mastite, sendo algumas das amostras com mastite re-
tiradas de animais separadamente (mastite), e outras
retiradas de um tanque contendo apenas leite de vacas
com mastite (tanque). Todas foram refrigeradas (< 7ºC)
e transportadas em recipientes estéreis até sua análise
no Laboratório de Microbiologia do UNIFOR-MG. Todo o
trabalho foi realizado com três repetições em triplicata.
Também foi fornecido pela mesma propriedade
rural placas de OnFarm® (Piracicaba, SP, Brasil) contendo
a identificação microbiológica de Streptococcus uberis,
sendo o causador de mastite dos leites coletados.
Foi medido o pH de todas as amostras com um
pHmetro portátil (Kasvi K39-0014PA®, São José dos Pi-
nhais, PR, Brasil). Posteriormente, 100 mL de cada leite
foi esterilizado, por meio de autoclave, para garantir que
todos os leites possuam a mesma quantidade de micro-or-
ganismos inoculados. Assim, os leites foram inoculados
com S. uberis e acrescidos de antimicrobiano através de
uma bisnaga comercial para tratamento de mastite, com
a base de amoxicilina e clavulanato (em seringa de 8 g,
contendo Amoxicilina Trihidratada 200 mg, Clavulanato
de Potássio 50 mg, Acetato de Prednisolona 10 mg; Mas-
tite clínica VL® - J.A. Saúde Animal, Patrocínio Paulista,
SP, Brasil).
Para padronização do inóculo a colônia de
S.
uberis presente nas placas de SmartColor 2 da OnFarm®
(Piracicaba, SP, Brasil) foi coletada e ajustada em salina
estéril (NaCl 0,9 %) na turbidez de 0,5 de MacFarland
(~ 10
8
UFC) (Tanikawa-Vergilio, 2020).
Em 100 mL de leite saudável e com mastite (tan-
que e vaca), já esterilizados, foram colocados 3 mL da
solução salina com o inoculo e, juntamente, foi acrescido a
quantidade de 0,1 g de amoxicilina e clavulanato. Os leites
já inoculados com o micro-organismo e antimicrobiano
foram refrigerados durante 8 horas. Assim, buscou-se
verificar se o pH alcalino do leite de vaca com mastite
influencia na ação da amoxicilina e clavulanato.
Após as oito horas, as amostras de leite novamente
passaram por medição de pH pelo método supracitado
e, posteriormente, foram plaqueadas em triplicata, na
diluição 10-2 e 10-3, no meio de cultura ágar BHI (Kasvi;
São José dos Pinhais, PR, Brasil), e incubadas por 24 horas
a 37°C (Silva et al., 2021). Após esse tempo foi quantifi-
cado o número de colônias presentes nas amostras, para
assim verificar se o pH alcalino do leite com mastite teve
alguma influência na menor ação dos antimicrobianos.
Por fim, as placas de crescimento positivo, do leite
esterilizado na diluição 10-3, passaram por um processo
de antibiograma, onde foi verificada a resistência ou
sensibilidade dos agentes microbianos à base de amo-
xicilina e clavulanato, por método de disco-difusão em
meio Müller-Hinton, sendo avaliado a susceptibilidade
do micro-organismo medindo-se o diâmetro dos halos de
inibição conforme proposto inicialmente por Bauer et al.
(1966) e preconizando-se os limites estabelecidos pelo
Clinical Laboratory and Standards Institute (CLSI, 2020).
Para a realização de todas as análises estatísticas
foi utilizado o programa GraphPad Prism 6.0 (GraphPad
Software, San Diego, Califórnia, EUA). O teste realizado
foi o teste de t Student não pareado. Foram considerados
estatisticamente significativos resultados que apresenta-
ram significância mínima de 5 % (p
<
0,05) entre si.
Resultados e discussão
O micro-organismo utilizado como inóculo não
apresentou resistência no teste de antibiograma à amo-
xicilina e clavulanato. Os leites inoculados com micro-
-organismo e antimicrobiano analisados apresentaram
os respectivos pH: leite saudável - 6,8; leite individual
de vaca com mastite vaca - 7,6 (identificado como: mas-
tite) e leite de um conjunto de vacas com mastite - 7,3
(identificado como: tanque).
O pH do leite de animal saudável e apropriado
para o consumo humano encontra-se entre 6,6 e 6,8,
enquanto o pH de leite de vaca com mastite, encontra-
-se levemente alcalino com valores acima de 7,2 (Silva;
Primieri, 2020).
Alguns autores afirmam que nos quadros de
mastite causadas por S. uberis, o tratamento realizado
durante o período de secagem apresenta resultados me-
lhores e provoca menor incidência de casos crônicos e
subclínicos (Langoni et al., 2017). Essa justificativa pode
ser explicada pelo fato de que o pH alcalino, presente
no leite de mastite das vacas em lactação, provocam
inativação de alguns antimicrobianos, como é o caso da
amoxicilina e clavulanato visto neste estudo (Figura 1).
Quando comparado o crescimento da amostra
microbiológica no leite de vaca saudável e no leite indivi-
dual de vaca com mastite, mediante a ação de amoxicilina
(200mg) e clavulanato (50mg), os resultados mostraram
influência do pH na inativação do antimicrobiano, tendo
em vista o menor crescimento (p<0,01) de S. uberis em
leite alcalino (pH 7,6). Resultados parecidos foram vistos
por Silva et al. (2013), que evidenciaram que antimicro-
bianos na presença de meio alcalinos não impediam o
crescimento de alguns micro-organismos.
A inativação de antimicrobianos, em especial
de ß-lactâmicos, realizada por hidrólise alcalina, é vista
em diversos estudos (Sá et al., 2018; Silva et al., 2013).
Isso ocorre porque o meio alcalino consegue mudar a
estrutura do anel dos ß-lactâmicos, o que faz com que
sejam modificadas não somente a estrutura da molécula,
como também sua polaridade, realizando a abertura do
anel, levando o antimicrobiano à perda ou redução da
sua função (Silva et al., 2013).