O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda <p>A revista <em>O Eixo e a Roda</em> tem como objetivo fomentar a produção teórica, crítica e ensaística na área de Literatura Brasileira, dando a oportunidade para que pesquisadores do Brasil e do exterior divulguem suas pesquisas e contribuam para o debate qualificado nesta área de estudos.</p> Universidade Federal de Minas Gerais pt-BR O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira 0102-4809 Uma prosa com Arlinda: ancestralidade, oralitura e intersubjetividade narrativa em Fátima Trinchão https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52218 <p>O objetivo deste artigo é estabelecer breves apontamentos sobre as categorias ancestralidade, oralitura e intersubjetividade narrativa que estão presentes no conto “Arlinda”, de Fátima Trinchão. Escritora negra baiana, Fátima Trinchão se debruça numa escrita permeada por memórias coletivas afrocentradas que mobilizam saberes afetivo-comunitários de resistência e luta. Os aportes bibliográficos utilizados, alocados numa epistemologia negrorreferenciada, se fundamentam, dentre outros, em Ana Rita Santiago (2012), Leda Maria Martins (2001; 2002) e José Henrique de Freitas Santos (2016; 2018). Nessa abordagem, nota-se que o conto “Arlinda” celebra princípios ancestrais afrocentrados de partilha e resistência, demonstrando uma proficiente escrita que, dinamizando as literaturas negras, esgarçam horizontes de produção literária que autenticam existências negras insurgentes.</p> Leandro Souza Borges Silva Copyright (c) 2024 O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira 2024-04-23 2024-04-23 32 4 14 33 10.17851/2358-9787.32.4.14-33 Análise e estratégias tradutórias em The Unedited Diaries of Carolina Maria de Jesus https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52219 <p>O artigo analisa as estratégias de tradução empregadas no livro The Unedited Diaries of Carolina Maria de Jesus (Levine; Meihy, 1999). A metodologia utilizada é a análise comparativa entre o texto no idioma português e o texto vertido para o inglês, de acordo com entendimento das teorias dos Estudos Culturais e da Tradução. Os resultados encontrados apontam para uma tentativa de tradução fiel ao original, no entanto, as aporias da tradução exigem escolhas múltiplas que manipulam o texto de acordo com o público leitor de chegada. As conclusões indicam que traduzir é reescrever, e esta ação pode ser positiva ou negativa dependendo dos objetivos estabelecidos pelos editores e tradutores, pois inventaria duas culturas que serão, ou não, transpostas.</p> Poliana Soares Ernani Mügge Gerson Roberto Neumann Copyright (c) 2024 O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira 2024-04-23 2024-04-23 32 4 34 62 10.17851/2358-9787.32.4.34-62 Diário de Bitita https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52220 <p>Este artigo é uma análise crítica literária da obra autobiográfica, Diário de Bitita, de Carolina Maria de Jesus, (1986). Nele a autora remonta memórias de si para contar o social quando aciona reminiscências de infância e juventude num Brasil pós-escravatura, ao mesmo tempo que, sobrevive as agruras e interseccionaliza as relações raciais, de classe e gênero numa escrita que descoloniza os arcabouços e traz ao centro temas caros ao povo negro deste país. Nesse sentido, é importante assinalar que os estudos decoloniais e feministas propõem um novo modo de pensar as narrativas e relações de opressão, sobretudo, quando se refere ao gênero e a sexualidade, enquanto construção sociocultural. Desse modo, este artigo objetiva discutir e refletir sobre a escrita como reelaboração de memórias de si e atravessamentos ancestrais através do olhar da infância de Bitita, igualmente, coletiva-se, assim como refletir sobre o feminismo decolonial e as novas epistemologias proposta nesse sentido pela autora. Valendo-se da metodologia qualitativa de cunho bibliográfico na perspectiva da crítica literária interdisciplinar que versam sobre os temas aqui discutidos. Assim, este estudo está pautado em teorias que ajudam a pensar o texto enquanto memória coletiva e ancestral, Halbwachs (2006), Leda Martins (2003), Cristian Sales (2020) bem como sobre estudos feministas decoloniais aqui representados por María Lugones (2014), Ochy Curiel (2020), bell hooks (2019), Djamila Ribeiro (2019) e outras(os) que ajudam a refletir a narrativa caroliana.