A partir de 1920, a maior comunicação entre as classes sociais e a popularização dos musicais, levou ao
fortalecimento da música popular. O desenvolvimento da indústria fonográfica, com a possibilidade de
reprodução fonomecânica das gravações musicais em formato de disco, impulsionou a música a uma nova
escala de consumo. A popularização do rádio e do cinema musicado, nos anos 1930, contribuiu para a
ampliação dos meios de distribuição, consumo musical e desenvolvimento da indústria do entretenimento.
A cadeia produtiva do século XX passou por transformações em nível tecnológico. Composta por produtores
de fonógrafos e gramofones, fabricantes de discos e Compact Discs (CDs), indústria de instrumentos
musicais, artistas e consumidores de música, manteve-se em alta até o início do século XXI, sofrendo uma
queda brusca com a chegada do MP3 e das transferências ilegais realizadas online. Com a popularização do
acesso digital tornou-se possível encontrar artistas que, de forma independente, realizam criação de vídeos
e gravações para download (Genes, Craveiro e Proença 2012, 173-180). As mudanças tecnológicas, ocorridas
desde o final do século XX, levaram a uma modificação na cadeia produtiva musical, com redução do custo
da produção, mudanças na forma de distribuição e comercialização, enfraquecimento das grandes
gravadoras e flexibilização dos contratos de trabalho (Requião 2008, 139).
A cadeia produtiva musical pode ser dividida em cinco etapas: pré-produção, composta pela indústria dos
instrumentos musicais, equipamentos de gravação, fabricação de matéria prima e capacitação dos
profissionais; produção, caracterizada pela indústria fonográfica (responsável pelo processo desde a
produção artística até a prensagem) e pelos agentes governamentais e institucionais; distribuição, composta
pela publicidade e logística; a divulgação, realizada através de rádio, tv, shows e espetáculos, mídia impressa
e internet; a comercialização, através de vendas através de lojas, internet, trilhas sonoras, shows,
espetáculos e etc.; e o consumo, em execuções públicas ou privadas (Prestes Filho 2004). Apesar da
expansão do setor musical na economia brasileira, os profissionais que atuam na ponta da cadeia produtiva
continuam vivendo de forma precarizada. A fetichização do artista como um ser dotado de “capacidades
extraordinárias”, denominadas por muitos como “talento” ou “dom”, contribui para a invisibilização social
do artista como trabalhador e para a ilusão quanto ao real investimento em seu preparo como profissional
(Requião 2008, 136; Requião 2016, 250).
Tais percepções levariam a sociedade a invisibilizar a identidade profissional do cantor, em uma situação
que poderia ser sintetizada com a pergunta: “você é cantor, mas o que faz para viver?”. Neste sentido, este
artigo tem como objetivo discutir aspectos da invisibilização social do cantor como trabalhador e do impacto
em sua qualidade de vida, a partir de uma análise das falas produzidas por docentes e discentes de cursos
de bacharelado em música (habilitação canto) de instituições públicas de ensino.
2. Metodologia
A pesquisa qualitativa é capaz de se aprofundar no fenômeno investigado através da observação das
relações humanas, estando preocupada em compreender o significado, as motivações, as aspirações, as
crenças e os valores existentes nestas relações. Durante o desenvolvimento deste estudo, privilegiaram-se
instrumentos qualitativos com a utilização de questionário e roteiro de entrevista, em triangulação com
observação participante. Estes procedimentos são frequentemente utilizados em pesquisas de caráter
qualitativo na intenção acessar os significados contidos nas falas dos atores sociais investigados (Minayo
2001, 22; Neto 2001, 57).