CADERNO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
Agrarian Sciences Journal
Consumo e perfil metabólico de cabritos alimentados com gordura inerte de palma na
ração
Lucas Eduardo Gonçalves Vilaça1; Marcela Rodrigues de Oliveira 2; Marco Túlio Santos Siqueira3; Luciano
Fernandes Sousa 4; Erica Beatriz Schultz5 Gilberto de Lima Macedo Junior6
DOI: https://doi.org/10.35699/2447-6218.2022.41906
Resumo
Objetivou-se avaliar dietas contendo diferentes níveis de inclusão de gordura inerte de palma como suplemento ali-
mentar sobre o consumo de nutrientes e parâmetros bioquímicos de cabritos em desenvolvimento. Foram utilizados
16 cabritos (Anglo Nubiano x Saanen) com médias de 60 dias de vida e 18,66 kg de peso vivo. Dieta composta por
silagem de sorgo e concentrado com inclusão de gordura. Cada proporção de inclusão consistiu em um tratamento
dietético: 0; 25; 50 e 75 Gramas/animal dia de EnerFAT
®
. Os animais eram alimentados as 08h e 16h com dietas
formuladas seguindo recomendações do NRC (2007). O sangue foi coletado por venopunção da jugular com auxílio
de tubos vacutainer® com ativador de coágulo. Avaliou-se as concentrações de metabólitos energéticos, proteicos e
enzimas hepáticas. O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado com medidas repetidas
no tempo. Os dados foram avaliados por estudo de regressão considerando significância P<0,05. Houve efeito linear
positivo para CMS, CMM e CMO durante o período experimental (P<0,05). Frutosamina e glicose apresentaram
efeito quadrático para período experimental. Houve interação entre tratamento e período para as variáveis coleste-
rol, triglicerídeos, HDL e VLDL, bem como para as relações CT/HDL e LDL/HDL. GGT apresentou efeito quadrático
para período experimental. AU apresentou aumento linear positivo entre os tratamentos. AU e AL demonstraram
efeito quadrático durante o período e CR sofreu efeito linear negativo para período. O EnerFAT® aumenta o aporte
energético da dieta, alterando os valores dos metabólitos proteicos de caprinos em desenvolvimento, mantendo-os
acima dos valores ideais para a espécie.
Palavras-chaves: EnerFAT®. Dieta. Metabólitos.
Consumption and metabolic profile of goats fed in inert palm fat
Abstract
The objective was to evaluate diets containing different inclusion levels of inert palm fat as a feed supplement on nu-
trient intake and biochemical parameters of developing goats. Sixteen kids (Anglo Nubian x Saanen) with a mean age
of 60 days and a live weight of 18.66 kg were used. The diet consisted of sorghum silage and fat included concentrate.
Each proportion of inclusion consisted of a dietary treatment: 0; 25; 50 and 75 Grams/animal day of EnerFAT®. The
animals were fed at 08h and 16h with diets formulated following NRC (2007) recommendations. Blood was collected
1
Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia, MG. Brasil.
https://orcid.org/0000-0002-4901-4775
2
Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia, MG. Brasil.
https://orcid.org/0000-0001-7624-6945
3
Universidade Federal de Lavras. Lavras, MG. Brasil.
https://orcid.org/0000-0002-2098-8568
4
Universidade Federal do Norte do Tocantins. Araguaína, TO. Brasil.
https://orcid.org/0000-0002-6072-9237
5
Universidade Federal de Viçosa. Viçosa, MG. Brasil.
https://orcid.org/0000-0003-1916-2117
6
Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG, Brasil.
https://orcid.org/0000-0001-5781-7917
*Autor para correspondência: luedugovi@hotmail.com
Recebido para publicação em 24 de novembro de 2022. Aceito para publicação em 12 de dezembro de 2022
e-ISSN: 2447-6218 / ISSN: 2447-6218. Atribuição CC BY.
Vilaça, L. E. G. et al.
2
Cad. Ciênc. Agrá., v. 14, p. 01–12, DOI: https://doi.org/10.35699/2447-6218.2022.41906
by jugular venipuncture using vacutainer® tubes with clot activator. The concentrations of energy metabolites, protein
and liver enzymes were evaluated. The experiment was conducted in an entirely randomized design with repeated
measures in time. The data were evaluated by regression study considering significance P<0.05. There was a positive
linear effect for DM, MMC and MOC during the experimental period (P<0.05). Fructosamine and glucose showed
quadratic effect for experimental period. There was interaction between treatment and period for cholesterol, triglyce-
rides, HDL and VLDL variables, as well as for TC/HDL and LDL/HDL ratios. GGT showed a quadratic effect for the
experimental period. UA showed a positive linear increase among treatments. AU and AL showed a quadratic effect
for the period and CR suffered a negative linear effect for period. EnerFAT® increases the energy intake of the diet,
changing the values of protein metabolites of developing goats, keeping them above the ideal values for the species.
Keyword: EnerFAT®. Diet. Metabolites.
Introdução
O uso de lipídios na dieta animal tem como ob-
jetivo promover o aumento da energia contida na dieta,
melhorar a qualidade de carne e acabamento de carcaças
e também auxiliar na síntese hormonal melhorando o
desempenho reprodutivo dos animais.
A inclusão de gorduras ou sementes oleaginosas
nas dietas dos ruminantes não deve exceder 6 a 7% de
lipídios na dieta (Carneiro, 2017), visto que os micror-
ganismos ruminais não possuem mecanismos fisiológicos
para digeri-los tão eficientemente como o fazem para
os carboidratos e proteínas, promovendo então, efeitos
deletérios aos microganismos ruminais, e efetuando o
recobrimento das partículas alimentares, impedindo a
ação dos microrganismos nas fibras dietéticas, diminuin-
do a taxa de passagem e consequentemente queda no
consumo de matéria seca.
Por isso, o estudo do efeito antimicrobiano e do
revestimento da partícula de alimento pelos lipídios têm
recebido maior atenção dos pesquisadores nos últimos
anos (Carneiro, 2017), pois são os principais fatores que
afetam o desempenho animal.
para Palmquist e Mattos (2006), a suplemen-
tação com lipídios superior a 5% da matéria seca reduz
o consumo prejudicando o desempenho dos animais, seja
por mecanismos regulatórios que controlam a ingestão
de alimentos ou pela capacidade limitada dos ruminantes
de oxidar ácidos graxos. Esses autores ainda afirmam
que de 8% a 10% da MS proporcionam boa resposta dos
animais em confinamento em regiões com temperaturas
mais elevadas, pois a suplementação aumenta a ingestão
de energia.