</p> Macksa Raquel Gomes Soares Copyright (c) 2024 O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira 2024-04-23 2024-04-23 32 4 63 80 10.17851/2358-9787.32.4.63-80 Um arado só lâmina. Trocadilho e revolta em Itamar Vieira Junior https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52221 <p>O objetivo deste artigo é uma análise e interpretação aprofundada do romance de Itamar Vieira Junior, Torto Arado (2018), baseada no exame das complexidades da construção textual e linguística da obra. O estudo parte de uma leitura cerrada do próprio título, explorando suas implicações intertextuais (Tomás Antônio Gonzaga, 1862; Osman Lins, 1973; Haroldo de Campos, 2016; Caetano Veloso). A observação da presença do “traço” sonoro “dor do arado” na sequência titular pauta a análise da narrativa, orientada hermeneuticamente. Mobilizamos ainda elementos da metodologia estruturalista (Lévi-Strauss, 1982) que permitem demonstrar paralelos na construção do romance com A paixão segundo G.H. (1964) de Clarice Lispector. Examinamos analogias entre as imagens do arado e da faca com a qual as protagonistas ferem-se as línguas. A faca, em paralelo com a barata clariceana, é vista como objeto perigoso colocado na boca num ritual de iniciação. Frisa-se também que tanto a faca como o arado podem ser entendidos como objetos mortíferos de metal cuja presença já encontra-se codificada na tradição literária do modernismo brasileiro (João Cabral de Melo Neto, 2008; Guimarães Rosa, 1988). O paralelismo leva-nos a examinar as implicações semânticas e políticas da aproximação entre as figuras de “ferir o corpo” (feminino) e “ferir a terra”. Refletimos sobre esta relação aludindo às últimas propostas eco- e geo-críticas (Wisnik, 2018) para elucidar o caráter subversivo – revoltoso – do romance estudado.</p> Wojciech Sawala Copyright (c) 2024 O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira 2024-04-23 2024-04-23 32 4 81 107 10.17851/2358-9787.32.4.81-107 “Alma”, de Itamar Vieira Junior https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52222 <p>O presente artigo tem como objetivo analisar o conto “Alma”, de Itamar Vieira Junior, publicado na coletânea Doramar ou a odisseia: histórias (Vieira Junior, 2021), na perspectiva das neonarrativas de escravidão (Rushdy, 1997), ou seja, de narrativas que se ambientam na época do sistema escravagista e se apropriam de alguns elementos típicos dos relatos de escravos dos séculos XVIII e XIX, como a enunciação em primeira pessoa, o relato das atrocidades do regime escravocrata e da fuga. As neonarrativas de escravidão surgiram em um contexto anglófono na década de 1960, entretanto, se difundiram nos países em que o sistema escravocrata foi implantado, e há várias obras que podem ser assim compreendidas na literatura brasileira contemporânea. O artigo reflete também sobre o modo como essas narrativas produzem novas formas de experiência estética, bem como um realismo afetivo (Schøllhammer, 2013) que é evocado além da representação. No conto de Vieira Junior, o efeito de realidade está estreitamente ligado à questão étnico-racial e à intervenção na realidade receptiva (Schøllhammer, 2012, p. 130).</p> Shirley de Souza Gomes Carreira Copyright (c) 2024 O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira 2024-04-23 2024-04-23 32 4 108 122 10.17851/2358-9787.32.4.108-122 Collective Subjectivity of Literary Characters as Exemplified by Jorge Amado’s Marginalized Figures https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52223 <p>The potential of the use of the concept of collective subjectivity, in literary analyses, has been partially discerned by Mario Vargas Llosa, Gérard Klein, and a group of scholars inspired by Klein’s observations (Bellagamba; Picholle; Tron, 2012). Since none of them have proposed any systematic framework, the paper theorizes the concept, proposes an analysis methodology, and presents the results of a model analysis of the collective subjectivity of Jorge Amado’s marginalized characters and its relation to the hegemonic discourses of Amado’s storyworlds and of Brazil in the 1930s, respectively. The article also presents an evaluation of the concept’s usefulness for narrative scholars. As analyzing a fictional collective subjectivity requires a custom-made framework, it has been elaborated on the basis of Ernesto Laclau and Chantal Mouffe’s (2001) Discourse Theory, Discourse-Theoretical