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DOI: 10.35699/2317-6377.2021.35780
eISSN 2317-6377
Vida e carreira da violinista Virgínia Sinay:
uma análise da grande turnê Sinay-Wolff de 1886
Adonhiran Reis
https://orcid.org/0000-0002-9551-2441
Universidade Estadual de Campinas,
Instituto de Artes
abareis@unicamp.br
Bruna Caroline de Souza Berbert
https://orcid.org/0000-0002-9380-2672
Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais
Campus Rio Pomba, Seção de Arte e cultura
bruna.berbert@ifsudestemg.edu.br
Agles Vieira de Oliveira
https://orcid.org/0000-0002-0424-4657
Universidade Estadual de Campinas,
Instituto de Artes
aglesvieira@gmail.com
SCIENTIFIC ARTICLE
Submitted date: 23 aug 2021
Final approval date: 07 oct 2021
Resumo: O presente artigo, desenvolvido através de pesquisa bibliográfica e documental, procura estabelecer uma
biografia, ainda que fragmentada, da violinista paraense Virgínia Sinay, aluna de L. Massart no Conservatório de Paris,
e importante docente em seu estado, a partir da análise de uma de suas maiores empreitadas artísticas a turnê de
1886 , realizada em conjunto com a sua irmã e pianista Mathilde Sinay e com o célebre violinista holandês Johannes
Wolff. As críticas dos concertos realizados durante a turevidenciam a grande qualidade técnica e musical dos três
artistas, destacam a excelente recepção do público que os assistiu e expõem de maneira clara alguns dos preconceitos
da época, muito relacionados à concepção do que significava ser mulher e artista no século XIX.
Palavras-chave: Virgínia Sinay; Mathilde Sinay; Johannes Wolff; Violino brasileiro; Performance musical.
TITLE: LIFE AND CAREER OF THE VIOLINIST VIRGÍNIA SINAY: AN ANALYSIS OF THE GREAT SINAY-WOLFF TOUR OF
1886
Abstract: This article, developed through bibliographic and documental research, aims at establishing a biography,
even though fragmented, of Virgínia Sinay, a violinist from Pará, a L. Massart’s student at the Paris Conservatory, and
a prominent professor in her state. This research is based on an analysis of one of her biggest artistic ventures, namely
the 1886’s tour, which was carried out with her sister and pianist Mathilde Sinay as well as with the famous Dutch
violinist Johannes Wolff. Criticism on the concerts performed during the tour indicates the great technical and musical
quality of the tree artists, it also highlights the excellent reception of the audience attending the concerts, and exhibits,
in a clear fashion, some of the prejudices of that time, largely related to the concept of what it meant to be a woman
and an artist in the nineteenth century.
Keywords: Virgínia Sinay; Mathilde Sinay; Johannes Wolff; Brazilian Violin; Musical performance.
Per Musi, no. 41, General Topics, e214123, 2021
2
Reis, Adonhiran; Berbert, Bruna Caroline de Souza; Oliveira, Agles Vieira de. 2021. “Vida e carreira da violinista Virgínia Sinay:
uma análise da grande turnê Sinay-Wolff de 1886 Per Musi no. 41, General Topics: 1-28. e214123. DOI 10.35699/2317-6377.2021.35780
Vida e carreira da violinista Virnia Sinay:
uma análise da grande turnê Sinay-Wolff de 1886
Adonhiran Reis, Universidade Estadual de Campinas, abareis@unicamp.br
Bruna Caroline de Souza Berbert, IFSudesteMG Campus Rio Pomba, bruna.berbert@ifsudestemg.edu.br
Agles Vieira de Oliveira, Universidade Estadual de Campinas, aglesvieira@gmail.com
1. Introdução
Ao nos debruçarmos sobre os registros de performances em terras brasileiras no século XIX, é possível
observar uma fervilhante atividade musical que ocorria durante o período. Autores como Cernicchiaro
(1926), Azevedo (1956), Mello (1947), e sobretudo os periódicos de então, destacam uma grande variedade
de intérpretes atuando no Brasil em diversos teatros, muitos deles demolidos nos séculos XIX e XX, como o
Teatro Lyrico Fluminense e o Teatro Imperial D. Pedro II (ambos, à época, sediados no Rio de Janeiro). Não
são poucos os relatos de músicos brasileiros deste período que estudaram na Europa e desenvolveram
posteriormente extensas atividades artísticas em sua terra natal.
No entanto, violinistas outrora muito atuantes foram aos poucos desvanecendo dos livros sobre a história
da performance musical brasileira, e quando muito, resumidos a algumas poucas linhas. Se levarmos em
consideração o gênero dos instrumentistas, esta lacuna fica ainda mais evidente de acordo com Freire e
Portela (2013), a atuação das mulheres no cenário musical não era valorizada pela literatura especializada
dos séculos anteriores, seja devido às circunstâncias sociais que limitavam a participação pública feminina
como musicistas, seja pelo fato da historiografia musical brasileira ser majoritariamente escrita por homens.
1
Dentre estes nomes, podemos citar o de Virgínia Sinay (1866? - s.d.), violinista paraense, aluna de Joseph
Lambert Massart (1811 - 1892) no Conservatório de Paris, que posteriormente assumiu importante trajetória
como docente do instrumento em seu estado natal.
Pouco tempo após a obtenção do seu premier prix no Conservatório de Paris, Virgínia embarcou em uma
extensa turnê que se iniciou na Europa e que foi majoritariamente empreendida em solo brasileiro no
decorrer do ano de 1886. Nesta turnê estrelavam além de Virgínia Sinay , sua irmã e pianista Mathilde
Sinay (1870 - s.d.) e o célebre violinista holandês Johannes Wolff (1861 - 1931). O trio conquistou grande
1
De acordo com Tânia Silva, “escrita fundamentalmente por homens, a narrativa histórica se absteve de
incorporar às suas preocupações o sujeito feminino. Este silêncio não foi uma prerrogativa da historiografia
brasileira ou latino-americana, mas atitude constante inclusive em países como Estados Unidos e França,
onde a busca pelos direitos da mulher e o reconhecimento da condição feminina se deu mais cedo do que
entre nós” (2008, 224).
3
Reis, Adonhiran; Berbert, Bruna Caroline de Souza; Oliveira, Agles Vieira de. 2021. “Vida e carreira da violinista Virgínia Sinay:
uma análise da grande turnê Sinay-Wolff de 1886 Per Musi no. 41, General Topics: 1-28. e214123. DOI 10.35699/2317-6377.2021.35780
sucesso de críticas em variados periódicos e se apresentou ante a família Imperial, em Petrópolis - RJ. O
jornal O Paiz (RJ), um dos mais importantes da capital da corte, chegou a afirmar que “é certo que nem
naquele palco, nem nesta capital ainda ouvimos uma virtuose tão distinta como a Sra. D. Virgínia Sinay”.
2
Porém, apesar de tantas críticas elogiosas à sua capacidade como violinista e cantora (atividade que
desenvolvia em paralelo à sua atuação ao violino), suas performances públicas e as menções ao seu nome
nos jornais foram significativamente reduzidas nos anos posteriores, com poucas exceções em periódicos
paraenses alguns anos depois, quando já casada e professora da Academia de Bellas Artes do Pará.
Desenvolvido a partir de pesquisa documental e bibliográfica, este artigo busca analisar a turnê brasileira
realizada em 1886 pelas Irmãs Sinay e Johannes Wolff. Tecemos uma narrativa sobre os concertos realizados
e avaliamos a sua recepção pelo público a partir das críticas presentes nos jornais da época. Tendo como
principal foco Virgínia Sinay, intentamos estabelecer sua biografia, ainda que fragmentada, a fim de valori-
la como uma musicista de elevado nível técnico e artístico em uma época de reduzida visibilidade feminina
como tal. Afinal, parafraseando Michelle Perrot (2017), importa-nos reencontrar as mulheres em ão,
mulheres que inovam em suas práticas e criam, elas mesmas, o movimento da história.
2. Virgínia Sinay: uma violinista franco-brasileira e sua formação parisiense
Diversos desafios surgem ao tentarmos reconstituir a trajetória de Virgínia Sinay. Os dados disponíveis são
escassos e muitas vezes contraditórios. Os jornais da época apresentam diferentes grafias para o seu nome
e de seus familiares,
3
e não há consenso em relação à sua data de nascimento. O historiador Vicente Salles
(1931 - 2013), que dedica algumas páginas de seu livro Música e Músicos do Pará às Irmãs Sinay, afirma que
Virgínia nasceu no dia 26 de janeiro de 1868 (2016, 534). Em comunicação recente com o Conservatório
Superior de Música de Paris (Levy 2021)
4
e também no jornal francês La Fronde encontramos, na relação de
mulheres premiadas pelo Conservatório de Paris, a menção de que Virgínia Sinay, “nascida em 1866 no
Brasil” (21 de julho de 1901, 2, tradução nossa),
5
obteve o primeiro prêmio em 1885. Ao decorrer da turnê
de 1886, alguns jornais sugeriram datas distintas, afirmando que Virgínia teria naquele momento 17,
6
18
7
2
1886. "Concerto Wolff e Sinay". O Paiz (RJ) 21 de maio, 2. Todas as citações de periódicos antigos foram
atualizadas pelos autores de acordo com as diretrizes ortográficas atualmente em vigor, e não pela grafia da
época em que foram editadas, com o objetivo de tornar sua leitura mais fluida e clara, conservando-se o
sentido original do discurso.
3
Os jornais franceses, assim como o Conservatório de Paris, empregam uma grafia afrancesada do seu nome
Virginie Sinay. Após seu casamento com Lazare Bloch (em alguns jornais, Lazar Block), ela passa a se
chamar Virgínia Bloch (em alguns periódicos, Block), entre outras variantes.
4
A bibliotecária do Conservatório, Sra. Sophie Levy, informou-nos de que constam nos arquivos da
instituição a obtenção do premier prix em 1885 pela aluna Virginie Sinay, nascida no dia 26 de janeiro de
1866, na cidade de Santa Maria de Belém do Pará, no Brasil.
5
No original: “Née en 1866 au Brésil”. Max, Cécile. 1901. "La femme au Conservatoire". La Fronde 21 de
julho, 2.
6
1886. "As meninas Sinay e Wolff no Rio de Janeiro". Diário de Belém (PA), 26 de maio, 3; e 1886. "Concerto
Wolff e Sinay". O Paiz (RJ), 21 de maio, 2.
7
O Diário de Notícias (Portugal) de 22 de fevereiro (cujo artigo foi reproduzido na íntegra pelo Mercantil)
afirma que Virgínia tinha três anos a mais que sua irmã Mathilde, naquele momento com quinze anos. 1886.
"Artistas Notáveis", Mercantil (Petrópolis - RJ), 17 de abril, 2.
4
Reis, Adonhiran; Berbert, Bruna Caroline de Souza; Oliveira, Agles Vieira de. 2021. “Vida e carreira da violinista Virgínia Sinay:
uma análise da grande turnê Sinay-Wolff de 1886 Per Musi no. 41, General Topics: 1-28. e214123. DOI 10.35699/2317-6377.2021.35780
ou até mesmo 19 anos.
