Arqueologia dos ambientes lacustres: cultura material, dinâmica sociocultural e sistema construtivo nas estearias da Baixada Maranhense
Palavras-chave:
Estearias, cultura material, padrão construtivo, dinâmica funcional.Resumo
Entre 250 e o ano 1000 AD, existiram grupos humanos que subsistiam pela exploração dos recursos abundantes em ambientes lacustres na Baixada Maranhense, um complexo mosaico de ecossistemas no extremo oriental do bioma amazônico. Essas populações construíam moradias suspensas por esteios que fixados em profundidade no leito dos lagos estruturavam habitações que livres do contato com a superfície alagada, propiciavam o viver em proteção durante as oscilações sazonais das águas, conforto térmico, além do acesso estratégico a bens essenciais a manutenção da sobrevivência diária. A cultura material proveniente desse contexto consiste em um repertório de artefatos de madeira, líticos e principalmente de uma elaborada e diversificada produção ceramista, de caráter utilitário e ritualístico, caracterizada por elementos e simbologias cosmogônicas presentes em representações pintadas, modeladas e incisas. Os mapeamentos realizados nos últimos 20 anos, a escavação do sítio Lontra (Penalva) norteada por dados geofísicos e a identificação e a delimitação espacial, em 2012, de um sítio palafítico no lago Coqueiro (Olinda Nova) por meio do levantamento com estação total de cerca de 8000 esteios remanescentes do assentamento original foram avanços importantes na retomada da temática. Tais pesquisas permitiram a consolidação de alguns dados preliminares e favoreceram a elaboração de novas abordagens e discussões teóricas de questões ainda pouco esclarecidas sobre a implantação e configuração dos sítios em si e em termos regionais, inserção e manejo ambiental e concepções de espaços, conteúdo cultural e complexidade funcional e social inerentes a sua dinâmica.
Downloads
Referências
BAHAMÓN, A.; ÁLVAREZ, A. M. Palafita: Da Arquitetura Vernácula à Contemporânea. Espanha: Argumentum, 2009. 144 p.
BALBI, R. A cultura neolítica de Penalva (Estearias). São Luís: Belgraf, 1985. 53 p.
______. No tempo do Cine Trianon. Penalva: Aquarela, 2000.
BARATA, F. (1968). As artes plásticas no Brasil – Arqueologia. Rio de Janeiro: Ediouro, 228 p.
BARRETO, J. P. L.; SANTOS, G. M. Os seres e as espécies aquáticas: alguns aspectos da teoria Tukano sobre a humanidade e animalidade. In: AMOROSO, M. (org.); SANTOS, G. M. (org.). Paisagens Ameríndias: Lugares, Circuitos e Modo de Vida na Amazônia. Sao Paulo: Terceiro Nome, 2013. p. 127-142.
BARROS, C.A. Elementos para a reconstrução Histórica de Penalva. São Luís: SC, 1985.144 p.
CARNEIRO, R.L. A base ecológica dos cacicados amazônicos. In: Revista de Arqueologia. SAB, n. 20. São Paulo, 2007. p. 117-154.
CHISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. Sao Paulo: Edgard Blücher, 1980. 188 p.
CONCEIÇAO, G. C. & al. In: FARIAS FILHO, Marcelino Silva (org.). O espaço natural da Baixada Maranhense: O Espaço Geográfico da Baixada Maranhense. Sao Luís: JK Gráfica, 2012. p. 19-28.
CORREIA LIMA, O. Homo sapiens stearensis: Obra do autor. São Luís: [s.n], 1985. 10 p.
CORREIA LIMA, O; AROSO, O. C. L. Pré-história Maranhense. São Luís: Gráfica Escolar, 1989. 111 p.
CORREA, C, G.; MACHADO, A, L.; LOPES, D, F. As estearias do Lago Cajari – Ma. In: Anais do I Simpósio de Pré-história do Nordeste Brasileiro. Recife, UFPE, CLIO Série Arqueológica n. 4, 1991. p. 101-103.
COSTA, A. Introdução a Arqueologia Brasileira: Etnografia e História. In: Brasiliana, vol.34, 2o ed. São Paulo: Editora Nacional, 1938. 383 p.
COSTA, A. F. & al. O universo cotidiano e simbólico da cerâmica das estearias: uma análise da coleção Raimundo Lopes (MN – RJ). In: Revista de Arqueologia, vol. 29, no 1, 2016.
