conforme comentado, como música da vertente lírico romântica, usualmente como
“canção de amor”, no sentido amplo. Exemplo disso pode ser a canção “Queixa”, de
Caetano Veloso, ou “Pavilhão dos Espelhos”, cantada por Roberta Sá. (Ikeda 2016, 32)
Muitos dos exemplos trazidos pelo pesquisador em seu artigo apresentam em seus arranjos o violão como
instrumento de acompanhamento. Para abordar a temática do ijexá no violão, assunto central deste artigo,
é relevante uma breve reflexão acerca do violão brasileiro e de suas levadas.
3. O violão brasileiro e suas levadas
Embora diversificados os perfis violonísticos que se acomodam sob o termo violão brasileiro, a maneira de
se tocar o instrumento mais popular no país é aquela embasada na lógica do acompanhamento. Nela, o
violão exerce função de sustentação rítmico-harmônica para que um solista, seja ele a voz ou um outro
instrumento, se encarregue da melodia. Essa função, conhecida como centro em meios populares como as
rodas de samba, é caracterizada sobretudo pela execução das levadas, também chamadas de batidas. Neste
sentido, a levada pode ser conceituada como "uma condução rítmica (na maioria das vezes constituída por
um conjunto de vozes simultâneas) executada pela mão direita, que é 'colorida' pelos acordes formados pela
mão esquerda, tendo como resultado sonoro um acompanhamento rítmico-harmônico" (Silva 2019, 54).
No que diz respeito às suas construções, pesquisadores como Sandroni (2001) e Livramento (2017)
constatam que as levadas, no âmbito da música popular brasileira, são sobretudo geradas a partir da
imitação das frases executadas nos instrumentos de percussão típicos dos estilos brasileiros. Assim sendo,
são os objetivos da próxima seção, na qual apresentaremos algumas levadas de ijexá, observar as possíveis
relações entre estas e os instrumentos de percussão, bem como discutir as formas de escrita e os aspectos
idiomáticos que influenciam suas criações e execuções.
Além do desenvolvimento das levadas através da imitação do que se ouve na convivência com os ritmos
populares, livros didáticos como os de Pereira (2007) e Becker (2013) apresentam exemplos bastante
consistentes, baseados nos mais diversos estilos musicais brasileiros. Nessas obras as levadas são aplicadas
em progressões harmônicas curtas e possíveis de se tocar em um modo de loop, sendo dispostas em
partitura e em áudio.
Embora passem ao leitor de maneira implícita o conhecimento de como se operam as movimentações de
mão direita, pouco se discute nas obras de Becker e Pereira o que é necessário, em termos técnicos, para
criar e executar levadas de maneira fluida e eficiente. Entendendo a importância desse tipo de reflexão e
embasando as análises que serão apresentadas na seção 4, o seguinte trecho de Amim (2017) sintetiza
características dos dedos da mão direita:
• O dedo polegar é o mais independente e mais forte dos quatro dedos utilizados no
dedilhado da mão direita.
• O dedo indicador também é considerado um dedo independente, entretanto algumas
pequenas ligações musculares que possui com o dedo médio podem fazer com que seus
movimentos afetem os movimentos do seu vizinho.
• O dedo médio não é considerado um dedo independente em função das ligações
musculares que possui com seus dedos vizinhos, o indicador e, principalmente, o anular.
Por outro lado, este dedo é considerado o mais forte depois do polegar.