Além disso, segundo Nascimento (2017), o impac-
to na redução está relacionado não à quantidade, mas
também ao tipo de ácido graxo presente no suplemento,
uma vez que lipídeos ricos em ácidos graxos insaturados,
como óleo de soja, tendem a provocar redução na diges-
tibilidade por promoverem recobrimento de partícula
alimentar e ser tóxico aos microrganismos. A gordura
protegida da biohidrogenação ruminal, não influencia o
processo digestivo ruminal, sendo dissociada e absorvida
no intestino delgado, sendo uma alternativa para reduzir
os problemas metabólicos dos alimentos ricos em gordura
(Nascimento, 2017).
Acredita-se que a inclusão de gordura na dieta
de cabritos promova aumento do consumo de nutrientes,
melhorando o desempenho animal sem causar efeitos
deletérios à saúde dos mesmos. Diante disso, objetivou-se
avaliar o consumo de matéria seca, matéria orgânica e
matéria mineral, bem como perfil metabólico energético,
enzimático e proteico de cabritos mestiços leiteiros em
desenvolvimento alimentados com diferentes níveis de
gordura inerte de palma na ração.
Materiais e Métodos
O experimento foi conduzido no setor de ovi-
nocaprinocultura pertencente à Universidade Federal
de Uberlândia, localizada em Uberlândia - MG, com
aprovação do Conselho de Ética na Utilização de Animais
(CEUA) sob número 094/17. O estudo teve início em 11
de janeiro de 2019 e término em 11 de março do mesmo
ano, totalizando 59 dias de duração.
Foram utilizados 16 cabritos machos mestiços
(Anglo Nubiano x Saanen) com 60 dias e 18,66 kg médios
de idade e peso vivo, respectivamente. Os animais foram
identificados e pesados antes do início do experimento,
sendo alocados em baias coletivas de forma casualizada.
A dieta era composta por concentrado à base
de milho (67,35 %), farelo de soja (30,45%), sal mi-
neral (2,0%) e adsorvente (0,20%), silagem de sorgo
e gordura inerte de palma em diferentes níveis por tra-
tamento, mantendo a relação de 70:30 de concentrado
e volumoso, respectivamente. Cada baia correspondeu
a um tratamento experimental sendo: sem incremento
de gordura (controle), 25, 50 e 75 gramas animal dia
de EnerFAT® (tabela 1), que consiste de um suplemento
energético composto por sais de cálcio de ácidos graxos
derivados de óleo de palma, protegido da ação ruminal.
O concentrado e o volumoso eram pesados em
balança de precisão (5gramas) de acordo com o preconi-
zado pelo NRC ( 2007) para ganhos próximos de 0,150
gramas/animal, a gordura inerte de palma era pesada
Consumo e perfil metabólico de cabritos alimentados com gordura inerte de palma na ração
3
Cad. Ciênc. Agrá., v. 14, p. 01–12, DOI: https://doi.org/10.35699/2447-6218.2022.41906
em balança de precisão. Posteriormente a ração total
era homogeinizada e fornecida em chocos de madeiras,
externos as baias.
Tabela 1 – Composição bromatológica do concentrado, silagem e EnertFAT®
Concentrado
MS % 79,60
PB% 16,30
Silagem
MS% 31,0
PB% 8,0
Dieta total
MS% W65,0
PB% 13,0
*EnertFAT®
Umidade Máx. 5%
Ácidos Graxos, dos quais: Min. 82,5%
Palmítico (16:0) 48-52,7%
Esteárico (18:0) 3,9 %
Oléico (18:1) 30,8%
Linoléico (18:2) 6,6%
Linolênico (18:3) -
*Informações cedidas pelo fabricante.
O trato foi pesado e fornecido duas vezes ao dia
para os animais (8:00 e 16:00hrs), juntamente com água
limpa e fresca. Todos os dias pela manhã retirava-se e
pesava-se as sobras presentes no cocho, em balança com
precisão de 5 g, com a finalidade de medir o consumo de
alimentos pelos animais, e assim, regular a quantidade
de trato fornecido e coletou 500 gramas das sobras por
dia, durante 7 dias para posteriores análises.
Foi feita uma amostra composta a partir das
amostras simples, para cada baia durante os períodos
de coleta. As amostras foram acondicionadas em sacos
plásticos, identificadas e congeladas a -15°C. Ao final
do ensaio, as amostras foram descongeladas e homoge-
neizadas, sendo retirada amostra de 20% do total para
posteriores análises laboratoriais.
Os teores de matéria seca foram obtidos pelo
método INCT-CA G-003/1. Posteriormente calculou-se
a matéria seca definitiva, matéria orgânica e matéria
mineral. O consumo de nutrientes foi calculado conforme
equação (Eq. 1) propostas por Maynard et al. (1984):
(Eq. 1)
Sendo CN = consumo do nutriente (kg); Cons = quantidade de alimento consumido (kg); %cons = teor do nutriente no alimento fornecido (%);
Sob = quantidade de sobra retirada (kg); %sob = teor do nutriente nas sobras (%).
As amostras de sangue foram coletadas por ve-
nopunção da jugular com auxílio de tubos Vacutainer®
(BD, São Paulo, São Paulo, Brasil) de cinco mL contendo
fluoreto e EDTA, sendo devidamente identificados para
cada animal. A avaliação dos componentes bioquímicos
foram realizadas quinzenalmente nos dias experimentais
d0, d15, d30, d45 e d60. Essas colheitas ocorreram antes
da primeira alimentação com o animal em jejum noturno.
As amostras de sangue coletadas foram centrifu-
gadas a 3000 rotações por minuto por 15 minutos, sendo
os soros separados em alíquotas, guardados em micro-
tubos e armazenados em freezer a -5°C para posterior
análise laboratorial. Todas as amostras foram processadas
no analisador analisador de bioquímica e turbidimetria
PKL® 125 (MH Lab., São Paulo, São Paulo, Brasil), pelo
método de colometria fotoelétrica usando kit comercial
da Lab Test Diagnóstica S.A.
®
(Lagoa Santa, Minas Gerais,
Brasil).
Vilaça, L. E. G. et al.
4
Cad. Ciênc. Agrá., v. 14, p. 01–12, DOI: https://doi.org/10.35699/2447-6218.2022.41906
Os componentes bioquímicos avaliados para
determinação do metabolismo energético foram: triglice-
rídeos, colesterol, as lipoproteínas HDL (lipoproteína de
alta densidade), VLDL (lipoproteína de densidade muito
baixa), LDL (lipoproteína de baixa densidade). Foram
calculados através da fórmula proposta por Friedewald,
Levv e Fredrickson (1972): VLDL = triglicerídeos ÷ 5 e
LDL = (colesterol total – HDL – VLDL) e frutosamina.
Para determinar função hepática foram: gama
glutamiltransferase (GGT), aspartato aminotransferase
(AST) e fosfatase alcalina (ALP); para determinação do
metabolismo proteico foram: proteínas totais (PT), ureia,
albumina, ácido úrico, creatinina (CR) e globulinas (ob-
tida pelo cálculo entre a diferença de concentração das
proteínas totais e da albumina) (Patino, 2000).
