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DOI: 10.35699/2317-6377.2022.44450
eISSN 2317-6377
Referências indonésias em Claviers de Iannis Xenakis:
processo criativo com material exógeno em Pléïades (1978)
Ronan Gil de Morais
http://orcid.org/0000-0001-7492-3818
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG), Brasil
ronangil@gmail.com
SCIENTIFIC ARTICLE
Submitted date: 09/12/2022
Final approval date: 15/04/2023
Resumo: O movimento Claviers foi composto para teclados de percussão e faz parte da obra Pléïades (1978) para
seis percussionistas. Baseado em evidências de diferentes arquivos, destaca-se aqui relações diretas com elementos
da música tradicional da Indonésia. Estas apontam para a inserção de materiais com os quais Xenakis teve contato
nos anos 1950 e durante sua viagem para Bali e Java em 1972-1973. A inserção de material exógeno é bastante rara
dentro da sua produção, mas em Claviers esta é uma parte substancial do processo criativo, trazendo significações
particulares ao tratamento estrutural e à sequência de seções que caracteriza o movimento. Ao fazê-lo, o
compositor cria então um discurso subjacente e um contexto bastante dinâmico dentro deste movimento em
particular e isto aponta para correlações ainda não analisadas em uma parte mais ampla de sua produção. Este
contexto dinâmico possui ainda implicações muito profundas com o pensamento e a prática composicional de
Xenakis, trazendo novos elementos para a compreensão de parte do processo criativo durante uma fase bastante
prolífica de sua vida.
Palavras-chave: Claviers; Iannis Xenakis; Pléïades; música indonésia; percussão.
TITLE: INDONESIAN REFERENCES IN CLAVIERS BY IANNIS XENAKIS: CREATIVE PROCESS WITH EXOGENOUS
MATERIAL IN PLÉÏADES (1978)
Abstract: The movement Claviers was composed for percussion keyboards and is part of Pléïades (1978) for six
percussionists. Based on evidence from different archives, direct correlations with elements of traditional Indonesian
music are highlighted here. The evidence points to the insertion of materials with which Xenakis had contact in the
1950s and during his trip to Bali and Java in 1972-1973. The insertion of exogenous material is rare within his work,
but in Claviers it is a substantial part of the creative process, bringing a particular meaning to the structural
treatment and sequence of sections that characterizes the movement. In doing so, the composer creates an
underlying discourse and a rather dynamic context within this movement, and it points to correlations not yet
examined in a broader part of his work. This dynamic context has very profound implications with Xenakis’
compositional thought and practice, bringing new elements to understanding part of the creative process during a
very prolific phase of his life.
Key-Words: Claviers; Iannis Xenakis; Pléïades; indonesian music; percussion.
Per Musi, no. 42, Sessão temática: Iannis Xenakis, e224228, 2022
Morais, Ronan Gil de. 2022. “Referências indonésias em Claviers de Iannis Xenakis: processo criativo com material exógeno em Pléïades (1978)”
Per Musi no. 42, Iannis Xenakis: 1-24. e224228. DOI 10.35699/2317-6377.2022.44450
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Referências indonésias em Claviers de Iannis Xenakis:
processo criativo com material exógeno em Pléïades (1978)
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Ronan Gil de Morais, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG),
ronangil@gmail.com
1. Introdução
O poder da escala por si só deveria ser suficiente para tornar a música interessante. Se não é, eu falhei.
Eu gostaria de enfatizar algo que tem sido muito importante para a minha evolução:
meus estudos sobre música javanesa, e sobre a escala chamada pelog em particular,
que se baseia em um poderoso entrelaçamento de dois intervalos de quarta
2
Iannis Xenakis (Varga 1996, 144)
O período em que Iannis Xenakis trabalhou compondo Pléïades é bastante significativo no que tange às
suas abordagens criativas. Como Matossian (2005, 278) expressou, “A década de 1970 a 1980 foi
glamourosa e produtiva para Xenakis. Ela finalmente colocou em evidência, com encomendas, gravações,
turnês de palestras, prêmios, concertos, festivais específicos sobre Xenakis e um retorno triunfante à
Grécia, seu nome como um dos principais compositores do mundo. Essa conquista foi especialmente
impressionante, pois foi contra a tendência geral de crise e incerteza na música que se instalou na segunda
metade dessa década
3
”. Solomos (1996, 63) afirmou que “Os anos 1970 celebram a apoteose do renome
de Xenakis, do qual é impossível, no âmbito de um livro conciso, reconstituir até mesmo as etapas mais
importantes
4
”. Para ambos autores, dois aspectos principais reforçam a importância da década para o
compositor: a primeira viagem à Grécia após o fim da ditadura militar, em novembro de 1974, e o Cycle
Iannis Xenakis, em dezembro de 1977, festival de um mês dedicado especificamente à sica do
compositor e organizado pelo Ministério da Cultura e Comunicação da França. Como Solomos (1996, 63-
64) afirmou ainda sobre esse período, Xenakis reduziu seu trabalho teórico
5
e dobrou sua produção
1
Este artigo é baseado em pesquisa realizada junto ao programa de doutoramento Kooperationsprojekt
Musikwissen promovido pela Universitt Basel e Hochschule fr Musik FHNW (Basiléia, Suíça).
2
“The power of the scale itself should suffice to make the music interesting. If it isn’t. I’ve failed. I want to
tell you about something which has been very important for my evolution: my study of Javanese music,
and of the scale called the pelog in particular, which is based on a very powerful interlocking of two
fourths”. As traduções neste artigo são do autor.
3
“The decade of 1970 to 1980 was to be glamorous and productive one for Xenakis. It finally put into
bright lights, with commissions, recordings, lecture-tours, awards, prizes, concerts, all-Xenakis festivals and
a triumphant return to Greece, his name as one of the leading composers of the world. The achievement
was especially striking since it went against the general trend of crisis and uncertainty in music which set in
during the latter half of this decade”.
4
“Les années 1970 célèbrent l’apothéose de de la renommée de Xenakis, dont il est impossible, dans le
cadre d’un ouvrage concis, de retracer même les étapes les plus importantes”.
5
Entretanto, é importante mencionar que ele publicou Musique. Architecture (Xenakis 1971) e uma versão
Morais, Ronan Gil de. 2022. “Referências indonésias em Claviers de Iannis Xenakis: processo criativo com material exógeno em Pléïades (1978)”
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composicional, desenvolvendo ainda novas ferramentas composicionais baseadas em movimento
browniano, arborescências e halos sonoros (termo cunhado como halos sonores em francês pelo próprio
autor Solomos 1996, 79-80).
Mesmo que outros fatores também pareçam importantes (como um volume impressionante de
encomendas e novas criações, além de um aumento significativo no número de palestras, convites para
viajar por todo o mundo e prêmios recebidos), o retorno à Grécia em 1974 e o festival específico em sua
homenagem de 1977 seriam os dois principais fatores que estimularam Xenakis segundo ambos os
autores. Entretanto, outro aspecto seria muito mais significativo em termos de contribuições para
mudanças estruturais em suas abordagens composicionais: a sua viagem à Indonésia em 1972-1973. Aqui,
será abordado como essas conexões e correlações foram determinantes para uma parte significativa do
processo criativo em Pléïades. Esta obra foi composta em 1978, sendo dividida em quatro movimentos e
exigindo três categorias específicas de timbres instrumentais: teclados de percussão para o movimento
chamado Claviers, tambores para Peaux, e as então novas possibilidades de timbre imaginadas com o SIX-
XEN
6
para Métaux. Essas três partes representam movimentos com timbres específicos, enquanto
Mélanges (do termo francês que significa misturas) foi composta reunindo as três categorias
instrumentais. Mélanges é então uma montagem recapitulativa de trechos anteriores sobrepostos e
funciona como uma associação dos variados timbres através de passagens copiadas e coladas dos
movimentos monoespecíficos (podendo ser reprisados intactos ou parcialmente modificados). Ao
apresentar a peça, Xenakis afirmou que:
Pléïades, “pluralidades”, “vários”, porque seis percussionistas, quatro sequências. O
ritmo é fundamental, a ordenação temporal dos eventos, a combinação de durações,
intensidades e timbres. [...]
A única fonte dessa polirritmia é a ideia de periodicidade, repetição, duplicação,
recorrência, cópia fiel, pseudo-fiel ou não-fiel. [...]
Uma axiomatização acompanhada de uma formalização representada pela teoria dos
crivos identifica alguns desses problemas de transformação em todos os domínios,
espaços ou conjuntos ordenados.
Em Pléïades, essa ideia fundamental de duplicação temporal (recorrência) de um
evento ou de outra [duplicação], na qual nosso universo físico e humano está imerso,
também é adotada em outra “dimensão” da música, a das alturas. Nessa dimensão, a
música europeia (ocidental) não mudou desde a antiguidade grega. O sistema de
ampliada em 1976, defendeu sua tese em 1976 e publicou a discussão da sua defesa com o título
Arts/Sciences. Alliages (Xenakis 1979).