COSTA, M. L. & al. As terras pretas de índio da Amazônia: sua caracterização e uso deste conhecimento na criação de novas áreas: Paisagens Amazônicas sob a ocupação do Homem Pré-histórico: Uma visão Geológica. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas/Embrapa Amazônia Ocidental, 2010. p. 16-39.
DANIEL, J. S. J. O Máximo Rio Amazonas. Lisboa: O Independente, 2001. 189 p.
D’ÉVREUX, Y. História das coisas mais memoráveis, ocorridas no Maranhão nos anos de 1613 e 1614. Rio de Janeiro: Fundação Darcy Ribeiro, 2009. 465 p.
DERENJI, J. Indígena. In: MONTEZUMA, R. (org.). Arquitetura Brasil 500 anos: uma invenção recíproca. Recife: UFPE, 2002. p. 24-63.
DESCOLA, P. A selvageria culta. In: NOVAIS, A. (org.) A outra margem do Ocidente. Sao Paulo: Comp. das Letras, 1999. p. 93-106.
DIAS, L.J.B. & al. Geologia, Geomorfologia e Unidades de Paisagem da Baixada Maranhense: Uma revisão conceitual aplicada ao Planejamento Regional. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E FÍSICA APLICADA. Sao Paulo: Anais… USP, 2005. p. 3018-3090.
FEITOSA, A. C. Relevo do Maranhão: Uma nova proposta de classificação topomorfológica. In: IV SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOMORFOLOGIA REGIONAL CONFERENCE ON GEOMORPHOLOGY. Geomorfologia Tropical e Subtropical: Processos métodos e técnicas. Goiânia: Anais… LABOGEF, 2006.
FEITOSA, A.C.; TROVAO, J. R. Atlas Escolar do Maranhão: Espaço histórico e cultural. João Pessoa: Editora Grafset, 2006.
FÉNELON COSTA, M. H.; MALHANO, H. B. Habitação Indígena Brasileira. In: RIBEIRO, B. (coord.). SUMA Etnológica Brasileia: Tecnologia Indígena. v.2. Petrópolis: Vozes, 1986.
FRANCO, J.R.C. Segredos do rio Maracu: hidrogeografia dos lagos e reentrâncias da Baixada Maranhense. São Luís: Edufma – Fapema, 2012. 302 p.
_________. Veias do rio Maracu: portfólio geoambiental de Viana, pólo turístico dos lagos e campos floridos na Baixada Maranhense. São Luís: Edufma, 2014. 324 p.
GIKOVATE, M. As Estearias. Revista Nacional de Educação. Rio de Janeiro, Museu Nacional, n.6. p. 64-71, 1933.
GOMES, D. M. C. O Lugar dos Grafismos e das Representações na Arte Pré-colonial Amazônica. Maná. Rio de Janeiro, [s.n], vol. 22, n.3, 2016.
______. Cotidiano e poder na Amazônia pré-colonial. São Paulo: Edusp/Fapesp, 2008. 237 p.
LAGROU, E. Podem os grafismos ameríndios ser considerados quimeras abstratas? Uma reflexão sobre a arte perspectivista. In: SEVERI, C; LAGROU, E. (org.). Quimeras em diálogo: grafismo e figuração nas artes indígenas. Rio de Janeiro: 7 letras, 2013. p. 67-110.
LEITE FILHO, D.C.; GASPAR, E.; TORRES, T. Arqueologia do Maranhão. 3 ed. Sao Luís: SECMA, 2011. 11p.
LEITE FILHO, D. C. Prospecções Geofísicas e Arqueológicas nos sítios lacustres Lontra. Encantado e Caboclo – Baixada Ocidental Maranhense. Relatório processo 0149.000709/20011-44 – Iphan. São Luís. 2013. 84 p.
LEITE FILHO, D. C. In: PEREIRA, E; GUAPINDAIA, Vera (org.). Ocupações Pré-coloniais no Litoral e nas Bacias lacustres do Maranhão. Arqueologia Amazônica 2, Belém: MPEG – IPHAN – SECULT, 2010. p. 741-773.
_______. Cerâmica: perpetuando o nosso saber ancestral. In: NUNES, I. A (org). Olhar, Memória e Reflexões sobre a gente do Maranhão. Comissão Maranhense de Folclore. Sao Luís, 2003. p. 295-299.
