estão presentes (ainda que seja por ausência, como ‘zero’ ou ‘falta’) nos processos verbais.
Small afirma ainda que junto com os gestos, inseparavelmente, estão também os movimentos, o
experienciado, o vivido, onde tudo produz e resulta de relação. Nas interações estabelecidas por meio do
discurso não verbal, há segundo o autor uma forma de comportamento organizado na qual os seres
humanos “usam a linguagem do gesto para afirmar, explorar e celebrar suas ideias de como as relações do
cosmos (ou parte dele) operam e de como os humanos deveriam se relacionar”: o ritual. “Por meio de seus
gestos, aqueles que participam do ato ritual articulam relações entre si que modelam as relações de seu
mundo como eles os imaginam e como pensam (ou sentem) que deveriam ser” (Small, 1998, 95).
É relevante que o autor sublinhe que “as relações e os rituais que as celebram” tenham um amplíssimo
espectro de escalas e afetos, intensidades:
[...] Coroações, jogos olímpicos, missa católica romana, concertos sinfônicos, almoços
executivos, eleições, funerais, tatuar-se, grandes banquetes, jantares familiares e refeições
íntimas à deux, prostração em direção a Meca, o ‘trote’ e intimidação de recrutas em
corpos armados de elite e escolas exclusivas, e milhares de outros rituais grandes e
pequenos são padrões de gestos por meio dos quais as pessoas articulam seus conceitos
de como as relações de seu mundo estão estruturadas e, portanto, de como os humanos
devem se relacionar uns com os outros. Tais ideias mantidas em comum sobre como as
pessoas devem se relacionar umas com as outras, é claro, definem uma comunidade, então
os rituais são usados tanto como um ato de afirmação da comunidade ("Isto é quem
somos"), como um ato de exploração (‘vestir’ [try on] identidades para ver quem pensamos
que somos) e como um ato de celebração (para nos regozijarmos no conhecimento de uma
identidade não somente possuída senão também compartilhada com outros). (Small 1998,
95).
Mais adiante, Small diz ser o ritual “a mãe de todas as artes” – “The Mother of All the Arts”, esse é o título
de uma das seções do livro (SMALL, 1998, 94) –, primeiro por envolver as atividades que conhecemos como
artes – a dança, o teatro, a música, a poesia, a contação de histórias e as artes plásticas – mas,
principalmente, por ser o ritual a grande arte performática unitária da qual todas as artes atuais se derivam.
Mas as artes separadas tendem constantemente para sua unidade anterior. Qualquer
performance "artística", se for examinada com atenção, mostrará que envolve mais do que
a arte com a qual está ostensivamente ocupada (Small 1998, 109).
Para o autor, a comparação entre as artes e o ritual é fundamental para escapar da separação que foi
estabelecida pelo Ocidente. Small enfatiza que as artes tendem à sua antiga união, reforçando, ao final, que
uma performance é uma “obra de arte em si”, enquanto a obra ou composição musical, por exemplo, tem
seu significado residente apenas “nas relações que são criadas quando a obra é interpretada” (op.cit., 138).
A performance, portanto, é aquilo que promove o encontro de todos os meios artísticos disponíveis, e que
são orquestrados numa espécie de ‘obra de arte total’, cujos elementos não são mera decoração, mas parte
parte de sua “história natural”. Não se trata de preponderância da natureza sobre a cultura (ou vice-versa),
mas da inseparabilidade de ambas.