6
O SIX-XEN, descrito sinteticamente, é um instrumento de percussão com teclas de metal que apresenta
diferenças microtonais entre suas alturas. Ele é um conjunto instrumental completo construído por 114
teclas metálicas divididas em seis grupos de 19 teclas (seis unidades) e que requer seis músicos para ser
tocado em sua totalidade. Não pode haver uníssonos entre as alturas e as distâncias entre elas devem ser
perceptíveis, mas não maiores do que 3/4 de tom (razão pela qual os efeitos de batimento são
extremamente presentes em suas características sonoras). O conceito inicial do instrumento é uma
descrição aberta, por isso certas características, possibilidades de construção e qualidades tímbricas
estarão condicionadas pelas escolhas de interpretação partindo-se da descrição original feita por Xenakis
na partitura de Pléïades. Para mais detalhes sobre este instrumento e seu repertório consultar Morais,
Chaib & Oliveira (2017; 2020), Morais & Araújo (2018) e Morais (2023).
Morais, Ronan Gil de. 2022. “Referências indonésias em Claviers de Iannis Xenakis: processo criativo com material exógeno em Pléïades (1978)”
Per Musi no. 42, Iannis Xenakis: 1-24. e224228. DOI 10.35699/2317-6377.2022.44450
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escala diatônica ainda reina, mesmo e especialmente na música (como a música
serial) em que o total cromático é a base para a escolha das notas. Além disso, sua
extensão para uma escala em que a unidade é o intervalo de coma não mudaria o
“clima”, o campo de forças das linhas melódicas ou as nuvens de alturas.
É por isso que fiz uma dupla tentativa aqui. A primeira, em Jonchaies para
orquestra, foi construir uma escala não ocidental que fosse suficientemente forte e
distinta, mas que pudesse ser tocada em instrumentos de teclado diatônicos, como a
marimba, o xilofone e o vibrafone. A segunda era construir um novo instrumento de
metal chamado SIX-XEN [...]
7
(Xenakis 1979, i)
O compositor apresenta assim os principais aspectos que podem fornecer pistas para uma visão mais
profunda sobre a obra. Alguns outros detalhes estão presentes ao longo da apresentação da partitura de
Pléïades, contudo, excluindo-se o que é ali presentado, Xenakis o abordou nada especificamente sobre
esta peça em outras publicações. Para se compreender o assunto em um contexto amplo ligado à biografia
do compositor e aos principais períodos de sua produção, cinco textos são importantes. Fleuret (1988),
Halbreich (1988), Solomos (1996), Harley (2004) e Gibson (2011) mencionam diretamente Pléïades,
apresentando-a sob a perspectiva da carreira de Xenakis. Eles possibilitam então um olhar mais
abrangente sobre a correlação entre esta obra e o momento criativo do compositor por volta da década de
1970. Os autores tratam de muitas peças e de um grande número de aspectos, mas suas publicações
acabam por o apresentar dados abundantes considerando-se especificamente este sexteto de
percussão.
Em termos de abordagens analíticas, Barthel-Calvet (2000) apresentou uma discussão mais ampla sobre os
tratamentos rítmicos produzidos por Xenakis, incluindo muitas de suas peças. Ela analisou principalmente
os aspectos rítmicos de sua composição e destacou vários trechos de Pléïades, resumindo alguns desses
aspectos em uma publicação posterior (Barthel-Calvet 2002a). Estes trabalhos não são publicações
específicas sobre a peça, mas apresentam elementos importantes sobre os tratamentos rítmicos do
compositor e o fazem dentro de uma perspectiva comparativa. Em sua dissertação de mestrado, Porres
(2007) abordou aspectos da composição microtonal comparando Alois Hába, Ivan Wyschnegradsky, Harry
7
Pléïades, « pluralités », « plusieurs », car six percussionnistes, quatre séquences. Le rythme y est
primordial, c’est-à-dire l’ordonnance temporelle des événements, la combinatoire des durées, des
intensités, des timbres. [...] / L’unique source de cette polyrythmie est l’idée de périodicité, pétition,
duplication, récurrence, copie, fidèle, pseudofidèle, sans fidélité. [...] / Une axiomatisation accompagnée
d’une formalisation représentée par la théorie des cribles, cerne une partie de tels problèmes de
transformations dans tous domaines, espaces ou ensembles ordonnés. / Dans Pléïades, cette idée
fondamentale de la duplication (récurrence) temporelle d’un évènement ou d’un étant dans laquelle est
immergée notre univers physique mais humain aussi, est également reprise dans une autre « dimension »
de la musique, celle des hauteurs. Dans cette dimension la musique européenne (occidentale) n’a pas
bougé depuis l’antiquité grecque. Le système, l’échelle diatonique y règne toujours, même et surtout dans
les musiques (comme la musique sérielle) le total chromatique est la base dans laquelle est plongé le
choix des notes. D’ailleurs son extension à une échelle (gamme) l’unité serait le comma ne changerait
pas le « climat », le champs des forces des lignes mélodiques ou des nuages des hauteurs. / C’est pourquoi
ici j’ai fait une double tentative. La première, déjà dans Jonchaies pour orchestre, étant de bâtir
franchement une échelle hors occident suffisamment forte et caractérisée, mais pouvant être jouée sur
des instruments à claviers diatoniques tels le marimbaphone, xylophone, vibraphone. La deuxième étant
de faire construire un instrument métallique nouveau baptisé SIX-XEN [...]”.
Morais, Ronan Gil de. 2022. “Referências indonésias em Claviers de Iannis Xenakis: processo criativo com material exógeno em Pléïades (1978)”
Per Musi no. 42, Iannis Xenakis: 1-24. e224228. DOI 10.35699/2317-6377.2022.44450
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Partch, Gérard Grisey e Xenakis. Pléïades é mencionada, assim como o SIX-XEN, mas em linhas gerais,
concentrando-se em algumas de suas características para compará-lo com outros sistemas de afinação
microtonal. Gibson (2011) discutiu aspectos da cnica de “autoempréstimo” de Xenakis, mencionando as
conexões que Pléïades apresenta com outras peças. Lacroix (2001) contextualizou historicamente a obra e
analisou especificamente o movimento Claviers, conduzindo sua discussão em paralelo com aspectos das
artes indonésias. A contribuição da autora é bastante interessante e aponta para aspectos não discutidos
anteriormente; ela não apresenta, no entanto, evidências de relações diretas com essas artes, inferindo
apenas em termos do que poderia ter inspirado Xenakis de maneira subjetiva e não se baseando em
documentos ou arquivos do próprio compositor. Marandola (2012) apresentou uma análise interpretativa
do movimento Peaux, apontando para aspectos de energia de performance e direcionalidade dos
materiais para interpretação. Bogler (2017) apresentou, em sua monografia de bacharelado, uma
classificação formal de seções em Métaux, propondo-a com base em ferramentas analíticas assistidas por
computador. Ele trabalhou em uma classificação de seções desse movimento e apresentou uma entrevista
com o construtor de um Sixxen específico na Suíça. Ceuster (2021) também trabalhou com uma
classificação desse movimento, mas analisou e comparou eminentemente as sonoridades de diferentes
Sixxens usando um software de análise espectrográfica. Assim, esse autor produziu uma análise mbrica
comparativa de alguns protótipos construídos e abordou as consequências sonoras em Métaux. Exarchos
(2007) abordou os aspectos matemáticos da teoria dos crivos em várias obras de Xenakis. Por causa disso,
ele analisou o crivo que caracteriza Pléïades e mostrou as conexões que se estabelecem entre diferentes
peças. Santana (1998) discutiu aspectos da orquestração em Xenakis, realizando uma análise abrangente
das obras do compositor para demonstrar que os aspectos rítmicos e de espacialização são elementos
fundamentalmente condicionados pelo timbre. Ela abordou Persephassa e ocasionalmente incluiu Pléïades
na discussão, mas não se ateve a muitos elementos de análise desta última.
Propõe-se aqui um olhar mais aprofundado sobre os elementos que constituem uma parte de Pléïades, o
movimento Claviers. Estes elementos apontam para procedimentos particulares do final dos anos 1970 no
trabalho de Xenakis. Os resultados descritos destacam um modus operandi pouco referenciado sobre o
compositor e que se caracteriza pela aplicação de técnicas com uso de materiais exógenos.
2. Claviers: elementos iniciais
Claviers é o primeiro movimento apresentado por Xenakis na sequência organizada para Pléïades
8
. Como
passo inicial para a compreensão de Claviers, é necessário especificar três elementos fundamentais do
movimento: os timbres utilizados, a estrutura das alturas ao longo de seu desenvolvimento (baseada
principalmente na teoria dos crivos) e os perfis melódicos (baseados em formas específicas). Os
instrumentos presentes no movimento são teclados de percussão, fazendo com que o compositor
centrasse este movimento em materiais de alturas definidas e com afinação baseada em temperamento
igual. Entre os instrumentos do ensemble Les Percussions de Strasbourg
9
à disposição de Xenakis, ele
escolheu três vibrafones (para os músicos A, C e E), marimba (músico B), xilofone (músico D) e xilomarimba
8
Ainda que a sequência dos movimentos possa variar no ato da performance, as diferentes edições de
Pléïades são apresentadas na ordem: Claviers, Peaux, Métaux e Mélanges.
9
Les Percussions de Strasbourg é um sexteto de percussão francês que estreou Pléïades em 1979, durante
a apresentação de um balé chamado Le Concile Musical. Essa foi a segunda colaboração direta com o
compositor, pois o grupo já havia estreado Persephassa, em 1969.
