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DOI: 10.35699/2317-6377.2022.36890
eISSN 2317-6377
Abordagem de tratamento musicoterapêutico em dependência
química baseado no Modelo Transteórico de Mudança
Frederico Gonçalves Pedrosa
https://orcid.org/0000-0002-0682-0734
Universidade Federal de Minas Gerais, DINC
fredericopedrosa@ufmg.br
Frederico Duarte Garcia
https://orcid.org/0000-0003-1926-9053
Universidade Federal de Minas Gerais, Dep. de Saúde Mental
frederico.garciad@gmail.com
Cybelle Maria Veiga Loureiro
https://orcid.org/0000-0003-2578-2400
Universidade Federal de Minas Gerais, DINC
cybelleveigaloureiro@gmail.com
SCIENTIFIC ARTICLE
Submitted date: 25 oct 2021
Final approval date: 03 mar 2022
Resumo: O Modelo Transteórico de Mudança (MTM) foi criado por Prochaska e DiClemente, em 1982, e sustenta
trabalhos clínicos em Dependência Química desde sua origem, a partir dos Estágios de Mudança. O presente texto
apresenta uma abordagem para tratamentos musicoterapêuticos voltados a população que possui dependência
química, apoiado no Modelo Científico Racional de Mediação (Rational Scientific Mediating Model R-SMM) em
interface com o MTM. Assim, discutimos as bases neurofisiológicas do processamento musical bem como das drogas
de abuso, apontamos as técnicas musicoterapêuticas comprovadamente eficientes ao tratamento
musicoterapêutico com tal população, apresentamos o MTM e, por fim, apontamos quais técnicas possuem mais
eficiência para as diferentes fases do tratamento. Esta pesquisa servirá de sustentação para a criação de um
instrumento de avaliação que informe se o processo musicoterapêutico auxilia na evolução de pacientes dependentes
químicos.
Palavras-chave: Musicoterapia; Dependência química; Modelo Transteórico de Mudança.
TITLE: MUSIC THERAPY APPROACH IN CHEMICAL DEPENDENCE TREATMENT BASED ON THE TRANSTHEORETICAL
MODEL OF CHANGE
Abstract: The Transtheoretical Model of Change (TMC) was created by Prochaska and DiClemente in (1982), and has
supported clinical work on Chemical Dependence since its origins from Stages of Change. This text presents a rationale
for music therapy treatment in chemical dependency supported by the Rational Scientific Model of Mediation in
interfaces with the TMC. Thus, we discuss the neurophysiological bases of music processing as well as drugs abuse, we
point out as already proven effective music therapy techniques for music therapy treatment with such a population,
we present the TMC and, finally, we point out which techniques are more efficient for the different phases of
treatment. This research will support the creation of an assessment instrument that informs whether the music
therapy process helps in the evolution of chemically dependent patients.
Keywords: Music therapy; Chemical dependence; Transtheoretical Model of Change.
Per Musi, no. 42, General Topics, e224211, 2022
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Pedrosa, Frederico Gonçalves; Garcia, Frederico Duarte; Loureiro, Cybelle Maria Veiga. 2022. “Abordagem de tratamento musicoterapêutico em dependência
química baseado no Modelo Transteórico de Mudança Per Musi no. 42, General Topics: 1-16. e224211. DOI 10.35699/2317-6377.2022.36890
Abordagem de tratamento musicoterapêutico em dependência
química baseado no Modelo Transteórico de Mudança
Frederico Gonçalves Pedrosa, Universidade Federal de Minas Gerais, fredericopedrosa@ufmg.br
Frederico Duarte Garcia, Universidade Federal de Minas Gerais, frederico.garciad@gmail.com
Cybelle Maria Veiga Loureiro, Universidade Federal de Minas Gerais, cybelleveigaloureiro@gmail.com
1. Introdução
Em busca de melhores práticas de tratamento musicoterapêutico para pessoas com dependência química,
Pedrosa, Garcia e Loureiro (2021) não encontraram um protocolo cientificamente comprovados para tal
intento que considere o uso da música. Assim, valemos aqui do Modelo Científico Racional de Mediação
(Rational Scientific Mediating Model R-SMM), para indicar caminhos metodológicos visando a criação de
práticas musicoterapêuticas, mirando a construção de um Protocolo de Avaliação para Musicoterapia em
Grupo na Dependência Química.
Dentro do referido modelo, a sica é entendida como uma linguagem biológica do cérebro. O cérebro, por
sua vez, ao se engajar em uma atividade musical, também é mudado pela experiência. Portanto, a música é
uma importante linguagem mediadora de terapia (Hodges 2000; Zatorre; Salimpoor 2013; Thaut 2014). O
conjunto de sistemas que compõem o cérebro é ativado multimodalmente, desde a produção até a
percepção musical, envolvendo áreas de linguagem, memória, atenção, funções executivas e afetivas
(Sloboda 2008; Zatorre 2019; Thaut 2005b). Assim, alguns processamentos cerebrais estão intimamente
conectados à musica, processos que despertam, orientam, organizam, focalizam e modulam a percepção, a
atenção e o comportamento nos domínios afetivos, cognitivos e sensório-motores (Thaut 2005a).