Analysis (both alarmingly absent in literary studies), the psycho-sociological framework for real-world collective subjectivity analysis (Fabris; Puccini; Cambiaso, 2019), and narratological findings related to Possible Worlds Theory and fictional minds (Palmer, 2004). The study confirms that the use of the concept as an analytical tool can shed new light on our understanding of numerous narrative art works, especially regarding such issues as focalization, perspective, ideology, narrative empathy, unreliable narration, and consciousness representation. Moreover, the framework enables us to: 1) describe precisely the particularities of the ideological profile of a fictional collectivity and the narrator’s/implied author’s attitude towards them; 2) relate this profile to the context systematically (both to the storyworld and real-world context).</p> Eliasz Chmiel Copyright (c) 2024 O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira 2024-04-23 2024-04-23 32 4 123 151 10.17851/2358-9787.32.4.123-151 O campo literário segundo Vencidos e degenerados (1915), de Nascimento Moraes https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52224 <p>Nosso propósito é analisar, a partir das visões de personagens e do narrador de Vencidos e degenerados, livro originalmente publicado em 1915 por Nascimento Moraes, a natureza das disputas contidas no campo literário maranhense. Tomaremos por base três premissas formuladas por Pierre Bourdieu: o acúmulo de capitais; seus trânsitos e valores no campo; e os embates entre os “estabelecidos” e os “recém-chegados”. Para isso, levaremos em conta posicionamentos da fortuna crítica sobre o autor e sua atuação num contexto marcadamente racista e, assim, também teremos como apoio teórico as reflexões de Cuti. No livro, de um lado estão os “vencidos e degenerados”, vale dizer os negros, pobres, dotados de baixos capitais de ordem simbólica, econômica e, para o grupo rival, cultural. Tal grupo, também chamado no livro de “os que trabalham por necessidade”, é dotado de menores capitais, numa estrutura social herdeira da escravidão. Do outro lado, há o grupo formado pelos que “trabalham por vaidade”. Conforme estabelece a narrativa de Moraes, é formado por brancos descendentes de famílias herdeiras e beneficiárias da colonização e do escravismo. Ocupam posições de destaque na sociedade e na hierarquia econômica das profissões. A reflexão do texto literário aqui analisado deixa um recado: a entrada e a permanência do autor negro no campo literário maranhense são assinaladas por percalços vários e não enfrentadas por escritores de outros pertencimentos étnicos.</p> Luiz Henrique Silva de Oliveira Copyright (c) 2024 O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira 2024-04-23 2024-04-23 32 4 152 171 10.17851/2358-9787.32.4.152-171 A constituição do sujeito negro em O avesso da pele, de Jeferson Tenório https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52225 <p>O avesso da pele (2020), de Jeferson Tenório, é um romance que constitui uma síntese de discursos que representam estudos e discussões da contemporaneidade, tais como: identidade, racismo estrutural, violência simbólica, violência policial, direitos humanos e necropolítica. A obra foi capaz de captar, por meio das personagens, discursos do senso comum e outros de pessoas mais esclarecidas em relação aos temas que aborda, aproximando ficção e realidade; já que o romance transfigura a vida (Candido, 2007). Este artigo visa demonstrar que as personagens secundárias – Bruno, Juliana e Professor Oliveira – exercem papel importante na constituição do protagonista Henrique. A fim de comprovar essa afirmação, analisaremos alguns momentos de interação das personagens na obra, com alicerce em estudos que permeiam as discussões tão caras à literatura contemporânea nacional, sobretudo a denominada negro-brasileira, a partir de teóricos como Achille Mbembe (2016), Aníbal Quijano (2012, 2015), Antonio Candido (2007), Djamila Ribeiro (2019a, 2019b), Luiz Silva Cuti (2010), Neusa Santos Souza (2021), Sílvio Almeida (2018), dentre outros. Esperamos, com este estudo, contribuir para a fortuna crítica de estudos literários que se pautam nas discussões de agenciamento de escritas negras.