Morais, Ronan Gil de. 2022. “Referências indonésias em Claviers de Iannis Xenakis: processo criativo com material exógeno em Pléïades (1978)”
Per Musi no. 42, Iannis Xenakis: 1-24. e224228. DOI 10.35699/2317-6377.2022.44450
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(músico F)
10
. Com esses instrumentos, o compositor estava claramente explorando as possibilidades
melódico-harmônicas disponíveis, ao mesmo tempo em que trabalhava os aspectos tímbricos com um
equilíbrio relativo entre instrumentos metálicos (vibrafones) e de madeira (marimba, xilofone e
xilomarimba). Ao longo do movimento, os subgrupos que reúnem os músicos ACE e BDF demonstram
então certas coerências internas e correlações mútuas (que são reforçadas também na recapitulação em
Mélanges), e é com base nesse tratamento tímbrico e nas alturas escolhidas que perfis melódicos
específicos são desenvolvidos. Esses três elementos (subgrupos instrumentais, timbre e perfis melódicos)
são os principais pontos para separar-se e classificar-se as seções e subseções durante a presente
discussão.
Ao iniciar os trabalhos para esse movimento, Xenakis estudou dois elementos essenciais: as possibilidades
de irradiação melódica por semitons, com base em combinatória e permutação, e a sequência de alturas
(como uma espécie de escala, mas criada com base na teoria dos crivos)
11
. O primeiro documento foi
usado especificamente para produzir a introdução do movimento e para desenvolver a variação melódica
por irradiação de semitons em direções prefiguradas, o que resultou em um material usado
exclusivamente com vibrafones. As coleções de alturas e intervalos em Pléïades foram baseadas no crivo
usado no ano anterior em Jonchaies (1977) para orquestra. Após esses dois estudos preliminares para
Claviers, o compositor tinha aparentemente todo o material de base necessário e passou a trabalhar
diretamente nas estruturas musicais e no desenvolvimento do movimento como um todo.
Em uma primeira visão geral do movimento (Figura 1
12
), fica claro que Xenakis está eminentemente
apresentando linhas melódicas em um tratamento polifônico, demonstrando que, embora as correlações
verticais sejam significativas, as correlações horizontais são igualmente ou até mais importantes. O
desenvolvimento das texturas é geralmente denso, sendo o produto das seis vozes tratadas como um fluxo
quase contínuo de notas que apresentam principalmente contornos melódicos em forma de onda
(Figura 1). As correlações entre os seis músicos são importantes e articuladas pelo uso de um mesmo crivo,
mas uma certa independência entre o comportamento e a direção das vozes, o que a impressão de
que quase tudo se baseia em seis melodias infinitas com velocidades diferentes, devido a um tratamento
polirrítmico praticamente constante. As vozes ocasionalmente apresentam pontos de convergência com
algumas conexões temporais (estruturas δ e δna Figura 1, por exemplo), mas esses pontos são motivos
10
A ordem dos músicos na grade geral ficou estabelecida então como: percussionista A vibrafone,
percussionista B marimba, percussionista C vibrafone, percussionista D xilofone, percussionista E
vibrafone, percussionista F xilomarimba.
11
Estes rascunhos estão arquivados na Coleção da Família Iannis Xenakis (Collection Famille Iannis Xenakis
CFIX) como documentos OM 28-17, p. 22 e p. 23 respectivamente.
12
A indicação do desenvolvimento melódico de cada músico nessa figura está relacionada à extensão do
instrumento em si e não possui proporcionalidade com os demais. Os vibrafones (subgrupo ACE) e a
marimba (músico B), por exemplo, apresentam as notas mais graves e mais agudas com distâncias iguais
na imagem, mas isso não ocorre na realidade, devido à especificidade da tessitura de cada um (nesse caso,
o vibrafone tem uma extensão de Fá3 a Fá6 e a marimba de Lá2 a Dó8). Assim, o que está sendo
visualizado como desenvolvimento melódico é percebido em termos de continuidade linear entre a nota
mais grave e mais aguda durante as passagens específicas de cada instrumento, independentemente dos
limites reais de cada tessitura per se. A Seção C está comprimida nessa figura (os comp. 111-131 são
representados como uma coluna única) para deixar as outras seções mais evidentes. Essa seção conclusiva
merecerá uma discussão específica em breve e a proporção real das seções será então melhor apresentada
(ver Figura 8).
Morais, Ronan Gil de. 2022. “Referências indonésias em Claviers de Iannis Xenakis: processo criativo com material exógeno em Pléïades (1978)”
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direcionais curtos e não materiais totalmente desenvolvidos. Em vez de representar seções ou subseções,
essas estruturas curtas são posicionadas especificamente para dinamizar as texturas e representar
transições entre diferentes passagens ou diferentes subseções.
Figura 1: Layout geral dos aspectos melódicos em Claviers. São enfatizados os registros, a direcionalidade, os tipos de formas de onda dos
perfis e as relações entre os subgrupos específicos de timbres (instrumentos metálicos em azul e de madeira em branco).
Ao longo de Claviers, os músicos executam uma nota após a outra quase o tempo todo. Os momentos em
que os percussionistas tocam duas notas simultaneamente são raros, e um acorde real de todos os
músicos concomitantemente ocorre no último ataque do último compasso. Os percussionistas são,
portanto, eminentemente obrigados a tocar melodias contínuas em uma espécie de moto perpetuo para
seis vozes. Para a compreensão das estruturas melódicas de Claviers, é preciso levar em consideração seu
desenvolvimento vertical e relação intervalar. Assim, enfatizar-seas sequências específicas de alturas do
crivo e as significações que Xenakis lhes conferiu.
3. O crivo em Claviers: uma estrutura intervalar com referências
extraeuropeias
O crivo usado em Pléïades é caracterizado pela sequência de semitons 1 3 1 2 4 1 4 1 e, sendo repetida
continuamente, acaba mantendo a mesma disposição de intervalos do grave para o agudo. Essa
periodicidade é marcada por uma soma de 17 semitons (ou um período de dezessete, P = 17), abrangendo
uma oitava e uma quarta justa. Esse tipo de estrutura, quando repetido no registro superior, apresenta
alturas diferentes mesmo se a sequência de intervalos do crivo é idêntica, sendo por isso chamado de não-
oitavante (termo usado pelo próprio Xenakis). A sequência P = 17 com a disposição dos intervalos 1 3 1 2 4
1 4 1, como um fenômeno periódico, também pode ser chamada de sucessão intervalar. Por exemplo, o
crivo de Claviers apresentado abaixo (Figura 2) mostra três sucessões intervalares completas e uma quarta
sucessão quase completa. Deve-se considerar também como esse crivo é caracterizado em relação às
diferentes tessituras instrumentais que o compositor usou no movimento, o que é igualmente visualizável
abaixo.
A Figura 2 (abaixo) se baseia em certas anotações de Xenakis em seus manuscritos (OM 28-17, p. 15), bem
como em análises de Lacroix (2001, 53) e reflete os instrumentos que faziam parte da instrumentação do
Morais, Ronan Gil de. 2022. “Referências indonésias em Claviers de Iannis Xenakis: processo criativo com material exógeno em Pléïades (1978)”
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Les Percussions de Strasbourg na época (como é o caso da xilomarimba, por exemplo, um instrumento que
não é mais comumente produzido). O compositor organizou a tessitura de cada instrumento de percussão
para perceber qual parte do crivo poderia ser aplicada a cada teclado de percussão, qual região é comum a
todos e quais são as especificidades de cada instrumento na disposição do crivo.
Figura 2: O crivo usado em Pléïades (1978) e as correlações com as tessituras instrumentais em Claviers.
Essa estrutura de alturas baseada em um crivo de P = 17 está presente em quase todo o movimento.
apenas duas exceções: na introdução, onde ele adotou um modelo particular de desenvolvimento
melódico entre os três vibrafones, e na conclusão, em que ele usou o mesmo crivo, mas com a sucessão
intervalar específica P1 uma oitava acima, como será detalhado mais adiante.
Xenakis declarou na introdução de Pléïades sobre esse crivo que: “depois de uma longa tentativa, construí
um crivo (escala) que, surpresa! era semelhante às escalas da Grécia antiga, do Oriente Próximo ou da
Indonésia
13
(Xenakis 1979, i). Nessas perspectivas, ele estava se concentrando em dois aspectos claros
dessa coleção de intervalos. Em primeiro lugar, uma escala bizantina (também chamada de escala
duplo-harmônica) quase completa, que explicaria a referência do compositor ao “Oriente Próximo”. Em
segundo lugar, uma escala pentatônica hemitônica completa presente que justificaria a referência à
“Indonésia” e, como essa pentatônica tem uma estrutura intervalar caracterizada por uma segunda menor
inicial, essa presença também poderia significar a referência indireta a um modo frígio incompleto
(explicando o aspecto “grego antigo” que Xenakis mencionou).
Com esse crivo, a escala bizantina incompleta (Figura 3) é formada pela sequência de semitons 1 3 1 2 4 1,
que cria, via disposição intervalar, uma segunda menor (grau II), uma terça maior (grau III), uma quarta
justa (grau IV), uma quinta justa (grau V), uma sétima maior (grau VII) e uma oitava justa
14
. Também é
13
[...] après beaucoup de tentatives, je construisis un crible (échelle) qui, surprise!, se rapprochait des
gammes de la Grèce antique, du Proche Orient, de l’Indonésie”.