O ensaio experimental foi conduzido em delinea-
mento inteiramente casualizado com medidas repetidas
no tempo, com quatro tratamentos com quatro repeti-
ções cada. Para o consumo em função dos tratamentos
utilizou-se estatística descritiva por falta de repetições,
já para os dados de consumo em função do período foi
utilizado o estudo de regressão. Aceitos estes pressupostos
os dados foram submetidos à análise variância e as médias
dos tratamentos e períodos comparadas por estudo de
regressão com nível de significância de 5% para o erro
tipo I.
Resultados e Discussão
Segundo o NRC (2007) a exigência de consu-
mo de matéria seca (CMS) para caprinos de corte em
desenvolvimento é de 0,650 kg MS dia-1. Este valor é
recomendado para animais com aproximadamente 20
kg de peso corporal e ganho médio diário esperado de
0,150 kg dia
-1
. Condições semelhantes aos animais deste
ensaio, que obtiveram peso médio inicial de 18,66 kg. O
gráfico 1 apresenta as médias de consumo por baia dos
animais ao longo de todo período experimental.
Gráfico 1 – Valores médios de consumo por caprinos suplementados com gordura de palma na ração durante o pe-
ríodo experimental.
1Y= 2,93571 + 0,024787X, R²= 64,48%; 2Y= 0,304071 + 0,003168X, R²= 68,05%; 3Y= 1,789643 + 0,021599X, R²= 67,28%;
CMS: consumo de matéria seca; CMM: consumo de matéria mineral; CMO: consumo de matéria orgânica.
As médias gerais do período foram 2,870 kg dia-1
para matéria seca (MS), de 0,403 kg dia-1 para matéria
mineral (MM) e 2,470 kg dia-1 para matéria orgânica
(MO). Durante o período experimental, os animais apre-
sentaram CMS individual médio de 0,717 kg dia-1 o que
corresponde a 3% do peso corporal, demonstrando CMS
adequado para a categoria em questão segundo NRC
(2007).
Houve efeito linear positivo para CMS, CMM e
CMO ao longo do período experimental (P<0,05), de
modo que os consumos aumentaram gradativamente
durante os 60 dias de estudo. Carvalho (2009) traba-
lhando com cabritos mestiços alimentados com óleo
de soja residual encontrou CMS médio de 4,5% do peso
corporal dos animais no grupo de maior inclusão do
óleo residual de soja (10% da MS) corroborando com o
presente estudo.
Além das avaliações de consumo, foram mensu-
rados os níveis dos metabólitos sanguíneos dos animais.
Não houve diferença estatística entre os tratamentos para
metabólitos energéticos (P>0,05), no entanto houve efei-
to do período experimental para as variáveis frutosamina
e glicemia (P<0,05) (Tabela 2).
Segundo Kaneko et. al (2008) a faixa recomen-
dada ideal de glicemia para caprinos saudáveis é de 50 a
75 mg dL
-1
. No presente estudo obteve-se média de 37,37
mg dL
-1
, o que corresponde a um valor 25,26% abaixo
do limite inferior preconizado. Os valores de referência
para a frutosamina ainda não são bem precisos, mas em
um estudo feito por Silva Neto, (2011) o intervalo foi de
164,68 a 328,88 mmol/L, sendo superior ao encontrado,
132,11 mmol/L.
A frutosamina é uma proteína glicosilada, sendo
uma fração de glicose e o grupamento amina das pro-
teínas, com maior interação com a albumina. Durante o
periodo experimental ela aumentou seus valores, mos-
trando que os animais estavam estáveis energeticamente,
porém com valores abaixo do intervalo proposto por
Consumo e perfil metabólico de cabritos alimentados com gordura inerte de palma na ração
5
Cad. Ciênc. Agrá., v. 14, p. 01–12, DOI: https://doi.org/10.35699/2447-6218.2022.41906
Silva Neto, (2011), demosntrando o nível de glicose dos
indivíduos de aproximadamente duas semanas antes das
coletas, sendo um bom indicador do status energetico
dos animais (Sousa, 2015), e tem direta relação com o
tempo de meia vida das proteínas (Silva et al., 2020).
Kaneko et al. (2008) não preconiza um valor de referên-
cia de frutosamina para caprinos, mas como esta possui
relação direta com a glicose e albumina e os animais não
apresentaram sinais de injúria, presumesse que a faixa
encontrada esteve próxima a ideal da espécie.
Tabela 2 – Frutosamina (mmol L-1) e glicemia (mg dL-1) de caprinos suplementados com gordura de palma na ração
em função do tratamento e período experimental
Tratamento Frutosamina Glicose
0 133,05 38,65
25 134,85 37,90
50 130,75 35,60
75 129,81 37,35
P valor 0,8487 0,9250
Período Frutosamina1Glicose2
0 118,43 30,37
15 112,12 41,87
30 124,50 47,31
45 144,50 29,50
60 161,00 37,81
P 0,0024 0,0090
MG 132,11 37,37
CV 9,26 37,45
VR - 50-75
1Y= 116,219643 - 0,230952X + 0,016905X2, R2= 96,98%; 2Y= 32,642857 + 0,580952X - 0,009405X2, R2= 27,50%; P: valor de 5% de signifi-
cância; MG: média geral; CV: coeficiente de variação; VR: valor de referência para caprinos segundo Kaneko et al. (2008).
Por outro lado, Lima et al. (2016) salientaram
que a glicose sanguínea pouco se altera em ruminantes
como consequência do aporte dietético, devido a um
eficiente mecanismo de regulação hormonal que mantém
relativamente constante a concentração desse indicador
bioquímico na corrente sanguínea desses animais o que
corrobora com o fato dos níveis de glicose e frutosamina
estarem abaixo dos valores de referência, como mostrado
na tabela 2.
Na tabela 3 está descrita a interação entre tra-
tamento e período experimental para as variáveis coles-
terol e triglicerídeos. No período 15, houve tendência
significativa para a variável colesterol (P=0,0603) que
apresentou resposta quadrática em relação aos níveis
de inclusão de gordura, se mantendo dentro da faixa
recomendada.
Com relação aos tratamentos, o tratamento 50g
apresentou resposta quadrática enquanto 75g apresentou
resposta linear positiva em relação ao período experimen-
tal. Entretanto, mantiveram-se dentro do preconizado
por Kaneko et al. (2008), sendo então, correlacionado
com o CMS presente no grafico 1, pois, a síntese desse
metabólito é estimulada pela disponibilidade lipídeos
e pela necessidade de transporte e absorção de ácidos
graxos dietéticos (Fiorenze, 2014). Indicando que a dieta
fornecida (gordura inerte, silagem e concentrado) propi-
ciaram o aumento de triglicerídeos (Tabela 3), provendo
aumento na exportação de triglicerídeo para tecidos
periféricos pela VLDL (Tabela 4).