</p> Lisiane Oliveira e Lima Luiz Gisele Meire Tita Nazário da Silva Rayssa Duarte Marques Cabral Copyright (c) 2024 O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira 2024-04-23 2024-04-23 32 4 172 194 10.17851/2358-9787.32.4.172-194 Corpos-mulheres-violência em Olhos d’água de Conceição Evaristo https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52229 <p>Este artigo reflete sobre corpos e subjetividades femininas negras roubadas pela violência e pelas desigualdades sociais. Trata-se da análise dos contos “Maria”, “Quantos filhos Natalina teve?”, “Beijo na face”, “Luamanda”, “Duzu-Querença” e “Os amores de Kimbá”, selecionados do livro Olhos d´água de Conceição Evaristo (2016) para este artigo. Esses contos desvelam, comumente, a violência contra corpos femininos negros e discriminações em contexto socioeconômico-cultural desfavorecido pelo sistema-mundo-capitalista-hegemônico-branco. Para esta análise, apresento o texto literário (os contos) como proposta para examinar as colonialidades de gênero e poder bem como para decolonizar saberes pré-concebidos imbuídos de racismos, sexismos e preconceitos de classe. Desse modo, abrem-se caminhos para repensarmos sobre as formas de existir desiguais em termos de direitos e contribuirmos para mudanças nesse cenário de desvalorização e desumanização dos corpos e subjetividades femininas negras.</p> Flávia Andrea Rodrigues Benfatti Copyright (c) 2024 O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira 2024-04-23 2024-04-23 32 4 195 206 10.17851/2358-9787.32.4.195-206 A vez e a voz decolonial nas escrevivências evaristianas https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52230 <p>O projeto ficcional da escritora Conceição Evaristo, na perspectiva da literatura afro-brasileira, é perpassado pelo tema da decolonialidade ao (re)tecer a memória ancestral sob o ponto de vista do protagonismo de autoria da mulher negra e periférica. Diante disso, a poética evaristiana, bem como a sua obra, em prosa e/ou poesia, faz um resgate das vozes silenciadas que sofreram a tentativa de apagamento pelos mecanismos hegemônicos eurocêntricos colonizadores do poder (Quijano, 2009). Nesse sentido, propomos nesta investigação analisar, por meio das escrevivências, as imagens poéticas presentes em dois poemas da coletânea Poemas da recordação e outros movimentos (2021), a partir do olhar decolonial e memorialístico da escritora. A leitura será analítico-interpretativa, com ênfase na perspectiva da fenomenologia das imagens poéticas de Gaston Bachelard, no percurso antropológico do imaginário preconizado por Gilbert Durand (2012), nas potencialidades do inconsciente coletivo de Carl G. Jung (2000), na memória coletiva de Maurice Halbwachs (2006) e Pollak (1990) e na decolonialidade proposta por Mignolo (2017), Quijano (2009) e Lélia Gonzalez (1984). A poética Evaristiana é perpassada tanto por uma construção simbólica de imagens poéticas vistas como uma desobediência epistêmica (Mignolo, 2017), quanto pela memória coletiva e individual (Halbwachs, 2006) que (re)tece as vivências de um eu-feminino decolonial ao remontar um passado diaspórico ancestral, a partir da percepção do presente sobre as agruras que ficaram como marcas do passado.</p> Arissandra Andreia dos Santos Josenildo Campos Brussio Silvana Maria Pantoja dos Santos Copyright (c) 2024 O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira 2024-04-23 2024-04-23 32 4 207 228 10.17851/2358-9787.32.4.207-228 Representação do Tambor de Mina pela literatura afro-brasileira de Bruno de Menezes https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52231 <p>Este estudo tem o objetivo de investigar o modo pelo qual o literato negro Bruno de Menezes representa a afrorreligião Tambor de Mina em sua poética. Para isso, analisa-se o poema “Toiá Verequête” – presente na obra literária Batuque (1931) –, que narra a incorporação do vodum Toiá Verequête na mãe de santo Ambrosina, em um terreiro. No que concerne aos aportes teórico-críticos, dialoga-se com os estudos de Eduardo de Assis Duarte (2010), Abdias do Nascimento (1978), Mundicarmo Maria Rocha Ferretti (1996), Anaíza Vergolino (2003), Taissa Tavernard de Luca (2010), Naiara Larissa Raiol Valcacio (2022), Aldrin Moura de Figueiredo (2001), Paulo Nunes (2002), Luiz Augusto Pinheiro Leal (2011) e Mariana Janaina dos Santos Alves (2021). Bruno de Menezes, ao colocar em seu poema uma mãe de santo e um vodum como personagens principais e a guma como espaço de um texto poético, contribui para a valorização da afrorreligião Tambor de Mina. O ponto de vista construído pelo poeta em seu poema não folcloriza ou erotiza os personagens negros. Pelo contrário, valoriza o protagonismo destes e de sua cultura ancestral.