O R-SMM se propõe a mostrar caminhos epistemológicos para gerar conhecimentos, partindo do estudo de
mecanismos envolvidos no processamento neurológico da música que produzem efeitos terapêuticos, em
uma estrutura sistemática e lógica, dando suporte para pesquisas e construções teóricas coerentes (Thaut
2005b; 2014). A sua estrutura se baseia nos seguintes passos:
1- Modelos de respostas musicais: investigar as bases neurológicas, fisiológicas e psicológicas dos
comportamentos musicais em relação aos aspectos cognitivos, afetivos, de fala, linguagem e
controle motor;
2- Modelos de respostas paralelas não-musicais: investigar sobreposições e processos
compartilhados entre funções cerebrais e comportamentos musicais e não musicais em áreas
semelhantes de cognição, fala, linguagem e controle motor;
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Pedrosa, Frederico Gonçalves; Garcia, Frederico Duarte; Loureiro, Cybelle Maria Veiga. 2022. “Abordagem de tratamento musicoterapêutico em dependência
química baseado no Modelo Transteórico de Mudança Per Musi no. 42, General Topics: 1-16. e224211. DOI 10.35699/2317-6377.2022.36890
3- Modelos mediadores: investigar se e onde processos compartilhados e sobrepostos são
encontrados e se a música pode influenciar nas funções cerebrais e comportamentais paralelas
não-musicais;
4- Modelos de pesquisa clínica: investigar onde se encontram os modelos de mediação, se a música
pode influenciar a (re)aprendizagem e (re)treinamento em terapia e reabilitação.
Sublinhamos, desta forma, que este modelo se vale de evidências de pesquisas neurocientíficas para
identificar processos cerebrais paralelos entre comportamentos musicais e comportamentos não-musicais.
Esses processos estabelecem uma base científica para a pesquisa aplicada subsequente, esclarecendo como
as intervenções da Musicoterapia funcionam em termos de função cerebral aqui direcionadas para a área
da Saúde Mental nos estudos na Dependência Química e suas características.
Com o intuito de ajudar os musicoterapeutas a selecionar e fornecer as intervenções mais eficazes e
baseadas em evidências para seus pacientes (L’Etoile et al 2015), indicaremos, a seguir, como se dão os
processamentos cerebrais da música, das drogas e suas possíveis sobremodalizações. Apontaremos,
também, quais experiências musicais foram pesquisadas e entendidas como capazes de mobilizar aspectos
de (re)aprendizagem e (re)treinamento relacionados à dependência química.
Ao fim, apresentaremos um modelo para prática e pesquisa clínica, a partir do Modelo Transteórico de
Mudança (Prochaska; Diclemente 1982). Este modelo se mostrou eficiente em embasar processos
terapêuticos (Szupszynski 2012; Oliveira et al 2017), musicoterapêuticos (Silverman 2009; 2011; 2015) bem
como intervenções médicas (Garcia 2012) no contexto dos cuidados em dependência química. O rationale
aqui exposto pretende ser a sustentação de etapa futura, da mesma pesquisa, onde produziremos uma
escala de avaliação que informe se o processo musicoterapêutico auxilia na evolução dos Estágios de
Mudança, a partir da prática clínica focando em técnicas que mobilizem os Processos de Mudança.
Esta pesquisa foi submetida à Plataforma Brasil onde foi avaliada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG,
CAAE 30939720.1.0000.5149 e da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, CAAE
30939720.1.3001.5140. Além disto, esta pesquisa recebeu auxílio pelo Programa Institucional de Auxílio à
Pesquisa de Docentes Recém-Contratados pela UFMG - Edital PRPq 07/2020.
2. Processamento Musical e Prazer
A primeira fase do processamento da música se pela pelos ouvidos externo, médio e interno.
Resumidamente, pode-se indicar que as funções de cada parte deste aparelho são: 1) o ouvido externo
composto de orelha e canal auditivo: amplifica e direciona os sons percebidos; 2) o ouvido dio formados
por tímpano e ossículos: faz o “casamento” da impedância do ar ao fluido da cóclea e 3) o ouvido interno
labirinto e cóclea: transforma o sinal mecânico gerado pelos ouvidos anteriores, em sinal elétrico que é
direcionado para o processamento no cérebro (Lent 2002).
A cóclea faz uma codificação complexa das alturas e intensidades dos sons percebidos, realizando uma
codificação temporal (a partir das vibrações de seus cílios, que conseguem responder as vibrações sonoras
de 20 a 20.000hz) e codificação de espacialidade, relacionando a amplitude das ondas que chegam até elas
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Pedrosa, Frederico Gonçalves; Garcia, Frederico Duarte; Loureiro, Cybelle Maria Veiga. 2022. “Abordagem de tratamento musicoterapêutico em dependência
química baseado no Modelo Transteórico de Mudança Per Musi no. 42, General Topics: 1-16. e224211. DOI 10.35699/2317-6377.2022.36890
(Stainsby; Cross 2016; Lent 2002). Em seguida exporemos de forma resumida o processamento de elementos
musicais isolados (p.e. notas, ritmos, timbres) já que entendemos a música enquanto “entidade complexa”,
como também o entende Douglas (2002), e porque, como nos informa Concetta Tomaino (2015), música é
muito mais do que a soma de suas partes.