LEITE FILHO, D. C. & al. O Centro de Pesquisa de História Natural e Arqueologia do Maranhão: conhecendo, valorizando e preservando o patrimônio cultural maranhense. Gov. do Maranhão – SECMA – CPHNAMA. São Luís, 2013. 66 p.
LEITE FILHO, D. C; GASPAR, E. Ocupação pré-histórica da Ilha de Sao Luís: a ocorrência de grupos ceramistas proto-tupi. In: Boletim da Comissão Maranhense de Folclore (org.), São Luís, n.32, 2005.
LOPES, R. O Torrão Maranhense. Rio de Janeiro: Typografia do Jornal do Comércio, 1916. 222 p.
LOPES, R. Sobre as Palafitas do Maranhão. In: ATAS DO XX CONGRESSO INTERNACIONAL DE AMERICANISTAS. Rio de Janeiro: Museu Nacional, 1922. p. 169-170.
________. As Populações Lacustres do Brasil Primitivo. In: Revista da Semana. Rio de Janeiro, 1923. 03 p.
________. A Civilização Lacustre do Brasil. Rio de Janeiro: Museu Nacional, 1924.
________. Entre a Amazônia e o Sertão. Rio de Janeiro: Museu Nacional, 1931.
________. Uma região Tropical. Coleção São Luís, v. 2. Rio de Janeiro: Fon-Fon e Seleta, 1970. 225 p.
MACHADO, P. J.; TORRES, F. T. Introdução à Hidrogeografia. Sao Paulo: Cengage Learning, 2012. 178 p.
MARANHAO. Atlas do Maranhão. São Luís: Labogeo (GEOPLAN – UEMA), 2002. 44 p.
MARTIN, G. Pré-História do Nordeste Brasileiro. Recife: UFPE, 1996. 395 p.
MARTINS, M. B.; OLIVEIRA, T. G. Amazônia Maranhense: diversidade e conservação. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 2011. 328 p.
MENOTTI, F. The lake-dwelling phenomenon and wetland archaeology. In: MENOTTI, F. (ed.) Living on the lake in prehistoric Europe: 150 years of lake-dwelling research. London: Routledge, 2004. p. 1- 6.
NAVARRO, A. G. Arqueologia da Baixada Maranhense: o caso das estearias. In: UFMA (org). Caderno de Pesquisa. v.20, n.3. São Luís: UFMA, 2013.
______. Pré-História da Baixada Maranhense: Datação radiocarbônica de cinco Estearias. In: ZIERER, A (org.); VIEIRA, A. L. B (org.); ABRANTES, E. S. (org.). História Antiga e Medieval – Sonhos, Mitos e Heróis. São Luís: EDUEMA, 2015. 408 p.
______. O Complexo cerâmico das estearias do Maranhão. In: BARRETO. C; LIMA, H. P. (org.); BETANCOURT, C. J. (org.). Cerâmicas Arqueológicas da Amazônia: Rumo a uma nova síntese. Belém: IPHANGOELDI, 2016. 668 p.
NEVES, E.G. Existe algo que se possa chamar de “arqueologia brasileira”?. In: USP (org). Estudos Avançados, n.29 (83). São Paulo: USP, 2015. p. 7 – 17.
PEREIRA JÚNIOR, J.A. Introdução ao estudo da Arqueologia Brasileira. São Paulo: Gráfica Bentivegna Editora, 1967. 261 p.
PEREIRA, R.C.C. As transformações históricas e a dinâmica atual da paisagem na alta bacia do Pericumã – Ma. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Presidente Prudente, 2012. 215 p.
PIMENTA, G. M. Artefatos Cerâmicos: uma investigação visual dos objetos encontrados no povoado Armíndio/ Santa Helena – Ma. Pinheiro. Universidade Federal do Maranhão. Campus de Pinheiro. Centro de Ciências Humanas, Departamento de Artes: Curso de Licenciatura em Artes Visuais. Monografia de Graduação, 66 p. 2013.
PINHEIRO, C. U. B. Matas Ciliares: recuperação e conservação em áreas úmidas do Maranhão. São Luís: Editora Aquarela, 2010. 258 p.
PINHEIRO, C. U. B; ARAÚJO, N. A; AROUCHE, G. C. Plantas Úteis do Maranhão: região da Baixada. Editora Aquarela – FAPEMA. São Luís, 2010. 258 p.