Os teores de colesterol também estiveram dentro
ou próximos do limite inferior preconizado por Kaneko
et al. (2008) para todos os grupos avaliados. O colesterol
pode ter origem exógena, proveniente da alimentação,
ou endógena, quando sintetizado pelo fígado, gônadas,
intestino, glândula adrenal e pele. Sua síntese ocorre a
partir do acetil-CoA, originado do ácido acético produzido
no rúmen (Silva et al., 2020).
Tabela 3 – Interação entre tratamento e período experimental de metabólitos energéticos (mg dL-1) de caprinos suple-
mentados com gordura de palma na ração
Vilaça, L. E. G. et al.
6
Cad. Ciênc. Agrá., v. 14, p. 01–12, DOI: https://doi.org/10.35699/2447-6218.2022.41906
Colesterol
Tratamento/Período 0 15130 45 60 P
0 81,60 78,67 79,87 80,15 82,77 0,9975
25 101,00 115,40 116,90 117,40 93,37 0,1771
50272,50 119,72 123,55 116,60 114,57 0,0008
75383,10 78,35 105,87 109,10 102,07 0,0444
P 0,5105 0,0603 0,1343 0,1936 0,4059
Triglicerídeos
Tratamento/Período 0 15 30 45460 P
0534,00 18,00 20,00 22,50 31,75 0,0108
25 31,00 25,00 28,50 33,75 29,00 0,5492
50 34,50 24,75 29,25 37,75 25,00 0,1128
75624,50 19,50 32,25 47,25 35,00 0,0001
P 0,6487 0,7967 0,5469 0,0681 0,8536
1Y= 78,01000 + 2,35640X-0,031240X², R²= 99,42%; 2Y= 77,574286 + 2,621595X - 0,03469X², R²=86,40; 3Y= 81,960 + 0,4580X, R²=60,24%;
4Y=23,5750 + 0,3130X, R²= 97,18%; 5Y=32,535714 - 0,971429X + 0,016190X², R²= 89,97%; 6Y= 21,950 + 0,3250X, R²= 52,38%; P: valor de
5% de significância; Média geral (colesterol: 98,63 e triglicerídeos: 29,31); Coeficiente de variação (colesterol: 17,22% e triglicerídeos: 25,09%);
Valor de referência para caprinos segundo Kaneko et al. (2008): (colesterol: 80,00 – 130,00 e triglicerídeos: 17,60 – 24,00).
Os teores de colesterol também estiveram dentro
ou próximos do limite inferior preconizado por Kaneko
et al. (2008) para todos os grupos avaliados. O colesterol
pode ter origem exógena, proveniente da alimentação,
ou endógena, quando sintetizado pelo fígado, gônadas,
intestino, glândula adrenal e pele. Sua síntese ocorre a
partir do acetil-CoA, originado do ácido acético produzido
no rúmen (Silva et al., 2020).
É possível observar nos dois tratamentos com
maior inclusão de gordura na dieta que um aumento
dos níveis de colesterol presente no sangue ao longo do
período experimental (P<0,05) provavelmente em vir-
tude da dieta fornecida, pois, a síntese desse metabólito
é estimulada tanto pela disponibilidade lipídeos, quanto
pela necessidade de transporte e absorção de ácidos
graxos dietéticos (Varanis et al., 2021).
O metabólito triglicerídeo apresentou tendência
significativa (P=0,0681) no período 45 obtendo uma
resposta linear positiva em relação aos níveis de inclusão
de gordura. Com relação aos tratamentos, o tratamento
0g (controle) apresentou resposta quadrática enquanto
75g apresentou resposta linear positiva em relação ao
período experimental.
Tal variável atingiu valor máximo de 47,25 mg
dL-1 no tratamento com maior inclusão de gordura (75g)
no período 45 do experimento. Levando em consideração
a faixa considerada ótima para espécie segundo Kaneko
et al. (2008) de 17,6 24 mg dL-1, neste momento houve
um aumento de 96,88% do valor máximo recomendado.
Ghoreishi et al. (2007) sugeriram que uma dieta
suplementada com gordura aumenta o nível plasmático
de colesterol e triglicerídeos, o que foi verificado neste
estudo, demonstrado na tabela 3, onde triglicerídeos
apresentaram valores acimas dos de referencias (média
de 29,31mg/dL), e colesterol apresentou variações ele-
vadas (98,63 mg/dL), mas sempre dentro do intervalo
de referencias em todos os tratamentos suplementados
com gordura protegida.
As lipoproteínas de alta densidade (HDL) são
responsáveis pelo transporte de colesterol dos tecidos
extra hepáticos para o fígado, onde serão metabolizados,
por outro lado, a lipoproteína de muito baixa densidade
(VLDL) transporta os triglicerídeos do fígado para o tecido
adiposo via corrente sanguínea (Kaneko et al., 2008). As
concentrações de ambas lipoproteínas estão descritas na
tabela 4.
A lipoproteína HDL obteve diferença estatística
(P<0,05) em todos os tratamentos com inclusão de gordu-
ra de palma na dieta em relação ao período experimental,
apresentando resposta quadrática nos tratamentos com
inclusão de 25 e 50g animal/dia e resposta linear positiva
no tratamento com 75g animal-1 dia-1. Este aumento pode
ser explicado pela alta concentração de amido e da adição
de ácidos graxos insaturados na dieta, principalmente,
o ácido linoléico (18:2), presente na tabela 1. Durante
todo o período, os valores de HDL se mantiveram dentro
dos propostos por Kaneko et al. (2008) (21,70 – 47,30
mg dL-1).