8
Tendo em vista as diversas possibilidades, acreditamos que o ano de 1866 seja o
ano mais provável de seu nascimento, já que é a data registrada nos arquivos do Conservatório de Paris
(onde presumivelmente a violinista apresentou documentos pessoais para admissão).
Virgínia e Mathilde eram filhas do próspero comerciante hebraico Jacques Mendel Sinay (s.d. - s.d.),
9
sócio
proprietário da importante casa Sinay & Levy (estabelecida em Belém do Pará), e desde cedo foram apoiadas
por seus pais no desenvolvimento de suas aptidões artísticas. Cabe destacar que, apesar de seu nascimento
em terras brasileiras, seus pais eram franceses. O crítico Raul de Nangis
10
(s.d. - s.d.) relatou na Gazeta
Musical que:
Educadas em Paris desde tenros anos não pronunciavam nem sequer uma palavra de
português; contudo, o modesto Sr. Sinay, não falava francês com os brasileiros, como
também desempenhava, no máximo esforço da boa vontade, o papel de intérprete das
filhas, divertindo-se com a nossa língua, que ele falava quase corretamente; pelo menos
sabia, e bem, o necessário e o trivial para o exercício da vida comum (apud Salles 2016,
534).
Ainda sobre este aspecto, na crítica do primeiro concerto realizado no Rio de Janeiro durante a turnê de
1886, é narrado que:
No fim do concerto, os espectadores [...] chamaram com muita insistência as meninas
Sinay, mas estas não apareceram. Por quê? As duas talentosas moças, apesar de brasileiras,
não falam português, e seus admiradores, esquecidos que o ay em francês se pronuncia é,
pronunciavam, ao invés de Siné, Sináe.
11
Não se sabe ao certo quando as irmãs Sinay se estabeleceram em Paris. Os jornais franceses começaram a
noticiar seus concertos a partir de 1882, ano em que se apresentavam com regularidade em Paris e nos seus
arredores. Entre 1882 e 1885, há diversos anúncios de concertos beneficentes, que contavam com a
participação de um número variado de intérpretes. Críticas positivas de alguns desses concertos destacam
a qualidade da interpretação das irmãs Sinay:
[...] Porém, aplaudida de forma justa, Mlle Virginie Sinay, também premiada pelo
Conservatório, tocou no violino uma Fantasia Caprice de Vieuxtemps com o controle
de arco de um mestre, e uma excelente qualidade de som. Esta jovem artista foi
maravilhosamente acompanhada por sua ir Mlle Mathilde Sinay, uma criança
(tradução nossa).
12
8
1886. "Ecos dos bastidores". Correio da Manhã (Portugal), 26 de fevereiro, 3; 1886. Gazeta de Notícias (RJ),
01 de março, 2; 1886. "Artistas brasileiras" A Evolução (RJ), 24 de fevereiro, 2.
9
Em todos os periódicos consultados, ele é referido como Mendel Sinay, forma que adotamos no presente
trabalho.
10
Pseudônimo de Alfredo Bastos (Andrade 2012, 43).
11
Kinsman, Benjamin. 1886. "Folhetim". Diário de Notícias (RJ), 21 de maio, 1.
12
No original: “En revanche, on a justement applaudi Mlle Virginie Sinay, également prix du Conservatoire,
qui a exécuté sur le violon une fantaisie caprice de Vieuxtemps avec la sûreté d’attaque d’un maître et d’une
5
Reis, Adonhiran; Berbert, Bruna Caroline de Souza; Oliveira, Agles Vieira de. 2021. “Vida e carreira da violinista Virgínia Sinay:
uma análise da grande turnê Sinay-Wolff de 1886 Per Musi no. 41, General Topics: 1-28. e214123. DOI 10.35699/2317-6377.2021.35780
Figura 1 As irmãs Virgínia e Mathilde Sinay. Fonte: 1885. Jornal Mercantil (RJ) de 17 de abril, 1
(a disposição das imagens foi modificada pelos autores)
Não nos foi possível localizar o ano de ingresso de Virgínia no Conservatório, mas é provável que ela
estivesse na instituição desde 1882, visto que procurou obter o reconhecido primeiro prêmio em pelo menos
três ocasiões distintas, a saber: 1883, 1884 e 1885, ano em que finalmente obteve a máxima distinção da
instituição. Em 1883
13
, Virgínia obteve um accessit,
14
em 1884, um segundo prêmio e, finalmente em 1885,
um primeiro prêmio.
15
Desde sua criação em 1795, o Conservatório de Paris se tornou rapidamente um centro de formação artística
de excelência e estabeleceu um novo paradigma de ensino musical. Se antes dele a construção de
conhecimento se dava, essencialmente, a partir de uma relação mestre-aprendiz (em que prevalecia a
transmissão oral), após sua abertura essa nova instituição (fruto direto da Revolução Francesa, que advogava
o ideal iluminista da Égalité), buscava promover uma educação acessível a todos, provida pelo Estado, e que
fornecesse o mesmo padrão de qualidade aos estudantes, independentemente de origem ou condição
social. Enquanto o resultado do ensino baseado na relação mestre-aprendiz diferia consideravelmente em
cada caso, a uniformização metodológica do Conservatório possibilitava uma previsão de conteúdos e
práticas a cada período formativo. A especialidade docente que se instaurou, vista na designação de
professores diferentes para cada instrumento e disciplina, é um exemplo de organização vigente até os dias
de hoje em faculdades de música e conservatórios (Santos 2011).
Uma das primeiras tarefas dos professores da instituição foi a produção de métodos, que forneciam um
conteúdo programático para as aulas e orientações para os estudos. Em 1803, os professores de violino do
Conservatório Pierre Baillot (1771 - 1842), Pierre Rode (1774 - 1830) e Rodolphe Kreutzer (1766 - 1831),
exquise qualité de son. Cette jeune artiste a été dailleurs merveilleusement accompagnée par sa sœur Mlle
Mathilde Sinay, une enfant.” 1884. "Echos des théatres". 1884. Le Radical (França), 10 de setembro, 4.
13
1883. "Théatre et Musique". La Gazette des Femmes (França), 10 de agosto, 118.
14
Tradicionalmente, uma recompensa oferecida aos alunos, que apesar de não terem obtido o prêmio,
chegaram perto (Accessit 2021).
15
O jornal La Liberté descreve os concursos finais do Conservatório daquele ano, no qual os quatro primeiros
prêmios de violino foram conquistados por alunos de Massart, dentre eles Virgínia Sinay. Ele também
informa que estes mesmos quatro premiados foram contemplados com o segundo prêmio no ano anterior.
Jonchères, Victorin. 1885. "Revue Musicale". La Liberté (França), 10 de agosto, 1.
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Reis, Adonhiran; Berbert, Bruna Caroline de Souza; Oliveira, Agles Vieira de. 2021. “Vida e carreira da violinista Virgínia Sinay:
uma análise da grande turnê Sinay-Wolff de 1886 Per Musi no. 41, General Topics: 1-28. e214123. DOI 10.35699/2317-6377.2021.35780
todos de alguma forma relacionados a Giovanni Battista Viotti (1755 - 1824) escreveram e publicaram o
Méthode de violon (que foi posteriormente ampliado por Baillot no seu L’Art du violon, de 1834), além de
outros materiais pedagógicos, como livros de estudos de técnica aplicada. Como consequência direta desta
padronização do ensino, o Conservatório de Paris começou a produzir alunos de elevado nível técnico e
artístico em série, com uma estética específica, que ficou conhecida como Escola Francesa. Os princípios
técnicos e estéticos dessa escola de interpretação influenciaram compositores como Ludwig van Beethoven
(1770-1827), que chegou a dedicar obras a Kreutzer e Rode (Stowell 2009). Dentre as muitas características
da Escola Francesa
16
, destacamos, em especial, a busca e aplicação dos ideais da música vocal e operística
na técnica e interpretação musical do instrumento e a ampla execução de portamentos, sobretudo em
movimentos lentos e melodias sustentadas.
A posterior Escola Franco-Belga, por sua vez, aprofundou essa relação instrumento-canto da Escola Francesa
a partir da incorporação, na técnica instrumental, dos princípios do Bel Canto italiano, que foram somados
à inclusão de elementos técnicos considerados inovativos para a época, sobre os quais Nicolò Paganini (1782
- 1840) foi pioneiro. Assim, a Escola Franco-Belga manifestava um novo tipo de virtuosismo, que era repleto
de golpes de arco saltados e grandes legatos, pizzicati, harmônicos naturais e artificiais, abundância de
vibrato e portamentos executados sobre passagens ágeis e elegantes, com grande refinamento sonoro. No
decorrer do texto, veremos que as características da Escola Francesa e Franco-Belga estavam implícitas em
algumas das críticas referentes à performance da violinista Virgínia Sinay e manifestam-se também no
repertório escolhido para a turnê.
Joseph Lambert Massart, professor de Virgínia, foi sem dúvidas um dos mais destacados professores do
Conservatório no século XIX. De origem belga, lecionou no Conservatório de Paris de 1843 até 1890, e
formou ilustres violinistas, dentre os quais os mais conhecidos são Fritz Kreisler (1875 - 1962), Henryk
Wieniawski (1835 - 1880) e Martin Marsick (1847 - 1924). Ainda que Fritz Kreisler tenha sido o primeiro
violinista a registrar em gravações o vibrato de mão esquerda de forma sistemática, popularizando este ideal
sonoro como um modelo a ser seguido pelas gerações subsequentes, a influência de Massart neste quesito
é inegável, e a ele é creditado esta mudança estética. Outros alunos de Massart, como Wieniawski também
utilizaram este recurso. Nas palavras de Kreisler,
16
De acordo com Berbert (2017, 32-33), são características dessa Escola: “a) a busca e aplicação dos ideais
da música vocal e operística na técnica e interpretação musical do instrumento; b) o amplo uso de tercinas
e ritmos pontuados nas composições; c) a grande produção de composições do gênero concerto, que se
diferenciavam fundamentalmente do estilo das composições vienenses, em aspectos formais; d) a
configuração de passagens de virtuosismo formadas especificamente por padrões de rápidas escalas e/ou
arpejos; e) o emprego ainda conservador do arco, constatado a partir da ausência de golpes saltados; f) a
classificação de uma grande variedade de padrões de arcadas específicas (como por exemplo, a arcada
Viotti); g) uma extensa e diferenciada abordagem do legato, em relação ao Período Barroco; h) a criação e
uso frequente do martelé um golpe de arco francês por excelência e essencialmente o aplicável aos
arcos pré-Tourte; i) a ampla execução de portamentos, especialmente em movimentos lentos e melodias
sustentadas; j) o reduzido emprego de cordas duplas; k) o eventual destaque de cordas graves,
especialmente com partes de linhas melódicas sobre a corda Sol; l) o esforço em expressar a arte como um
meio de elevação espiritual, onde a técnica está em segundo plano Baillot, por exemplo, embora admire
as façanhas técnicas surpreendentes de Paganini, alerta quanto ao perigo de suas 'inovações precipitadas';
m) certa tendência de negligenciar a orquestração, em relação aos seus contemporâneos vienenses”.
