O Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira
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<p>A revista <em>O Eixo e a Roda</em> tem como objetivo fomentar a produção teórica, crítica e ensaística na área de Literatura Brasileira, dando a oportunidade para que pesquisadores do Brasil e do exterior divulguem suas pesquisas e contribuam para o debate qualificado nesta área de estudos.</p>Universidade Federal de Minas Geraispt-BRO Eixo e a Roda: Revista de Literatura Brasileira0102-4809“Eu sou o meu perfume”
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<p>A partir da presença, sobretudo no Primeiro Manifesto do Surrealismo, dos fantasmas femininos em movimento, convertidos em uma força ou pulsão erótica de criação poética, e encarnados em figuras errantes e inapreensíveis como Nadja ou mesmo a Elisa, de Arcano 17, passando pela inscrição e, sobretudo, a decomposição do movimento de tais enigmas moventes ou fluxos de desejo nas cronofotografias do inventor francês Étienne-Jules Marey, este artigo, de perfil ensaístico, tem como objetivo, valendo-se do método da montagem e da sugestão, construir uma relação entre os vaporosos fantasmas do Surrealismo, e mesmo aqueles que escapam das curvas e “caudas visuais” de Marey, e o perfume enquanto um modo de intensificação da existência, tal como ele aparece em alguns textos de Clarice Lispector, a guardar um segredo inviolável ligado ao feminino e sua sedução de morte. Essa relação passa pela imagem das histéricas, aqui resgatadas, também chamadas de “vaporosas” no século XVIII. A mudança de paradigma em relação à histeria, vista não mais como uma patologia, mas como um “meio supremo de expressão”, conforme os surrealistas e seus comentaristas a conceberam, deslocando-a para a esfera artística e literária, é decisiva para traçar, ou melhor, esfumaçar os contornos de nossa conclusão que reconhece na ambígua Lóri, e mesmo em outras personagens claricianas, uma histérica a evocar a beleza explosiva-fixa de Nadja, fazendo-se rainha egípcia perfumada, anacrônica vaporosa a se confundir com o seu perfume, inebriando-nos com o mistério da sua dor, mas também do seu voo para além da morte.</p>Maura Voltarelli Roque
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2024-10-072024-10-07333Do assassinato do tirano em Primeiras Estórias
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<p>Partindo da hipótese que sugere a possibilidade de articular os contos de <em>Primeiras Estórias</em> (João Guimarães Rosa, 1962) como uma série de pares espelhados, este artigo propõe ler “Os irmãos Dagobé” e “A benfazeja” a partir de dois textos políticos de Sigmund Freud, a saber, <em>Totem e tabu</em> (1913) e <em>Moisés e o monoteísmo</em> (1939). A comparação entre os textos de Rosa e Freud se fará em torno do tema das possibilidades de emancipação política que passam a circular em uma comunidade após a morte de seu tirano.</p>Rafael Pansica
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2024-10-072024-10-07333Corpos e casas enfermiços
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<p>Neste artigo, apresenta-se uma análise dos romances brasileiros<em> Repouso</em> (1949), de Cornélio Penna, e <em>Crônica da casa assassinada</em> (1959), de Lúcio Cardoso. Examina-se, por meio de leitura cerrada, como as obras elaboram o tema da decadência de tradicionais famílias mineiras. A ruína de tais famílias é retratada como um processo irreversível, marcado por uma crise financeira e moral, que não contém nenhuma possibilidade de futuro ou de renovação. Em <em>Repouso</em>, a representação da crise se entrelaça de forma decisiva à atividade econômica que enriquecera a família da protagonista Dodôte: a mineração. Já na <em>Crônica</em>, a ideia de decadência não se apresenta em uma relação determinante com a função econômica dos Meneses em Vila Velha, mas com os valores que os integrantes da família defendem e incorporam. Ambos os romances, porém, elaboram imagens similares como símbolos dessa decadência: as moléstias físicas fatais (sífilis e câncer) e uma sensibilidade enfermiça e reprimida que distingue as personagens de Penna e de Cardoso. A leitura dessas obras lado a lado revela uma visão semelhante e crítica a respeito da sociedade patriarcal mineira do início do século XX. A sífilis, em <em>Repouso</em>, e o câncer, na <em>Crônica da casa assassinada</em>, associando-se às coerções sociais e aos valores religiosos distorcidos que levam à sensibilidade adoentada das personagens, tornam-se a imagem da decadência inescapável daquelas famílias. Os romances sugerem, assim, que, por sua natureza destrutiva e violenta, a tradição de tais famílias não pode prosperar, estando fadada à esterilidade e à morte.