Consumo e perfil metabólico de cabritos alimentados com gordura inerte de palma na ração
7
Cad. Ciênc. Agrá., v. 14, p. 01–12, DOI: https://doi.org/10.35699/2447-6218.2022.41906
Tabela 4 – Interação entre tratamento e período experimental de lipoproteínas (mg dL-1) de caprinos suplementados
com gordura de palma na ração
HDL
Período/Tratamento 0 25¹ 50² 75³ P
0 24,15 24,17 20,80 23,02 0,8684
15 24,30 31,92 34,97 29,65 0,1572
30 22,72 30,92 32,27 24,15 0,1228
45 24,27 36,17 34,92 31,22 0,0717
60 26,92 28,60 35,80 30,02 0,2681
P 0,5300 0,0009 0,0052 0,0030
VLDL
Período/Tratamento 0425 50 755P
0
15
30
456
60
6,80
3,60
4,00
4,50
6,35
6,20
5,00
5,70
6,75
5,80
6,90
4,95
5,85
7,55
5,60
4,90
3,90
6,45
9,45
7,00
0,6487
0,7967
0,5469
0,0681
0,8536
P 0,0108 0,5492 0,1128 0,0001
1Y= 24,254286 + 0,0552095X – 0,007746X², R²= 76,59%; 2Y= 22,729286 + 0,604429X- 0,006746X², R²= 77,65%; 3Y= 24,50000 + 0,103833X,
R²= 43,27%; 4Y= 6,507143 - 0,194286X + 0,003238X², R²= 89,97%; 5Y= 4,390 + 0,0650X, R²= 52,38%; 6Y= 4,7150 + 0,0626X, R²= 97,18%;
HDL: lipoproteína de alta densidade; VLDL: lipoproteína de muito baixa densidade; P: valor de 5% de significância; Média geral (HDL: 28,55
e VLDL: 5,86); Coeficiente de variação (HDL: 11,83% e VLDL: 25,09%); Valor de referência para caprinos segundo Kaneko et al. (2008): (HDL:
21,70 – 47,30) (VLDL: 3,00 – 4,00).
A lipoproteína HDL obteve diferença estatística
(P<0,05) em todos os tratamentos com inclusão de gordu-
ra de palma na dieta em relação ao período experimental,
apresentando resposta quadrática nos tratamentos com
inclusão de 25 e 50g animal/dia e resposta linear positiva
no tratamento com 75g animal-1 dia-1. Este aumento pode
ser explicado pela alta concentração de amido e da adição
de ácidos graxos insaturados na dieta, principalmente,
o ácido linoléico (18:2), presente na tabela 1. Durante
todo o período, os valores de HDL se mantiveram dentro
dos propostos por Kaneko et al. (2008) (21,70 – 47,30
mg dL-1).
A VLDL é responsável pelo transporte de trigli-
cerídeos na corrente sanguínea e obteve-se diferença
estatística (P<0,05) nos tratamentos controle e 75g em
relação ao período experimental, apresentando resposta
quadrática e linear positiva, respectivamente. Em con-
trapartida no período 45, houve tendência significativa
(P=0,0681) que apresentou resposta linear positiva em
relação aos níveis de inclusão de gordura na dieta, atin-
gindo valor máximo de 9,45 mg dL-1, ficando 236,25%
acima do limite superior recomendado por Kaneko et al.
(2008) (3,00 4,00 mg dL
-1
). Além disso, por possuírem
comportamentos semelhantes, era esperado que o au-
mento dos valores de triglicerídeos afetassem os valores
de VLDL.
A lipoproteína de baixa densidade (LDL) quando en-
contrada em altas quantidades é um indicativo de uma
tendência de maior deposição de colesterol nos tecidos,
pois eles não conseguem metabolizar o excesso de LDL
(Siqueira et al., 2020). Na tabela 5 estão descritos os
valores de LDL.
A LDL obteve valor máximo aos 30 dias de estudo
ficando 11,58% acima do valor máximo recomendado
como ideal por Kaneko et al. (2008). Como apresentado
na tabela 5, pode-se notar que não houve diferença es-
tatística e os tratamentos de 25 e 50 gramas de gordura
apresentaram valores acima dos de referências proposto
por Kaneko, 2008 . Enquanto em relação ao período o
valor médio permaneceu próximo dos valores referenciais.
Na tabela 6, temos a interação entre tratamento
e período experimental para as relações colesterol total/
lipoproteína de alta densidade (CT/HDL) e lipoproteína
de baixa densidade/lipoproteína de alta densidade (LDL/
HDL).
Tabela 5 – Lipoproteína de baixa densidade (mg dL-1) de caprinos suplementados com gordura de palma na ração em
função do tratamento e período experimental
Vilaça, L. E. G. et al.
8
Cad. Ciênc. Agrá., v. 14, p. 01–12, DOI: https://doi.org/10.35699/2447-6218.2022.41906
Tratamento LDL
0 51,09
25 72,56
50 71,46
75 61,74
P 0,1152
Período LDL
0 55,31
15 63,46
30 73,53
45 67,10
60 61,67
P 0,1685
MG 64,21
CV 22,13
VR 29,4-65,9
LDL: lipoproteína de baixa densidade; P: valor de 5% de significância; MG: média geral; CV: coeficiente de variação; VR: valor de referência para
caprinos segundo Kaneko et al. (2008).
Tabela 6 – Interação entre tratamento e período experimental para as relações CT/HDL e LDL/HDL (mg dL-1) de ca-
prinos suplementados com gordura de palma na ração
CT/HDL
Período/Tratamento 0 251 50 752P
0 3,31 4,15 3,48 3,62 0,3907
15 3,2 3,62 3,43 2,41 0,1130
30 3,5 3,82 3,85 4,41 0,3452
45 3,27 3,24 3,35 3,51 0,9512
60 3,06 3,23 3,19 3,4 0,9229
P 0,5745 0,0052 0,1678 0,0256
LDL/HDL
Período/Tratamento 0 253 50 754P
0 2,02 2,87 2,15 2,41 0,3267
15 2,06 2,46 2,28 1,28 0,1035
30 2,32 2,62 2,66 3,13 0,422
45 2,09 2,05 2,12 2,2 0,9898
60 1,82 2,02 2,03 2,16 0,9156
P 0,5354 0,0177 0,2105 0,0387
1Y= 4,057135 - 0,014682X, R²= 79,47; 2Y= A equação não ajustou ao modelo linear e ou quadrático; 3Y= 2,832780 - 0,014050X, R²= 82,23%;
4
Y= A equação não ajustou ao modelo linear e ou quadrático; P: valor de 5% de significância; Média geral (CT/HDL: 3,45 e LDL/HDL: 2,24);
Coeficiente de variação (CT/HDL: 20,19% e LDL/HDL: 17,69%).
Consumo e perfil metabólico de cabritos alimentados com gordura inerte de palma na ração
9
Cad. Ciênc. Agrá., v. 14, p. 01–12, DOI: https://doi.org/10.35699/2447-6218.2022.41906
Para a relação CT/HDL houve efeito dos trata-
mentos (P<0,05), de modo que o tratamento 25g apre-
sentou resposta linear negativa em relação ao período
experimental. De acordo com Siqueira et al. (2020) quanto
menor o valor encontrado, maior é a concentração de
HDL circulante, pois esta relação é inversamente ligada à
quantidade de lipoproteína na corrente sanguínea. Desta
forma, melhor é o carreamento de CT para o fígado para
ser metabolizado.
