diferentes leituras, no discurso as relações histórico-sociais do sujeito são colocadas em prática. Entretanto,
é importante frisar que a relação entre texto e discurso não é dada a priori, ela é construída e elaborada.
Pensar o texto abrindo-se para a interpretação, coloca-nos na posição de considerar que
essa relação entre discurso e texto não é, pois, dada. Ela está sempre sendo elaborada. [...]
Esta elaboração contínua da relação texto/discurso pode ser observada na maneira como,
nos vestígios da textualização, o sujeito se “ancora”, se “engata”, em um e não outro
discurso, em um e não outro sentido. Isto certamente vai resultar em diferentes leituras.
Por isso, quando digo que o texto é heterogêneo, estou dizendo que ele é afetado de
muitas e variadas maneiras pela discursividade. (Orlandi 2001)
Para entendermos melhor a abertura de um texto e sua relação com o discurso, é importante também frisar
que o discurso é construído com base na interação: um autor não está sozinho na criação textual, pois
depende do contexto, das relações sociais e históricas construídas consciente ou inconscientemente. “O
sentido de um texto não se estabelece sem se levar em conta essas interações, bem como crenças, desejos,
preferências, normas e valores dos interlocutores,” afirmam Bentes e Leite (2010, p. 229). O entendimento
que leva em consideração fatores de ordem linguística, cognitiva e sociocultural da produção de um texto
para a criação de sentidos ocorreu sobretudo a partir da década de 1980, naquilo que é considerado como
a “virada cognitiva” dos estudos sobre o texto.
Sendo assim, para a interpretação de um texto dentro de suas múltiplas leituras possíveis, é importante
pensar não apenas aquilo que o texto diz, mas sim a maneira pela qual diz determinada coisa, frisa um
sentido ao invés de outro, se liga a um discurso e não a outro. Essa ideia é trabalhada por Gouvêa, Pauliukonis
e Monnerat:
Em vez da prática comum de se captar primeiro o significado, o que, [...] deve-se partir para
o enfoque do modo como o texto foi produzido; ou seja, deslocar-se do
significado/conteúdo original para os efeitos de sentido a partir das operações linguísticas
que o produziram. Desse modo, em vez de se buscar o que o texto diz, procurar analisar
como o texto diz e porque diz o que diz de um determinado modo trará consequências
importantes para o desvendamento do sentido como um todo. (Gouvêa, Pauliukonis e
Monnerat 2017 – grifo dos autores)
A intertextualidade é também importante para a construção de efeitos de sentidos na leitura de um texto.
Na verdade, todo texto é heterogêneo por se relacionar com outros textos de origem, com os quais pode
dialogar, aos quais pode aludir ou se opor. Numa visão semiológica, o princípio da intertextualidade aplica-
se também entre diferentes semioses ou signos, como os textos verbais e os não verbais. Entre as várias
classificações de intertextualidade consideradas por Koch, Bentes e Cavalcante (2012), interessam-nos
particularmente, a explícita, a implícita, a estilística e a metatextualidade.
A intertextualidade explícita menciona a fonte, sendo o caso das citações, resumos, resenhas, amplamente
usados, por exemplo, em textos acadêmicos. Quanto à implícita, a fonte não é mencionada e o produtor ou
o compositor do texto esperam que o ouvinte/leitor reconheça a presença do texto-fonte em sua memória
discursiva. Vale mencionar que a introdução de intertexto alheio, seja explícita ou implicitamente, varia
conforme “o objetivo quer de seguir-lhe a orientação argumentativa, quer de contraditá-lo, colocá-lo em