</p> Állan Sereja dos Santos Felipe dos Santos Matias Copyright (c) 2024 O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira 2024-04-23 2024-04-23 32 4 229 243 10.17851/2358-9787.32.4.229-243 Semiótica de Úrsula, o aberrante https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52232 <p>O objetivo desta leitura de Úrsula, obra de Maria Firmina dos Reis publicado originalmente em 1859, primeiro romance a semiotizar o navio negreiro e outras tantas e relevantes primeiridades, é explorar, com base no episódio da Preta Susana, um capítulo estranho e destoante, como ele tensiona o núcleo dominante da trama, no qual, apesar do que tem dito a fortuna crítica da obra, faltam o trabalho escravo e uma produção de subjetividade eminentemente negra. É a irrupção da máquina capitalista da escravidão no capítulo aberrante “A preta Susana”, que a ideologia da forma teima em tentar ocultar, o foco deste artigo. Entende-se que o mérito e a atualidade inescapável do romance devem-se à tensão instaurada pela semiotização destes dois mundos, da ideologia da forma romântica escravista, recorrente em todo o romance, posta em face da irrupção de um lugar de fala contundentemente negro que Susana dá a ver no capítulo IX, analisados à luz dos conceitos de objeto imediato e de objeto dinâmico da Semiótica.</p> Luciano Barbosa Justino Copyright (c) 2024 O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira 2024-04-23 2024-04-23 32 4 244 260 10.17851/2358-9787.32.4.244-260 A posse da palavra é a posse do corpo https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52233 <p>Este artigo tem como objetivo analisar slam poetrys produzidos por Mel Duarte, por Gabrielly Nunes (Gabz) e por Cleyton Mendes, poetas contemporâneos participantes ativos de Rodas, de Encontros e de Festivais em que essa manifestação artística é, internacionalmente, fomentada em coparticipação com o público. Para elaboração do texto, parte-se do princípio de que novos espaços de fala são novos espaços de escuta e de que o poetry slam é, segundo a slammer e produtora cultural Mel Duarte (2019), um lugar poético-político e democrático, que tem como principal conceito a liberdade de expressão e o livre diálogo como uma ferramenta para construção de novos horizontes. Essa possibilidade de diálogo, associada à reconfiguração dos lugares cristalizados de fala (colonizador) e de escuta (colonizado), atravessa as discussões acerca do empoderamento de grupos subalternizados, em seus processos de autoafirmação, de autovalorização, de autorreconhecimento e de extravasamento de demandas sociais sufocadas. A partir das análises, ressalta-se que o poetry slam marca a insurreição de um corpo – individual e coletivo – que busca a palavra como instrumento de luta e de empoderamento, sobretudo, de grupos negros e periféricos.</p> Karine Aragão dos Santos Freitas Talita Rosetti Souza Mendes Copyright (c) 2024 O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira 2024-04-23 2024-04-23 32 4 261 277 10.17851/2358-9787.32.4.261-277 Começo – meio – começo https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52235 <p>Transgredir da teoria decolonial à prática contracolonialista é mote dos poemas e ensaios de Antônio Bispo dos Santos, o Mestre Nêgo Bispo, no livro Colonização, quilombos: modos e significações (2015). Buscamos neste artigo apresentar a circularidade afrodiaspórica proposta na dinâmica começo – meio - começo (Santos, 2015) como uma prática contra-hegemônica e contracolonialista que transgride às decolonialidades. Para isso, apresentamos conceitos basilares da teoria decolonial com aporte em textos como os Ballestrin (2013), Grosfoguel (2008), Mignolo (2017; 2020), Quijano (1992), Santos e Meneses (2009), Segato (2021), Walsh (2009). Tal teoria deságua na prática contracolonialista de Nêgo Bispo, apresentada aqui por meio de suas reflexões e poemas, produzindo, portanto, um estudo bibliográfico com objetivo de contribuir para a difusão dos estudos literários e discursivos de povos tradicionais, enfatizando a cultura, os saberes e as cosmopercepções afropoliteístas. Procuramos mostrar a urgência de se conhecer, discutir e valorizar saberes e práticas ancestrais, apresentando modos de significações do mundo silenciadas por práticas colonialistas. Cosmovisões transgressoras, decoloniais e contracolonialistas instigam-nos não a apresentar respostas, mas a formular cada vez mais perguntas.