O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda <p>A revista <em>O Eixo e a Roda</em> tem como objetivo fomentar a produção teórica, crítica e ensaística na área de Literatura Brasileira, dando a oportunidade para que pesquisadores do Brasil e do exterior divulguem suas pesquisas e contribuam para o debate qualificado nesta área de estudos.</p> Universidade Federal de Minas Gerais pt-BR O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira 0102-4809 O baile de máscaras https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52795 <p>Este trabalho propõe uma leitura das funções de narrador e de autor em Bufo &amp; Spallanzani (1986), de Rubem Fonseca. Para tanto, partiremos da análise das diferentes funções que cabem a Gustavo Flávio na obra, uma vez que, além de ser um dos protagonistas e o narrador, ele constantemente interrompe a narração com comentários acerca de temas como a literatura, a escrita, o mercado cultural, entre outros, o que o aproxima da noção de autor, conforme Tacca (1983). O próprio Flávio, além disso, nos é apresentado como escritor de romances e, mais especificamente, produz uma narrativa homônima a de Rubem Fonseca. Em contrapartida a esse personagem-autor, verificamos a presença de uma outra imagem de autor que sub-repticiamente envolve todo o romance. Essa outra imagem de autor assombra a narrativa e tem seus contornos mais bem delimitados quando se verifica uma ironização de Flávio, enquanto narrador/autor. Essa idiossincrasia da narrativa fonsequiana ganha relevo quando discutimos um aspecto postulado pela crítica sobre o processo narrativo do autor brasileiro. Referimo-nos à ideia de Antonio Candido (2000), e também desenvolvida por Mazzaferro (1984), de que as obras mais instigantes de Fonseca seriam aquelas em que o discurso do narrador/autor abre espaço para a narração de personagens pertencentes às camadas sociais menos privilegiadas, numa espécie de “abdicação estilística”. Por outro lado, para Candido, narradores como Flávio, que pertencem à classe social de Fonseca, se relacionariam a obras menos interessantes.</p> Fernando Henrique Crepaldi Cordeiro Copyright (c) 2024 Fernando Henrique Crepaldi Cordeiro 2024-06-03 2024-06-03 33 1 89–100 89–100 Separar, para ser inteiro https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52797 <p>A segunda obra ficcional de Hilda Hilst, Kadosh (1973), contém quatro narrativas curtas, por isso costuma ser classificada como um livro de contos. Este artigo propõe outra abordagem: lê-la como um romance, considerando suas partes não como contos, mas como capítulos que apresentam estágios de uma mesma jornada. Para sustentar isso, analisa a estrutura geral do livro, destacando elementos paratextuais, como epígrafe e dedicatória, e comentando intratextualidades e intertextualidades, em especial com a peça O Dibuk, de Sch. An-Ski. Na conclusão, este estudo interpreta o aspecto fragmentário da ficção hilstiana como um modo particular de vivência, separado e/ou santo, que deseja a inteireza, mas, fracassando sempre, experimenta a busca como o propósito maior da literatura.</p> Suelen Ariane Campiolo Trevizan Copyright (c) 2024 Suelen Ariane Campiolo Trevizan 2024-06-03 2024-06-03 33 1 101–113 101–113 A escritura da pintura https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52796 <p>O artigo procede a uma leitura do romance A menina morta (1954), de Cornélio Penna, partindo da hipótese da centralidade do retrato da menina morta na narrativa e do impacto das imagens em sua configuração romanesca, tangenciando as relações entre pintura e literatura que, de resto, atravessam a própria biografia do escritor. Analisa-se o retrato como mecanismo de legitimação do poder senhorial pelo efeito de subjetivação que perpetua, valendo-se, para tanto, das análises de Burke e Kantorowicz acerca dos usos da imagem do rei nas monarquias europeias. Por fim, apresenta-se a decriptação do enigma da menina morta pela irmã, Carlota, que suspende seu efeito para revelar a violência sobre a qual se fundamenta o poder senhorial da fazenda do Grotão, em movimento análogo ao da própria escritura corneliana ao colocar em perspectiva o quadro da catástrofe original da história brasileira.