O Atlas de João Teixeira e as Fortificações de Defesa da Baía de Guanabara no Século XVII

Autores

  • Marcello José Gomes Loureiro

Palavras-chave:

Antigo Regime, João Teixeira, Império português

Resumo

Em um contexto de Antigo Regime, em que a segunda escolástica conformava as ações sociais, João Teixeira produziu diversas cartas representando as fortificações da Baía de Guanabara. Nelas, o cartógrafo alertava para o potencial defensivo da Guanabara, além da sua capacidade de permitir a operacionalização de diversas embarcações simultaneamente. Tais representações cartográficas são, sem paradoxo, excelente fonte de pesquisa: por exemplo, graças ao Atlas do Estado do Brasil, de 1631, sabe-se que os portugueses não utilizavam a ilha de Villegagnon como fortim nessa época. De acordo com o mesmo Atlas, haviam sido instaladas outras fortalezas, como a de São Martinho, acima de São João, e a de Santa Margarida, na ilha das Cobras (refeita posteriormente por Salvador Correia de Sá e Benevides em 1637), bem como diversas baterias menores estavam espalhadas pela cidade. João Teixeira chamava a atenção, em acréscimo, para a ampla possibilidade de construção naval, em face da abundância de madeira no Rio de Janeiro. A idéia de uma auto-suficiência da cidade, que nas próprias palavras do cartógrafo não precisava “esperar nada da Europa”, sugere também suas relações comerciais com outras cidades da América portuguesa, com Angola, na África, e até com Buenos Aires, na boca do Rio da Prata. O fato é que João Teixeira não desconhecia a importância axial das vinculações mercantis mantidas entre a elite portenha e a fluminense, facilitadas na época em grande medida pela União Ibérica (1580-1640). Tanto que nas suas representações de 1630, 1637, 1640 e 1642 inseria o vale platino nas demarcações portuguesas, explicitando, desta forma, a pretensão de direito luso sobre áreas pertencentes ao Império de Castela. Assim, esta comunicação pretende, a partir das cartas de João Teixeira, discutir a formação do sistema de defesa da Baía de Guanabara, bem como destacar os nexos de sua obra com as relações comerciais experimentadas pelo Rio de Janeiro durante o século XVII.

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Publicado

2011-06-01