14
Como no presente artigo é feita menção a escalas baseadas em estruturas do sistema modal, utiliza-se o
termo grau para referir-se às divisões internas da oitava em um modo específico. Por mais que as relações
de subordinação e atração baseadas em graus não tenham suscitado o interesse por parte de Xenakis, o
termo grau pode ajudar a compreender a estrutura recorrente que acaba ocorrendo na sequência de
semitons do crivo desenvolvido pelo compositor. Ele auxilia então na visualização das relações e
recorrências entre a estrutura xenakiana (o crivo em si) e o material musical de origem modal que ele cita
na introdução de Pléïades (da “Grécia antiga, do Oriente Próximo ou da Indonésia” Xenakis 1979, i).
Assim a escala bizantina completa, por ser heptatônica, é caracterizada por sete graus (I a VII) que são
dispostos partindo-se dos intervalos de segunda menor, terça maior, quarta justa, quinta justa, sexta
menor e sétima maior. A escala grega mencionada por Xenakis seria a frígia, também heptatônica, e
possuindo disposição intervalar de segunda menor, terça menor, quarta justa, quinta justa, sexta menor e
sétima menor. A escala Indonésia que ele faz referência no interior do crivo é pentatônica, e será
Morais, Ronan Gil de. 2022. “Referências indonésias em Claviers de Iannis Xenakis: processo criativo com material exógeno em Pléïades (1978)”
Per Musi no. 42, Iannis Xenakis: 1-24. e224228. DOI 10.35699/2317-6377.2022.44450
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perceptível que essa escala repete notas nas oitavas superior e inferior, cobrindo um registro de quase
duas oitavas (mesmo que incompleto em muitas passagens). Assim, a sequência de semitons 1 3 1 2 4 1 4 1
(1) apresenta uma repetição dos graus I, III e IV uma oitava acima na passagem 4 1 (1), sendo (1) também o
primeiro intervalo do próximo período. As sucessões intervalares intermediárias e superiores (P2, P3 e P4)
também apresentam seu grau V na oitava abaixo.
Figura 3: Crivo usado em Pléïades destacando a escala bizantina implícita (uma escala duplo-harmônica incompleta) que Xenakis incorporou
nessa coleção de alturas.
A continuidade de duas sequências poderia ser escrita como (1) 3 1 2 4 1 4 1 (1) 3 1 2 4 1 4 1 (1), sendo (1)
um intervalo caracterizado pela presença de uma nota pivô entre as sucessões intervalares inferior e
superior. Essa nota pivô ocorre no modo anterior como IV grau uma oitava acima e no próximo modo
potencial como I grau. Essa passagem entre duas escalas bizantinas (por exemplo, entre P1, que apresenta
a escala bizantina em Lá, e P2, que apresenta a escala em Ré) é reforçada adicionalmente por uma sutil
sequência cromática de três notas (representada por 1 1), com a intermediária sendo a nota pivô. Essa
passagem representa o ponto de inflexão que transporta a escala para uma nova tonalidade, situada uma
quarta acima do período anterior (P1 que apresenta a escala bizantina em Lá, P2 em Ré, P3 em Sol e P4 em
).
Essa escala bizantina incompleta com alguns graus repetidos em oitavas superiores e inferiores se encaixa
perfeitamente na sequência de 17 semitons, com a nota pivô servindo de passagem entre as sequências
em tons diferentes e as sucessões intervalares. Entre a escala anterior e a seguinte em cada sucessão,
uma décima primeira justa distanciando cada primeira nota, mostrando a ocorrência de um ciclo de
quartas entre cada escala bizantina à medida que o crivo progride para o registro mais alto.
Para ocorrer uma escala bizantina completa, a sexta menor seria necessária, e então a sequência completa
de semitons apresentar-se-ia como 1 3 1 2 1 3 1, com o intervalo 2 central representando o elemento
intermediário do aspecto especular da dupla harmonicidade criada através da presença de dois
tetracordes idênticos (sequências de semitons 1 3 1). Mas, ao mesmo tempo, como esse sexto grau não
está presente, sua ausência permite o surgimento de uma escala pentatônica hemitônica que Xenakis
descreveu como sendo “muito próxima do pelog (Varga 1996, 164). Esse aspecto do crivo surge da
sequência de semitons 1 2 4 1 4, caracterizando uma escala pentatônica com segunda menor, terça menor,
quinta justa, sexta menor e oitava justa (Figura 4).
caracterizada por uma sequência intervalar de segunda menor, terça menor, quinta justa e sexta menor
(serão para este modo mencionados então os graus I, II, III, V e VI).
Morais, Ronan Gil de. 2022. “Referências indonésias em Claviers de Iannis Xenakis: processo criativo com material exógeno em Pléïades (1978)”
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É perceptível na figura acima que a escala pentatônica em uma determinada sucessão intervalar tem notas
repetidas na oitava superior (graus I e II) e na oitava inferior (graus V e VI), cobrindo um registro de uma
oitava e meia (graus V e VI oitava abaixo + escala completa + graus I e II oitava acima). Como ocorre na
escala bizantina, essa pentatônica coincide com a sucessão intervalar do crivo. Cada nova sucessão
intervalar apresenta uma escala pentatônica caracterizada por um ciclo de quartas (nesse caso, o P1 tem a
pentatônica em sustenido, P2 em sustenido, P3 em Si e P4 em Mi), com uma curta sequência
cromática de três notas (1 1) como passagem intermediária. Essa passagem cromática tem duas notas em
comum entre duas escalas pentatônicas adjacentes, sendo os graus I e II da inferior e V e VI da superior.
Figura 4: Crivo estruturando Pléïades com destaque para a escala pentatônica hemitônica que Xenakis integrou.
A sequência intervalar que permite a ocorrência da pentatônica hemitônica também pode explicar por que
Xenakis afirmou que o crivo “era semelhante às escalas da Grécia antiga” (Xenakis 1979, i). Ele pode ter
considerado a característica da escala menor com segunda menor como uma espécie de escala frígia.
Entretanto, essa é novamente uma escala incompleta, pois faltam os graus IV e VII.
Comparando todas as estruturas anteriores (seja em termos de uma escala bizantina, pelog indonésia ou
frígia), é perceptível que os ciclos de quartas ascendentes e a passagem cromática entre diferentes
sucessões intervalares são determinantes e recorrentes. Essas estruturas são simétricas e extremamente
organizadas, repetindo um tipo de estrutura intervalar que é igual dos registros mais graves para os mais
agudos. No entanto, a forte presença de estruturas modais internamente não quer dizer que a música de
Xenakis seria guiada pelos mesmos princípios e necessidades estruturais inerentes ao modalismo. Quando
perguntado sobre a presença de escalas modais em sua música, Xenakis declarou em uma entrevista em
1989 que:
Elas parecem modais, mas não são. A chamada música modal foi copiada na música
tonal no século XIX. Os compositores foram influenciados pela música tradicional da
igreja após a descoberta de manuscritos antigos na Abbaye de Solesmes. Na Rússia,
também, os compositores do Grupo dos Cinco especialmente Mussorgsky foram
influenciados pela música da igreja ortodoxa russa e também pela música folclórica.
Foi assim que a chamada música modal ficou em voga.
Meu trabalho não tem nada a ver com a música modal, mas admito que, às vezes, ele
pode criar essa impressão por causa da escala cromática não tonal ou temperada. O
problema das escalas que chamo de crivos é sico para a música instrumental e
também para a ntese sonora. A maioria dos compositores opta por ignorá-lo. Eles
simplesmente pegam as notas como se fossem uma escala. Eles simplesmente
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pegam as notas como se todas estivessem à sua disposição. Esse não é o caso,
porque eles precisam pensar na estrutura básica. É por isso que acho que o problema
das escalas é tão importante, tanto do ponto de vista melódico quanto harmônico
15
.
(Varga 1996, 159)
Assim, ao afirmar que esses materiais “parecem modais, mas não são”, Xenakis esindicando claramente
que sua preocupação o era com as tendências de atração que alguns graus apresentam com outros e
com a polarização dos aspectos harmônicos em termos de movimentos específicos e sequências
predeterminadas que geralmente são observadas nesse tipo de música. Em vez disso, o compositor estava
mais preocupado com as conexões diretas entre frequências e timbres do que com etapas
predeterminadas adotadas pelas convenções em termos de harmonia e melodia. Para Xenakis, havia forças
inerentes representadas por esses materiais, mas não na perspectiva de uma reprodução do mesmo
contexto melódico e harmônico usado por gerações anteriores. Portanto, ele não estava considerando o
uso desses materiais em termos de graus, funções, forças polarizadas de atração e discurso harmônico. Em
vez disso, o que o interessava era que a estrutura poderia apresentar aspectos tímbricos completamente
diferentes para cada região em que se manifestasse e em relação a cada sucessão intervalar que a
contivesse. É por isso que ele afirmou:
A estrutura da escala melódica é muito importante, o apenas nos padrões
melódicos melodias mas também na produção de acordes de timbres diferentes.
