externa, o que resultaria em um tipo de rasgueado, com um timbre muito distinto do produzido no sentido
contrário, com a combinação de carne e unha.
3. Repetição por deslizamento para contraste entre vozes
A bibliografia, exercícios e obras analisadas apresentam a repetição por deslizamento em quatro situações:
(i) arpejos de várias cordas, como em Barceló (1995), Käppel (2016), Giuliani (1812), Falla (1980), Pujol (1971)
e Asencio (1988); (ii) arpejos melódicos, como visto em Canilha (2017); (iii) escalas, conforme Romero (1982)
e Asencio (1988); e (iv) ornamentos, como em Barceló (1995) e Rosa (2016). Como outra possibilidade,
proponho a utilização do recurso para contraste entre melodia e acompanhamento.
Esse uso é fundamentado a partir de observações sobre as características do dedo médio, combinadas com
considerações sobre o toque apoyando, toque preparado, e economia de esforço. O dedo médio, segundo
Barceló, “é o dedo que segue em força e peso o polegar, sendo assim muito confiável” (Barceló 1995, 58).
Fernández conclui que o dedo médio, para Giuliani, era um dedo líder, ao analisar um trecho escalar com
notas pontuadas:
A nota longa é invariavelmente atribuída ao m. Combinando esse fato com a indicação de
Czerny de que em ritmos pontuados, as notas curtas são tocadas mais levemente do que
as longas, podemos concluir que Giuliani considera o m como naturalmente mais forte do
que o i e o estabelece como o centro de gravidade da mão direita: assim o gesto físico do
dedilhado corresponde ao gesto musical. Na verdade, teremos oportunidade mais à frente
de notar uma tendência de iniciar as sequências com o m, o que confirma que Giuliani
confiava mais no controle desse dedo do que no do i. Dado que a primeira nota em uma
sequência geralmente deve colocar a mão em uma certa posição, é lógico atribuí-la ao
dedo "líder". (Fernández, 2013)
Essa observação vai ao encontro com o panorama técnico-histórico conduzido por Barros (2008), que afirma
que para os instrumentistas de cordofones dos séculos XVII a XIX, o dedo médio substituiu o polegar (dedo
forte) na fórmula p-i preferida por instrumentistas de períodos anteriores (Barros 2008, 118). A técnica
violonística da segunda metade do século XIX incorpora o dedo anular nos dedilhados, simultaneamente à
retirada do dedo mínimo do tampo; porém, não por isso o dedo médio deixa de ser um dedo forte,
independente, sensível e frequentemente utilizado. Além disso, sua distância e independência em relação
ao polegar possibilita que ele ataque a primeira corda facilmente enquanto o polegar ataca os bordões.
A utilização do toque apoyando possibilita um som “mais robusto e apresenta a vantagem de uma maior
segurança e comodidade para os dedos” (Pujol [193-?], 35). Nesse tipo de toque, a corda é colocada para
vibrar em direção ao tampo, o que o torna mais cheio (full/fuller sound) (Tennant 1995, 35; Taylor 1978, 46).
Assim, é possível um destaque melódico significativo, de realização técnica menos exigente do que a
obtenção do mesmo timbre e dinâmica obtido com o toque tirando. Glise (1997, 127) menciona o uso do
toque apoyando em arpejos (semelhantes aos que serão expostos nas figuras da página a seguir, com a
diferença de não haver a repetição de dedos), sugerindo que a técnica é uma invenção do século XX utilizada
virtualmente por todos os violonistas de hoje. O autor também adverte que “o estudante deve ser capaz de
ressaltar várias linhas sem a necessidade dessa técnica” (Glise 1997, 127), mas que ela pode ser uma solução
para que a melodia seja audível.