A relação LDL/HDL foi significativa entre os
tratamentos (P<0,05), apresentando resposta linear
negativa no tratamento 25g animal dia em relação ao
período experimental. Essas interações devem ser míni-
mas, pois indicam maior presença de HDL, e o perfil da
gordura dietética, apresentado na tabela 1, promove o
aumento do colesterol sanguíneo, logo, são resultados
satisfatórios, que valores elevados indicariam maior
concentração de LDL, que podem resultar em maior risco
de doenças devido a deposição de colesterol nos tecidos
(Siqueira, 2020).
Esta diminuição pode ser explicada pela maior
presença de HDL circulante acerca da LDL, uma vez que
o fígado está recebendo maiores quantidades de ácidos
graxos que são convertidos em colesterol e triacilglicerol.
Na Tabela 7 temos o perfil enzimático composto
pelos metabólitos gama glutamiltransferase (GGT), fosfa-
tase alcalina (ALP) e aspartato aminotransferase (AST).
Tabela 7 Perfil enzimático (U L-1) de caprinos suplementados com gordura de palma na ração
Tratamento GGT ALP AST
0
25
50
75
41,36
51,32
52,97
38,52
576,20
646,80
615,60
623,70
66,04
63,10
62,62
81,28
P 0,1080 0,8210 0,2300
Período GGT1ALP AST
0
15
30
45
60
46,30
44,20
43,84
45,98
49,90
498,20
644,00
632,60
714,10
588,80
82,30
65,36
65,12
57,68
69,58
P 0,0500 0,1370 0,1200
MG 46,04 615,6 68,01
CV 12,38 35,3 30,36
VR 20,00 – 56,00 93,00 – 387,00 163,00 – 513,00
1
Y= 46,324643 - 0,216911X + 0,004613X² , R²= 99,87%; GGT: gama gliutamiltransferase; ALP: fosfatase alcalina; AST: aspartato aminotransferase;
P: valor de 5% de significância; MG: média geral; CV: coeficiente de variação; VR: valor de referência para caprinos segundo Kaneko et al. (2008).
Não houve efeito dos tratamentos sobre o perfil
enzimático de caprinos em crescimento alimentados com
fonte de gordura na dieta. No entanto, para a variável
GGT houve efeito do período experimental (P<0,05),
demonstrado pela resposta quadrática apresentada na
equação.
A GGT apresentou uma resposta quadrática
crescente, indicando que seus valores estão tendo um
aumento linear positivo, que é consequência da dieta,
onde um grande consumo de carboidratos altamente
fermentescíveis provenientes do concentrado, e após
fermentação e absorção ruminal vão ser metabolizados
no fígado, aumentando atividade hepática, e por sua
vez os valores de GGT, isso, juntamente com o fato das
relações LDL/HDL e CT/HDL apresentados na tabela 6,
reduzirem ao longo do tempo (indicando mais colesterol
sendo carreado para o fígado e mais atividade hepática),
porém manteve-se sempre dentro dos valores de referen
-
cias propostos por Kaneko et. al. (2008).
A fosfatase alcalina (ALP) é uma enzima que
está presente em diversos tecidos do corpo, estando em
maior quantidade nas células dos ductos biliares, que são
canais que conduzem a bile do interior do fígado para o
intestino, fazendo a digestão das gorduras, sendo assim,
a inclusão de lipídeos promoveu elevação da enzima fos-
fatase alcalina 2,5 vezes acima da referência da categoria,
como mostrado na tabela 7, estabelecendo relação com
o aumento de colesterol, triglicerídeos (tabela 3) e de
VLDL (tabela 4) devido os animais estarem consumindo
ração altamente energética, logo, esse aumento não indica
necessariamente uma lesão hepática, que as outras
enzimas estão dentro dos valores de referência.
Vilaça, L. E. G. et al.
10
Cad. Ciênc. Agrá., v. 14, p. 01–12, DOI: https://doi.org/10.35699/2447-6218.2022.41906
No mesmo período experimental observamos
que houve aumento tanto no colesterol, quanto nos tri-
glicerídeos (tabela 4), sendo tambem relacionado com o
CMS apresentado no grafico 1. Apesar da elevação não
houve significância dos tratamentos ou do período para
esta variável.
A AST por outro lado, apresentou valor médio
de 68,01 U L-1, estando 139,67% abaixo do valor mínimo
recomendado por Kaneko et al. (2008).
Na Tabela 8, encontram-se os dados referentes
ao perfil proteico de cabritos. Houve diferença estatística
(P<0,05) entre os tratamentos para ácido úrico (AU).
no período houve diferença (P<0,05) para as variáveis
AU, albumina (AL) e creatinina.
Tabela 8 Perfil proteico de caprinos suplementados com gordura de palma na ração
Tratamento AU1
(mg dL-1)
AL
(g dL-1)
Creatinina
(mg dL-1)
PT
(g dL-1)
GL
(g dL-1)
Ureia
(mg dL-1)
0
25
50
75
0,89
1,01
1,36
1,22
3,94
4,01
3,98
3,88
1,36
1,40
1,37
1,39
6,13
6,24
6,16
5,98
2,19
2,23
2,18
2,09
60,86
65,66
86,28
57,68
P 0,0540 0,6870 0,9900 0,4060 0,8160 0,4430
Período AU2AL3Creatinina4PT GL Ureia
0
15
30
45
60
0,71
1,24
1,28
1,35
1,02
4,05
4,17
4,17
3,65
3,71
1,43
1,53
1,54
1,08
1,33
6,12
6,30
6,27
5,97
5,97
2,06
2,13
2,1
2,32
2,26
60,48
55,21
68,48
98,06
55,86
P 0,0110 0,0002 0,0014 0,1190 0,1010 0,0766
MG 1,12 3,95 1,38 6,13 2,17 67,62
CV 40,55 5,79 18,29 5,57 11,89 15,36
VR 0,30 - 1,00 2,70 - 3,90 1,00 - 1,80 6,40 - 7,00 2,70 - 4,10 21,40 - 42,80
1Y= 0,925850 + 0,005284X, R²= 66,46%; 2Y= 0,737571 + 0,036961X - 0,000535X², R²= 94,99%; 3Y= 4,104571 + 0,004132X - 0,000203X², R²=
68,21%; 4Y= 1,51750 - 0,004438X, R²= 30,42%; AU: ácido úrico; AL: albumina; Creat: creatinina; PT: proteínas totais; GL: globulinas; P: valor de
5% de significância; MG: média geral; CV: coeficiente de variação; VR: valor de referência para caprinos segundo Kaneko et al. (2008).
Segundo Oliveira (2018), o ácido úrico é dire-
tamente relacionado à síntese proteica microbiana pelos
microrganismos ruminais, sendo assim, quanto maior
a concentração desse metabólito, maior é a síntese mi-
crobiana e consequentemente maior o uso da amônia
ruminal, diminuindo o escape dela. No presente estudo
houve efeito linear positivo para tratamento de modo
que conforme aumentaram os níveis de suplementação
maior foi sua resposta. Houve efeito quadrático durante
o período com o ponto máximo atingido aos 45 dias com
1,35 mg dL-1.
