O princípio da garantia semântica e os estudos da linguagem

Autores

  • Roger de Miranda Guedes

Resumo

A informação e o conhecimento estão indissoluvelmente ligados às condições de manifestação da linguagem. Na organização do conhecimento (OC) esse preceito implica em uma série de possibilidades em que se pode alçar as reflexões acerca da informação e do conhecimento para fins de organização. Nesse contexto atenta-se para a validação semântica manifestada na dimensão da linguagem e que confere a representatividade desta linguagem em relação ao domínio a qual se insere e, logo, legitima os processos e produtos documentários. Esta ordem semântica subjacente a um sistema de organização do conhecimento (SOC) pode ser identificada no conceito da garantia sobre qual o sistema se baseia (BEGHTOL, 1986). Nesse sentido, a garantia semântica é considerada o princípio aplicado à construção, desenvolvimento e avaliação de SOCs para justificar e validar significados. Ela orienta o desenvolvedor a verificar as necessidades de inclusões, exclusões e qualquer tipo de modelamento de classes e conceitos da estrutura terminológica de um SOC em função do significado e uso destas classes e conceitos para um determinado propósito ou audiência. Sobre esta conjuntura estabeleceu-se uma arena de reflexões com o objetivo de investigar a noção de garantia, dos elementos fundantes de tal princípio e de seus desdobramentos e inflexões decorrentes das ações de informação no atual panorama sociotécnico. Para isso, recorreu-se ao legado teórico de Ludwig Wittgenstein (1889-1951) e Mikhail Bakhtin (1895-1975). Dois filósofos da linguagem que, em períodos e contextos distintos, conceberam ideias transformadoras acerca da linguagem e do significado. Como estratégia para leitura e análise de textos filosóficos lançou-se mão da metodologia filosófica para iluminar o plano de fundo interpretativo da pesquisa. Deduziu-se que, se inicialmente seu propósito inaugural estava vinculado a um requisito de regramento e seu nível de eficiência relacionado a métricas de frequência de palavras em documentos, hoje o princípio da garantia semântica cobre uma série de aspectos e preceitos relacionados à afiguração do significado nos SOCs, capaz de orientá-los em sua projeção, desenvolvimento e avaliação. Nas próprias perspectivas de garantia, considerando a cronologia em que cada uma foi proposta na OC, percebe-se que desde a mais clássica — a garantia literária — até as mais contemporâneas há um deslocamento de uma preocupação puramente normativa a uma dimensão ética, comportamental e de tomada de consciência refletida nas perspectivas cultural, fenomenológica, autopoiética, etc. evocadas para garantir significados úteis no âmbito dos SOCs. Conclui-se que o princípio da garantia semântica é uma resposta ao impulso para criar, expor ou impor uma ou variadas visões de mundo a partir da evidenciação de significados estabelecidos pela linguagem em ação. A ideia de garantia na OC é assim compreendida na argumentação em favor da existência de fatos e fenômenos da realidade passíveis de significação. O estabelecimento de significado pela/na linguagem certifica o compromisso permanente de sentido que a garantia provoca nos SOCs.

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Publicado

2018-02-07

Como Citar

Guedes, R. de M. (2018). O princípio da garantia semântica e os estudos da linguagem. Perspectivas Em Ciência Da Informação, 22(2), 278. Recuperado de https://periodicos.ufmg.br/index.php/pci/article/view/22518

Edição

Seção

Teses e Dissertações