Mulheres no Mundo, na Ciência, nas Lutas da Vida

Autores

  • Cáthia Alves Instituto Federal de São Paulo (IFSP) – Campus Salto
  • Denise Falcão Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)
  • Flávia da Cruz Santos Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)/Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Resumo

A primeira edição do ano da Revista Licere, publicada em março de 2021, dedica-se à valorização e à visibilidade da presença de mulheres na pesquisa e na ciência. No mês que marca a luta em defesa dos direitos das mulheres, o editorial da Licere repudia o aumento nos índices de feminicídio no país, o avanço da violência doméstica contra as mulheres e a desigualdade de gênero em salários, em cargos, na política etc. Repudiamos também a perspectiva de desmanche da ciência e da educação pública, bem como, a inoperância e desrespeito à ciência frente ao controle da pandemia que assola o país.

Frente a este cenário, e ainda que as mulheres, no século XXI, tenham ampliado a proporção de participação em pesquisas no Brasil e no mundo, a desigualdade de gênero ainda permanece nas publicações, citações, bolsas concedidas e colaborações como ressalta o relatório da Elsevier (2020) intitulado The Researcher Journey Through a Gender Lens (A jornada do pesquisador através de lentes de gênero).

A pandemia de COVID-19 tem provocado tanto um caos social, quanto uma desordem nas diferentes dimensões da vida dos sujeitos. Considerando que vivemos em uma sociedade machista e patriarcal, é necessário refletirmos sobre como os efeitos desta situação se apresentam para distintos sujeitos.

Com a continuidade prolongada da pandemia, vem à tona uma situação já evidenciada:  as mulheres passam mais tempo do que os homens se dedicando aos cuidados nos lares. Seja em tarefas domésticas, organização alimentar, ou cuidados com os filhos e idosos, esse tempo se apresenta diferenciado entre os gêneros, com sua sobrecarga sobre as mulheres.

Tais efeitos, repercutem de forma desigual sobre a produtividade de homens e mulheres pesquisadoras. Levantamento realizado pelo movimento brasileiro Parent in Science (2020), demonstra que as mulheres negras com filhos, seguidas pelas mulheres brancas com filhos constituem os grupos cuja produtividade acadêmica mais foi afetada, a submissão de artigos, especialmente, sofreu grande queda. Quando comparado apenas mulheres e homens, independentemente de raça e parentalidade, o levantamento demonstrou que enquanto 68,7% dos homens submeteu artigos durante o segundo e o terceiro meses de isolamento social, apenas 49,8% das mulheres o fizeram.

O coletivo britânico #femedtech (2020) evidenciou algumas das causas: “...em casa, as mulheres são mais propensas a assumir a maior parte da responsabilidade no cuidado das crianças, dos membros idosos da família e dos mais vulneráveis, especialmente durante a quarentena, além de serem mais propensas a assumirem papéis de apoio à comunidades que estão sofrendo o impacto do vírus.” Para além, as mulheres representam a maior parte da frente de trabalho nas redes hospitalares, nas funções de enfermaria, psicologia, assistente social, terapia ocupacional e também nas tarefas de limpeza, que tem tido alta demanda no atual contexto.

As mudanças ocasionadas pela pandemia, agravaram e lançaram luz sobre a disparidade de sexo e gênero presente em nossa sociedade. Um módulo especial da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD contínua) do IBGE, publicado em abril de 2020, demonstra que a jornada semanal de trabalho da mulher dura, em média, 3,1 horas a mais do que a dos homens, considerando o tempo dedicado ao emprego e ao cuidado da casa e de seus moradores. Esses e outros estudos apontam, portanto, a existência de uma sobrecarga invisível da mulher, mesmo em tempos de não-pandemia.

Segundo os dados do relatório “Gender in the Global Research Landscape” (2017) da editora Elsevier, se constituindo em quase a metade (49%) da população de pesquisadores, a produção dessas mulheres é menor do que a dos homens mesmo em tempos de “normalidade”. Relatório da Nature Index (2020) aponta queda na submissão de artigos por mulheres, em todas as posições de autoria, durante a pandemia, quando comparada a 2019. Diversos periódicos têm apresentado dados que vão na mesma direção.

Propondo uma ação que mitiga fatores sociais excludentes e propicia a valorização e visibilidade de mulheres pesquisadoras, a Revista Licere lança nesse número, um volume dedicado à pesquisadoras mulheres. Essa edição teve um prazo de submissão alargado para permitir a ampliação de submissões. Ao final dessa jornada, é com alegria e entusiasmo que divulgamos que recebemos 38 submissões de artigos inéditos. Destes, 29 artigos foram aprovados e compõem o escopo dessa edição.

Convidamos aos leitores a imergirem nesse universo da pesquisa no campo do lazer, a partir das lentes de pesquisadoras mulheres. Boa leitura!

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Publicado

2021-03-17

Como Citar

Alves, C., Falcão, D., & Santos, F. da C. (2021). Mulheres no Mundo, na Ciência, nas Lutas da Vida. LICERE - Revista Do Programa De Pós-graduação Interdisciplinar Em Estudos Do Lazer, 24(1). Recuperado de https://periodicos.ufmg.br/index.php/licere/article/view/32555

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