Mal-estar, bem-estar e ambivalências no processo formativo emocional de Carlos de Melo em Menino de engenho
DOI:
https://doi.org/10.17851/2358-9787.34.3.280-294Palabras clave:
Mal-estar, Bem-estar, Ambivalência, Menino de engenho, Romance de formaçãoResumen
Como parte de nossos estudos acerca da formação do fracasso – e dos afetos que o constituem – nos três primeiros romances de José Lins do Rego, fitamos, neste artigo, examinar o desenvolvimento do complexo emocional do narrador e protagonista Carlos de Melo em Menino de Engenho (1932), narrativa que compreende oito anos (dos quatro aos doze) de sua meninice. Para isso, embasamo-nos especialmente na psicanálise, a fim de investigar a estrutura sentimental da criança, em obras sobre o Bildungsroman, e fazemos uso da fortuna crítica sobre o autor e a obra em destaque. Dividimos o ensaio em três valências afetivas: o mal-estar, o bem-estar e as ambivalências. Ao mesmo tempo que o garoto, nos capítulos intimistas, é forjado pela tristeza, que se torna perene, muito devido ao assassinato da mãe pelo pai, ele também, nas crônicas de costumes de alguns capítulos, sente o estabelecimento de uma pulsão de vida que o integra à praticamente toda população do engenho. As ambivalências, sobretudo sexuais, trazem à tona o assomo do objeto fóbico, que o repulsa e o atrai concomitantemente. Se o foco de José Lins do Rego é, de fato, traçar histórias cujo desencanto é enfatizado, em Menino do Engenho há espaço para a alegria, para a dúvida. Em relação ao sofrimento de Carlinhos, que será ampliado drasticamente em Doidinho (1933) e em Banguê (1934), estamos diante das suas origens.
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