Posterior à passagem do sinal pelo ouvido interno, onde as frequências são processadas muito precisamente,
o sinal sonoro passa pelo tálamo, em diversos núcleos relativos à sensibilidade, incluindo o núcleo
intralaminar e o da linha média. Dos neurônios talâmicos, se orientam preferencialmente para o córtex
auditivo, onde continua a manipulação neuronal da informação musical de forma mais complexa (Lent 2002;
Stainsby; Cross 2016).
No córtex auditivo se detecta a presença de três áreas auditivas no lobo correspondente ao córtex temporal,
reconhecidas como área auditiva primária, área secundária, imediatamente próxima e superior à anterior e
a terciária, de menor massa neural. Esta distribuição anatômica pode ser percebida na figura abaixo, mais à
esquerda, sendo que na direita, podem ser reconhecidas as áreas corticais principais referentes ao
seguimento do processo auditivo que inicia o processo nervoso da música (Douglas 2002).
A área auditiva primária é aquela que estabelece o reconhecimento individual dos sons, enquanto às
características de intensidade (loudness), frequência (agudeza/gravidade) e localização da fonte produtora
da vibração. Deste modo, há análise dos sons isoladamente, mas de modo sequencial, experimentando um
armazenamento pelo córtex temporal, determinando-se memorização das notas (Douglas 2002; Zatorre;
Salimpoor 2013; Tomaino 2014). A área auditiva secundária do córtex auditivo, excitada pela primária, segue
o curso sequencial do tratamento musical, integrando os sons individuais em grupos maiores, ou blocos de
notas, através do qual se pode gerar a percepção da harmonia, melodia e ritmo; fenômenos que também
sofrem acúmulo ou armazenamento informativo na memória temporal.
Finalmente, a área terciária (de nosso maior interesse), integra os blocos de notas musicais em temas
maiores, mecanismo que poderia ser estimado como representação interna da música (Sloboda 2008),
esquemas ou conceito musicais (Hargreaves; Zimmerman 2006), ao mesmo tempo em que os interpreta, ou
seja, outorgando hierarquização, ponderação, organização temporal, de modo que na última, incorpora-se
a ritmo. Nesta área os elementos sonoros e musicais perdem sua individualidade para dar lugar a uma
percepção mais generalizada (Douglas 2002).
Abaixo temos uma ilustração que contempla as áreas corticais e subcorticais envolvidas na percepção
musical (A) e as áreas do córtex auditivo relacionadas à outras estruturas cerebrais que também reagem ao
estímulo musical (B).
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Pedrosa, Frederico Gonçalves; Garcia, Frederico Duarte; Loureiro, Cybelle Maria Veiga. 2022. “Abordagem de tratamento musicoterapêutico em dependência
química baseado no Modelo Transteórico de Mudança Per Musi no. 42, General Topics: 1-16. e224211. DOI 10.35699/2317-6377.2022.36890
Figura 1 (A) Áreas corticais e subcorticais envolvidas na sensação musical e (B) áreas do córtex auditivo em relação a outras estruturas
participantes da recepção cerebral perante o estímulo musical (Retirado de Douglas [2002, p. 185] e modificado pelos autores)
O processamento musical se dá em circuito (loop) das áreas auditivas para as áreas mais frontais do cérebro.
Esses loops funcionais permitem a integração de informações auditivas com outras modalidades; também
permitem interações entre os sistemas auditivo e motor relacionados à ação e ao planejamento e
organização da ação, e aos sistemas de memória. Essas interações resultam na capacidade de fazer previsões
com base em eventos passados (Zatorre; Salimpoor 2013).
Os loops entre os córtices temporal e frontal também desempenham um papel particularmente importante
na memória de trabalho uma forma de meria de curto prazo que se presta ao armazenamento e à
manipulação temporária de informações. Concatenar eventos auditivos requer um sistema de memória
operacional que possa armazenar informações para um processamento adicional. Seres humanos têm
excelente capacidade de manter informações auditivas assim que são percebidas, o que explica nossa
capacidade de relacionar um som a outro que veio muitos segundos ou minutos antes, ou mesmo entender
longas sentenças e construções sonoras maiores (Zatorre; Salimpoor 2013).
O processamento musical envolve mais do que o processamento de partes separadas da música (elementos
musicais e sonoros), apresentando um componente que se refere às expectativas geradas com base no
conhecimento implícito de um ouvinte sobre regras musicais que foram adquiridas pela exposição anterior
à música da cultura (Douglas 2002; Sloboda 2008; Tomaino 2014). Independente de características
individuais, a resposta sempre presente é emocional ou afetiva. O sistema nervoso central outorga um valor
global através do qual passa a experimentar prazer ou, inversamente, sofrer desagrado e repulsão. Em
termos gerais, o sistema nervoso entende a música como indutora de respostas prazerosas ou provocadora
de respostas de rejeição respostas, estas, sempre afetivas (Lent 2002; Douglas 2002; Thaut 2005c; Zatorre;
Salimpoor 2013).
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Pedrosa, Frederico Gonçalves; Garcia, Frederico Duarte; Loureiro, Cybelle Maria Veiga. 2022. “Abordagem de tratamento musicoterapêutico em dependência
química baseado no Modelo Transteórico de Mudança Per Musi no. 42, General Topics: 1-16. e224211. DOI 10.35699/2317-6377.2022.36890
Em um experimento, Zatorre e Salimpoor (2013) descobriram que, ao escutar músicas que os ouvintes
achavam altamente prazerosas, vivenciavam níveis crescentes de atividade do sistema nervoso simpático e
na frequência cardíaca, na taxa de respiração, na condutância da pele, na amplitude de pulso de temperatura
e volume de sangue. Os resultados revelaram uma correlação positiva robusta entre classificações de prazer
e aumentos mensurados simultaneamente na atividade do sistema nervoso simpático, apontando uma
ligação entre índices objetivos de excitação e sentimentos subjetivos de prazer.
