico de uma bacia hidrográfica
é uma das primeiras e mais comuns etapas realizadas em
análises ambientais e hidrológicas, a fim de oferecer um
diagnóstico das alterações com ou sem interferência an-
trópica, almejando a compreensão da dinâmica ambiental
local e regional (Doriguel et al., 2015). A caracterização
morfométrica de bacias hidrográficas fornece informações
importantes para o planejamento da conservação da água
e demonstra a possibilidade ou não de ocorrer problemas
ambientais, como a susceptibilidade à erosão ou a en-
chentes (Gerber et al., 2018). Trabalhos com abordagem
em parâmetros morfométricos são muito úteis, em nível
local, para o gerenciamento de recursos naturais visando
o desenvolvimento sustentável por planejadores e toma-
dores de decisão em um programa de gerenciamento de
bacias hidrográficas (Ataide et al., 2017).
O estudo das características morfométricas de
bacias hidrográficas com o auxílio de Sistema de Infor-
mações Geográficas é um importante instrumento de
monitoramento e gestão dos recursos hídricos tanto para
gestores públicos quanto para os demais interessados no
uso e ocupação de bacias hidrográficas (Coliado et al.,
2020). A caracterização morfométrica, associada ao uso
de ferramentas computacionais de sensoriamento remo-
to e modelagem em Sistema de Informação Geográfica
(SIG), permite entender, de forma mais consistente, como
determinada bacia hidrográfica reage aos fenômenos
de precipitação, infiltração de água no solo e descargas
hidrológicas em um corpo hídrico (Bier et al., 2013).
Sendo assim, o objetivo desta pesquisa foi avaliar
alguns parâmetros morfométricos da sub-bacia hidrográ-
fica do ribeirão São Domingos, no município de Muniz
Freire, Espírito Santo, a fim de apoiar melhorias a res-
peito da conservação dos recursos naturais e apontar a
susceptibilidade à ocorrência de problemas ambientais
nesta sub-bacia.
Materiais e Métodos
A BHRSD fica localizada na área rural do mu-
nicípio de Muniz Freire, mesorregião Sul do Estado do
Espírito Santo. Com clima classificado como Aw segundo
Köppen (Ventura, 1964), possui a pecuária e cafeicultura
como as principais atividades econômicas. A Figura 1
mostra a localização da BHRSD.
Os procedimentos ocorreram no programa Arc-
GIS®. As bases cartográficas digitais foram adquiridas nos
portais eletrônicos do Instituto Jones dos Santos Neves
(IJSN), da Agência Nacional de Águas (Ana, 2020) e do
Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do
Espírito Santo (Geobases, 2020). A princípio, foi deli-
mitada a BHRSD a partir dos procedimentos descritos
por Santos et al. (2010). O Modelo Digital de Elevação
(MDE) utilizado para delimitar a BHRSD apresentou 20
m de resolução e foi obtido a partir do método da rede
triangulada irregular (TIN), através das feições de curvas
de nível com equidistância de 5 m.
Na caracterização morfométrica, foram consi-
derados os seguintes parâmetros: área e perímetro de
drenagem, coeficiente de compacidade, fator de forma,
índice de circularidade, coeficiente de manutenção, alti-
tudes (máxima, média e mínima), declividades (máxima,
média e mínima), índice de rugosidade, comprimento e
número total dos canais d’água, extensão do percurso
superficial e densidades de drenagem e hidrográfica.
Os dados numéricos de altitude e declividades
máxima, média e mínima, além do mapa de declividade,
foram obtidos pela produção do MDE. Posteriormente, a
declividade foi classificada conforme a classificação ado-
tada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa, 2013). A área de drenagem e o perímetro
foram extraídos por meio da delimitação da BHRSD e
por meio da tabela de atributos. O comprimento total
dos cursos d’água foi obtido através da edição de feição
de cursos d’água, da Agência Nacional de Águas (Ana,
2020). As equações empregadas na determinação dos
outros parâmetros e o referencial teórico consultado
estão descritos abaixo.
Coeficiente de compacidade (Kc): Relaciona o
perímetro da bacia e a circunferência de um círculo de
área igual à da bacia. É obtido através da equação (1):
(Eq. 1)
Em que: KC = coeficiente de compacidade (adi-
mensional); P = perímetro (Km); A = área (KmZ). Quanto
mais próximo de 1 for o KC, mais circular será o formato
da bacia. Assim, menor será o tempo de concentração
das águas até chegar ao canal principal, aumentando a
possibilidade de enchentes (Curtarelli, 2009).