</p> Patrícia Vaz Borges Carlos Antônio Magalhães Guedelha Copyright (c) 2024 O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira 2024-04-23 2024-04-23 32 4 278 295 10.17851/2358-9787.32.4.278-295 Eu, mulher negra, resisto https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52236 <p>Discutir as incidências identitárias na poesia de Alzira Rufino em alguns poemas da obra: Eu, mulher negra, resisto, como escrita de validação das vozes negras femininas nas lutas e conquistas de gênero e de raça afirmando suas identidades nos diversos espaços para suas representações. Objetivando, assim, por meio da literatura, propor o combate e enfrentamento baseados na escrita que constrói significação e existência para o sujeito negro feminino num contexto social hegemônico, racista excludente. Na perspectiva da análise, este artigo se ancora nos teóricos que estudam o tema, como: Cuti (2010), Duarte (2009), Cândido (2004), bem como nos estudos feministas de Gonzalez (1988), hooks (2019), Ribeiro (2019), e ainda, Munanga (2006), Lugones (2007), debruçando-se nas obras de Rufino (1988, 2010, 2005), dentre outros importantes para as análises que configuram a identidade negra feminina na literatura brasileira.</p> Ana Rosária Soares da Silva Copyright (c) 2024 O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira 2024-04-23 2024-04-23 32 4 296 310 10.17851/2358-9787.32.4.296-310 Um olhar crítico sobre a presença do negro na literatura https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52237 <p>A literatura brasileira, de modo geral, sempre apresentou a figura do negro de forma marginalizada e estereotipada, negando a ele a posição de protagonista de suas próprias narrativas. Dessa forma, este trabalho surge da necessidade de visibilização do negro como sujeito do discurso e de sua identidade, não apenas como objeto de observação. Além do mais, propõe uma intervenção didática com vistas a promover a inserção do aluno no espaço literário por meio de textos que estejam próximos de sua realidade. Tendo em vista o contexto patriarcal e estruturalmente racista no qual estamos inseridos, é premente pensar em propostas de ensino que retiram o negro do lugar de invisibilidade, que dão voz aos que estavam relegados ao esquecimento e sofrem até hoje com o apagamento de sua cultura. Promover um letramento literário a partir dessa perspectiva étnico-racial, utilizando um texto popular e regional, com uma linguagem acessível e uma estrutura lúdica, fazendo o aluno se reconhecer e se sentir representado naquela literatura e permitindo aos demais alunos entenderem a importância do deslocamento do protagonismo nos textos literários, surgem como objetivos essenciais para a realização da pesquisa.</p> Diogo Coutinho Santana Copyright (c) 2024 O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira 2024-04-23 2024-04-23 32 4 311 334 10.17851/2358-9787.32.4.311-334 Histórias da Cazumbinha https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52269 <p>O presente artigo objetiva analisar as estratégias narrativas de Histórias da Cazumbinha, uma narrativa de autoria negra da literatura infanto-juvenil brasileira, e sustentar sua abordagem interdisciplinar em sala de aula do ensino fundamental II. Para isso, se discute a literatura afro-brasileira na escola de modo a desconstruir imagens estereotipadas e resgatar a cultura e a identidade negra na sociedade brasileira. Em um segundo momento, parte-se para a análise dos elementos extrínsecos do livro, em que se discutem critérios de seleção para identificar a qualidade da obra literária de acordo com determinado público. Em seguida, é realizada uma análise do elemento intrínseco da narrativa, mais especificamente do nível do discurso, de modo a compreender as estratégias narrativas com as quais o narrador constrói o enredo. Por fim, elaboram-se propostas de leitura e atividades interdisciplinares para que possam ser utilizadas em aulas do ensino fundamental II. Optou-se por esse nível de escolaridade por verificar que pouco se aborda a literatura negra em sala de aula, não raro apenas por ocasião do Dia da Consciência Negra. Como resultados e discussão, destaca-se que as estratégias narrativas de Histórias da Cazumbinha certificam a noção de que o leitor não é passivo diante da leitura e que cabe a ele interpretar o que está dito, desvendar o não dito e preencher os interstícios da narrativa. Compreende-se que a literatura cumpre seu papel: fomentar o conhecimento e a identificação dos sujeitos leitores à cultura ali representada em forma de brincadeiras de infância e de perspectivas através das quais a criança percebe o mundo.