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Reis, Adonhiran; Berbert, Bruna Caroline de Souza; Oliveira, Agles Vieira de. 2021. “Vida e carreira da violinista Virgínia Sinay:
uma análise da grande turnê Sinay-Wolff de 1886 Per Musi no. 41, General Topics: 1-28. e214123. DOI 10.35699/2317-6377.2021.35780
Eu creio que Massart gostava de mim porque eu tocava no estilo de Wieniawski. Você deve
se lembrar que Wieniawski intensificou o vibrato, e o levou a intensidades nunca atingidas
antes, e ficou conhecido como o “vibrato francês”. Vieuxtemps também passou a tocar
assim, e após ele, Eugène Ysaÿe, que virou seu maior expoente, e eu. Joseph Joachim, por
exemplo, desprezava isso (Stowell 2006, 87, tradução nossa).
17
Kreisler, no entanto, nunca ouviu Wieniawski ou Vieuxtemps tocar, sendo o seu renomado vibrato amplo e
contínuo uma construção proveniente de Massart (Philip 1992, 210). Esta concepção de vibrato, que deixava
de ser um mero ornamento, até então utilizado com parcimônia, tornava-se um importante elemento
interpretativo, um dos pilares de um novo tipo de sonoridade. A análise das críticas de concertos da turnê
de 1886 indica que este novo tipo de ideal timbrístico foi repassado por Massart à Virgínia Sinay. Contudo,
ainda que este vibrato amplo, contínuo, tenha sido muito elogiado nas primeiras décadas do século XX (a
partir das gravações de Kreisler e de outros violinistas), no final do século XIX ele ainda causava estranheza
a alguns críticos de jornais, como veremos adiante.
A classe de Massart no Conservatório era muito procurada na época em que Virgínia estudou em Paris. Carl
Flesch (1873 - 1944), em suas memórias, relata que Massart nesta época era o “professor mais famoso do
mundo(1957, 50, tradução nossa).
18
Havia uma grande demanda para ser seu aluno,
19
afinal, “o maior
desejo de todo jovem violinista era estudar com Massart” (Flesch 1957, 61, tradução nossa).
20
O
Conservatório também atraía um grande volume de violinistas, não somente para a classe de Massart. Flesch
descreve que, no concurso de ingresso de 1890, haviam cerca de 300 a 400 candidatos, concorrendo a "uma
dúzia de vagas" (1957, 62).
21
É possível ter uma ideia do elevado nível técnico e musical que seria necessário
para um aluno ingressar na classe de Massart nessa época, especialmente no caso de uma mulher.
Presumivelmente, a proporção de mulheres nas classes de violino era minoritária, como ilustrado pelo jornal
La Liberté de 10 de agosto de 1885 (1), ano em que Virgínia obteve seu primeiro prêmio: ao destacar o
número elevado de “pequenos prodígios” (tradução nossa)
22
, dentre os trinta concorrentes à premiação de
violino, somente nove eram do sexo feminino. Do total, somente quatro violinistas obtiveram o tão almejado
primeiro prêmio (todos alunos de Massart), sendo Virgínia a única mulher dentre os premiados. Ao que tudo
indica, Virgínia Sinay era uma violinista excepcional, o que pode ser constatado na exitosa turnê que se inicia
no ano seguinte à sua formatura no Conservatório de Paris.
17
No original: I believe Massart liked me because I played in the style of Wieniawski. You will recall that
Wieniawski intensified the vibrato and brought it to heights never before achieved, so that it became known
as the ‘French vibrato’. Vieuxtemps also took it up, and after him Eugène Ysaÿe, who became its greatest
exponent, and I. Joseph Joachim, for instance, disdained it. (Stowell 2006, 87).
18
No original: “then the most famous teacher in the world (Flesch 1957, 50).
19
Em 1890, Flesch se muda para Paris com o propósito de estudar com Massart, como fez antes dele seu
amigo e colega de conservatório em Viena, Fritz Kreisler. Contudo, ao chegar em Paris, Massart tinha
recentemente se aposentado, aos oitenta anos de idade. Flesch chegou a tocar para Massart, que teria dito
que estava triste por não poder ser seu professor.
20
No original: “The most ardent desire of all young violinists was to study under Massart” (Flesch 1957, 61).
21
No original: "a dozen vacancies" (FLESCH 1957, 62).
22
No original: petits prodiges". Jonchères, Victorin. 1885. "Revue Musicale". La Liberté (França), 10 de
agosto, 1.
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Reis, Adonhiran; Berbert, Bruna Caroline de Souza; Oliveira, Agles Vieira de. 2021. “Vida e carreira da violinista Virgínia Sinay:
uma análise da grande turnê Sinay-Wolff de 1886 Per Musi no. 41, General Topics: 1-28. e214123. DOI 10.35699/2317-6377.2021.35780
3. A turnê de 1886
3.1. Questões preliminares
Duas pessoas estiveram em quase todos os concertos da turnê de 1886 junto à Virgínia: sua irmã e pianista
Mathilde Sinay e o violinista holandês Johannes Wolff. Esses artistas, em algumas ocasiões, tiveram
acompanhamento de orquestras locais, mas a grande maioria das apresentações era realizada em trio. Vale
ressaltar que nesses concertos Virgínia se apresentou tanto ao violino, quanto cantando.
Pouco se sabe sobre Mathilde Sinay, e as informações disponíveis a seu respeito são, de certo modo,
contraditórias. Salles (2016, 534) e Cernicchiaro (1926, 423) estipulam sua data de nascimento em 1870, sem
precisar um dia ou mês.
23
Salles afirma que Mathilde teria estudado e obtido seu diploma de piano no
Conservatório de Paris, na classe de Théodore Ritter (1840 - 1886), aluno de Franz Liszt (1811 - 1886),
diferentemente de Cernicchiaro, que informa que ela foi aluna de Ritter em Paris. Diversos jornais
brasileiros também afirmam que ela teria sido aluna de Ritter no Conservatório. Porém, a bibliotecária do
Conservatório de Paris informou-nos por e-mail (Levy 2021) que o nome de Mathilde Sinay não consta nos
acervos da instituição e que Ritter jamais atuou como docente no Conservatório.
24
A partir das informações
de uma carta de Ritter reproduzida a seguir, sabemos que Mathilde foi sua aluna, mas é provável que tenha
sido uma aluna particular. Independentemente de sua formação, a maior parte das críticas encontradas
tanto entre 1882 e 1885 (em Paris) quanto após isso (na turnê de 1886) destacam o grande domínio da
jovem sobre o piano, apesar de sua pouca idade. Theodore Ritter escreveu ao seu amigo e pianista Arthur
Napoleão (1843 - 1925) pedindo que ele ajudasse as irmãs Sinay no empreendimento da turnê:
25
Meu caro amigo - Uma aluna minha, Mlle Sinay, junto à sua irmã, violinista, se propõe a
realizar concertos no Rio e adjacências. Eu recomendo-as a você, somente porque possuem
muito talento; e como a sua opinião consagra os artistas, as coloco sob a sua alta proteção,
tendo certeza de que não estarei pedindo em vão o seu poderoso apoio. Receba, por favor,
meu caro colega, meus antecipados agradecimentos por tudo que fará pela família Sinay,
pela qual me interesso particularmente, e creia nas mais vivas simpatias do vosso velho
amigo (tradução nossa).
26
23
Durante a turnê de 1886, os jornais divergem sobre sua idade, entre 13, 14 ou 15 anos.
24
Ritter faleceu muito novo, aos 26 anos de idade, em abril de 1886.
25
Talvez não por acaso, Mathilde tinha em seu repertório uma valsa de A. Napoleão. 1886. "O concerto de
ontem". A Federação (RS), 26 de julho, 2.
26
No original: Mon cher ami - Une de mes élèves, Melle. Sinay, accompagnée de sa sœur, violoniste, se
propose de donner des concerts à Rio et dans les environs. Je ne vous les recommande que parce qu’elles ont
beaucoup de talent; et comme votre jugement consacre les artistes, je les place sous votre haute protection,
persuadé que je ne réclamerai pas en vain votre puissant appui. Recevez, je vous prie, mon cher collègue, mes
remerciements anticipés pour tout ce que vous ferez pour la famille Sinay, à laquelle je m’intéresse tout
particulièrement, et croyez à la vive sympathie de votre vieil ami”. Carta transcrita no Jornal do Commercio
em editorial lamentando a morte de Ritter, ocorrida na véspera. Nemo. 1886. "O theatro nos países
estrangeiros". Jornal do Commercio (RJ), 07 de maio, 1.
9
Reis, Adonhiran; Berbert, Bruna Caroline de Souza; Oliveira, Agles Vieira de. 2021. “Vida e carreira da violinista Virgínia Sinay:
uma análise da grande turnê Sinay-Wolff de 1886 Per Musi no. 41, General Topics: 1-28. e214123. DOI 10.35699/2317-6377.2021.35780
O holandês Johannes Wolff já era um violinista renomado quando a turnê foi iniciada. Também discípulo de
Massart, obteve seu primeiro prêmio no Conservatório de Paris em 1881, após estudos em Dresden.
27
Aos
quinze anos de idade, passou a receber pensão do Rei da Holanda
28
e foi condecorado com o título de
violinista da Câmara Real (Cernicchiaro 1926, 482). Diversos jornais afirmam que, após os estudos com
Massart, Wolff teria continuado sua formação com o célebre Joseph Joachim (1831 - 1907) e Hubert Léonard
(1819 - 1890).
29
De acordo com o jornal Commercio de Portugal,
30
à época da turnê ele estaria tocando em
um violino Guarneri não há, porém, referências de qual membro desta família de construtores o
instrumento era originário.
Paganini costumava dizer que o melhor violinista era aquele que menos desafinava. Se
assim é, Wolff tem direito a um lugar entre os melhores, pois a sua afinação nas passagens
mais difíceis e mais intrincadas é perfeita; o som, cheio e redondo, e a pureza das notas
altas e das harmonias, digna de notar-se. A sua interpretação da graciosa Berceuse de
Fauré, das Airs Russes de Wieniawski, que ele executou no estilo tradicional do compositor,
e o modo como executou a Ballade et Polonaise de Vieuxtemps, foram excelentes.
31
Mendel Sinay, pai de Virgínia e Mathilde, estava presente em toda a turnê,
32
e há indícios de que ele estava
patrocinando a excursão, enviando, por exemplo, retratos das jovens e matérias de outros periódicos aos
jornais locais com o fim de promoção dos próximos eventos
33
, ou cancelando concertos em algumas cidades,
provavelmente por não terem sido vendidos ingressos suficientes.