</p> Talles Luiz de Faria e Sales Copyright (c) 2024 Talles Luiz de Faria e Sales 2024-06-03 2024-06-03 33 1 114–130 114–130 Considerações sobre o erótico na prosa de Álvares de Azevedo https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52793 <p>A prosa de Álvares de Azevedo é marcada por elementos fragmentários, como bem aponta Antonio Candido. Todavia, há elementos que se repetem a despeito de sua irregularidade qualitativa. A proposta deste artigo é aprofundar-se sobre um desses elementos: o erotismo. Tomando como marco teórico discussões propostas pelo próprio Candido e por Eliane Robert Moraes, a intenção é tomar o erotismo como elemento aglutinador, como ponto de consenso entre duas obras azevedianas: Macário e Noite na taverna. Assim, por meio desta dialética entre teoria e objetos, será possível adicionar uma nova camada aos estudos azevedianos ao pensar na forma com que sua prosa reconstrói a noção de erótico no século XIX, antecipando o explícito do estilo modernista.</p> Sergio Schargel Copyright (c) 2024 Sergio Schargel 2024-06-03 2024-06-03 33 1 131–144 131–144 A exceção e a norma https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52794 <p>O objetivo deste texto é tentar entender de que modo dois momentos históricos (o realismo e o modernismo) e dois programas estéticos (a narrativa realista e a montagem) são estudados por Roberto Schwarz à luz da relação entre a análise concreta de obras literárias e os ideais artísticos e teóricos subjacentes a essas perspectivas. Para isso, procede-se à revisão de alguns pontos-chave da obra de Schwarz, presentes sobretudo no livro Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis (1990) e no ensaio “A carroça, o bonde e o poeta modernista” (1987). Argumenta-se que a centralidade conferida a Machado de Assis por Schwarz em sua interpretação da literatura brasileira e do próprio Brasil fundamenta a sua avaliação frequentemente negativa do movimento modernista.</p> Leandro Pasini Copyright (c) 2024 Leandro Pasini 2024-06-03 2024-06-03 33 1 145–162 145–162 Apresentação https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52862 <p>.</p> Fadul Moura Nathaly Felipe Ferreira Alves Ana Karla Canarinos Mireille Garcia Copyright (c) 2024 Fadul Moura, Nathaly Felipe Ferreira Alves, Ana Karla Canarinos, Mireille Garcia 2024-06-03 2024-06-03 33 1 6–8 6–8 “A canção segue a pedir por ti” https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52788 <p>Este texto traz uma leitura de três canções de Chico Buarque cujo eu lírico é feminino: “Pedaço de mim” (1977), “Atrás da porta” (1972) e “Olhos nos olhos” (1976). O objetivo é analisar os recursos linguísticos e musicais usados pelo artista brasileiro para expressar a dor da perda em suas composições. Para isso, são comparadas as rimas empregadas na canção sobre a perda de um filho e as rimas empregadas nas canções sobre o término de um relacionamento conjugal. O texto apresenta, também, a comparação entre a canção que tematiza o momento da descoberta da perda pelo eu lírico e as canções que abrangem um intervalo temporal mais extenso desde a perda. A conclusão é que, contrariando o que propõe Freud em seu texto Recordar, repetir e elaborar, nas três canções de Chico Buarque analisadas, a elaboração da perda se dá através de repetições, seja das rimas, dos acordes ou de frases inteiras. Ademais, é possível concluir que as canções favorecem o esquecimento do trauma pelo eu lírico, em uma espécie de concessão de descanso àquela que sofreu, deixando que a música expresse suas dores.</p> Hêmille Perdigão Copyright (c) 2024 Hêmille Perdigão 2024-06-03 2024-06-03 33 1 10–30 10–30 “Saturno não tem superfície” https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52789 <p>Como se conjugam os vestígios da perda, do luto, da melancolia, em uma poesia reconhecida por sua contenção, cuja investigação e descrição dos processos muitas vezes parecem destinadas a subtrair a emoção, o derramamento, o pathos? Para tentar responder a essa questão, este artigo plana sobre a obra da poeta Marília Garcia, detendo-se principalmente em seu livro Expedição: nebulosa (2023), que desde o título é marcado pelos traços da morte e do luto, mas também pelo “sim” fundador de recomeços. Supõe-se que um lastro melancólico atravessa as vozes dos poemas e, apesar disso, os procedimentos formais variados alargam as possibilidades de registro das situações de perda que não necessariamente são expressões de um sujeito lírico que sofre, mas de um sujeito analítico, marcado por referências. Mais do que se ater a um campo conceitual dado, esta leitura baseia-se, sobretudo, em reflexões de Didi-Huberman, Susan Sontag, Jacques Derrida e Roland Barthes, acerca da montagem, da melancolia, da perda e do luto.