</p>Júlia Mota Silva Costa
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2024-10-072024-10-07333A boca da história morde a cauda do mito
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<p>O presente artigo discute a maneira como as obras de alguns autores franceses, em especial Jacques Derrida e Claude Lévi-Strauss, foram lidas pelo crítico e escritor Silviano Santiago na década de 1970. Levando em conta tanto os textos do crítico como o contexto em que tais ideias foram apresentadas, o esforço deste trabalho é compreender as particularidades da recepção dessas obras e os expedientes de leitura levados a cabo por Santiago, um crítico em franca formação no estrangeiro (França e Estados Unidos da América), momento em que irá “importar” essa série de novas abordagens para inseri-las no horizonte da literatura comparada no Brasil.</p>Gabriel Martins da Silva
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2024-10-072024-10-07333Organizando cacos
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<p>O ensaio procura estabelecer algumas linhas de força presentes na poesia brasileira contemporânea a partir da leitura da antologia <em>Uma alegria estilhaçada: Poesia brasileira 2008-2018</em>, organizada por Gustavo Silveira Ribeiro (2020). Para isso, o texto se divide em duas partes: na primeira, investigam-se os pressupostos apresentados pelo crítico como critérios de escolha e organização dos poemas e autores antologizados, buscando ver como tais critérios se inserem no atual debate sobre o problema da abordagem valorativa da obra literária; na segunda, sugerimos que os autores do conjunto apresentam três atitudes gerais distintas, cujos traços principais buscamos caracterizar. A essas três atitudes, chamamos de moderna, antipoética e contemporânea, cada uma representando modo distinto de articulação da relação entre verdade e linguagem.</p>João Gabriel Mostazo Lopes
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2024-10-072024-10-07333Das viagens e dos retornos
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<p>Este artigo apresenta uma reflexão sobre o deslocamento do narrador-protagonista Heleno, do romance<em> Nossos Ossos</em>, de Marcelino Freire. Defende-se, portanto, a hipótese de que o romance em questão articula a figura da viagem à possibilidade de (auto)conhecimento identitário, na medida em que os anseios, os estranhamentos e o contato com o outro produzem dissensões, rupturas, agenciamentos e itinerários novos. O narrador Heleno efetua uma viagem de deslocamento espacial, mas também uma jornada de aprendizado pessoal e subjetivo. É um corpo que apresenta marcas discordantes e discursos dissonantes dos formulados acerca de um corpo ideal, sendo relegado ao espaço do abjeto e, com isso, demanda reconhecimento como parte integrante dos diferentes espaços sociais. Ademais, falar de corpos <em>queer</em> e mobilidade na literatura implica em uma subversão aos padrões convencionados na produção literária, visto que tais corpos deslocados pertencem a narrativas que foram, por vezes, deixadas às margens da crítica literária. Fundamenta-se a discussão nas proposições de Doreen Massey (2015), Louro (2020), Butler (2000, 2019), dentre outros.</p>Alex Bruno da Silva
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2024-10-072024-10-07333Rio de Janeiro Afro-atlântica