PINHEIRO, C. U. B; AROUCHE, G. C. Os recursos Naturais, a Socioeconomia e a Cultura no Município de Penalva, Baixada Maranhense. São Luís: Editora Aquarela – FAPEMA, 2013. 110 p.
PINTO, E. Os indígenas do Nordeste. Tomo 1. São Paulo: Brasiliana, 1935. 257 p.
PORTOCARRERO, J. A.B. Arquitetura e Cultura Indígena no Brasil: Tecnologias apropriadas. Brasília: Ministério das Relações Exteriores, 2012. p. 58 – 72.
PROUS, A. Arqueologia Brasileira. Brasília: UNB, 1992. 613 p.
_______. O Brasil antes dos brasileiros: A Pré-história do nosso país. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006. 141 p.
REBOUÇAS, A. C. Água doce no mundo e no Brasil. In: BRAGA, B. (org). & al. Águas Doces no Brasil: Capital Ecológico, Uso e Conservação. 4o Ed. São Paulo: Escrituras, 2015. p. 1-35.
RENFREW, C. & BAHN, P. Archaeology: theories, methods and practice. London: Thames and Hudson, 1994. 543 p.
RIBEIRO, L. Artes plásticas no Brasil. Rio de Janeiro: Sul América, 1952. 260 p.
ROCHA, H. O. & al. Gradiometria magnética e radar de penetração no solo aplicados em Estearias de Penalva (MA). In: Revista do Instituto de Geociências. v. 15, no 1. São Paulo: USP, 2015. p. 3-14.
ROSTAIN, S. Fauna del arte precolombino em las Guyanas. In: ROSTAIN, S. (ed.). Antes de Orellana: Actas del 3er Encuentro Internacional de Arqueolodia Amazónica. EIAA. Instituto Francés de Estudios Andinos. Arte Gráficas Senal. Quito. 2014. p.69-74.
SÁ, C. Observações sobre a Habitação em três grupos Indígenas Brasileiros. In: NOVAIS, S. (org.). Habitações Indígenas. São Paulo: Nobel, 1983. p. 103 – 145.
______. Habitação, Ambiente e Cultura na Amazônia Brasileira. Rio de Janeiro: Inédito, 2002. 12 p.
SCHAAN, D.P. Sobre os cacicados Amazônicos: sua vida breve e sua morte anunciada. Jangwa Pana. Revista da faculdade de Humanidades, v. 9, n.1, 2010. 45 p. Disponível em: <revistas.unimagdalena.edu.co/index.php/jangnawapana/article/view/12>. Acesso em 31.07.2017.
_____. The Nonagricultural Chiefdoms of Marajó Island. In: SILVERMAN, H.; ISBELL, W. H.(ed.). Handbook of South American Archaeology. New York: Springer, 2008. p. 339-357.
SIMOES, M. F. Pesquisa Arqueológica na Amazônia Legal Brasileira. In: Dédalus. v.9, n.17-18. Sao Paulo: Universidade de Sao Paulo, 1973. p.87-119.
______. As pesquisas arqueológicas no Museu Paraense Emílio Goeldi (1870-1891). In: Acta Amazônica. v.11, n.1. Manaus: Suplemento, 1981.
SIMOES, M. F; ARAÚJO – COSTA, F. Áreas da Amazônia Legal Brasileira para pesquisa e cadastro de sítios arqueológicos. n.30. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 1978.
SIMOES, M. F; CORREA, C. G; MACHADO, A. L. Pesquisas Arqueológicas no Lago Cajari-Maranhão. In: Caderno de Resumos da 29º Reunião Anual da SBPC. São Paulo, 1977. p. 162-163.
SOUZA, A.M. Dicionário de Arqueologia. Rio de Janeiro: Edesa, 1997. 140 p.
SUGUIO, K. Geologia do Quaternário e mudanças ambientais. São Paulo: Oficina de Textos, 2010. 408 p.
VAN LENGEN, J. Arquitetura dos índios da Amazônia. Sao Paulo: B4 Editores, 2013. 119 p.
VAN VELTHEM, L. H. Mulheres de cera, argila e Aruma: princípios criativos e fabricação material entre os Wayana. In: Mana. n. 15 (1), Rio de Janeiro, 2009. p. 213-236.
VIVEIROS DE CASTRO, E. A inconstância da Alma selvagem e outros ensaios de Antropologia. São Paulo: Cosac & Naif, 2002. 552 p.