Se você pegar um determinado intervalo e se a estrutura da escala for
suficientemente rica, você poderá permanecer nele sem ter que recorrer a padrões
melódicos o intercâmbio dos próprios sons em um movimento rítmico bastante
livre produz um fluxo melódico que não é nem de acordes nem de padrões
melódicos. [...] Eles proporcionam uma espécie de timbre geral em um domínio
específico
16
. (Varga 1996, 145)
Essa fusão de timbres, sonoridades e estruturas intervalares o levou a imaginar que a aplicação musical da
teoria dos crivos foi bem-sucedida (como ele mesmo mencionou), criando assim uma ferramenta
eficiente para organizar suas ideias musicais. Ela também possibilitou a reunião multicultural de estruturas
15
“They look modal but they’re not. So-called modal music was copied in tonal music in the nineteenth
century. Composers were influenced by traditional church music following the discovery of old manuscripts
in the Abbaye de Solesmes. In Russia, too, the composers of the Five Musorgsky especially were
influenced by the music of the Russian Orthodox church and also by folk music. That’s how so-called modal
music became fashionable. / My work has nothing to do with modal music, but I do admit that it may
sometimes create that impression because of the non-tonal or tempered chromatic scale. The problem of
the scales which I call sieves is basic to instrumental music and also to sound synthesis. Most composers
choose to ignore it. They simply pick up notes as if they were all at their disposal. That’s not the case,
because they have to think of the basic structure. That’s why I think the problem of scales is so important,
both from a melodic and a harmonic point of view”.
16
“The structure of the melodic scale is very important, not only in melodic patterns melodies but also
in producing chords of a different timbre. If you take a given range, and if the structure of the scale is rich
enough, you can stay there without having to resort to melodic patterns the interchange of the sounds
themselves in a rather free rhythmic movement produces a melodic flow which is neither chords nor
melodic patterns. That, perhaps, is what you mean. They give a kind of overall timbre in a particular
domain”.
Morais, Ronan Gil de. 2022. “Referências indonésias em Claviers de Iannis Xenakis: processo criativo com material exógeno em Pléïades (1978)”
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musicais de diferentes origens e contextos. As inferências sobre as escalas bizantina e grega parecem ser
apenas indiretas (pelo menos até o presente momento), mas o trecho da escala pentatônica (que ele
sempre chamou de pelog) foi coletado diretamente na Indonésia. Como será apresentado a partir de
agora, essa sequência de notas é consequência de um conjunto de gamelão gravado pelo compositor no
norte de Bali em dezembro de 1972. O uso dessa referência direta foi significativo para Xenakis, que
integrou aspectos musicais de culturas geograficamente distantes por meio da mediação da matemática
para compor em suas próprias perspectivas. Ao reunir referências divergentes, como as de escalas
bizantinas, indonésias e gregas, Xenakis estava alcançando uma ideia que conciliaria suas perspectivas
teóricas do início da década de 1960 com suas experiências e realizações práticas na década de 1970
17
.
4. O pelog no crivo: um retorno musical ao norte de Bali
Há conexões diretas entre Jonchaies (1977) e Pléïades (1978), bem como implicações diretas entre ambas e
a música indonésia. Como Xenakis abordou inicialmente sobre a organização das alturas na introdução de
Jonchaies:
O início de Jonchaies trata dos “crivos” de altura (escalas) de uma nova maneira e usa
uma escala especial não-oitavante, uma solução possível para os problemas das
estruturas ‘fora-do-tempo’ (‘hors-). Mais adiante, tratam-se os “crivos” no
tempo por meio de multiplicidades de classes de timbres em vários níveis, tocadas
por subgrupos da orquestra, determinando assim planos de trajetórias
entrelaçadas
18
. (Xenakis 1977, i)
Sobre esse crivo usado de “uma nova maneira”, o compositor ainda destacou (em uma entrevista posterior
de 1989) que: “Há uma escala no início de Jonchaies, que é muito próxima do pelog. Ela é tratada ali de
uma forma que é minha invenção: em vez de ter uma linha, muitas linhas, mas todas na mesma
tessitura, usando as mesmas escalas. Isso cria uma espécie de fluxo, ou vapor, de música
19
(Varga 1996,
164-165). A inserção dessa escala pelog no material xenakiano foi notada por contemporâneos do
compositor. Philippe Manoury (Com. Pes., 2019) e François-Bernard Mâche (Com. Pes., 2020) comentaram
sobre essa inserção durante algumas entrevistas, com o último afirmando: “Isso é muito claro em
Jonchaies, onde realmente um modo pelog, ou seja, com cinco intervalos na oitava, mas intervalos
17
Essa busca por aspectos universais é algo presente na vida de Xenakis desde a década de 1950. Ela teve
importantes desdobramentos na década de 1960, quando ele participou de diferentes eventos. Como
Veneración (1967, 108) mencionou ao descrever o evento Musics of AsiaInternational Music Symposium
em Manila (1966), o compositor “sentiu que parecia haver uma confusão na música que poderia ser
resolvida pela busca de uma estrutura universal”. Trecho original: Xenakis “felt that there seemed to be a
confusion in music which may be resolved by seeking for a universal structure”. (Veneración 1967, 108)
18
“Le début de Jonchaies traite des « cribles » (échelles) de hauteurs d’une façon nouvelle et emploie une
échelle non-octaviante spéciale, solution possible aux problèmes des structures hors-temps. Puis, plus loin,
elles traitent des « cribles » du temps à l’aide de multiplicités de classes de timbres sur plusieurs niveaux,
jouées par des sous-groupes de l’orchestre, et déterminant ainsi des plans de trajectoires qui
s’enchevêtrent”.
19
“There’s a scale at the beginning of Jonchaies, which is very close to the pelog. It’s treated there in a way
that is my invention: instead of having one line, there are many lines, but all in the same range using the
same scales. It makes a kind of flux, or vapour, of music”.
Morais, Ronan Gil de. 2022. “Referências indonésias em Claviers de Iannis Xenakis: processo criativo com material exógeno em Pléïades (1978)”
Per Musi no. 42, Iannis Xenakis: 1-24. e224228. DOI 10.35699/2317-6377.2022.44450
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desiguais. Portanto, algumas passagens de Jonchaies soam abruptamente indonésias de fato” (Mâche,
Com. Pes., 2020). Isso também foi muito perceptível para Betsy Jolas, que viajou com Xenakis para a
Indonésia
20
, sendo que ambos até discutiram sobre a conexão entre a peça orquestral e a viagem de 1972.
Como ela explicou:
Com Iannis, quando ouvi Jonchaies, eu disse a mim mesma: bem, isso é o que ele
tirou de lá [da viagem à Indonésia]. Você sabe que Iannis e eu nos conhecemos desde
1951 [...] Sempre acompanhei seu trabalho [...]. Você pode ouvir [em Jonchaies]
desde o início uma melodia que é balinesa, acho que ele deve -la notado de lá, na
verdade, é quase uma citação. Ela aparece e entra sorrateiramente na orquestra, é
um efeito magnífico. [...] Devo dizer que, quando ouvi Jonchaies, eu disse a ele:
“parece-me que eu ouvi isso...” Havia esse lado de “eu sei de onde isso vem” e ele
me disse: “você não está errada!”
21
[Grifos nossos] (Jolas, Com. Pes., 2021)
Em trabalhos acadêmicos, diferentes autores se referiram a essa sequência pelog indonésia introduzida no
crivo xenakiano. Mâche (1981), Halbreich (1988), Solomos (1996), Gibson (2001), Lacroix (2001), Barthel-
Calvet (2002b), Solomos (2002a e 2002b), Harley (2004), Gibson (2011) e Pires (2015) indicaram a presença
da sequência pentatônica em Jonchaies e/ou Pléïades. O que não foi mencionado por nenhum destes
autores
22
é que o surgimento dessa escala pentatônica hemitônica específica “muito próxima do pelog
nesse crivo é consequência de uma gravação feita por Xenakis de material original in situ. Não se tratava
assim apenas de uma metáfora ou do uso de um elemento estilizado capturado em um livro teórico ou
similar; ao contrário, era uma sequência de alturas que o próprio Xenakis coletou durante sua viagem e
guardou entre seus pertences pessoais por décadas.
Os arquivos pessoais de Xenakis atestam então que houve incorporação de material exógeno na origem da
constituição do crivo de Jonchaies, quando ele ainda estava experimentando algumas sequências de
alturas, escolhendo intervalos e estabelecendo materiais iniciais (Figura 5a e b). Foi neste momento que o
compositor incorporou exatamente a mesma escala que ele havia ouvido e gravado no norte de Bali e
anotado na fita arquivada na Biblioteca Nacional de França (Bibliothèque nationale de France BnF) com a
cota de depósito DONAUD 0602 753Xenakis 800 (Figura 5c e d). Ele inclusive anotou a menção específica
20
Xenakis viajou por Bali e Java de 24 de dezembro de 1972 a 5 de janeiro de 1973 com um grupo de
amigos músicos: Betsy Jolas, Toru Takemitsu, Marie-Françoise Bucquet, Maurice Fleuret e Henry-Louis de
La Grange. Essa foi também uma viagem em família, pois os viajantes estavam acompanhados de seus
respectivos cônjuges. Assim, essa viagem reuniu figuras importantes da música do séc. XX, não apenas
como compositores (Jolas, Takemitsu, Xenakis), mas também como diretores de festivais, críticos e
musicólogos (Fleuret e de La Grange) e pianista (Bucquet). Veja mais detalhes sobre essa jornada em
Morais (2022 e 2023).