</p> Amanda Santos da Silveira Fernandes Janaína Vieira da Silva Copyright (c) 2024 O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira 2024-04-23 2024-04-23 32 4 335 360 10.17851/2358-9787.32.4.335-360 Biblioteca escolar, literatura e (re)educação das relações étnico-raciais https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52270 <p>Com esta pesquisa, verificamos quais foram as obras literárias mais acessadas/lidas pelos usuários da Biblioteca Professor Antônio Camilo de Faria Alvim, abrigada no CP-UFMG, para saber se, entre estas obras, há livros de autores negros e/ou indígenas, que tematizam a cultura africana e/ou de afrodescendentes e/ou que versam sobre a cultura indígena, por entendermos que esses são os povos originários do Brasil, alvo de preconceito racial e que no curso da nossa história foram silenciados. Acreditamos que a biblioteca escolar é um espaço muito potente de disseminação da leitura literária, e que pode favorecer a formação de leitores críticos (Lajolo, 1987, Soares, 2006, Cosson, 2014) e potencializar o acesso destes leitores à diversidade de narrativas para se compreender distintas perspectivas sobre os povos, não reforçando uma visão estereotipada nem unicultural sobre eles (Alcaraz; Marques, 2016; Adichie, 2019). Adotamos procedimentos metodológicos ligados à pesquisa quali-quantitativa de natureza aplicada. Os resultados desta investigação nos dão indícios de que ainda lemos muito mais obras de autores brancos, abarcando 98,7% das obras da amostra analisada, que conta com 1,3% de obras de autores de outra cor/raça/etnia diferente de negro ou indígena, e nenhuma obra de autoria representativa desses dois últimos povos foi verificada.</p> Renata Amaral Matos Rocha Copyright (c) 2024 O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira 2024-04-23 2024-04-23 32 4 361 386 10.17851/2358-9787.32.4.361-386 Autoria feminina negra na literatura juvenil https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52271 <p>Com a finalidade de traçar um panorama sobre a produção literária de mulheres negras no âmbito da literatura juvenil brasileira, o presente estudo traz uma comparação entre A cor da ternura (2018), obra de Geni Guimarães publicada originalmente em 1989, Os nove pentes d’África (2009) de Cidinha Silva e O mistério da sala secreta (2021) de Lavínia Rocha. As três obras foram produzidas em momentos distintos e há a configuração de personagens femininas negras pré-adolescentes em uma jornada de autoconhecimento e reconstrução. A partir de Halbwachs (2006), Jelin (2002), Candau (2012), Debus (2018, Spivak (2010), as obras foram comparadas, analisando como em cada narrativa são tematizadas para jovens leitores questões como racismo, identidade e ancestralidade, por meio de sua relação com uma memória coletiva. Na obra de Guimarães, é pela memória que a protagonista ativa lembranças de dor e alegria que a fazem compreender a sua identidade negra. Por sua vez, na obra de Cidinha Silva, a ancestralidade de uma família é retomada e revivida pela simbólica imagem de pentes esculpidos do avô para seus netos. Já em O mistério da sala secreta, em um clima de aventura, temos a jornada de Júlia para salvar a escola Maria Quitéria de ser fechada, e nessa busca, ela precisa também mergulhar em memórias outras para entender a sua identidade. É possível concluir que a memória coletiva ocupa um importante papel estruturante nas três narrativas analisadas e juntas oferecem um importante panorama de representações identitárias para os jovens leitores.