realização desse desenho são necessárias muitas ações mentais e motoras, tais como: compreensão da
comanda; idealização mental de um corpo; noção de espaço; praxia fina (destreza para desenhar);
planejamento do movimento para fazer o desenho; capacidade de sequenciar, comparar e organizar a
informação mental para depois traduzi-la em um movimento que realizará o desenho; atenção e memória
operacional. Ou seja, todos são elementos cognitivos e podemos resumi-los num termo: Funções Executivas
(Ciasca 2015). Pelos desenhos, podemos perceber que no primeiro a criança não tinha manejo dessas
habilidades cognitivas, mas no segundo, já possuía certa apropriação delas.
O cérebro é provido de plasticidade e está em constante mudança, pois regula suas condutas a partir da
interação de atividades objetivas em relação ao exterior e isso gera novas relações e condutas (Lent 2010).
O professor é o mediador cujo papel é fundamental para promover essa plasticidade. Fonseca (1995, 50)
reitera essa constatação ao dizer: "para que o desenvolvimento do cérebro opere, não basta a simples
exposição a fontes de estímulo, é necessário a presença de um agente mediador”. Aprender é sempre o
diálogo entre as questões internas e externas do ser. “A aprendizagem envolve uma integridade
neurobiológica e um contexto sociocultural facilitador, ou seja, um processo equilibrado e mutuamente
influenciado entre a hereditariedade e o meio ou entre o organismo e o seu envolvimento” (Fonseca 2007,
65).
Wallon reforça essa ideia, pois para ele é impossível dissociar a ação da representação, a tonicidade da
emoção, o gesto da palavra, o motor do psiquismo e para ele, tudo isso é inteligência (Fonseca 2008). A
aprendizagem envolve sempre uma interação entre sujeito e a tarefa. Ela é uma mudança de
comportamento provocada pela experiência, entre um momento inicial, em que a tarefa ainda não é
dominada, e um momento final, onde a tarefa passa a ser dominada e automatizada. Diante de todos esses
fatores, talvez seja possível afirmar que a aprendizagem é algo infinitamente mais complexa do que a união
ou somatória de redes sinápticas ou do funcionamento de certas regiões, bem como, é impossível mensurar
com precisão os fatores exatos que levam as pessoas a aprederem certos conteúdos. Certamente, há muitos
elementos que contribuem para a aquisição de conhecimento e desenvolvimento de habilidades mentais e
não podemos atribuir todas as melhoras de Aline única e exclusivamente às aulas de música. Mas, como as
aulas foram arquitetadas a partir dos pilares da neurociência e considerando as necessidades da aluna
devido ao autismo, podemos colocar que as atividades musicais contribuíram sensivelmente no processo
de aquisição dos conteúdos musicais e no desenvolvimento das funções motoras e cognitivas desenvolvidas
pela aluna.
5. Considerações finais
O relato demonstra que é possível a aprendizagem musical por parte de pessoas com TEA, desde que a
metodologia seja empregada de forma que dialogue com as capacidades e necessidades do aluno. O
emprego de atividades lúdicas, bem como, o uso constante do movimento e de diversos materiais de apoio
integraram a metodologia aplicada nas aulas e contribuiu sensivelmente para o resultado positivo da
pesquisa. Por último, é importante ressaltar que aspectos cognitivos e psicomotores podem ser trabalhados
concomitantemente à aprendizagem musical e não somente a processos terapêuticos que utilizam a música
como ferramenta. Isso tudo nos leva a ressaltar a importância de professores de música terem uma
formação pedagógica adequada que contemple processos de ensino-aprendizagem diferenciados para que
possam trabalhar com a diversidade de forma eficiente.