de um outro ponto. Nós iríamos partir das próprias raízes da música autêntica, da música tradicional, da
música mais antiga, principalmente do Nordeste. E, de dentro dela, aprender o seu vocabulário, a sua
linguagem, como aquelas músicas eram construídas, como eram criadas as melodias, a instrumentação.
Embora fossem formas elementares, [...], mas nós iríamos partir dessas fórmulas, e daí criar essa música
erudita, que naturalmente não iria ter muita coisa a ver com a música erudita do nacionalismo. Seria uma
música erudita, porém com características bem distintas. Então, o enunciado do Movimento Armorial era
esse. E o nome “armorial”, eu tenho complementado nas aulas que eu tenho feito, Ariano sempre explicava
que a palavra “armorial” é um substantivo. Armorial quer dizer os livros em que eram registrados os brasões
e os emblemas das dinastias, dos reinos, da nobreza e, que para ele, na cultura popular brasileira existia um
armorial popular. Não o armorial da nobreza. Do jeito que existia esse armorial nobre, no Brasil, ele estava
procurando esse armorial popular, dos reis e rainhas de maracatus, dos estandartes, dos blocos, as insígnias,
os símbolos, os brasões dos times de futebol. Para ele, isso era o armorial do popular brasileiro. E ele
brincando dizia que toda arte que trazia esse universo, de emblemas da música, da dança, dessas raízes,
para ele passava a ser chamada de uma arte armorial. Então a palavra “armorial” passava de ser substantivo
para ser adjetivo. Tá entendendo? Quer dizer, uma arte armorial é uma arte que vinha de uma cultura que
tinha um armorial.
Marília Santos: E hoje, o senhor vê algum tipo de produção de música armorial? Para o senhor, há hoje
produção de música armorial, ou não?
Antônio Madureira: Olhe, existem muitos grupos, que eles vão se dedicando, muitas vezes reproduzindo o
material que foi produzido na época pelo Quinteto Armorial e por outros grupos que eu dirigi, muitos grupos,
eles vêm, não só reinterpretando, reproduzindo, como criando um novo repertório a partir desses modelos.
Marília Santos: Então para o senhor, esse novo repertório seria armorial, ou com influência armorial?
Antônio Madureira: Pois é. Veja só. Esse é um ponto um pouco, digamos assim, mais sensível de ser
explicado. Como eu tenho explicado nas aulas-espetáculos, o que eu hoje identifico como uma música
armorial, o que é que seria essa estética armorial, nós temos que diferenciar, e que é muito difícil, entre os
músicos, entre os grupos, eles conseguirem diferenciar o que é realmente uma música armorial. Porque às
vezes eles tocam um tema de um terno de pífano, e aí dizem que é música armorial. Às vezes tocam um
baião, aí dizem que isso é música armorial.
Marília Santos: E não é?
Antônio Madureira: Não. A gente teria que distinguir... Hoje para mim fica muito claro que, primeiro que a
música armorial, ela é uma música baseada nas tradições, nas raízes populares, em busca de uma tradição
erudita. Primeira coisa. Segunda coisa, é que ela teria que trazer essas características e ela teria que ser
também uma música, que hoje eu chamo uma música emblemática. Porque o armorial é uma música
emblemática, [...]. Ela não tem uma estrutura de composição como a linguagem das músicas que a gente
conhece como música erudita europeia, né? Nem tem estruturas harmônicas, nem de modulações, nem de
instrumentações. É uma música muito mais esquemática, emblemática. Ela é uma composição, como eu
sempre digo nas aulas, ela é uma composição que ela parece mais um emblema, um brasão, que o brasão é
o símbolo do armorial, né? Os brasões, aqueles desenhos que nós conhecemos. A origem do brasão é uma
origem musical. A palavra “brasão” vem de brasonar, tocar com as trombetas, com as trompas. Então o
brasão antes de ser uma expressão pictórica, um ícone gráfico, ele era um som, ele era uma, digamos, uma