Em segundo momento, se voltaram para os mecanismos pelos quais as emoções a excitação podem se tornar
gratificante. Partiram da hipótese de que, se respostas emocionais à música são alvo da atividade
dopaminérgica nos circuitos de reforço do cérebro, deve haver um mecanismo através do qual essas
respostas são consideradas gratificantes. Demonstrou-se que o estriado ventral (striatum) e outras regiões
do cérebro associadas à emoção foram operacionalizadas em resposta às músicas de preferência. Essa
descoberta identificou, assim, que sistema de recompensa mesolímbico poderia ser recrutado por um
estímulo estético abstrato.
Demonstrou-se, por fim, através da comparação entre a liberação de dopamina em resposta a música
agradável versus música neutra, que fortes emoções em resposta à música levam à liberação de dopamina
no sistema mesolímbico estriado, que pode ajudar a explicar por que a música é considerada
recompensadora
1
, a vinculando diretamente a outros estímulos biologicamente recompensadores, como
sexo, drogas e comida (Zatorre; Salimpoor 2013; Zatorre 2019).
Assim, apoiados em Zatorre e Salimpoor (2013), Rocha e Boggio (2013) e Zatorre (2019), dizemos que a
percepção do som envolve uma série de estruturas cerebrais, tais como córtex pré-frontal, córtex pré-motor,
córtex motor, córtex somatossensorial, lobos temporais, córtex parietal, córtex occipital, cerebelo, áreas do
sistema límbico, incluindo a amígdala, tálamo e estriato bem como a liberação de dopamina. A seguir,
discutiremos como se dá o processamento das drogas de abuso de forma geral no cérebro humano a fim de
apontar possibilidades de modelos mediadores.
3. Processamento neurológico das substâncias de abuso o Sistema de
Recompensa
Os mecanismos envolvidos no processamento neurobiológico das drogas de abuso têm sido alvo de diversos
estudos, atualmente, levando a novos desenvolvimentos em tratamentos para a dependência química
(Almeida; Bressan; Lacerda 2011). No que pese cada substância psicoativa possuir uma ação específica no
cérebro humano pode-se dizer que, na dependência química, existe uma forte atuação destas drogas no
sistema de recompensa, ou via mesocorticolímbica. A estimulação constante deste sistema conduz a uma
sensação de bemestar e euforia, levando a um aumento do desejo de repetir tais sensações; o que faz com
que o sistema de recompensa desempenhe um papel central no desenvolvimento da patologia (Garcia;
Alkimin 2013; Senad 2019).
1
Existem vários estudos que utilizam a música como elemento reforçador, incluindo uma abordagem
musicoterapêutica comportamentalista, como pode serem vistos em Barmann, Croyle-Barmann e McLain
(1980), Hume e Crossman (1992) e Otsuka, Yanagi e Watanabe (2009).
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Pedrosa, Frederico Gonçalves; Garcia, Frederico Duarte; Loureiro, Cybelle Maria Veiga. 2022. “Abordagem de tratamento musicoterapêutico em dependência
química baseado no Modelo Transteórico de Mudança Per Musi no. 42, General Topics: 1-16. e224211. DOI 10.35699/2317-6377.2022.36890
O sistema límbico é composto por projeções dopaminérgicas que iniciam na Área Tegmentar Ventral e
chegam, principalmente, ao núcleo accumbens. A Área Tegmentar Ventral é onde se localizam os corpos
neuronais dopaminérgicos e é responsável também pelas projeções desses neurônios para as demais
estruturas do sistema de recompensa. o cleo accumbens é responsável pelo aprendizado e pela
motivação, bem como pela valorização de cada estímulo (Garcia; Alkimin 2013; Senad 2019).
Outras estruturas cerebrais também recebem projeções dopaminérgicas, como o hipocampo, estrutura
associada com aprendizagem e memória; e a amígdala, estrutura responsável pelo processamento do
conteúdo emocional de estímulos ambientais. O sistema mesolímbico está relacionado ao mecanismo de
condicionamento ao uso da substância, bem como à fissura, à memória e às emoções ligadas ao uso (Senad
2019).
Amplamente associada à via mesolímbica e também compondo o sistema de recompensa, o sistema
mesocortical é responsável pela memória, motivação e resposta emocional também acionado pelo uso das
drogas de abuso. Fazem parte deste sistema o córtex pré-frontal, responsável pelas funções cognitivas
superiores e pelo controle do sequenciamento de ações; o giro do cíngulo, que tem conexões com diversas
estruturas do sistema límbico com as seguintes funções: atenção, memória, regulação da atividade cognitiva
e emocional; o córtex orbitofrontal, responsável pelo controle do impulso e da tomada de decisão (Senad
2019).