</p> Pedro Afonso Barth Copyright (c) 2024 O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira 2024-04-23 2024-04-23 32 4 384 404 10.17851/2358-9787.32.4.384-404 O cabelo e o pertencimento étnico-racial negro em O mundo no black power de Tayó, de Kiusam de Oliveira https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52272 <p>Este artigo tem como objetivo discutir a construção da identidade negra a partir da análise da obra O mundo no black power de Tayó da escritora brasileira Kiusam de Oliveira. Como aporte teórico recorreu-se às discussões acerca do racismo e da identidade negra. Os autores utilizados como referência para construção deste artigo foram: Almeida (2020); Cuti (2010); Fanon (2008); Ianni (2004); Kilomba (2019); Oliveira (2013); Ribeiro (2017). O cabelo da mulher negra é um mecanismo de identidade, já que desde a infância os cabelos são uma extensão de sua condição feminina e de reconhecimento como negra. A metodologia básica aplicada para construção deste artigo é caracterizada como análise-crítica qualitativa, tendo como corpus de análise O mundo no black power de Tayó, de Kiusam de Oliveira. A obra em estudo dialoga acerca da ressignificação do valor da cultura negra no Brasil e, ao enfatizar o penteado, a escritora traz a marca da resistência negra, além de ser uma obra que permite ao leitor refletir sobre igualdade e justiça social, assim como entender os atos de racismo, preconceito e discriminação que acontecem em diferentes esferas da sociedade.</p> Débora Lopes dos Santos Élio Ferreira de Souza Copyright (c) 2024 O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira 2024-04-23 2024-04-23 32 4 405 419 10.17851/2358-9787.32.4.405-419 Identidade como um problema modelar nos estudos literários afro-brasileiros https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52273 <p>As discussões contemporâneas, na comunidade científica dos Estudos Literários, no Brasil, sobretudo, em torno da Literatura Afro-brasileira, têm sido marcadas pela centralidade do conceito identidade, enquanto categoria analítica. Nesta seara, a identidade tem sido examinada em sua forma desconstruída. A identidade, assim posta sob rasura, conforme a hipótese de Stuart Hall (2014), demandaria, para ser dialeticamente superada, uma mudança que extrapolaria a dimensão da representação conceitual, e se concentraria nas bases paradigmáticas. Contudo, quando do deslocamento paradigmático, o conceito de identidade não fora substituído, mas recolocado ao centro do paradigma de interseccionalidade (Akotirene, 2019; Collins, 2019; Collins; Bilge, 2021). Destarte, o presente artigo objetiva apresentar uma primeira proposta de sistematização da problemática ora identificada. Para tal, reportaremos um conjunto de pesquisas prévias, que versem sobre a temática em tela. Como resultados parciais ou preliminares à questão formulada, apresentamos duas hipóteses.</p> Lucas Anderson Neves de Melo Alcione Corrêa Alves Copyright (c) 2024 O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira 2024-04-23 2024-04-23 32 4 420 444 10.17851/2358-9787.32.4.420-444 Como é ser negro no brasil? https://periodicos.ufmg.br/index.php/o_eixo_ea_roda/article/view/52283 <p>O presente artigo visa pesquisar como é ser negro no Brasil, a partir de uma análise comparativa do conto “Conluio das Perdas”, de Luiz Silva Cuti, e da música “Negro Drama”, do Racionais MC’s. A metodologia utilizada foi a de cunho bibliográfico crítico-teórico, dedutivo e analítico, além dos levantamentos de pesquisas com o intuito de mostrar como é ser negro no Brasil. O referencial teórico ancora-se no pressuposto que há, no Brasil, um racismo estrutural, tendo o aporte teórico de: Antonio Candido (2006), Edward Telles (2012), Silvio Luiz de Almeida (2019), Grada Kilomba (2019) e outros autores que pesquisam temáticas parecidas. A pesquisa foi realizada em quatro partes: Primeiramente, observamos que a representação da cidade de São Paulo no conto e na música representa uma cidade cheia de desafios para a vida de uma pessoa negra. Posteriormente, foi demonstrado que ser negro e a sua relação com a polícia aponta que há, no Brasil, um racismo estrutural que está presente nessa instituição. Em seguida, constatamos que há, de fato, uma pressão para que as pessoas negras alcancem uma ascensão social e econômica, mesmo com as enormes dificuldades que enfrentam diariamente. Por fim, defendemos que, em ambas as obras, ocorre um processo de autoafirmação e do orgulho de ser negro, visto que, ainda que em meio às dificuldades encontradas, ocasionadas pelo racismo estrutural, ser negro é resistir e ter força para combater o problema que assola a comunidade negra diariamente.</p> Alba Valéria Niza Silva Alysson Jorge Alves de Andrade Copyright (c) 2024 O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira 2024-04-23 2024-04-23 32 4 445 469 10.17851/2358-9787.32.4.445-469