34
Salles (2016, 535) afirma que Wolff
acompanhou as duas irmãs artistas em excursão pelo Brasil “contratado com uma escritura de 100.000
francos (Diário de Notícias, Belém, 5 de dezembro de 1886, 2, no segundo folhetim assinado por Sganarello
intitulado Johannes Wolff, Divagações à vol d’oiseau). No entanto, ao consultarmos a coluna citada desta
edição do Diário de Notícias, não encontramos qualquer menção à contratação de Wolff. Portanto, não
podemos afirmar categoricamente que Wolff foi pago para excursionar com as irmãs Sinay; porém, no nosso
entendimento, é possível que Salles tenha se deparado com esta informação em algum outro periódico e
feito alguma troca na citação à fonte consultada. O famoso crítico Oscar Guanabarino (1851 - 1937) também
deixa a entender algo neste sentido, ao dizer que “certamente não veio ao Rio de Janeiro buscar celebridade
quem já a conquistou nas principais cidades da Europa”
35
, fazendo referência a Wolff. De fato, para um
artista com uma carreira já solidamente estabelecida nos principais palcos da Europa, dedicar quase um ano
a uma turnê sul-americana ao lado de duas jovens desconhecidas, em palcos muitas vezes inadequados,
36
27
1913. "Echos". L’echo d’Alger (França), 22 dezembro, 1.
28
1885. Ercole. "Johannes Wolff". Gazette artistique de Nantes (França), 17 de dezembro, 5.
29
1886. "Concerto Wolff e Sinay". O Paiz (RJ), 21 de maio, 2.
30
Crítica reproduzida na íntegra no Mercantil: “[...] tira do seu belo Guarneri uma quantidade e qualidade
de sons, como ainda não ouvimos de outro artista”. 1886. "Artistas Notáveis". Mercantil (RJ), 17 de abril, 1.
31
Kinsman, Benjamin. 1886. "Folhetim". Diário de Notícias (RJ), 21 de maio, 1.
32
Em viagens de barco, por exemplo, nas listagens de passageiros presentes, além de Wolff, surge o nome
de “Mendel Sinay, 2 filhas e 1 governanta”. 1886. O Paiz (RJ), 06 de setembro, 3.
33
1886. "Artistas Notáveis". Mercantil (RJ), 17 de abril, 1.
34
“O sr. Sinay resolveu não levar à Campinas suas gentilíssimas filhas e o sr. Wolff, segundo diz uma folha
local”. 1886. Correio Paulistano (SP), 03 de junho, 2.
35
Guanabarino, Oscar. 1886. "Concerto Wolff-Sinay". O Paiz (RJ), 23 de setembro, 2.
36
Nas críticas consultadas, são frequentes os relatos de acústicas desfavoráveis, pianos em péssimo estado
de conservação e orquestras de baixa qualidade acompanhando os solistas.
10
Reis, Adonhiran; Berbert, Bruna Caroline de Souza; Oliveira, Agles Vieira de. 2021. “Vida e carreira da violinista Virgínia Sinay:
uma análise da grande turnê Sinay-Wolff de 1886 Per Musi no. 41, General Topics: 1-28. e214123. DOI 10.35699/2317-6377.2021.35780
provavelmente teria algum tipo de compensação financeira que justificasse tal hiato em suas apresentações
regulares.
Esta possibilidade permite-nos levantar algumas hipóteses. A primeira delas é que, talvez se Wolff não
estivesse presente, a turnê talvez não atrairia tanto público e não fosse tão exitosa como foi, pelo fato das
irmãs Sinay serem mulheres e desconhecidas do público brasileiro (apesar do mérito conferido pelas láureas
do Conservatório de Paris). Uma outra hipótese, vinculada à anterior, é que a motivação de Mendel Sinay
para o patrocínio da turnê fosse realmente promover suas filhas; seja como “prodígios”, que alcançariam
uma fama após a turnê; seja como uma forma de aumentar a visibilidade social delas como mulheres, a fim
de garantir-lhes um bom casamento
37
.
3.2. Itinerário, concertos e recepção do público
Figura 2 Irmãs Sinay e Johannes Wolff. Fonte: Pontos nos ii, n. 42, de 20 de fevereiro de 1886, 335
(a disposição das imagens foi modificada pelos autores)
A excursão teve início em Lisboa, no dia 9 de fevereiro de 1886, com concertos na Real Academia de
Amadores de Musica, que foram sucedidos pelas apresentações no Salão Trindade nos dias 18 e 21.
38
É
possível, no entanto, que tenham havido outros concertos anteriormente, como deixa a entender a crítica
portuguesa:
Os três afamados artistas foram muito aplaudidos e com perfeita justiça, pois são
realmente de primeira ordem. Wolff é um professor corretíssimo, um violinista que
37
A respeito dessa relação musicistas-casamentos, Freire e Portela comentam: “apesar dessas visões
restritivas ao potencial da mulher, os salões do século XIX foram um espaço importante de atuação para elas
como intérpretes, pois serviam às famílias mais abastadas para apresentar suas filhas à sociedade, em meio
a contatos sociais e políticos. Nos salões, a mulher assumiu o papel de intermediação entre relações e
acordos políticos, alianças, compromissos de casamentos. Coube a ela, então, a arte de receber ou preparar
um ambiente de cordialidade e de mediar encontros importantes, o que a obrigou a se adaptar a essa nova
situação. Elas atuavam frequentemente como musicistas (geralmente como cantoras ou pianistas),
configurando, nesses espaços, a sobreposição de aspectos públicos e privados” (2013, 284).
38
1886. "Artistas Notáveis". Mercantil (RJ), 17 de abril, 1.
11
Reis, Adonhiran; Berbert, Bruna Caroline de Souza; Oliveira, Agles Vieira de. 2021. “Vida e carreira da violinista Virgínia Sinay:
uma análise da grande turnê Sinay-Wolff de 1886 Per Musi no. 41, General Topics: 1-28. e214123. DOI 10.35699/2317-6377.2021.35780
entusiasmou o público, e Virgínia Sinay no violino, e sua irMathilde como pianista
justificaram plenamente e magistralmente a ruidosa fama de que vinham precedidas
(grifo nosso).
39
A Gazeta de Notícias (Rio de Janeiro, 01 de março de 1886, 2) deixa claro que outros concertos foram
organizados em Paris, cidade base dos artistas, antes de iniciarem a viagem para Portugal e para o Brasil.
Além de outros concertos em Lisboa, os artistas também se apresentaram na cidade do Porto,
40
antes de
embarcar para o Rio de Janeiro em março daquele ano. Diversas críticas elogiosas aos concertos portugueses
foram publicadas, e um grande número delas foram reproduzidas em periódicos brasileiros antes da chegada
dos artistas no Brasil talvez, um indício de que Mendel Sinay estaria encaminhando estas publicações a
jornalistas brasileiros.
41
Os músicos chegaram ao Brasil no dia 08 de abril de 1886, a bordo do paquete Niger, vindo de Marselha.
42
O primeiro concerto em terras brasileiras se deu na cidade de Petrópolis, no dia 30 de abril, no salão do
Hotel Bragança. A atuação de Virgínia foi elogiada, iniciando o concerto com a Sonata a Kreutzer de L. v.
Beethoven, a Légende de H. Wieniawski, Airs Variés de H. Vieuxtemps, e Fantasia de Faust, de D. Alard:
“nunca, até o presente, ouvindo violinistas notáveis, experimentamos sensações superiores às que nos
abalaram, ao ouvir o violino da Sra. Sinay”.
43
Em seguida, cantou a Ave-Maria de Gounod.
44
Ainda que muito
elogiada ao violino, sua atuação cantando não causou a mesma impressão: “queremos crer que a distinta
violinista apenas tencionou, cantando, variar um pouco o seu programa”.
45
Ato contínuo, Mathilde
apresentou um repertório solo para piano, antecedendo a parte final do concerto a cargo de Wolff, que era
constituída por peças para violino e piano ou duo de violinos com piano (em que tocava com as irmãs Sinay).
Destacando a pouca idade de Mathilde (ponto em comum de todas as resenhas da turnê), o crítico afirma
que “tantos pianos temos ouvido e nunca um outro tanto nos agradou! O instrumento traduzia a vontade
de Mathilde”. Já Wolff, mais experiente, “não era um jovem violinista empunhando um violino, era um ser
superior a um simples aceno impondo sua superioridade”. Nesta primeira crítica,
46
já transparece um
tratamento diferenciado entre Wolff, o “ser superior”, e Virgínia, que reunia “aos mais corretos preceitos da
arte o sentimento delicado da mulher”. Este tipo de diferenciação entre os gêneros é uma constante em
quase todas as críticas às vezes de forma velada, às vezes de forma explícita e será objeto da última
seção deste artigo.
39
1886. "Ecos dos bastidores". Correio da manhã (Portugal), 23 de fevereiro, 3.
40
1886. "Theatros e...". Gazeta de Notícias (RJ), 21 de março, 2.
41
1886. "Artistas brasileiras". A Evolução (RJ), 24 de fevereiro, 2; 1886. Gazeta de Notícias (RJ), 01 de março,
2; 1886. O Paiz (RJ), 08 de março, 2; 1886. Gazeta de Notícias (RJ), 21 de março, 2; 1886. Pacotilha (MA), 07
de abril, 2; 1886. "Paraenses distintas". A Constituição (PA), 11 de abril, 2; 1886. "Artistas brasileiros". Jornal
do Recife (PE), 16 de abril, 2; 1886. "Artistas Notáveis". Mercantil (RJ), 17 de abril, 1.
42
1886. "Diversões". O Paiz (RJ), 09 de abril, 2.
43
1886. "Diversões". O Paiz (RJ), 02 de maio, 2.
44
De acordo com o jornal A Federação, Virginia era mezzo-soprano. 1886. "O concerto de ontem. A
Federação (RS), 26 de julho, 2.
45
1886. "Diversões". O Paiz (RJ), 02 de maio, 2.
46
1886. "Artistas Notáveis". Mercantil (RJ), 05 de maio, 2.
12
Reis, Adonhiran; Berbert, Bruna Caroline de Souza; Oliveira, Agles Vieira de. 2021. “Vida e carreira da violinista Virgínia Sinay:
uma análise da grande turnê Sinay-Wolff de 1886 Per Musi no. 41, General Topics: 1-28. e214123. DOI 10.35699/2317-6377.2021.35780
Hospedados no próprio Hotel Bragança, ali se apresentaram novamente no dia 12 de maio, com a sala
“completamente cheia”.
47
Na plateia, a família imperial, incluindo o Imperador D. Pedro II, a Imperatriz e as
Altezas Imperiais. De acordo com o Mercantil, este segundo concerto se deu a pedido da população, após o
grande sucesso do primeiro.
48
Esta segunda apresentação também foi exitosa, com “Virgínia sublime no
violino e Mathilde divina no piano”.
49
De Petrópolis, seguiram em direção à capital da Corte (Rio de Janeiro), para tocar no Imperial Theatro D.