Almeida, Bressan e Lacerda (2011) indicam que todo o sistema dopaminérgico é potencialmente envolvido
nos mecanismos que desempenham papel central nas síndromes de dependência química. Assim, os autores
supracitados postulam que estes circuitos são: 1) o sistema de recompensa cerebral, localizado no nucleus
accumbens; 2) a região envolvida com a motivação, localizada no córtex orbitofrontal; 3) o circuito
responsável pela memória e aprendizagem, localizado na amígdala e no hipocampo; e 4) a região que se
direciona ao controle e planejamento, localizados no córtex préfrontal e no giro do cíngulo anterior.
Além do prazer gerado pela estimulação da via dopaminérgica a evitação dos sintomas desagradáveis, como
a disforia, a ansiedade e irritabilidade, é um grande propulsor para o uso compulsivo de drogas de abuso
(Garcia; Alkimin 2013). O córtex pré-frontal, envolvido na via mesocorticolímbica, exposta acima, é
responsável por várias funções cognitivas, tais como atenção, memória, tomada de decisão e autocontrole
(Jaeger; Rigoni; Argimon 2017). Em pessoas dependentes, todas estas funções estão comprometidas e se
relacionam à dificuldade em reconhecer e admitir que possuam uma doença, bem como à dificuldade em
controlar ou inibir um comportamento (Almeida; Bressan; Lacerda 2011; Garcia; Alkimin 2013; Jaeger;
Rigoni; Argimon 2017).
4. Modelo mediador entre música e dependência química
Como indicado na revisão acima, existem áreas comuns ao processamento musical relacionadas às drogas
de abuso. Viu-se que ambos os processamentos envolvem os córtices de pré-frontal, pré-motor, motor,
temporal, mesolímbico, bem como a ativação dopaminérgica, dos sistemas de recompensa, da amígdala, do
tálamo e do estriato. Aponta-se, assim, que ambas as atividades envolvem a ativação de memória,
motricidade, planejamento, cognição, afetividade e prazer.
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Pedrosa, Frederico Gonçalves; Garcia, Frederico Duarte; Loureiro, Cybelle Maria Veiga. 2022. “Abordagem de tratamento musicoterapêutico em dependência
química baseado no Modelo Transteórico de Mudança Per Musi no. 42, General Topics: 1-16. e224211. DOI 10.35699/2317-6377.2022.36890
A partir de uma Revisão Integrativa Pedrosa, Garcia e Loureiro (2021) demonstraram que se podem concluir
alguns pontos sobre a ação da Musicoterapia em aspectos psicológicos de pacientes acometidos por uma
dependência química, sobretudo, quando estas intervenções são associadas às abordagens cognitivas,
comportamentais e neurológicas para o tratamento. No entanto, Pedrosa, Loureiro e Garcia (2021)
indicaram limitações por diversas questões metodológicas, ao não identificar diferenças sobre eficácia das
experiências musicoterapêuticas nos desfechos duros do tratamento da dependência de drogas, mas sobre
quais variáveis estas experiências mobilizaram. Isto é de importância à medida que se observa que as
intervenções musicais utilizadas nos tratamentos musicoterapêuticos com esta população têm mais ação
sobre aspectos secundários ao diagnóstico de dependência química e não diretamente sobre esse
transtorno. Isto é um aspecto importante, pois, mesmo que a Musicoterapia não interfira diretamente na
doença, ela é capaz de melhorar o humor, a percepção de bem-estar e a qualidade de vida dos pacientes em
tratamento (Pedrosa; Garcia; Loureiro 2021).
As principais experiências musicoterapêuticas utilizadas nos estudos revisados foram: 1. a recriação, a partir
de análise lírica, dos jogos rítmicos e da confecção de “rockumentário
2
”; 2. a composição de canções, 3. a
escuta musical e 4. atividades voltadas para a reabilitação cognitiva.
As experiências de recriação a partir da análise lírica conseguiram melhores escores
3
em relação ao
esclarecimento de valores, aumento de sentimentos positivos, reconhecimento de problemas, desejo de
ajuda, prontidão para o tratamento e motivação, apresentando uma diminuição significativa de estresse
logo após a atividade, funcionando como um bom regulador emocional e atuando, principalmente, no
humor e no enfrentamento (coping). as atividades de jogos rítmicos proporcionaram diminuição de
sintomas depressivos, ansiedade, raiva e fissura. O rockumentário melhorou escores sobre contemplação e
ação, atributos da prontidão para a mudança, e diminuiu sintomas de fissura.
As experiências de composição aumentaram a autoestima (orgulho) e conseguiram bons escores para
diminuição de fissura. É interessante notar que o fluxo (flow) do processo de composição se mostrou mais
importante do que o significado da letra e que as experiências composicionais não alteraram
significativamente variáveis de culpa, vergonha, estigma e suporte sociais dos pacientes dependentes
químicos.
As experiências de escuta musical ao vivo apresentaram mais eficácia do que as experiências envolvendo
músicas gravadas, porém, ambas indicaram bons escores sobre redução de probabilidade de recaída,
dessensibilização sistemática, e a relação de música considerada saudável pelo paciente sobre a
possibilidade de uso em seu tratamento. Nota-se que as pesquisas apontaram divergências sobre o que é
considerada música saudável ou nociva
4
, porém, de forma geral, as músicas saudáveis predisseram
2
Rockumentary, que traduzimos como rockumentário, é uma técnica criada por Silverman (2011, 512) e é
definida como “análise lírica juntamente com uma história detalhada da banda e seu abuso de substâncias”.