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<p>Com o presente artigo pretende-se investigar as formas de encenar, na literatura brasileira contemporânea em prosa, a cidade do Rio de Janeiro enquanto uma cidade Afro-atlântica, ou seja, uma cidade moldada pelos trânsitos oceânicos caraterísticos da colonização e da escravidão, assim como teatro de conflitos entre alteridades que manifestam a <em>colonialidade</em> do poder no contemporâneo urbano. Na primeira parte, através das reflexões de Beatriz Sarlo (2014), Malcolm Miles (2019) e Renato Cordeiro Gomes (1999), propõe-se uma análise panorâmica da densa relação entre cidade e literatura. Em seguida, tentar-se-á pensar, com Walter Benjamin (1987), a porosidade caraterística da cidade do Rio de Janeiro – como proposto por Bruno de Carvalho (2019) – enquanto típica dos espaços Afro-atlânticos. Por último, a partir das tensões urbanas levantadas, entre outros autores, por Geovani Martins em <em>O sol na cabeça</em> (2018) e por Luiz Antonio Simas em <em>O corpo encantado das ruas</em> (2019), procurar-se-á debater algumas das dinâmicas culturais e das estratégias do poder na contemporaneidade urbana do Rio de Janeiro.</p>Luca Fazzini
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2024-10-072024-10-07333Espaço, memória e cultura nos romances Desde que o samba é samba, de Paulo Lins, e A lua triste descamba, de Nei Lopes
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<p>Este artigo tem como objetivo estudar comparativamente as relações entre centro e periferia no Rio de Janeiro da primeira metade do século XX conforme ficcionalizadas nos romances <em>Desde que o samba é samba</em>, de Paulo Lins, e <em>A lua triste descamba</em>, de Nei Lopes, ambos lançados em 2012. O trabalho inicialmente situa as duas obras no tempo-espaço narrativo e aponta para a emergência de uma cultura periférica que forma nos distantes subúrbios e nas áreas do Centro do Rio antigo que ficariam conhecidas como a “Pequena África”. Apoiados nos estudos do geógrafo Nélson da Nóbrega Fernandes (2011); em pesquisadores da memória (Orlandi, 2020b; 2004); e na leitura crítica dos romances, concluímos que o discurso literário de Lins e Lopes demanda novas cartografias e novas formas de pensar o diverso, o que nos leva à ideia de repovoamento literário como modo de entrada produtivo na poética desses escritores.</p>Paulo Cesar Silva de Oliveira
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2024-10-072024-10-07333A potência dos subalternos em Solitária, de Eliana Alves Cruz
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<p>Este estudo investiga uma obra específica onde a ideia tradicional de personagens secundários é desafiada, resultando em uma parceria entre os protagonistas e seu entorno. Mabel e Eunice, as protagonistas e narradoras, têm papéis essenciais na resistência e na conexão com personagens menos representados. Esse padrão reflete uma tendência na literatura atual. No presente artigo, examinaremos <em>Solitária</em> (2022), focando no primeiro capítulo, que destaca o relato de Mabel. No entanto, nossa análise se concentra nos movimentos de resistência provocados pelas personagens ao redor de Mabel. Propomos questionar a noção de personagens secundários e discutir como na literatura contemporânea eles têm voz ativa, desafiando a ideia de serem apenas coadjuvantes. Isso ressalta a importância de considerar a diversidade de vozes e a complexidade de suas ações. Para tanto, nos apoiaremos nas discussões de Justino (2015), Hardt e Negri (2005), para discutir os conceitos de multidão e literatura de multidão; a partir de Candido (2014) e Rosenfeld (2014) discutiremos a personagem e seus processos de autonomização na narrativa contemporânea, ao passo que nos apoiamos em Cortázar (1998) para ampliar as reflexões acerca do personagem como estrutura semiótica do romance e como Eliana Alvez Cruz dilui suas categorias em sua prosa.</p>Egberto Guillermo Lima VitalAntonio Carlos de Melo Magalhães
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2024-10-072024-10-07333Apresentação
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<p>.</p>Carolina Serra Azul GuimarãesGustavo Silveira Ribeiro
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2024-10-072024-10-07333