Não, às vezes temos dois shows por dia. Então, nesse aspecto, eu achei essa questão do conservatório muito
interessante, porque já te prepara para o que será o trabalho, que será pesado, e raramente estaremos cem
por cento descansados. E tudo bem. Precisamos ter saúde vocal para isso.
H.T.: Você possui uma carreira notória como cantora belter e também é muito elogiada como cantora lírica.
Você diria que você se sobressai mais em alguma dessas técnicas?
B.T.: Eu acho que é muito equilibrado, mas o que acontece é que eu acabei fazendo muitos papéis mais legit,
por esse lado um pouco mais pro lírico. Eu tenho o physique da heroína trágica ou da mocinha dos musicais,
principalmente da Golden Age da Broadway. Eu acabei fazendo muito disso, tendo uma facilidade para isso,
desde sempre. O primeiro musical que fiz na vida, que foi na minha escola, eu tinha treze para catorze anos,
foi o West Side Story, e eu fiz a Maria, porque, numa escola de seiscentas pessoas, ninguém cantava um dó,
e eu abria a boca já com aquela idade e cantava um dó sustentado, por vários compassos. Era natural para
mim. Mas eu só cantava no coral; eu nunca havia cantado sozinha. E ali, eu descobri, falei: “nossa, olha, eu
tenho voz para cantar sozinha!”, e foi quando comecei a estudar mais. Então, eu tenho uma facilidade para
esse tipo de repertório e uma compreensão muito boa do estilo, de como as coisas eram construídas, por
conta da formação. De entender a origem da música, de entender também a construção dramatúrgica, de
entender a época, porque eu estudei tudo isso, mas eu acho que é muito bem equilibrado, porque, na real,
Helen, o belt é simples, se você fala no lugar certo, não tem muito erro, porque ele é uma extensão da fala.
Ele é speaking on pitch, como eles falam lá fora. É só isso. É como se você estendesse a sua voz falada um
pouco mais pro grave e um pouco mais pro agudo. Acabou. É apenas isso.
As pessoas ficam tentando inventar a roda em torno do que é o belt. Mas não tem muito o que inventar, ele
só é isso. É você falar on pitch, com ritmo. Então deveria ser natural. É claro que fisiologicamente falando,
temos pessoas que têm um pouco mais de facilidade para isso e outras que têm um pouco menos. Então aí
entram questões de posição de laringe, de como ela é, comprimento, largura e fibra muscular,
principalmente. Normalmente [ensinam-se] as meninas, e eu estou falando de meninas, porque homens são
belters naturalmente, porque eles cantam de voz plena. Eu adoro quando eu escuto um professor falando:
“ah, eu vou te ensinar, vou ensinar o menino a cantar belting”. Não, amor, você não vai, porque ele já canta!
Ele canta de voz plena, o resto ele pode cantar de falsete, alguma voz de cabeça. Agora, os homens são
natural belters porque cantam de voz plena. Ponto. Nós é que entramos neste lugar, porque a gente pode
cantar só de voz de cabeça ou não, por conta das nossas passagens e onde elas estão localizadas. Mas o que
eu vejo muito é que as meninas que são soprano mais leves, as leggieri, têm mais dificuldade num belting
com um pouco mais de astúcia, um pouco mais de tônus. Então elas fazem uma coisa mais próxima do mix:
uma voz mais misturada. E tem que ser, porque se, elas pesarem, até conseguem chegar a um som mais belt,
mas elas ganham um buraquinho ali no meio, e podem não misturar a voz tão bem. Então, é uma questão
fisiológica: para que funcione para elas, tem que ser leve, tem que ser mais misturado mesmo [a
predominância da musculatura que comanda os registros]. Agora, com as sopranos que têm uma voz com
um pouco mais de corpo, as mezzos e contraltos, é natural, é só uma questão de malhar a passagem e
entender como é que se navega nesta região. Mas eu acho que é bem equilibrado, e eu acredito, inclusive,
que, quando as duas coisas estão equilibradas, melhora para os dois lados.
Raramente, no meu processo de estudo, pego um estilo só e fico um tempo apenas em cima de um tipo de
repertório, como, por exemplo, pegar um repertório mais “beltado” e ficar muito tempo em cima apenas do