3
Como os estudos têm análises quantitativas de escalas de avaliação psicológica, o termo escore se refere
a qual construto psicológico as técnicas musicoterapêuticas conseguiram mobilizar.
4
Saarikalio, Gold e McFerran (2015) ao desenvolverem a escala de avaliação psicológica Healthy-Unhealthy
Music Scale (HUMS) associam a escuta da música a ações mais positivas, tais como coping e regulação de
humor ou mais negativos, tais como ruminação e alienação social. As escutas positivas nominam saudáveis
e as negativas, nocivas.
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Pedrosa, Frederico Gonçalves; Garcia, Frederico Duarte; Loureiro, Cybelle Maria Veiga. 2022. “Abordagem de tratamento musicoterapêutico em dependência
química baseado no Modelo Transteórico de Mudança Per Musi no. 42, General Topics: 1-16. e224211. DOI 10.35699/2317-6377.2022.36890
melhor o coping, a aceitação e a regulação de humor. Por outro lado, as músicas consideradas nocivas
predisseram a negação, o desabafo e a culpa. Músicas saudáveis ou nocivas não predisseram sobre abuso
de substância, suporte emocional, desengajamento comportamental, planejamento ou elaboração positiva,
o que indica que tais características não são condição importante para o trabalho com tais variáveis.
Quadro 1 Técnicas musicoterapêuticas associadas aos comportamentos não musicais
Técnicas
Observações
Análise Lírica
- não houve investigação sobre os efeitos em
longo prazo destas ações.
Jogos Rítmicos
Rockumentary
Composição com
estrutura pré-
estabelecida
- fluxo do processo de composição é mais
importante do que o significado da letra nos
estágio iniciais de tratamento;
- experiências composicionais não alteraram
significativamente variáveis de culpa,
vergonha, estigma e suporte social.
Escuta de música
executadas ao vivo
Escuta de músicas
gravadas
- músicas consideradas saudáveis
predisseram melhor coping, aceitação e
regulação de humor;
- músicas consideradas nocivas predisseram a
negação, o desabafo e a culpa;
- Músicas “saudáveis” ou “nocivas” não
predisseram sobre abuso de substância,
suporte emocional, desengajamento
comportamental, planejamento ou
elaboração positiva.
- músicas executadas ao vivo são mais
eficientes para o tratamento.
Associação estímulo-
movimento.
Vincular estímulos sonoros específicos com
movimentos corporais específicos.
Reação a estímulos
acústicos.
Mudança de atenção (1)
Mudança de atenção (2)
Repetição ordenada e
invertida.
As atividades de reabilitação cognitiva que usam de todas as experiências musicais supracitadas são boas
alternativas para o aprendizado de estratégias para lidar com situações de gatilho situacionais. Abaixo segue
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Pedrosa, Frederico Gonçalves; Garcia, Frederico Duarte; Loureiro, Cybelle Maria Veiga. 2022. “Abordagem de tratamento musicoterapêutico em dependência
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uma síntese das técnicas musicoterapêuticas, suas variações, possíveis objetivos terapêuticos e observações
importantes sobre estas técnicas.
O Quadro 1 se refere às técnicas verificadas em estudos que realizaram mensuração de sua eficácia
relacionada a comportamentos não musicais. Porém, indicamos que outras técnicas também podem ser
utilizadas, tais como as de reabilitação cognitiva, ou ainda as Técnicas da Musicoterapia nas Desordens
Mentais (Unkefer 1990) e as 20 Técnicas da Musicoterapia Neurológica (Thaut 2008) que apresentam
fortes evidências de aplicabilidade em outras populações , bem como as técnicas descritas por Bruscia
(2002).
A seguir propomos um protocolo, específico para esta pesquisa, para o uso das técnicas musicoterapêuticas
elencadas acima, que, como foi verificado, mobilizaram positivamente diferentes aspectos relacionados aos
tratamentos específicos em dependência química na terapia de grupo, tais como motivação, redução de
estresse e estratégias de enfrentamento.
5. Modelo de pesquisa clínica
Um dos modelos de terapia usado nos textos revisados por Pedrosa, Garcia e Loureiro (2021) e amplamente
utilizado nos tratamentos em dependência química se chama Modelo Transteórico de Mudança (MTM)
(Prochaska; DiClemente 1982). Tal modelo tem sido foco de diversas pesquisas nas últimas décadas, pois a
comprovação empírica de seus construtos é amplamente divulgada (Velasquez et al. 2001; Szupszynski 2012;
Olivera et al. 2017; Santos et al. 2018). O MTM propõe que a mudança pode ser entendida como um
processo em que a pessoa cria novos comportamentos, modifica comportamentos existentes ou cessa
comportamentos problemáticos (DiClemente 2005). Reconhece que as pessoas são diferentes e estão em
fases diferentes e que as intervenções apropriadas devem ser desenvolvidas de acordo com essas diferenças
(Szupszynski 2012). Tais fases são divididas em cinco Estágios de Mudança, que são:
1. Pré-contemplação: a pessoa não percebe os benefícios da mudança e, portanto, não está disposta a
mudar. Mostra-se resistente e não colaborativa.
2. Contemplação: a pessoa percebe alguns benefícios da mudança, mas os custos associados à
mudança superam os benefícios. Os contempladores mostram ambivalência.