O desenvolvimento da microbiota ruminal está
diretamente relacionado com a dieta, onde altas percenta-
gens de carboidrato não fibroso (CNF), presentes no con-
centrado, refletem em alta fermentação e proporcionam
maior aporte energético, aumentando o desenvolvimento
da microbiota ruminal com maior produção de proteína
microbiana (PM), a qual é responsável pelo fornecimento
de proteína para animais ruminantes.
Para que ocorra a síntese de proteína microbiana,
é necessário um sinergismo entre a amônia advindo da
proteína que chega ao rúmen e os carboidratos na dieta
(Siqueira, 2020), caso não ocorra, a amônia é absorvida
pela parede ruminal e transportada até o fígado, onde
é transformada em ureia, e posteriormente eliminada,
causando assim um prejuízo energético no animal. Des-
sa forma, acredita-se que a relação C:V de 70:30 tenha
influenciado no melhor aporte proteico e consequente-
mente aumentando o desenvolvimento da microbiota
ruminal com maior produção de proteína microbiana
(PM) ocasionando maior produção de AU.
Além disso, maiores teores de suplementação com
gordura inerte de palma parecem ter propiciado melhores
condições ruminais devido à maior produção de PM, visto
que a gordura inerte de palma possue pKa baixo quando
comaprado ao do óleo de soja, (pKas 4,6 e 5,6, respecti-
vamente) sendo insolúvel a nivél ruminal, não alterando
ambiente ruminal e promovendo degradação efetiva do
CNFs no ambiente ruminal, aumentando a produção dos
Consumo e perfil metabólico de cabritos alimentados com gordura inerte de palma na ração
11
Cad. Ciênc. Agrá., v. 14, p. 01–12, DOI: https://doi.org/10.35699/2447-6218.2022.41906
ácidos graxos voláteis, tais como o ácido propiônico, que é
o principal precursor do glicogênio, devido ao aumento da
multiplicação microbiana, elevando a síntese de proteína
microbiana (Santana, 2021), justificando o aumento nos
níveis de AU entre os tratamentos.
Assim, a suplementação com gordura inerte de
palma pode contribuir na digestibilidade do amido no
ambiente ruminal, elevando a produção dos ácidos graxos,
a população de microrganismos ruminais e aumentando
a capacidade de aproveitamento dos CNFs oriundos da
dieta.
A albumina, é um indicador a longo prazo do
status proteico dos animais. De acordo com Kaneko et
al. (2008), seus valores devem estar entre 2,70 e 3,90
g dL-1. Houve efeito quadrático do período sobre seus
valores que chegaram a apresentar aumento de 6,92%
do máximo recomendado demonstrando um adequado
aporte proteico oriundo da dieta.
A creatinina se manteve dentro dos valores de
referência citados por Kaneko et al. (2008) (1,0 a 1,8
mg dL
-1
), no entanto apresentou resposta linear negativa
durante o período. A creatinina, resíduo da creatina, tem
estreita relação com a massa muscular e contração mus-
cular variando de acordo com grau de exercício realizado
pelos animais, como estavam confinados tiveram uma
menor atividade muscular, resultando em baixo consu-
mo de energia pelo músculo, o que justifica os valores
decrescente desse metabólito.
A formação de proteínas totais (PT) é afetada pela
falta de sinergismo na degradação ruminal de carboidratos
e proteínas acarretado pelo escape de amônia que pode
ser confirmado pelos valores elevados de ureia sanguí-
nea (Santana, 2021). A média geral encontrada (6,13
g dL-1) está 4,22% abaixo do recomendado por Kaneko
et al. (2008) (6,40 -7,00 g dL-1) isso ocorreu pela falta
de sinergismo na degradação ruminal de carboidratos e
proteínas, acarretando no escape da amônia, que pode
ser confirmada pelos níveis de ureia, causando assim a
redução da formação de proteínas totais.
A albumina, ao contrário da ureia, é um indica-
dor a longo prazo do estado proteico, e de acordo com
Kaneko et. al. (2008), seus valores devem estar entre
2,70 3,90 g/dl, e a média encontrada neste estudo
foi de 3,95, estando acima do recomendado, e como
ela apresentou uma resposta quadrática em função do
período, pode-se dizer que seus valores aumentaram no
decorrer do tempo, indicando que estes animais estão
aproveitando bem o aporte proteico da dieta.
Não foram encontradas diferenças para a variável
ureia que demonstrou-se acima do recomendado por
Kaneko et al. (2008) para todos os tratamentos. Houve
tendência significativa para o período, atingindo valor de
129,11% aos 45 dias de estudo. Esse aumento é indicador
do sinergismo entre a amônia, oriunda da proteína que
chega ao rúmen e os carboidratos na dieta (Siqueira et
al., 2020), caso o sinergismo não ocorra, a amônia é
absorvida pela parede ruminal e é transportada até o
fígado, onde é transformada em uréia, e posteriormente
eliminada, causando perda energética para o animal. Ou
seja, os valores de uréia encontrados no presente expe-
rimento, estando acima do recomendado, indicam um
escape de amônia do ambiente ruminal, pela possível falta
de sinergismo na degradação ruminal de carboidratos e
proteínas.
Conclusão
A inclusão de gordura inerte de palma em dife-
rentes níveis na dieta de cabritos mestiços leiteiros com
o intuito de avaliar qual nível de inclusão pode melhorar
o desempenho nutricional, produtivo e metabólico de
caprinos mestiços leiteiros em crescimento, não promoveu
alterações no consumo dos nutrientes avaliados nesta
pesquisa, no entanto foi eficiente para melhorar o aporte
energético da dieta, aumentando o aporte de proteína
microbiana produzida no rúmen, sem causar efeitos de-
letérios ao desempenho dos animais estudados.
Aprovação do Comitê de Ética
Aprovado pelo Conselho de Ética na Utilização
de Animais (CEUA) sob número 094/17, da Universidade
Federal de Uberlândia, MG.
Referências
Carneiro, M. M. Y. et al. lipídios na dieta de ruminantes. anais da x
mostra científica famez / ufms, campo grande, 2017. Disponivel em
<https://famez.ufms.br/files/2015/09/LIP%C3%8ddios-na-dieta-de-
ruminantes.pdf>. acesso em 09 dez. 2022.
Carvalho, I. N. O. Óleo de Soja Residual na Alimentação de Cabritos,
2009. Dissertação. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro-UFRRJ.
Disponível em <https://tede.ufrrj.br/handle/tede/595#preview-
link0>. Acesso em 09 Dez. 2022
Fiorenze, VI, et al. “Efeito da inclusão de níveis crescentes de óleo
de girassol em parâmetros metabólicos de vacas Jersey em lactação.”