</p> Milena Cláudia Magalhães Santos Rosana Nunes Alencar Copyright (c) 2024 Milena Cláudia Magalhães Santos (Autor); Rosana Nunes Alencar 2024-06-03 2024-06-03 33 1 31–50 31–50 O verso amputado https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52790 <p>A partir dos anos 1990, a obra poética de Sebastião Uchoa Leite se torna intensamente atravessada pela experiência do corpo doente e da proximidade da morte, enfrentada pelo poeta em seus últimos anos de vida. Esse ponto de inflexão, observado por críticos como João Alexandre Barbosa e Paulo Andrade, é antecedido, porém, por uma poética – já presente na obra de Uchoa Leite desde sua virada antilírica em Antilogia (1972) – que cedia ao verso um modo de existência vampiresco, fantasmático, que Luiz Costa Lima compara à de um membro amputado. O artigo visa, assim, compreender como o poeta agencia essa experiência de perda da poesia diante da experiência de perda do corpo e do mundo, a crescente sensação de entropia de si e do outro: “Perplexos/ Vamos todos desconexos/ nesse roldão universal”. Para tanto, analisa alguns poemas de A uma incógnita (1989-1990) em aproximações críticas que leem o verso vampiresco de Uchoa Leite como possível modalidade de tombeau da poesia moderna e de seu estado constitutivo de crise (Marcos Siscar); e em diálogo com a poesia brasileira ligada à ideia de antropofagia, pensada como uma teoria do luto (Roberto Zular). Então concluí que, mesmo sem estarmos diante de uma obra antropofágica ou que erga um monumento tumular à poesia em seu dizer equívoco de sua perda, tais teorias nos ajudam a entender como o poeta faz dessa perda um espaço de encontro, de partilha e transformação do sentido.</p> Fábio Roberto Lucas Copyright (c) 2024 Fábio Roberto Lucas 2024-06-03 2024-06-03 33 1 51–64 51–64 Rio do tempo, fluir de mágoas https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52791 <p>Este artigo pretende evidenciar como a poesia de Astrid Cabral representa a inevitável melancolia da existência finita, a ciência de que se vive para a morte. A sua aparente simplicidade, a partir de objetos e situações do dia a dia, revela uma complexidade filosófica ímpar acerca da percepção da finitude, da melancolia, do luto e da solidão, mostrando que a memória, muitas vezes, pode ser um espaço catalisador para a manutenção da sanidade, bem como o fazer poético, uma possibilidade de superação da dor. A fim de comprovar essa hipótese, demarcou-se um caminho de leitura que inicia com Ponto de Cruz (1979) e prossegue até Íntima Fuligem (2017), destacando poemas que ilustram a ideia. Para fundamentar o trajeto de análise serão usados autores como Freud (2011); Henry Bergson (2006); Martin Heidegger (2004).</p> Nicia Petreceli Zucolo Copyright (c) 2024 Nicia Petreceli Zucolo 2024-06-03 2024-06-03 33 1 65–76 65–76 A palavra afogada https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52792 <p>Este ensaio propõe uma releitura de Novo endereço, de Fabio Weintraub, retomado mais de vinte anos depois da publicação original desse premiado livro de poemas. O intuito é mostrar a perturbadora atualidade do material, dado que a forma áspera e cortante dos versos, a preferência estilística pelo irônico-coloquial, e o seu interesse pelas ruínas da metrópole e pelos tipos sociais marginalizados (doentes, trabalhadores pobres, moradores de rua, toda sorte de abandonados) encontra eco numa nova época de crise econômica e desagregação social, o presente devastado, ainda, pelos efeitos da pandemia e pela guinada neoliberal dos governos de direita e extrema-direita que tomaram conta do país entre 2016 e 2022.</p> Gustavo Silveira Ribeiro Copyright (c) 2024 Gustavo Silveira Ribeiro 2024-06-03 2024-06-03 33 1 77–87 77–87 CHIARELLI, Stefania; SARTINGEN, Kathrin (orgs.). Histórias de água – o imaginário marítimo em narrativas brasileiras, portuguesas e africanas. Berlim: Peter Lang, 2023. https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52798 <p>.</p> Alexandre Marzullo Copyright (c) 2024 Alexandre Marzullo 2024-06-03 2024-06-03 33 1 164–167 164–167