3. Determinação (ou preparação): uma pessoa percebe mais benefícios na mudança do que os custos
associados à mudança, mas não mudou ativamente nenhum comportamento. Nesse estágio, a
pessoa planeja sua mudança.
4. Ação: uma pessoa está realmente se comportando de maneiras diferentes, congruentes com a
mudança. É o estágio no qual o cliente faz algumas mudanças.
5. Manutenção: a pessoa trabalha a prevenção à recaída e a consolidação dos ganhos obtidos durante
a ação.
A recaída é considerada como um evento (e não um estágio) que marca o final do estágio de ação ou
manutenção, e deve ser encarada como um estado de transição. É o modo como a pessoa apreende
e recomeça de uma forma mais consciente.
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Pedrosa, Frederico Gonçalves; Garcia, Frederico Duarte; Loureiro, Cybelle Maria Veiga. 2022. “Abordagem de tratamento musicoterapêutico em dependência
química baseado no Modelo Transteórico de Mudança Per Musi no. 42, General Topics: 1-16. e224211. DOI 10.35699/2317-6377.2022.36890
Abaixo se vê uma figura que informa a relação entre esses estágios.
Figura 2 Estágios de Mudança. Figura retira de Garcia (2014, 226)
Além dos Estágios de Mudança, fazem parte da construção teórica da MTM os Mecanismos de Mudança,
divididos entre as várias dependentes, Balança Decisional, Autoeficácia e Tentação, e as variáveis
independentes conhecidas como Processos de Mudança. Aqui, enfocaremos nos Processos de Mudança
dado que podemos perceber as interações entre os estágios a partir de quantos processos de mudança cada
pessoa aciona mecanismos que podem ser medidos através da Escala de Processos de Mudanças,
apresentada a baixo.
Os Processos de Mudança são os mecanismos que promovem o movimento entre os Estágios de Mudança
(Velasquez et al. 2001). Os primeiros cinco processos Ampliação de Consciência, Alívio Emocional,
Reavaliação Circundante, Deliberação Social e Autorreavaliação envolvem uma reestruturação experiencial
(cognitiva) e são chamados de Processos Cognitivos. os demais processos estão relacionados a
comportamentos observáveis e específicos e são chamados de Processos Comportamentais.
São eles:
(1) Ampliação da consciência: aumento da conscientização sobre as causas e as consequências que
envolvem um comportamento problema;
(2) Alívio Emocional: sensibilização emocional provada aos pacientes, fazendo com que eles reflitam
verdadeiramente sobre o comportamento-problema;
(3) Reavaliação Circundante: o reconhecimento de como um comportamento pode gerar conflitos com
valores pessoais ou objetivos de vida. Também envolve a percepção sobre como o comportamento
afeta seu convívio social;
(4) Deliberação Social: reconhecimento ou criação de alternativas sociais que possam favorecer a
mudança. Reavaliação dos ambientes que frequenta e a escolha por ambientes mais saudáveis;
(5) Autorreavaliação: cognitiva e afetiva, perpassa a avaliação da autoimagem, o resgate de valores, a
obtenção de modelos mais saudáveis e o reconhecimento de prejuízos que causa para si e para
pessoas próximas a ele;
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Pedrosa, Frederico Gonçalves; Garcia, Frederico Duarte; Loureiro, Cybelle Maria Veiga. 2022. “Abordagem de tratamento musicoterapêutico em dependência
química baseado no Modelo Transteórico de Mudança Per Musi no. 42, General Topics: 1-16. e224211. DOI 10.35699/2317-6377.2022.36890
(6) Autodeliberação: combinação entre a crença de que é possível mudar e o comprometimento para
colocar essa crença em prática;
(7) Contracondicionamento: reaprendizagem de comportamentos saudáveis que podem substituir os
comportamentos-problema;
(8) Controle de estímulos: tem o intuito de remover estímulos que indiquem hábitos pouco saudáveis,
acrescentando alternativas mais saudáveis;
(9) Gerenciamento de reforço: a pessoa prevê as consequências das escolhas que tem feito;
(10) Relações de Ajuda: objetivam combinar carinho, confiança, aceitação e suporte para a mudança para
hábitos saudáveis.
Escalas foram construídas para avaliar os constructos dessa teoria desde sua origem. Entre elas estão a
University of Rhode Island Change Assesment Scale (URICA) que avalia os Estágios de Mudança; a Escala de
Autoeficácia (Abstinence Self-efficacy Scale); a Escala de Tentação para uso da droga (Temptation to Use
Scale); e a Escala de Prós e Contras que avalia a Balança Decisional (Decisional Balance Scale); e a Escala de
Processos de Mudança (Processes of Change Questionnaire) todas traduzidas para o português brasileiro e
validadas, exceção à Escala de Prós e Contras (Oliveira et al. 2017).
No quadro abaixo, baseado em Szupszynski (2012) relacionamos os Processos de Mudança acionados nas
articulações dos Estágios de Mudança.
A partir do exposto até aqui, e seguindo os passos do Modelo Científico Racional de Mediação (Rational
Scientific Mediating Model R-SMM), levando em consideração os mecanismos de processamento cerebral
da música, bem como das drogas de abuso e seus danos ao organismo e psique humanos, propomos um
rationale para tratamento de Musicoterapia para Dependência Química baseado nos Estágios e Processos
de Mudança, pertencentes ao Modelo Transteórico de Mudança, comprovadamente eficiente nos
tratamentos em Dependência Química.