Embrapa Clima Temperado Artigo em anais de congresso (Alice). In:
Congresso de Iniciação Científica, 23.; Encontro de Pós-Graduação, 16.,
2014, Pelotas.[Anais.]. Pelotas: UFPel, 2014. Disponível em <https://
www.alice.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/1000674/1/CA02511.
pdf>. Acesso em 09 Dez. 2022
Friedewald, W. T.; Levy, R. I.; Fredrickson, Donald S. Estimation of the
concentration of low-density lipoprotein cholesterol in plasma, without
use of the preparative ultracentrifuge. Clinical chemistry, v. 18, n. 6,
p. 499–502, 1972.
Vilaça, L. E. G. et al.
12
Cad. Ciênc. Agrá., v. 14, p. 01–12, DOI: https://doi.org/10.35699/2447-6218.2022.41906
Ghoreishi, S.m.; Zamiri, M.J.; Rowghani, E.; Hejazi, H. Effect of a
calcium soap of fatty acids on reproductive characteristics and lactation
performance of fat-tailed sheep. Pakistan Journal of Biological Sciences,
v.10, n.14, p.2389–2395, 2007. Disponível em <https://docsdrive.com/
pdfs/ansinet/pjbs/2007/2389-2395.pdf>. Acesso em 09 Dez. 2022
Kaneko, J. J.; Harvey, J. W.; Bruss, M. L. (Ed.). Clinical biochemistry
of domestic animals. Academic press, 2008.
Lima, E. H. F.; et al. Efeito da monensina sódica sobre o perfil metabólico
de ovelhas antes e após o parto. Ciência Animal Brasileira, v. 17, n. 1,
p. 105–118. 2016. Disponível em <https://www.scielo.br/j/cab/a/
XqV3TD3knw4Jx4xLKsSMDpy/?format=pdf&lang=pt> acesso em
09 Dez. 2022.
Maynard, L. A.; Loosli, J. K.; Hintz, H. F.; Warner, R. G. 1984. Nutrição
animal. 3. ed. Rio de Janeiro: F. Bastos, RJ, Brasil.
Nascimento, F. A. Gordura protegida com diferentes perfis de ácidos
graxos na alimentação de bovinos Nelore confinados. Dissertação.
Universidade estadual Julio mesquita filho. Faculdade de ciências
veterinárias, campus jaboticabal. 2017. Disponível em <https://
repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/150344/nascimento_
fa_me_jabo.pdf?sequence=3&isAllowed=y>. Acesso em 09 Dez. 2022.
National Research Council (US). Committee On Nutrient Requirements
Of Small RuminantS et al. Nutrient requirements of small ruminants:
sheep, goats, cervids, and new world camelids, 2007. 362p.
Oliveira, K. A. Ração extrusada com diferentes relações volumoso:
concentrado para ovinos em crescimento. 2018. 92 f. Dissertação
(Mestrado em Zootecnia) - Universidade Federal de Uberlândia, 2018.
Disponível em: <http://dx.doi.org/10.14393/ufu.di.2018.783>. Acesso
em 09 Dez. 2022.
Palmiquist, D.L.; Mattos, W.R.S. Metabolismo de lipídeos. In: Nutrição
de Ruminantes. 1. ed. Jaboticabal: Telma Teresinha Berchielli, Alexandre
Vaz Pires e Simone Gisele de Oliveira, 2006. cap. 10, p. 287–310.
Patino, H. O. et al. Perfil metabólico em ruminantes: seu uso em nutrição
e doenças nutricionais. 2000. Disponível em <https://www.lume.
ufrgs.br/bitstream/handle/10183/26657/000274557.pdf?>. Acesso
em 09 Dez. 2022.
Santana, A. G. Uso de enzimas exógenas na ração para caprinos
desempenho produtivo e metabólico. Universidade Federal de
Uberlândia. 2021. Disponível em <https://repositorio.ufu.br/
bitstream/123456789/33156/1/UsoEnzimasEx%c3%b3genas.pdf.>
Acesso em 09 Dez. 2022.
Silva, D. A. P.; Varanis, L. F. M.; Oliveira, K. A.; Sousa, L. M.; Siqueira,
M. T. S.; Macedo Júnior, G. L. 2020. Parâmetros de metabólitos
bioquímicos em ovinos criados no Brasil. Caderno de Ciências Agrárias,
12, 01–08. DOI: https://doi.org/10.35699/2447-6218.2020.20404.
Disponível em <https://periodicos.ufmg.br/index.php/ccaufmg/article/
view/20404/19930>. Acesso em 09 Dez. 2022.
Silva Neto, I. F. Resposta metabólica da associação da palma
miúda (Nopalea cochenillifera) com feno de maniçoba (Manihot
pseudoglaziovii) e feno de capim tifton 85 (Cynodon dactylon) na
alimentação de ovinos morada nova e de caprinos Moxotó. 2011. 70 f.
Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Sanidade e Reprodução de
Ruminantes) - Universidade Federal Rural de Pernambuco, Garanhuns.
Disponivel em <http://www.tede2.ufrpe.br:8080/tede2/handle/
tede2/6259>. Acesso em 09 Dez. 2022.
Siqueira, M. T. S.; Jesus, T. A. V. de; Silva, A. L.; Araújo, M. J. P. de; Sousa, L.
F.; Macedo Júnior, G. de L. (2020). Suplementação nutricional para ovelhas
em final de gestação: parâmetros nutricionais e metabólicos. Disponível
em <https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/33242/1/
Suplementa%c3%a7%c3%a3oNutricionalOvelhas.pdf>. Acesso em
09 Dez. 2022.
Sousa, F. A. et al. Desempenho de cabritos alimentados com variedades
de palma forrageira resistente a cochonilha do carmim. Dissertação.
2015. Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências Agrárias
Programa de Pós-graduação em Zootecnia. Disponível em <https://
repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/123456789/15842/1/DZ243.pdf>.
Acesso em 09 Dez. 2022.
Varanis, L. F. M., Schultz, E. B., Oliveira, K. A., Sousa, L. F., Cruz, W.
F. G., Macedo Junior, G. L. Serum biochemical reference ranges for
lambs from birth to 1 year of age in the tropics. Seminário: Ciências
agrárias, v.42, n.3, p.1725–1740, 2021. https://doi.org/10.5433/1679-
0359.2021v42n3Supl1p1725. Disponível em <https://www.
researchgate.net/profile/Erica-Schultz/publication/351141024_
Serum_biochemical_reference_ranges_for_lambs_from_birth_to_1_
year_of_age_in_the_tropics/links/609ad5eda6fdccaebd25178b/
Serum-biochemical-reference-ranges-for-lambs-from-birth-to-1-year-
of-age-in-the-tropics.pdf>. Acesso em 09 Dez. 2022.