O arranjo instantâneo diz respeito àquele que é realizado no momento da performance. A partir do
comportamento de João, citado por Caetano em sua entrevista, podemos imaginar o músico agindo dessa
arranjo aberto possui certas partes indeterminadas, diferentemente do instantâneo, e que dependem da
criação dos músicos participantes, que para João, por exemplo, poderia funcionar como um esboço próprio
de seus caminhos harmônicos, onde as aberturas de vozes dos acordes viriam de forma improvisada. A
terceira possibilidade seria a de que o arranjo para essa gravação de 2000 foi totalmente determinado,
com todos os elementos cordais e rítmicos do violão já pré-concebidos antes da gravação, dependendo
apenas de que o músico sente e toque. As colocações a seguir nos ajudarão a desenvolver percepções
sobre o assunto. Retomemos aqui um trecho da fala de Caetano sobre João:
Aquele disco que disseram que eu produzi dele, eu nunca produzi nada, eu ficava indo
com ele pro estúdio no dia que ele ia, e depois ninguém produz João, entendeu? João
ele... Ele na hora que ele chega o que ele quer cantar ele canta, depois muda. E não canta
umas coisas que a gente pede que ele diz que vai depois não vai, depois... Enfim, mas ele
é doce no estúdio, ele é engraçado e depois ele é complicado porque ele fica agoniado
porque ele já gravou e ele tem medo de como vai ser mixado e ele não quer que fique
pronto, é uma coisa muito complexa. (Veloso 2003, n/p)
Essa citação nos dá a entender que João toca o que tem vontade quando está no estúdio, o que pode
implicar em uma não predeterminação de seus arranjos, e sim em uma noção harmônica prévia das
canções de seu repertório, caracterizando assim o arranjo aberto.
João, apesar das colocações de Caetano sobre seu comportamento no estúdio, possui um certo nível de
predeterminação de seu arranjo, como é visível na figura acima. Ele pode decidir em cima da hora o
repertório que vai fazer, mas a transcrição feita nos mostra que uma grande quantidade de acordes
tocados é idêntica em duas seções. Assim podemos concluir que o músico já havia pensado em toda a
estrutura da música, inclusive em acordes específicos, suas disposições de vozes, notas de tensão e
condução. O que acontece é que ele pode ter reservado locais específicos para acordes intercambiáveis,
Sobre os acordes quase majoritariamente idênticos, em verde na Figura 17, vale comentar aqui os
des que se diferem em apenas em uma nota: na
seção B, o acorde não possui a quinta, o que nos dificulta sua classificação como Gm6
olharmos para o trecho por inteiro. Ao checarmos o compasso 104 ainda na Figura 18, é perceptível a
disposição do acorde diminuto completo, em um trecho onde o ritmo harmônico é de dois acordes por
porém errou na digitação ao tocar a nota D♭ ou simplesmente a omitiu para um diferente movimento de
vozes superiores. Posteriormente, com os acordes de E♯(♭13) nos compassos 58 e 106 da Figura 17,
temos o caso no qual ambos os acordes podem ser interpretados como aberturas de um mesmo, conforme
comentários feitos sobre as Figuras 3 e 12, estando em uma posição de preparação para um acorde da
or vir.