Como no estágio de Pré-Contemplação os pacientes ainda estão resistentes ao tratamento, com reduzida
percepção da necessidade da mudança. Indica-se que o trabalho a partir das técnicas de Jogos Rítmicos,
Análise Lírica, Escuta Musical, Composição Musical (focando no fluxo do processo) com objetivos de diminuir
níveis de estresse e fissura e aumentar a prontidão para o tratamento, a motivação e ajudar com a regulação
emocional.
No estágio de Contemplação, dado que os pacientes percebem benefícios da mudança de forma
incipiente, porém mostrando indecisão, indica-se o trabalho a partir Análise Lírica, “Rockumentário” e
Composição Musical (focando no fluxo do processo) podem auxiliar na autopercepção, ajudando no começo
da formulação de estratégias de ação e aumentando a autoestima. Técnicas de Reabilitação Cognitiva podem
auxiliar no aprendizado de estratégias para lidar com situações de gatilho situacionais.
no estágio de Determinação (ou preparação) a pessoa percebe mais benefícios na mudança do que os
custos associados, mas não mudou ativamente nenhum comportamento. Aqui, Análises Líricas objetivando
motivação e indicando estratégias de enfrentamento, bem como Composições Musicais com vias autoestima
e exercícios de Reabilitação Cognitiva voltados à prevenção de recaídas podem auxiliar em vivificar e
materializar as estratégias de mudança ensejadas.
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Pedrosa, Frederico Gonçalves; Garcia, Frederico Duarte; Loureiro, Cybelle Maria Veiga. 2022. “Abordagem de tratamento musicoterapêutico em dependência
química baseado no Modelo Transteórico de Mudança Per Musi no. 42, General Topics: 1-16. e224211. DOI 10.35699/2317-6377.2022.36890
Quando a pessoa se comporta de maneiras novas e congruentes com a mudança objetivada, identificamos
o estágio de Ação. Aqui, principalmente as atividades de Reabilitação Cognitiva poderão assessorar no
comprometimento para se colocar as crenças em prática, reaprender comportamentos saudáveis e buscar
carinho, confiança, aceitação e suporte para a mudança para hábitos saudáveis. “Rockumentário” também
se mostrou importante estratégia para esta etapa.
Quadro 2 Interação entre os Estágios de Mudança e os Processos de Mudança
Interação entre os Estágios de Mudança
Pré-contemplação
x
Contemplação
Contemplação
x
Preparação
Preparação
x
Ação
Ação
x
Manutenção
Permanência na
Manutenção
- Ampliação da
consciência
- Alívio emocional
- Autorreavaliação
- Reavaliação
Circundante
- Autorreavaliação
- Reavaliação
Circundante
- Autoeficácia
- Deliberação
social
- Autodeliberação
- Controle de
estímulos
- Contracondicio-
namento
- Relações de
ajuda
- Autodeliberação
- Controle de
estímulos
-Contracondicio-
namento
- Gerenciamento
de reforço
- Relações de
ajuda
- Autodeliberação
- Controle de
estímulos
- Contracondicio-
namento
- Gerenciamento
de reforço
- Relações de
ajuda
- Deliberação
social
Por fim, já no estágio de Manutenção, indicam-se todas as experiências e exercícios musicais propostos aqui,
com objetivos de prevenção à recaída e promovendo reforços aos comportamentos adquiridos,
consolidando dos ganhos obtidos durante a ação e promovendo momentos de alívio emocional bem como
fortalecendo os aspectos sociais conquistados.
6. Considerações Finais
No presente texto partimos da estrutura epistemológica do RSMM a fim de utilizar uma metodologia
científica para construir um modelo clínico de intervenções musicoterapêuticas. Para tanto, verificamos que
a existem estruturas cerebrais que participam tanto do processamento das drogas de abuso quanto do
material sonoro-musical, hipostenizando que o trabalho musicoterapêutico possa ser efetivo nos cuidados
em dependência química, tal como anteriormente o fizeram Daniel Campos (2002) e Stamou et al. (2016).
Retomando as técnicas musicoterapêuticas utilizadas pelas pesquisas revisadas em Pedrosa, Garcia e
Loureiro (2021) verificaram quais técnicas já apresentaram resultados positivos em tratamentos em
dependência química. Posteriormente relacionamos estas técnicas com os Estágios e Processos de Mudança,
constructos do Modelo Transteórico de Mudança.
O rationale aqui exposto pretende ser a sustentação de etapa futura, da mesma pesquisa, onde
produziremos uma escala de avaliação que informe se o processo musicoterapêutico auxilia na evolução dos
Processos de Mudança
acionados nas interações entre estágios
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Pedrosa, Frederico Gonçalves; Garcia, Frederico Duarte; Loureiro, Cybelle Maria Veiga. 2022. “Abordagem de tratamento musicoterapêutico em dependência
química baseado no Modelo Transteórico de Mudança Per Musi no. 42, General Topics: 1-16. e224211. DOI 10.35699/2317-6377.2022.36890
Estágios de Mudança, a partir da prática clínica focando em técnicas que mobilizem os Processos de
Mudança.
7. Referências
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