Pedro II no dia 19 de maio. Na ocasião, a ópera Fra Diavolo de Daniel Auber (1782 - 1871) foi apresentada, e
nos intervalos entre os três atos, o trio Sinay-Wolff tocou diversas obras, com acompanhamento de
orquestra.
Figura 3 Anúncio do concerto no Imperial Theatro D. Pedro Segundo. Fonte: 1886. Jornal O Paiz, de 19 de maio, 4
Em um teatro com acústica desfavorável e tão próprio para concertos como uma igreja para espetáculos
de ilusionismo, ou uma guarita de sentinela para exercícios de ginástica”, o trio Sinay-Wolff obteve aplausos
do público, que, no entanto, compareceu em pequeno número. O autor desta resenha,
50
o violinista Robert
Jope Kinsman Benjamin
51
(um dos poucos a assinar suas críticas), destaca a elegância e a clareza técnica de
Virgínia, embora considere que “ela abuse um tanto do vibrato e do glissando, mas essas são qualidades que
pertencem essencialmente à escola francesa, e embora, quando sobrecarregadas possam trazer certa
monotonia de colorido, todavia passam hoje sem censura”. Já o crítico da Gazeta de Notícias de 21 de maio
47
1886. "Virginia e Mathilde Sinay". Diário de Notícias (RJ), 14 de maio, 2.
48
1886. Mercantil (RJ), 12 de maio, 1.
49
1886. "Concerto Sinay-Wolff". O Mercantil (RJ), 15 de maio, 1.
50
Kinsman, Benjamin. 1886. "Folhetim". Diário de Notícias (RJ), 21 de maio, 1.
51
Fundador do Clube Beethoven no Rio de Janeiro, em 1882 (Pereira, 2013, 3).
13
Reis, Adonhiran; Berbert, Bruna Caroline de Souza; Oliveira, Agles Vieira de. 2021. “Vida e carreira da violinista Virgínia Sinay:
uma análise da grande turnê Sinay-Wolff de 1886 Per Musi no. 41, General Topics: 1-28. e214123. DOI 10.35699/2317-6377.2021.35780
(2) salienta que ainda que houvesse um escasso público, este era composto pela “fina flor do diletantismo”,
uma vez que as irmãs Sinay já eram conhecidas por seus concertos em Petrópolis. Lá, foram ouvidas pela
elite, “a mesma que pôde furtar-se aos rigores do verão e às insídias da febre amarela”. Para ele, o
espectador não consegue distinguir quais das duas irmãs é a mais completa e frisa que Mathilde lutou
admiravelmente contra as precárias condições locais, com um piano mal colocado, que o podia abrir a
tampa (pois estava quebrada), e sem direito à um banco apropriado, tocando sobre uma cadeira com uma
almofada por cima. Além disso, a atuação da orquestra foi bastante criticada em seu papel de
acompanhamento a Mathilde no decorrer do Concerto em Sol Menor de Mendelssohn:
Não lhe economizamos elogios, aplaudindo-a com toda a satisfação e notamos, sobretudo
a calma e coragem com que lutou com a orquestra, que fez tudo para estragar o concerto,
sem consegui-lo.
Os violinos a vacilarem, o contrabaixo embrenhando-se pela pauta do violoncelo, no
andante o timpanista perdido, o allegro final aos trambolhões e ainda assim, com todas
estas contrariedades devidas à inexperiência de um regente obrigado a desempenhar a
maior das dificuldades do seu cargo acompanhar um concertista ainda assim,
dizíamos, a Sra. D. Mathilde mostrou-se de uma superioridade a toda prova, revelando-se
uma pianista de merecimento indiscutível.
52
Após a estreia na capital, os artistas se direcionaram à São Paulo, para dois concertos em matinê no
Congresso Gymnastico Português (antigo Theatro Provisório), realizados nos dias 30 de maio e 03 de junho
de 1886, em que foram “ruidosamente aplaudidos”
53
O concerto que seria realizado em Campinas foi
cancelado. Após estes concertos, ao que tudo indica, a família Sinay e Wolff partiram para o sul do país. Em
julho, ofereceram quatro concertos (nos dias 13
54
, 22
55
, 24
56
e 25
57
), todos em Porto Alegre:
Constituíram, realmente, uma revelação para Porto Alegre os quatro recitais de Wolff e
das irmãs Sinay. O nosso bom público que, em matéria de teatro, se encontrava ainda tão
aferrado ao melodrama, não se achava, em matéria de música, menos aferrado a certos
programas que estavam a exigir uma revisão oportuna e proveitosa. Os três recitalistas
lançaram aqui a semente dessa revisão, mostrando que não de melodias assobiáveis
vive o homem…” (Salles 2016, 534, grifo do autor).
De acordo com o Correio Paulistano
58
, os artistas também teriam se apresentado em julho na capital da
província de Santa Catarina, Desterro,
59
mas não localizamos registros mais precisos. Salles (2016, 534) e o
52
1886. "Concerto Wolff e Sinay". O Paiz (RJ), 21 de maio, 2-3.
53
1886. "Concerto Sinay-Wolff". Correio Paulistano (SP), 01 de junho, 1.
54
Concerto realizado no Teatro São Pedro. 1886. A Federação (RS), 13 de julho, 3.
55
Concerto realizado no Teatro São Pedro. 1886. A Federação (RS), 21 de julho, 3.
56
Concerto realizado no Salão da Bailante, série da Soirée Porto Alegrense. 1886. A Federação (RS), 22 de
julho, 3.
57
Concerto realizado no Salão da Bailante, série da Soirée Porto Alegrense. 1886. A Federação (RS), 24 de
julho, 3.
58
1886. Correio Paulistano (SP), 20 de julho, 2.
59
Atual Florianópolis.
14
Reis, Adonhiran; Berbert, Bruna Caroline de Souza; Oliveira, Agles Vieira de. 2021. “Vida e carreira da violinista Virgínia Sinay:
uma análise da grande turnê Sinay-Wolff de 1886 Per Musi no. 41, General Topics: 1-28. e214123. DOI 10.35699/2317-6377.2021.35780
Jornal do Recife
60
afirmam que antes de retornarem ao Rio de Janeiro, os artistas teriam se apresentado em
Buenos Aires e Montevidéu, porém não encontramos informações mais detalhadas sobre estes eventos.
Sabe-se, contudo, que no dia 05 de setembro eles efetivamente atracaram no porto do Rio de Janeiro a
bordo do paquete Senegal, vindos de Buenos Aires.
61
De volta ao Rio de Janeiro, houve pelo menos mais duas apresentações: uma no Imperial Conservatório de
Música e outra no Clube Beethoven. Ainda que o Jornal do Commercio
62
tenha anunciado que o trio Sinay-
Wolff ofereceria dois concertos no Conservatório, localizamos anúncios e críticas relativos a somente um
deles, realizado no dia 21 de setembro. E de acordo com os anúncios dos jornais, este evento seria
novamente honrado com as “presenças de SS. MM. e AA. Imperiais” (Suas Majestades e Altezas Imperiais)
63
,
o que evidencia que o concerto de maio, em Petrópolis, teria agradado à augusta família. Sobre o concerto
realizado no Conservatório, Guanabarino afirma que Virgínia, nestes quatro meses de intervalo, desde que
a assistiu pela última vez, “operou sensível melhora nas arcadas e adquiriu mais volume de sons da quarta
corda. O sentimento com que vibra as melodias plangentes do seu violino cada vez mais nos impressiona”.
Em seguida, afirma que Virgínia é a violinista que mais o tem marcado “no gênero sentimental, assim como
Wolff é o violinista de maior bravura” que tem ouvido, impassível diante das dificuldades técnicas que
surgem, porém sem “esse canto angélico, vaporoso e quase etéreo” de Virgínia.
64
O violinista italiano Vicenzo Cernicchiaro afirma que, em setembro, os artistas teriam se apresentado no
Club Beethoven, sem precisar uma data exata. Cernicchiaro é o único crítico destoante na turnê. Ainda que
elogie enfaticamente Wolff como “excepcionalmente talentoso”,
65
ele mantém uma certa frieza em relação
à Virgínia:
Merece ser mencionada sua colega e companheira de excursão artística, Virginia Sinay,
paraense, que estudou em Paris, na turma do Professor Massart, no Conservatório daquela
cidade. Demonstrou uma performance correta, e ainda que não seja uma violinista de elite,
faz-se necessário reconhecer a honra e o orgulho de suas boas aptidões musicais,
exemplificadas através da serena facilidade com que dominou as maiores dificuldades
técnicas (Cernicchiaro, 1926, 483, tradução nossa).
66
60
1886. Jornal do Recife (PE), 07 de outubro, 2.
61
1886. Jornal do Commercio (RJ), 07 de setembro, 3; 1886. O Paiz (RJ), 06 de setembro, 3; 1886. Diário de
Notícias (RJ), 06 de setembro, 1.
62
1886. "Notícias de várias procedências". Jornal do Commercio (RJ), 07 de setembro, 3.
63
1886. O Paiz (RJ), 21 de setembro, 4.
64
Guanabarino, Oscar. 1886. "Concerto Wolff-Sinay". O Paiz (RJ), 23 de setembro, 2.
65
No original: “un violinista di eccezionale talento”.
66
No original: Merita un cenno anche la sua collega e compagna di escursione artistica Virginia Sinay,
paraense, che fece i suoi studî a Parigi, nella classe del professor Massart, al Conservatorio di detta città.
Possedeva una esecuzione corretta, ma senza essere una violinista elettissima, bisogna concedere l'onore e
il vanto delle buone attitudini musicali, rivelati con serena facilità nelle maggiori difficoltà tecniche.”
(Cernicchiaro, 1926, 483)
15
Reis, Adonhiran; Berbert, Bruna Caroline de Souza; Oliveira, Agles Vieira de. 2021. “Vida e carreira da violinista Virgínia Sinay:
uma análise da grande turnê Sinay-Wolff de 1886 Per Musi no. 41, General Topics: 1-28. e214123. DOI 10.35699/2317-6377.2021.35780
Mais impressionado por Mathilde, Cernicchiaro destacou-lhe a “clareza e delicadeza de sua técnica, e a bela
e admirável assimilação de um estilo dos mais notáveis. Estas eram as qualidades desta jovem artista,
destinada ao mais brilhante futuro” (1926, 423, tradução nossa).
67
Contudo, é muito improvável que as irmãs Sinay tenham se apresentado no Clube Beethoven. Johannes
Wolff realizou um recital no local no dia 22 de setembro, acompanhado por Arthur Napoleão, apresentação
que foi divulgada nos jornais como o 105o concerto do Clube,
68
que tinha o bito de numerar seus eventos.