21
“Chez Iannis, quand j’ai entendu Jonchaies, je me suis dit : ben voilà ce qu’il a sorti de là [de ce voyage en
Indonésie.] Vous savez Iannis et moi on se connait depuis 1951 […] J’ai toujours suivi son œuvre […] On
entend [en Jonchaies] dès le début se former une mélodie qui est balinaise, je pense qu’il a la noter de
-bas, en fait c’est presque une citation. Elle apparaît et elle se faufile dans l’orchestre, c’est magnifique
comme effet ça. […] Moi je dois dire que, quand j’ai entendu Jonchaies, je lui ai dit : ‘il me semble que j’ai
entendu ça déjà…’ Il y avait ce côté de ‘je sais d’où ça vient’ et il m’a dit : ‘t’as pas tort !’ [Grifos nossos]”.
(Jolas, Com. Pes., 2021)
22
A exceção pode ser verificada consultando-se trabalhos anteriores do presente autor como Morais
2022 e 2023.
Morais, Ronan Gil de. 2022. “Referências indonésias em Claviers de Iannis Xenakis: processo criativo com material exógeno em Pléïades (1978)”
Per Musi no. 42, Iannis Xenakis: 1-24. e224228. DOI 10.35699/2317-6377.2022.44450
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“bali nord” (norte de Bali) no meio do crivo em seus manuscritos (Figura 5b), sendo este o mesmo nome
que ele deu à fita cassete consequência da viagem (Figura 5c). Comparando-se os manuscritos de
Jonchaies e as anotações na fita em si, percebe-se que Xenakis usou exatamente as mesmas notas
transcritas anteriormente, deixando claro que ele estava literalmente se referindo a documentos
anteriores e consultando gravações antigas para produzir novos materiais.
O material inicialmente experimentado (Figura 5a) o é idêntico à versão final; o crivo definitivo é
apresentado uma oitava acima, mas o trecho do norte de Bali gravado em 1972 foi importante na origem
deste crivo e é fundamental em sua caracterização, permanecendo como estrutura intrínseca de cada
período e sucessão intervalar. A sequência original de notas da fita DONAUD 0602 753-Xenakis 800 (Figura
5c e d) é então apresentada como parte da sucessão intervalar P3 (eo P2 como seria se não houvesse a
mudança definitiva de oitava no material inicial). É esse crivo completo que finalmente estabelece o início
de Jonchaies, sendo o mesmo usado de modo expandido em Pléïades.
a) b)
c) d)
Figura 5: Trecho dos esboços de Xenakis para Jonchaies (1977) e correlação com uma gravação feita na Indonésia em 1972. a) Parte superior
de manuscrito com a elaboração de grupos de notas que embasariam o crivo de Jonchaies. b) Detalhe de a) indicando a menção específica
“bali nord”. c) Fita cassete chamada “BALI NORD”, com uma escala transcrita de uma apresentação de gamelão local. d) Detalhe de c).
Fonte: a) © CFIX (OM 26-7, p. 6); c) Foto do autor (BnF, DONAUD 0602 753-Xenakis 800).
Como Xenakis transcreveu uma escala de um gamelão específico que ele ouviu e gravou durante a viagem
de 1972-1973, é certo que o material tinha uma importância significativa para ele, afinal o compositor
aplicou-o em suas propostas cinco anos depois do contato inicial. O crivo decorrente desse material
reapareceu ainda em outras obras; como o próprio Xenakis mencionou: Em Aïs, modifiquei ligeiramente
essa escala para torná-la menos reconhecível, para ser diferente e, ainda assim, manter um tipo de tensão
específica
23
(Varga 1996, 165). Esse crivo e as variantes criadas por transposição, derivação e em
combinação com outros crivos estavam fortemente presentes nas décadas de 1970 e 1980, mas ele
chegou a usar esse material nos anos 1990. Esse crivo é, por exemplo, a principal coleção de alturas usada
em Palimpsest (1979, para grupo de câmara), Anemoessa (1979, para coro misto e orquestra), Aïs (1980,
para barítono, percussão e orquestra), bem como em suas versões transpostas em Kyania (1990, para
orquestra) e Roaï (1991, para orquestra), entre outros
24
. Esse material exógeno aqui apresentado não é o
23
“In Aïs I modified this scale slightly in order to make it less recognizable, to be different and yet retain a
kind of specific tension”.
24
Exarchos (2007) apresentou uma discussão mais aprofundada sobre a caracterização e configuração dos
Morais, Ronan Gil de. 2022. “Referências indonésias em Claviers de Iannis Xenakis: processo criativo com material exógeno em Pléïades (1978)”
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único presente em Pléïades, outras estruturas com claras conexões com a música indonésia ainda fazem
parte do contexto de produção da obra.
6. Claviers e/como “uma das peças mais belas que já ouvi”
Com relação à música indonésia, Xenakis afirmou em uma entrevista de rádio em 1973
25
que:
Eu conhecia a música de Bali [antes de viajar para a Indonésia em 1972-1973]. A
primeira vez que conheci essa música foi por meio de um disco japonês feito durante
a guerra, quando eles ocuparam a Indonésia, e Mayuzumi
26
tinha esse disco, e eu
estava em Paris na época. Havia uma coleção inteira de músicas do sudeste asiático,
incluindo Bali, e isso me impressionou muito. De fato, foi uma das peças mais belas
que já ouvi. Então, dessa vez [a viagem à Indonésia] foi para dar uma olhada mais de
perto e ouvi-la
27
. (Xenakis 1973)
O primeiro contato com a música de gamelão causou uma grande impressão no compositor. Como ele
mesmo declarou, foi “uma das peças mais belas” que ele havia ouvido, mostrando a grande estima que ele
atribuía às sonoridades e aos aspectos formais dessa música, mesmo vinte anos depois de um primeiro
contato. Entretanto, em outra declaração (uma entrevista de dezembro de 1997), o compositor apontou
para uma primeira audição em um contexto diferente. Ele continuou a indicar a década de 1950, mas
apontou Schaeffner
28
como agente primordial em seu primeiro contato, mencionando: “[...] eu ia ao
Trocadero com André Schaeffner, que me apresentou à música de Bali, Java e Japão. Isso foi em 1950
29
(Serrou 2003, 42). Independentemente de qual versão deva ser considerada mais precisa, ambas mostram
que os primeiros contatos com a música indonésia ocorreram no início da década de 1950, através de
diferentes fontes e contatos e que uma forte impressão ficou marcada em sua memória ao longo de
décadas.
crivos conforme estabelecido matematicamente por Xenakis.
25
A entrevista ocorreu logo após o retorno de Xenakis da Indonésia em um programa francês de rádio que
também contou com a participação de François-Bernard Mâche.
26
Uma referência a Toshirō Mayuzumi, compositor japonês e um dos pioneiros da música concreta e da
música eletrônica que foi para Paris em 1951 e estudou no Conservatoire National de Paris (CNSM) de 1951
a 1952. Xenakis provavelmente ouviu o gamelão com ele por volta desse período. Mais detalhes sobre
Mayuzumi podem ser consultados em Utz (2018).
27
“Je connaissais déjà la musique de Bali. La première fois que j’ai eu l’occasion de connaître cette musique
c’était d’après un disque japonais fait pendant la guerre, quand ils avaient occupé l’Indonésie et c’était
Mayuzumi qui avait ce disque et j’étais à ce moment à Paris. Il y avait toute une série de musique du Sud-
Est asiatique dont de Bali et ça m’avait fait une très grosse impression. D’ailleurs, une était une des plus
belles pièces que je n’aie jamais entendues. Et donc cette fois-ci c’était pour voir de plus près et
d’entendre”.
28
André Schaeffner foi um importante pesquisador e etnomusicólogo francês. Ele dirigiu o departamento
de etnomusicologia do    (antigo    ) e também foi
responsável por anos de toda a coleção musical da instituição.
29
“[...] j’allais au Trocadéro chez AndSchaeffner qui m’a fait découvrir les musiques de Bali, de Java, du
Japon. C’était en 1950”.
Morais, Ronan Gil de. 2022. “Referências indonésias em Claviers de Iannis Xenakis: processo criativo com material exógeno em Pléïades (1978)”
Per Musi no. 42, Iannis Xenakis: 1-24. e224228. DOI 10.35699/2317-6377.2022.44450
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Uma fita magnética (classificada como DONAUD 0602 218-Xenakis 223) encontrada na BnF pode ser uma
das primeiras gravações de música de gamelão que Xenakis possuiu em sua coleção pessoal (Figura 6a). A
gravação, que fazia parte de seus pertences pessoais, possui uma indicação manuscrita de Xenakis em sua
capa “Folklore: Sion Java Sum. Bali. Viet. Thib. Volta Gabon. [Data:] XII-1951”, que descreve então o país de
onde veio cada gravação de música tradicional. Assim, a fita magnética é constituída principalmente de
música asiática (de Sião atual Tailândia, Java, Sumatra, Bali, Vietnã e Tibete), mas também inclui música
africana (Haute Volta atual Burkina Faso e Gabão).
a) b)
Figura 6: Elementos correlacionados em Claviers, uma gravação de 1951 e a seção final do movimento. a) Gravação de música tradicional da
Indonésia (1951) nos arquivos pessoais de Xenakis. Fonte: Foto do autor (BnF, DONAUD 0602 218-Xenakis 223). b) Transição para a Seção C
de Claviers. Fonte: Claviers, comp. 110-111 (Xenakis, 2013) © Éd. Salabert.
Essa é possivelmente a primeira gravação de gamelão mencionada pelo compositor, devido à data indicada
na capa (“XII-1951”). Não está claro se esse material fazia parte da coleção de música do Sudeste Asiático
(excluindo as gravações africanas) que seu amigo Toshirō Mayuzumi lhe presenteou ou se era parte da
coleção do   , sob a responsabilidade de André Schaeffner. De toda forma, a data de
1951 corresponde exatamente ao período descrito por Xenakis anteriormente. Além disso, é perceptível
que essa era uma gravação que ele sempre manteve consigo e que permaneceu em sua coleção pessoal
durante toda a sua vida, atestando seu interesse e cuidado para com o material.
Ao ouvir-se essa fita magnética, percebe-se uma correlação direta com o fim de Claviers. Ambos os
materiais apresentam um paralelo, mostrando que Xenakis teria consultado, uma vez mais, materiais
indonésios gravados para estimular criativamente a composição de Pléïades. A correlação emerge de
padrões tmicos, alturas e uma globalidade sonora que são perceptivelmente semelhantes. A seção
conclusiva em Claviers (do comp. 111 al fine) apresenta o único uníssono que ocorre entre todos os
instrumentos metálicos e de madeira, caracterizando uma enorme mudança na textura geral (Figura 6b).
Essa passagem apresenta até mesmo um uso diferente do crivo original, com a quebra da oitava específica
da sucessão intervalar P1 uma oitava acima. A mudança na sequência lógica determinada pelo crivo e a
modificação abrupta da textura quebram uma expectativa anterior e colocam a seção em foco com um
final que surpreende ao ser iniciado. Aqui fica evidente que, mais do que mudar as expectativas, Xenakis
está citando diretamente a gravação de gamelão que ele adquiriu em 1951 e manteve em sua coleção por
quase três décadas, aplicando-a em 1978 especificamente nessa peça de percussão.
Mesmo que, nesse caso, o material tenha sido elaborado inicialmente para Pléïades, Xenakis reutilizaria
posteriormente a estrutura em um contexto diferente e com algumas modificações. Essa textura
interessou tanto o compositor que ele a aplicou novamente em Komboï (1981), duo para cravo e
Morais, Ronan Gil de. 2022. “Referências indonésias em Claviers de Iannis Xenakis: processo criativo com material exógeno em Pléïades (1978)”
Per Musi no. 42, Iannis Xenakis: 1-24. e224228. DOI 10.35699/2317-6377.2022.44450
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percussão. A instrumentação foi radicalmente alterada, mas o trecho (que começa na indicação 240)
destaca um tratamento correlato de textura, perfil melódico, acentos, ostinato melódico e elementos
rítmicos (Figura 7).
Figura 7 Trecho de Komboï (1981) que apresenta um material semelhante àquele composto para a seção conclusiva de Claviers (comp.
111 al fine). Fonte: Komboï, comp. 232-235 (Xenakis, 1981) © Éd. Salabert.
Uma parte importante da produção de Xenakis pode ser compreendida como uma consequência da
entrada de material exógeno indonésio em seu processo criativo e em suas abordagens. Voltando a
Claviers, a primeira composição que usa essa textura específica, o trecho em que ela aparece se mostra
muito significativo. Xenakis está concluindo o movimento com ela, em uma espécie de retorno ao material
que o tocou fortemente décadas antes. O início do movimento é caracterizado pelas sonoridades dos
vibrafones com materiais medicos e harmônicos completamente determinados a partir das perspectivas
do próprio compositor (Seção A1). Em seguida, as seções intermediárias (Seções A2 a B3) são
caracterizadas pelo crivo que se baseia em um gamelão que ele gravou em 1972 em Bali. Ao mesmo
tempo, um processo contínuo de variação que leva ao trecho de gamelão que ele possuía uma cópia
desde 1951 (Seção C). um processo cumulativo de materiais sobrepostos, como arborescência e halo
sonoro, com uma intensa variação de padrões melódicos e rítmicos (com base em perfis que são
eminentemente formas de onda), ao mesmo tempo em que essa transformação gradual é concluída na
música de gamelão que ele conhecia desde pelo menos o início da década de 1950 (Figura 8).
Figura 8: Disposição geral dos aspectos melódicos e texturais em Claviers, indicando a transição de materiais sem referências exógenas (o
material introdutório) para aqueles que apresentam referências indonésias (o crivo baseado em uma gravação in situ de 1972 e a seção
completa baseada em uma gravação de 1951 Seção C).
Morais, Ronan Gil de. 2022. “Referências indonésias em Claviers de Iannis Xenakis: processo criativo com material exógeno em Pléïades (1978)”
Per Musi no. 42, Iannis Xenakis: 1-24. e224228. DOI 10.35699/2317-6377.2022.44450
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Esse tipo de retrogradação
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de uma melodia que Xenakis criou em 1978 para um trecho que ele conhecia
desde o início da década de 1950 não é trivial. Ela pode indicar muito mais sobre o processo criativo do
compositor do que anteriormente abordado sobre Pléïades. Por ser um trecho resultante de referências
exógenas diretas, a Seção C apresenta ainda algumas das características que o material original possui.
Dessa forma, o trecho deixa implícito uma textura e um tipo de estrutura muito especificamente
conectados à música indonésia: o kotekan.
7. Um kotekan em Claviers
O kotekan é um material muito importante na caracterização da música indonésia. Essa estrutura é o
resultado de diferentes linhas melódicas (geralmente duas na música balinesa) que são complementares
em seu desenvolvimento, intrinsecamente conectadas em termos de seu desenvolvimento rítmico e
diretamente correlacionadas por suas sequências de alturas (Figura 9). O resultado é percebido como uma
melodia única, mas, em seu núcleo, pelo menos dois músicos responsáveis pela integração dessas
partes típicas separadas
31
.
Como Spiller (2004, 121-122) afirmou, “vários instrumentos colotômicos em conjuntos de gamelão tocam
partes que podem ser consideradas complementares umas às outras porque cada parte toca durante os
silêncios das outras, de modo que o ouvido e o cérebro são obrigados a ouvi-las como uma única entidade
musical
32
”. Em sua declaração, também é necessário considerar a importância da colotomia e,
consequentemente, dos instrumentos, estruturas e formas colotômicas. A colotomia é caracterizada pela
subdivisão do tempo em estruturas menores pontuadas por instrumentos específicos que podem ajudar a
estabilizar o conjunto do gamelão, ao mesmo tempo em que permite um dimensionamento claro da forma
completa, suas subdivisões, mudanças e diferentes partes. As estruturas colotômicas, sendo geralmente
cíclicas e repetitivas, são referências importantes durante a execução da música de gamelão, ajudando os
músicos a perceber as durações e as mudanças ligadas a uma seção específica ou às inúmeras transições
que ocorrem ao longo de uma peça
33
.
30
O termo retrogradação, ato ou efeito de retrogadar ou de possuir movimento retrógrado, significa que
algo volta a um estado primitivo, primeiro, anterior ou passado. Este termo possui uma acepção própria
para as ciências astronômicas, mas é aqui empregado para simbolizar o efeito de retorno progressivo às
experiências passadas de Xenakis. Retrogradação significa no contexto do presente artigo o fato de haver
então uma melodia exclusivamente xenakiana no início do movimento Claviers de 1978, que passa por
materiais gravados por ele em 1972 e chega ao material melódico-harmônico que ele escutou em 1951.
31
Geralmente, nas apresentações de gamelão, essa estrutura de duas linhas melódicas é apresentada por
vários músicos para cada uma das partes, exigindo uma coordenação muito precisa do tutti e uma
habilidade musical bastante grande.
32
“[...] various colotomic instruments in gamelan ensembles play parts that may be said to be
complementary to one another because each part plays during the silences in the other parts so that the
ear and brain are compelled to hear them as a single musical entity”.
33
Como Spiller (2004, 68-69) complementa sobre as estruturas colotômicas: “By virtue of their majestic
sound and especially honored statues, the large gongs are assigned the role of regularly marking off the
passage of rather large chunks of musical time [...]. It is quite difficult for humans to accurately measure a
chunk of time as long as thirty-two seconds without somehow dividing it into smaller, more manageable
units. The ketuk’s sharp attack and quick decay make it an ideal instrument for marking off appropriately
smaller units of time. [...] Together these two instrumental sounds act as a foundation for the other
instruments’ parts; they quite literally lay out a timeline for the other instruments. Ethnomusicologists
Morais, Ronan Gil de. 2022. “Referências indonésias em Claviers de Iannis Xenakis: processo criativo com material exógeno em Pléïades (1978)”
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Figura 9: Representação gráfica de um kotekan típico, melodia resultante de duas partes interconectadas. Representação com trinta e duas
notas baseada em Spiller (2004, 123).
Ao abordar especificamente a música balinesa, Tenzer (2011) apontou que os instrumentos no registro
agudo (mais frenéticos) o mais frequentemente usados para produzir o kotekan e os graves para
caracterizar as pontuações e demarcações de seções feitas pelos instrumentos colotômicos. Isso é
exatamente a maneira como Xenakis acabou caracterizando a Seção C de Claviers a partir do comp. 114
(Figura 10).