O 104o concerto foi realizado no dia 03 de setembro,
69
quando os artistas ainda se encontravam em Buenos
Aires, e o 106o somente foi empreendido em 17 de dezembro,
70
após uma série de reformas na sede do
clube. Levantamos, portanto, duas hipóteses: Cernicchiaro pode ter se confundido ao descrever o concerto
ocorrido no Conservatório; ou então não estava presente quando as irmãs Sinay tocaram assistiu apenas
ao Wolff, e baseou sua resenha sobre Virgínia e Mathilde nos relatos de terceiros. Contudo, de se
considerar, qualquer que seja a opção, que Cernicchiaro escreveu seu livro por volta de 1925, na Itália,
após muitas décadas dos fatos. Embora de fundamental importância para um retrato da vida musical dessa
época, por seu autor ter participado da efervescente atividade artística brasileira na segunda metade do
século XIX, seu livro muitas vezes não observa um alto rigor quanto à exatidão dos acontecimentos e, por
isso, está suscetível a imprecisões.
Depois das apresentações no Rio de Janeiro, os artistas seguem para Recife em outubro, tocando nos dias
08
71
e 13
72
deste mês no Theatro Santa Isabel. Os concertos foram amplamente divulgados nos jornais,
trazendo relatos do sucesso obtido em outras cidades. Não por acaso, o público compareceu numeroso,
atirando “em cena muitas flores e chapéus”.
73
Pela primeira vez, a crítica do Jornal do Recife (PE), apesar dos
elogios, aponta pequenas imperfeições em Wolff, incluindo a ideia do vibrato contínuo (aqui chamado de
notas tremidas) uma técnica interpretativa ainda estranha ao público brasileiro:
O Sr. Wolff é incontestavelmente uma notabilidade, e se alguma coisa poderemos
aconselhar-lhe seria de abster-se de acompanhar com a cabeça o movimento do arco
quando ataca com energia as cordas do violino; seria não abusar das notas tremidas.
Apaixonado no canto largo, surpreendente nos traços de bravura, sempre correto na
interpretação dos mestres, achamos que o Sr. Wolff deve desprender-se desses pequenos
senões e mostrar-se tal qual é, o artista que se impõe simplesmente pelo seu talento.
74
Já a atuação de Virgínia é destacada positivamente na mesma crítica, com exceção do canto: “Pareceu-nos
possuir uma voz pouco volumosa e que não es ainda bem igual e flexível. No entanto, como estreia,
67
No original: la bella e mirabile assimilazione di uno stile dei primarchevoli. Tali erano le qualità di questa
giovane artista, destinata al più brillante avvenire.(Cernicchiaro, 1926, 423)
68
1886. "Club Beethoven". O Rio de Janeiro (RJ), 25 de setembro, 3; 1886. "Club Beethoven". Diário de
Notícias (RJ), 22 de setembro, 2.
69
1886. "Club Beethoven". Diário de Notícias (RJ), 03 de setembro, 7.
70
1886. "Club Beethoven". Diário de Notícias (RJ), 17 de dezembro, 1.
71
1886. Jornal do Recife (PE), 07 de outubro, 3.
72
1886. Jornal do Recife (PE), 10 de outubro, 3.
73
1886. Jornal do Recife (PE), 10 de outubro, 1.
74
1886. Jornal do Recife (PE), 15 de outubro, 2.
16
Reis, Adonhiran; Berbert, Bruna Caroline de Souza; Oliveira, Agles Vieira de. 2021. “Vida e carreira da violinista Virgínia Sinay:
uma análise da grande turnê Sinay-Wolff de 1886 Per Musi no. 41, General Topics: 1-28. e214123. DOI 10.35699/2317-6377.2021.35780
agradou-nos e estamos certos de que o estudo corrigirá as faltas que notamos.” Os concertos produzem tal
impressão no blico, que récitas extras são organizadas. Um grupo de “Admiradores e Dilettantes” chega a
publicar uma carta no jornal, pedindo mais concertos após o dia 13 de outubro:
Tendo talvez de demorar mais alguns dias, poderá dar mais um concerto, ou mesmo
adiando sua viagem para o norte para o outro vapor, o que muito esperamos que aconteça.
E se na volta do norte passar por aqui, ainda desejamos ouvi-lo e ouvi-las sempre nos seus
grandiosos e deleitáveis concertos!
75
Os pedidos são atendidos e novos concertos foram organizados nos dias 18
76
e 20
77
do mesmo mês. O
público pernambucano se encanta com as irmãs Sinay, expressando-se com críticas não assinadas e até
poemas anônimos que foram enviados aos jornais, louvando suas qualidades:
São um prodígio d’arte as vibrações sonoras
destas irmãs em tudo, em gênio e formosura!
Uma faz do piano um mundo de ternura;
outra do violino um despertar de auroras.
Ouvi-las é sentir a flor do sentimento
desabrochar ridente assim como uma rosa,
n’alegre primavera, elas, coisa assombrosa,
ao coração dão vida, asas ao pensamento!
Dir-se-á que aquelas mãos esguias, pequeninas,
alvas como o jasmin e finas e aveludadas,
foram feitas assim por fadas encantadas
para arrancar-nos d’alma as sensações divinas!
Salve! Portentos d’arte, irmãs da alvorada!
Que aos rouxinóis roubam a doce melodia!
Salve! que fulgurante a deusa d’harmonia
põe-vos aos pés do gênio as flores conquistadas.
78
Em 20 de novembro, elas desembarcam em sua terra natal, Belém, para uma série de concertos.
79
O Diário
de Notícias do Pará (17 de outubro, 2) informou que os artistas viriam a Belém no dia 27 de outubro, porém
o mesmo periódico noticia sua chegada à Belém somente no dia 20 de novembro. Não sabemos se
permaneceram em Recife por todo este tempo, ou se apresentaram-se em alguma outra localidade. São
75
1886. Jornal do Recife (PE), 19 de outubro, 2.
76
1886. Jornal do Recife (PE), 17 de outubro, 3.
77
1886. Jornal do Recife (PE), 19 de outubro, 3.
78
1886. Jornal do Recife (PE), 14 de outubro, 2. O mesmo jornal, na edição do dia 20 de outubro, reproduz
uma outra poesia, também enviada por um admirador anônimo. 1886. Anônimo. "Às Irmãs Virgínia e
Mathilde Sinay". Jornal do Recife (PE), 20 de outubro, 2.
79
1886. "As meninas Sinay". O Diário de Notícias (PA), 17 de novembro, 2.
17
Reis, Adonhiran; Berbert, Bruna Caroline de Souza; Oliveira, Agles Vieira de. 2021. “Vida e carreira da violinista Virgínia Sinay:
uma análise da grande turnê Sinay-Wolff de 1886 Per Musi no. 41, General Topics: 1-28. e214123. DOI 10.35699/2317-6377.2021.35780
organizados diversos concertos em Belém mais especificamente, nos dias 21
80
, 23
81
e 29
82
de novembro
e nos dias 3
83
, 6
84
, 10
85
de dezembro. A partir daí, as irmãs Sinay continuaram se apresentando em Belém
sem a presença de Wolff, que parece ter retornado à Europa, marcando assim o final oficial da turnê Irmãs
Sinay-Wolff. Virgínia e Mathilde permaneceram em Belém por dois meses, tocando em eventos beneficentes
(por vezes com acompanhamento de orquestra), possivelmente aproveitando um maior contato familiar,
antes de retornarem à Europa. Ainda sobre esta viagem, as irmãs organizaram concertos de despedida no
Theatro da Paz nos dias 20
86
, 23
87
, e 24
88
de janeiro de 1887. No dia 03 de fevereiro, Mendel Sinay e suas
filhas embarcaram para Paris a bordo do vapor Manauense.
89
E assim foi encerrada a longa turnê de um ano,
coroada de sucessos e elogios em todos os palcos em que as irmãs Sinay se apresentaram, com críticas quase
unânimes destacando os méritos de Virgínia ao violino e de sua irmã Mathilde ao piano.
O repertório apresentado pelo trio durante a turnê era majoritariamente composto por obras
contemporâneas de sua época, com destaque para a música de salão. O estilo predominante, portanto, era
romântico, com peças que associam um notável lirismo ao virtuosismo técnico. O Quadro 1, disposto a
seguir, sintetiza as obras mais representativas tocadas pelos intérpretes, separadas por instrumento:
Quadro 1 Obras representativas presentes nos programas de concerto da turnê Sinay-Wolff
90
Piano
Mathilde
Sinay
Felix Mendelssohn
Frédéric Chopin
Ludwig van Beethoven
Louis Gottschalk
80
Concerto realizado na Sociedade Beneficiente Mecânica Paraense. 1886. Jornal Diário de Notícias (PA), 23
de novembro, 2.
81
Concerto realizado no Theatro da Paz. 1886. Diário de Notícias (PA), 23 de novembro, 3.
82
Concerto realizado no Theatro da Paz. 1886. Diário de Notícias (PA), 26 de novembro, 1.
83
Concerto realizado no Theatro da Paz. 1886. Diário de Notícias (PA), 01 de dezembro, 1.
84
Concerto realizado no Theatro da Paz. 1886. Diário de Notícias (PA), 04 de dezembro, 1.
85
Concerto realizado no Theatro da Paz. 1886. Diário de Notícias (PA), 10 de dezembro, 1.
86
1887. Diário de Notícias (PA), 18 de janeiro, 4.
87
1887. Diário de Notícias (PA), 19 de janeiro, 4.
88
1887. Diário de Notícias (PA), 21 de janeiro, 1.
89
1887. Diário de Notícias (PA), 02 de fevereiro, 3; 1887. Diário de Notícias (PA), 04 de fevereiro, 2.
90
Observe-se que Virgínia Sinay e Johannes Wolff alternavam a performance de uma mesma obra entre
concertos, como a Ballade et polonaise, Op. 38, de H. Vieuxtemps, a Berceuse, op. 16, de Fauré, a Sonata nº
9, op. 47, em Lá Maior (1804), dedicada a Kreutzer, de L. v. Beethoven e, possivelmente, a Mazurka op. 19,
de H. Wieniawski. Uma hipótese seria talvez a possibilidade para os violinistas apresentarem um repertório
mais variado, sem para tanto sobrecarregar Mathilde Sinay, que deveria acompanhar a todos, além de
também interpretar um repertório para piano solo.
91
Nos programas de concerto não constam maiores detalhes quanto ao opus nem quanto às peças que
foram executadas por Mathilde.
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Reis, Adonhiran; Berbert, Bruna Caroline de Souza; Oliveira, Agles Vieira de. 2021. “Vida e carreira da violinista Virgínia Sinay:
uma análise da grande turnê Sinay-Wolff de 1886 Per Musi no. 41, General Topics: 1-28. e214123. DOI 10.35699/2317-6377.2021.35780
Franz Liszt
Arthur Napoleão
Benjamin Godard’s
Anton Rubinstein
Violino
Virgínia
Sinay
Henryk Wieniawski
Henri Vieuxtemps
Charles-Auguste de Bériot
Pablo de Sarasate
Gabriel Fauré
Ludwig van Beethoven
J. Delphin Alard
Johannes
Wolff
Henryk Wieniawski
Henri Vieuxtemps
Heinrich Wilhelm Ernst
Ludwig van Beethoven
Gabriel Fauré
Johann Sebastian Bach
Johannes Brahms
Nota-se que Virgínia Sinay e Johannes Wolff valorizavam especialmente as obras de compositores-violinistas
(a exemplo de Wieniawski, Vieuxtemps, Bériot, Sarasate, Alard e Ernst), que caracteristicamente exploram
uma grande diversidade de técnicas do instrumento em suas composições muitas cordas duplas e
acordes, golpes de arco variados (como staccato preso e volante, spiccato, martelé, ricochet, sautillé,
grandes legatos, etc.), linhas melódicas extensas sobre uma corda, pizzicati de mão esquerda, harmônicos
naturais e artificiais em um relativamente curto espaço de tempo. Tais técnicas, aplicadas tanto em
92
Pelos programas de concerto dispostos nos jornais não é possível saber qual (ou quais) dança(s) foram
executadas por Virgínia Sinay.
93
Não são especificados nos programas qual fuga ou dança húngara executadas por Wolff nos concertos.
19
Reis, Adonhiran; Berbert, Bruna Caroline de Souza; Oliveira, Agles Vieira de. 2021. “Vida e carreira da violinista Virgínia Sinay:
uma análise da grande turnê Sinay-Wolff de 1886 Per Musi no. 41, General Topics: 1-28. e214123. DOI 10.35699/2317-6377.2021.35780
andamentos lentos quanto rápidos, evidenciam um virtuosismo que, combinado com o lirismo inspirado no
bel canto italiano, remete aos ideais estéticos da Escola Franco-Belga. Essa influência do canto é percebida
principalmente na concepção melódica das obras, com linhas bastante cadenciadas, ornamentadas, que em
alguns momentos lembram recitativos e árias, sendo, em alguns casos, baseadas de fato em temas de
óperas.
4. A trajetória após a turnê: cenários biográficos possíveis
Após o término da turnê, as informações sobre Virgínia se tornam mais escassas, levantando para a pesquisa
mais conjecturas e hipóteses do que respostas definitivas.
94
Escrever a história de mulheres deste período
não é uma tarefa fácil e isso se dá, principalmente, pela exclusão desses sujeitos das narrativas e das fontes
históricas. Marina Amorim, explica:
Essa exclusão [ocorre], por um lado, ao nível do relato, e, por outro, ao nível das fontes,
base do trabalho historiográfico. A narrativa histórica tradicional reserva pouco espaço às
mulheres, privilegiando a política e a economia, onde elas pouco apareciam e continuam
aparecendo minoritariamente. Essa ausência é ampliada pela deficiência dos registros
primários públicos. Como o ofício de registrar foi, por muito tempo, também obra
exclusivamente masculina, existe pouco material, nos arquivos públicos, que dizem
respeito às mulheres, pois, mais uma vez, é a política e a economia o interesse central.
(Amorim 2003, 220)
Após seu retorno à França, as irmãs Sinay retomam seus habituais concertos beneficentes, dividindo o palco
com diversos outros artistas,
95
porém em frequência menor do que registrado antes do périplo sul-
americano. Uma notável exceção seria uma nova apresentação para o Imperador em 1887, em Paris, durante
a última das viagens de D. Pedro II à Europa antes do exílio, sendo “muito aplaudidas”.
96
Um acontecimento que parece demonstrar este arrefecimento em suas carreiras é o fato de Mendel Sinay
partir para a França em 1888, com o intuito de buscar as filhas, como anuncia o Diário de Notícias (PA): “O
sr. Sinay seguiu para a Europa, a fim de trazer daquele centro de civilização as suas jovens filhas, Virgínia e
Mathilde Sinay, nossas distintas conterrâneas, no intuito de fundar aqui um conservatório musical”. A notícia
segue destacando o privilégio da sociedade paraense, por ter em definitivo entre eles as irmãs, que “tão
brilhante glória têm conquistado no mundo civilizado”.
97
Ante a falta de perspectivas para suas filhas na
França, Mendel Sinay pode ter tentado aproveitar os louros ainda frescos da turnê encerrada no ano anterior
para melhor estabelecer suas filhas em Belém.
94
“As dificuldades de penetrar no passado feminino têm levado os historiadores a lançarem mão da
criatividade, na busca de pistas que lhes permitam transpor o silêncio e a invisibilidade que perdurou por
tão longo tempo neste terreno. [...]. Enfim, acompanhando a renovação teórica dos estudos históricos,
refinaram-se os métodos, as técnicas, desenvolvendo-se a inventividade com relação às fontes, o que tem
possibilitado maior intimidade com aqueles segmentos e a ampliação dos horizontes da história.” (Soihet
1997).
95
1888. La France (França), 12 de fevereiro, 4; 1888. La France (França), 13 de fevereiro, 4.
96
1887. "Gazetilha". Jornal do Commercio (RJ), 09 de novembro, 2.
97
1888. "Conservatório Musical". Diário de Notícias (PA), 03 de junho, 2.
20
Reis, Adonhiran; Berbert, Bruna Caroline de Souza; Oliveira, Agles Vieira de. 2021. “Vida e carreira da violinista Virgínia Sinay:
uma análise da grande turnê Sinay-Wolff de 1886 Per Musi no. 41, General Topics: 1-28. e214123. DOI 10.35699/2317-6377.2021.35780
Uma outra causa pode estar ligada a este retorno: a família chegou ao Brasil em 28 de agosto de 1890, e na
lista de passageiros desembarcados do vapor Amazonense, além da família Sinay, está incluído o nome de
Lazare Bloch, futuro marido de Virgínia Sinay.
98
Menos de dois meses depois, já começam a surgir anúncios
de concertos com o nome Virgínia Sinay Bloch,
99
e em seguida os jornais passam a chamá-la, definitivamente,
de Virgínia Bloch. De acordo com Salles (2016, 535), Lazare (em certos periódicos Lazar ou Lazaro) era um
francês israelita residente no Pará. Atuando no mesmo ramo que Mendel Sinay, Lazare teve com ele
desentendimentos e chegou a processar o sogro pouco tempo depois do casamento.
100
Ainda que Virgínia tenha mantido uma certa atividade musical em Belém, com diversos concertos, o
registros do Conservatório prometido por Mendel Sinay. Foi preciso esperar até 1895 ano em que ocorreu
a inauguração do Conservatório de Música da Academia de Bellas Artes do Pará para que Virgínia Bloch
fosse nomeada professora de violino e canto da instituição (Salles 2016, 535). Contudo, em 1900, com a
transformação da Academia em Conservatório Carlos Gomes, Luigi Sarti é efetivado como professor de
violino, e Virginia está ausente desta lista.
101
Além disso,
Em 1908, Belém começava a sofrer os danos causados pela desvalorização da borracha no
mercado internacional e, ao mesmo tempo, estava na governança do estado o advogado
Augusto Montenegro, que, sob a justificativa de contenção de despesas, extinguiu o
Instituto Carlos Gomes. Foi um golpe muito duro para os alunos e professores. [...] Mesmo
com a extinção do conservatório, os professores de música que ficaram em Belém, depois
do êxodo provocado pelo crash da borracha, no início da segunda década do século XX,
resistiram e recriaram o Instituto Carlos Gomes, em 1929 (Arraes 2021, 269-279).
É provável que Virgínia tenha permanecido dando aulas particulares em sua casa até a recriação do Instituto,
que, de acordo com Salles (2016, 535), nesta instituição Virgínia atuou e “formou com Luiz Sarti e Mamede
Costa os mais ilustres violinistas e professores deste estabelecimento”.
Não foi possível estabelecer, a partir das fontes pesquisadas, o ano de falecimento de Virgínia Sinay a
última informação que encontramos ao seu respeito é fornecida pelo jornal O Pará (PA) de 21 de setembro
de 1899, que noticia o retorno de “Lazare Bloch e sua gentil esposa d. Virginia Bloch, nossa inteligente
conterrânea e exímia violinista” da Europa.
102
98
1890. "Passageiros". Diário de Notícias (PA), 29 de agosto, 1.
99
1890. "Theatro da Paz". A República (PA), 01 de outubro, 2.
100
De acordo com o Diário de Notícias: “Intimado a responder aos termos de uma ação de perdas e danos,
tem de comparecer hoje Mendel Sinay [...] perante o honrado sr. desembargador juiz de direito da 1ª vara
cível, à requerimento de Lazare Bloch, por àquele imensamente prejudicado em seus interesses. É uma causa
da máxima importância, e em que o sr. Bloch se forçado a exibir documentos em juízo, altamente
comprometedores da posição do sr. Mendel Sinay.” 1890. "Causa importante". Diário de Notícias (PA), 27
de novembro, 3.
101
1900. O Pa (PA), 08 de fevereiro, 2.
102
É provável que muitas informações sobre Virgínia Sinay estejam disponíveis nos Arquivos Públicos do
Estado do Pará. No entanto, eles não estão digitalizados, e como esta pesquisa foi desenvolvida durante a
pandemia de COVID-19, infelizmente não foi possível realizar a pesquisa in loco.
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Reis, Adonhiran; Berbert, Bruna Caroline de Souza; Oliveira, Agles Vieira de. 2021. “Vida e carreira da violinista Virgínia Sinay:
uma análise da grande turnê Sinay-Wolff de 1886 Per Musi no. 41, General Topics: 1-28. e214123. DOI 10.35699/2317-6377.2021.35780
Mathilde permaneceu poucos anos no Brasil, anunciando insistentemente aulas particulares de piano e
solfejo em jornais,
103
e tocando em eventuais concertos como acompanhadora.
104
Em 1892 retornou para a
França, e seus pertences (incluindo seu piano, estantes de música, camas, cômodas, tapetes e diversos itens)
foram vendidos em leilão.
105
Salles (2016, 534) afirma que Mathilde “casou muito cedo, renunciando à vida
de artista”. A última notícia que encontramos de Mathilde Sinay é de 1942, em uma Paris ocupada pelos
nazistas:
O Senhor Robert MICHEL, negociante, e a Sra. Mathilde SINAY, sua esposa, residentes
juntos em Paris, avenue de Clichy, n 107, venderam à Srta. Marie Louise CLEMENCIN,
empregada de comércio, residindo em Boulogne-Billancourt (Seine), na rua Carnot,
número 43 bis, seu comércio de MODAS exercido pelo Senhor e pela Senhora MICHEL, em
Paris, avenue de Clichy, número 107. Esta venda foi submetida à aprovação do Senhor
Comissário Geral das Questões Judaicas, conforme o artigo 14 da lei do 22 de julho de
1941.
106
5. O sexismo nas críticas a Virgínia Sinay
Ao analisarmos a trajetória de Virgínia Sinay e o sucesso obtido em seus concertos, é inevitável cogitarmos
a respeito de sua progressiva perda de visibilidade não apenas no cenário nacional, mas igualmente em seu
estado natal. Um fator que se destaca durante todo o seu percurso, inclusive no auge de sua turnê de 1886,
é o sexismo proeminente que permeia praticamente todas as suas críticas, por vezes de maneira sutil, outras
vezes de forma explícita, retratando em vívidas cores a dificuldade de ser uma concertista mulher no final
do século XIX no Brasil, assim como a quase impossibilidade de sustentar uma carreira longeva nestes
moldes.