Figura 10: Trecho da seção final de Claviers, um tutti apresentando semelhanças com estruturas de kotekan e de colotomia. Fonte: Claviers,
comp. 114-119 (Xenakis, 2013) © Éd. Salabert.
Essa seção final é assim caracterizada por algumas estruturas que têm correlações claras com as notas
mais agudas de um kotekan (mesmo se tocadas por todos os músicos por causa do uníssono total) e com
estruturas colotômicas, devido à sustentação estrutural produzida no registro inferior por notas mais
esparsas.
Na imagem acima, os acentos das notas mais graves destacam a pontuação causada pela estrutura
diretamente ligada à característica colotômica da música indonésia original. Xenakis chegou a usar duas
notas separadas por uma oitava para corresponder ao que representa os gongos grave e agudo na
colotomia típica da gravação original. Na parte aguda extremamente repetitiva, não há nenhuma estrutura
ritmicamente interconectada entre duas vozes como é típico do kotekan porque todos os músicos estão
sometimes call this sort of foundation or timeline, in which regular time periods are delineated by
punctuating sounds, a colotomic form or colotomy. These terms are based on the Greek word for a unit of
rhythm (colon) and the Greek-derived suffixes for something that cuts or divides into sections (-tomy or -
tomic)”.
primeira frase
(músico A)
segunda frase
(músico B)
Resultado percebido
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tocando em uníssono. Entretanto, é perceptível que essa melodia insistente, rápida e limitada por três
alturas (Sol sustenido, natural e Dó sustenido) também tem uma conexão direta com o kotekan da
gravação original do gamelão de 1951. Assim, mesmo que não estejam caracteristicamente diferenciadas
em duas vozes conexas, as figuras mais agudas são eminentemente baseadas em um kotekan e as mais
baixas em instrumentos colotômicos. Ambas as estruturas associadas reforçam a sensação de que
Pléïades, considerada como um todo, tem mais material associado à viagem que Xenakis realizou em 1972-
1973 às ilhas do sudeste asiático e às experiências anteriores do compositor com as tradições indonésias
do que anteriormente relatadas.
8. Considerações finais
Claviers é uma parte importante de Pléïades, pois destaca estruturas muito particulares e representativas
dessa peça e também é uma chave para entender o interesse de Xenakis pela percussão e pelo uso de
teclados percussivos, sendo uma manifestação muito interessante do processo criativo do compositor.
Neste contexto, a menção de uma escala pelog no interior do crivo que ele criou e usou anteriormente em
Jonchaies (1977) é significativa e tem conexões diretas com elementos originais da música indonésia. Além
desse uso direto de uma estrutura tipicamente balinesa, o compositor construiu uma seção inteira com
base em uma gravação que ele havia guardado por décadas entre seus pertences (pelo menos desde
1951).
De modo geral, Claviers representa o desenvolvimento extremo que uma melodia inicial com forma de
onda e características arborescentes sofreu para ser transformada em uma estrutura melódico-textural
que apresenta conexões com materiais específicos da música indonésia. Partindo da irradiação de uma
única melodia introdutória e completamente sua, Xenakis produziu variações extremas com material de
um crivo construído utilizando gravação feita por ele mesmo em Bali em 1972. Estas variações terminam
por apresentar trecho com semelhanças impressionantes com uma performance de gamelão balinês que
ele escutara em 1951. O movimento para teclados de percussão é, portanto, uma espécie de
transfiguração progressiva de elementos que culminam em algo que ele mantivera em seu acervo pessoal
de gravações por vinte e sete anos. Claviers apresenta assim transformações estruturais que encadeiam de
modo retrogradativo momentos intensos de seu contato com as artes indonésias, incorporando à sua
própria música memórias vívidas e impactantes que ele tinha com estas manifestações.
A presença intensa de materiais inspirados nas tradições indonésias acaba produzindo estruturas
semelhantes ao kotekan e à colotomia no interior de Pléïades. Entretanto, a presença do kotekan não é
exclusividade dessa peça somente; de fato, a primeira vez que essas estruturas parecem surgir na
produção de Xenakis ocorreu em Windungen-Retours (1976), para doze violoncelos. Essa peça tem uma
introdução na qual os músicos apresentam passagens melódicas interconectadas típicas do kotekan, sendo
limitadas por três alturas tocadas na mesma tessitura (Fá, Sol e sustenido). A relação entre halos
sonoros (textura fundamental de uma boa parte da produção xenakiana da década de 1970 até 1990) e
material inspirado de tratamentos similares ao kotekan parece evidente e mais dados a serem publicados
poderão melhor esclarecer essa correlação. Em Pléïades, a expansão das texturas associadas a um tipo de
tratamento similar ao kotekan não foi nada trivial durante o desenvolvimento da Seção C de Claviers pois
ele confere sentido aos materiais tratados, associando inclusive os primeiros momentos de audição da
música de gamelão por Xenakis. Este tratamento ainda reaparece durante a Seção B de Métaux, sendo ali
variada ao máximo de possibilidades e manifestando-se de modo bastante diversificado ao ser aplicado
Morais, Ronan Gil de. 2022. “Referências indonésias em Claviers de Iannis Xenakis: processo criativo com material exógeno em Pléïades (1978)”
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com o instrumento metálico que ele mesmo concebeu (o SIX-XEN). Esse tipo de tratamento ainda
reapareceu em sua produção posterior e o enfoque nesta discussão parece necessário para se
compreender melhor o interesse do compositor nestes materiais.
Referências provenientes da música indonésia pululam em Claviers, seja em termos de coleções de alturas,
sucessões intervalares, inferências melódico-harmônicas e tratamentos texturais. Esse movimento é
apenas parte de Pléïades, mas incorpora fortemente uma série de ferramentas muito representativas do
processo criativo do compositor para os anos seguintes. A inserção de uma escala balinesa
especificamente gravada em 1972 e o uso de uma textura ouvida em uma gravação de gamelão em 1951
foram fundamentais na produção do sexteto de percussão em 1978. Isto conferiu à obra mais do que
somente tensões potenciais e estruturas musicais inovadoras (algo que o próprio compositor afirmou ser
importante para ele), afinal foram igualmente incorporadas significações muito pessoais para Xenakis e
correlações com experiências vivenciadas por ele. O discurso que perpassa a estruturação do movimento
se apresenta extremamente conectado às memórias do compositor e aos interesses que a música de
outras culturas lhe trouxera.
Mesmo com tudo o que foi apresentado aqui, esta é apenas uma parte de um contexto muito maior com
relação à abordagem composicional de Xenakis aplicando essas ferramentas e estruturas. Materiais
exógenos raramente foram encontrados em suas obras, mas uma parte importante de sua produção pode
ser compreendida sob uma perspectiva diferente partindo-se das constatações aqui enfatizadas. Isso é
substancial considerando-se apenas Pléïades, mas uma visão mais ampla de sua produção após a primeira
metade da década de 1970 até, pelo menos, a segunda metade da década de 1980 parece necessária para
avaliar todo o contexto. Mais considerações sobre esse momento profico da vida de Xenakis e as
correlações com as tradições do sudeste asiático serão o foco de publicões futuras.
9. Agradecimentos
Em primeiro lugar, eu gostaria de agradecer às instituições que tornaram esta pesquisa possível e a seus
funcionários que diligentemente realizam seus deveres e atribuições com a máxima competência: a Escola
de Música FHNW (Hochschule fr Musik FHNW, Suíça), Universidade da Basiléia (Universitt Basel),
associação swissuniversities, Academia de Música da Basiléia (Musik-Akademie Basel), e o Instituto Federal
de Educao, Cincia e Tecnologia de Gois (IFG).
Também gostaria de agradecer a todas as pessoas que tornaram esta pesquisa possível, compartilhando
conhecimentos, memórias e documentos ricos e muito preciosos. Em primeiro lugar, gostaria de registrar
minha gratidão a Betsy Jolas, François-Bernard Mâche e Philippe Manoury por suas imensas contribuições
durante trocas pessoais extremamente estimulantes. Gostaria de agradecer Mâkhi Xenakis, que permitiu o
acesso à Coleção da Família Iannis Xenakis (CFIX) e que contribuiu pessoalmente com este trabalho de
modo bastante enriquecedor. Agradeço às equipes da Biblioteca Nacional da França (BnF), Biblioteca
Musical La Grange-Fleuret (BLGF), Les Percussions de Strasbourg, Centro Nacional de Dança (CND, França),
Ópera Nacional do Reno (Opéra National du Rhin) e Instituto nacional de audiovisual (INA, França), que me
ofereceram a oportunidade de visitar e consultar importantes coleções. Eu gostaria de incluir ainda Anne-
Sylvie Barthel-Calvet, cujas contribuições foram importantes em determinados momentos da pesquisa,
bem como a Georges Starobinski, Christian Dierstein e Matthias Schmidt, que não mediram esforços para
incentivar essa abordagem.
Morais, Ronan Gil de. 2022. “Referências indonésias em Claviers de Iannis Xenakis: processo criativo com material exógeno em Pléïades (1978)”
Per Musi no. 42, Iannis Xenakis: 1-24. e224228. DOI 10.35699/2317-6377.2022.44450
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