Quase sempre Virgínia foi elogiada por qualidades atribuídas à sua feminilidade (como sensibilidade e
delicadeza), que, de acordo com os críticos, compensaria a falta de vigor das mulheres: “Ela não possui a
grandeza de estilo de vigor de um Joachim ou de um Sarasate, qualidades que seria absurdo esperar de uma
senhora; porém compensa isso por uma extrema elegância e pureza de método e uma extrema delicadeza
103
Há anúncios, por exemplo, no jornal A República (PA), nos dias 23, 24, 28, 30 e 31 de dezembro de 1890,
e nos dias 1, 3, 4, 6 e 11 de janeiro de 1891.
104
1891. Diário de Notícias (PA), 06 de março, 3.
105
1892. "De móveis de família". A República (PA), 06 de fevereiro, 3.
106
1942. Archives commerciales de la France: journal hebdomadaire, 16 de fevereiro, 694. No original:
Monsieur Robert MICHEL, négociant, et Madame Mathilde SINAY, son épouse, demeurant ensemble à Paris,
avenue de Clichy, n
107, ont vendu à Mademoiselle Marie Louise CLEMENCIN, employée de commerce,
demeurant à Boulogne-Billancourt (Seine), rue Carnot, numéro 43 bis, le fonds de commerce de MODES,
exploité par Monsieur et Madame MICHEL, à Paris, avenue de Clichy, numéro 107. Cette vente a ésoumise
à la condition suspensive de son approbation par Monsieur le Commissaire Général aux Questions Juives,
conformément à l’article 14 de la loi du 22 juillet 1941.
22
Reis, Adonhiran; Berbert, Bruna Caroline de Souza; Oliveira, Agles Vieira de. 2021. “Vida e carreira da violinista Virgínia Sinay:
uma análise da grande turnê Sinay-Wolff de 1886 Per Musi no. 41, General Topics: 1-28. e214123. DOI 10.35699/2317-6377.2021.35780
de frasear” (grifo nosso).
107
Muitos destacam a sua “falta do vigor masculino”
108
que, quando obtido, torna-
a digna do elogio máximo atribuído por seus críticos ao afirmar que ela “toca violino como um homem… que
toque bem violino”. O mesmo autor destaca que é de conhecimento de todos que causaria uma má
impressão ver uma senhora tocar violino, mas “a elegância, o apuro de estilo, a superioridade de
merecimento de Mlle. Virginia, faz crer a quem a ouve, que o violino deveria ser o instrumento predileto das
senhoras!”
109
Esta frequente distinção de características que seriam inerentes às mulheres e aos homens é
explicada por Freire e Portela (2013, 283):
Uma grande barreira permanecia separando o mundo feminino do masculino, uma vez que
as transformações se processavam lentamente. Essas barreiras encontravam apoio nas
leis, nos costumes arraigados e até na ciência, segundo as convicções da época. Opiniões
de cientistas ajudaram a justificar e fortalecer a ideia de que a mulher deveria se manter
restrita ao lar, evitar esforços tanto físicos como mentais, que eram consideradas mais
frágeis, inferiores aos homens (grifo nosso).
Este tratamento fica ainda mais evidente com a inevitável comparação que os críticos tecem entre ela e
Wolff a todo momento. Não raro, nos deparamos com a utilização da palavra perfeição para definir o
violinista holandês, seja em relação à sua cnica ou ao seu fraseado; “o modo de tocar de Wolff possui o
cunho do artista verdadeiro e consciencioso, do homem que o culto pela sua arte faz estar sempre no nível
da verdadeira perfeição artística”.
110
Ainda que Virgínia Sinay tenha impressionado profundamente Oscar
Guanabarino, como mencionado anteriormente, ele faz questão de frisar que essa emoção se dava no
“gênero sentimental”. Ao comparar os dois artistas, Guanabarino reforça mais uma vez o estereótipo de
fragilidade e delicadeza feminina:
Como são diametralmente opostos os dois artistas! Ela desfere a melodia como quem
sonha; ele deixa-se arrebatar nas asas de uma fantasia indômita. Ao terminar os cantos
largos no fim de uma hora de meiga intimidade com a inspiração dos gênios talvez abrace
ela o seu caro instrumento; Wolff, um dia, esmagará o violino no meio de um rasgo de
transporte alucinado: a brisa perfumada das encostas floridas e o vendaval que revolve os
oceanos; o vôo gracioso da andorinha do mar bordando as flexíveis linhas das vagas e o
ímpeto da águia que desce atrás do relâmpago que lhe mostra a presa e do píncaro das
montanhas atira-se vertiginosamente nas planícies do vale; a paz e a vitória; ela insinua-se
ele impõe-se.
111
107
Crítica assinada pelo violinista Kinsman Benjamin, então presidente do Club Beethoven. Não é de se
estranhar que ele somente tenha convidado Wolff a se apresentar no clube em setembro, deixando de lado
as irmãs Sinay. Kinsman, Benjamin. 1886. "Folhetim". Diário de Notícias (RJ), 21 de maio, 1.
108
1886. "Concerto Sinay Wolff". Jornal do Recife (PE), 07 de outubro, 2. A mesma “falta de vigor” é apontada
também por outro crítico, no jornal A Federação, que afirma que “Beethoven, com todas as suas ardentes e
enormes paixões, teve uma intérprete digna; mas a larga expansão musical do grande clássico se capta
às organizações possantes, aos intérpretes severos e vigorosos” (p.2, grifo nosso). 1886. "As irmãs Sinay e
J. Wolff". A Federação (RS), 14 de julho, 2.
109
1886. "Theatros e...". Gazeta de Notícias (RJ), 21 de maio, 2.
110
1886. Jornal do Recife (PE), 07 de outubro, 2.
111
Guanabarino, Oscar. 1886. "Concerto Wolff-Sinay". O Paiz (RJ), 23 de setembro, 2.
23
Reis, Adonhiran; Berbert, Bruna Caroline de Souza; Oliveira, Agles Vieira de. 2021. “Vida e carreira da violinista Virgínia Sinay:
uma análise da grande turnê Sinay-Wolff de 1886 Per Musi no. 41, General Topics: 1-28. e214123. DOI 10.35699/2317-6377.2021.35780
Tanto Virgínia como Mathilde foram repreendidas nos jornais em diversas ocasiões, por tocarem obras não
apropriadas para as senhoras, obras essas que necessitariam uma “compleição mais robusta e natureza
ardente, o que é pouco comum nas senhoras em geral”, como a Rapsódia Húngara de Liszt para piano
112
ou
a Sonata Kreutzer de Beethoven para piano e violino, já que Beethoven, “com todas as suas ardentes e
enormes paixões” necessitava de “organizações possantes”.
113
Como explicam Freire e Portela, o público
tinha ainda uma certa dificuldade em compreender que as mulheres poderiam atuar em posições de
destaque em ambientes públicos, predominantemente masculinos:
a exposição dessas mulheres, em espaços públicos como os teatros, não era facilmente
assimilável por uma sociedade que, mesmo no início do século XX, ainda considerava a
mulher como “rainha do lar”, função essa de duplo sentido, pois, o “reinado” implicava em
grande dose de submissão aos maridos e às normas sociais, embora elas transgredissem
essas normas quando possível, de preferência de forma velada. O preço a ser pago,
contudo, era oneroso, o que certamente contribuiu para impor limites à atuação das
mulheres no mundo profissional da música (Freire e Portela 2013, 295).
Ainda quando Virgínia finalmente conquistou um espaço na docência, como professora de violino da
Academia de Bellas Artes, sua atuação foi restrita ao público feminino. Sua classe de canto também era
exclusiva para mulheres. Luigi Sarti, por outro lado, nomeado professor de violino na mesma instituição e ao
mesmo tempo que Virgínia, lecionava para ambos os sexos. Ora, como poderia uma mulher ensinar qualquer
coisa aos homens?
6. Considerações finais
No decorrer deste texto, buscamos traçar a trajetória acadêmica, profissional - e, quando possível, pessoal -
de uma exímia violinista brasileira: a paraense Virgínia Sinay Bloch, aluna de L. Massart e detentora de um
premier prix do Conservatório de Paris. Com este objetivo em mente, descrevemos uma de suas maiores
empreitadas artísticas a turnê de 1886 , que foi desenvolvida ao lado de sua irpianista, Mathilde
Sinay, e do célebre violinista holandês Johannes Wolff. Os concertos, realizados em Portugal, no Brasil, na
Argentina e no Uruguai, geraram muitos anúncios e críticas jornalísticas. Estas, por sua vez, evidenciam a
grande qualidade técnica e musical dos três artistas, destacam a excelente recepção do público que os
assistiu e expõem de forma clara os preconceitos da época, muito relacionados à concepção do que
significava ser mulher no século XIX. Mais do que isso, uma mulher que ousava tocar um instrumento e
repertório tidos como fundamentalmente masculinos, como era o caso de Virgínia Sinay.
Realizar esta pesquisa não foi uma tarefa fácil. Como afirma Michelle Perrot (2017), nos registros históricos,
as mulheres são observadas e descritas pelos homens, “que consideram normal serem seus porta-vozes” e,
dessa forma, o que conseguimos apresentar acerca de Virgínia Sinay é um relato construído a partir do que
os homens de sua época pensavam e afirmavam a seu respeito. De acordo com Rachel Soihet (1997),
112
1886. "Concerto Sinay e Wolff". Jornal do Recife (PE), 15 de outubro, 2.
113
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A escassez de vestígios acerca do passado das mulheres, produzidos por elas próprias,
constitui-se num dos grandes problemas enfrentados pelos historiadores. Em
contrapartida, encontram-se mais facilmente representações sobre a mulher que tenham
por base discursos masculinos determinando quem são as mulheres e o que devem fazer.
Daí a maior ênfase na realização de análise visando a captar o imaginário sobre as
mulheres, as normas que lhes são prescritas e até a apreensão de cenas do seu cotidiano,
embora à luz da visão masculina.
Coube-nos, portanto, imaginar e levantar hipóteses sobre vários aspectos da vida de Virgínia Sinay, desde a
sua data de nascimento, até sua atuação docente e musical após a turnê, culminando com as dúvidas acerca
de sua desconhecida e inexplorada morte.
Felizmente, nas últimas décadas houve um aumento significativo de pesquisas, em todo o mundo, com o
propósito de evidenciar a relevância das mulheres como sujeitos históricos em suas diferentes áreas de
atuação. Esta pretendeu ser uma delas. Esperamos que, cada vez mais, violinistas, cantoras, pianistas,
compositoras e tantas outras artistas brasileiras dignas de atenção sejam notadas e pesquisadas pelos
músicos e acadêmicos de nosso país. Diferentemente do que se pensava no século XIX, temos muito o que
aprender com elas.
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