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eISSN 2317-6377
Estudo sobre Rogério Duprat demonstra quão profunda pode
ser uma análise sociomusical
Study on Rogério Duprat shows how deep a socio-musical analysis can be
Flávio Terrigno Barbeitas
Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Música, Belo Horizonte, MG, Brasil
flateb@gmail.com
BOOK REVIEW
Section Editor: Fernando Chaib
Layout Editor: Edinaldo Medina
License: "CC by 4.0"
Submitted date: 23 feb 2023
Final approval date: 27 feb 2023
Publication date: 23 mar 2023
DOI: https://doi.org/10.35699/2317-6377.2023.44798
RESUMO: Resenha do livro Rogério Duprat, arranjos de canção e a sonoplastia tropicalista, de Jonas Soares Lana (Rio de Janeiro:
7Letras, 2022. 284p. ISBN: 978-65-5905-352-0).
PALAVRAS-CHAVE: arranjo; tropicalismo; Rogério Duprat; música popular brasileira; análise sociomusical.
ABSTRACT: Review of Jonas Soares Lana's book "Rogério Duprat, arranjos de canção e a sonoplastia tropicalista", (Rio de
Janeiro: 7Letras, 2022. 284p. ISBN: 978-65-5905-352-0).
KEYWORDS: arrangement; tropicalism; Rogério Duprat; brazilian popular music; sociomusical analysis.
Per Musi | Belo Horizonte | v.24 | General Topics | e232403 | 2023
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Barbeitas, Flávio Terrigno. 2023. “Estudo sobre Rogério Duprat demonstra quão profunda pode ser uma análise sociomusical"
Um dilema costuma afligir a pesquisa em música, especialmente quando se debruça sobre a análise ou
interpretação dos mais variados repertórios: deve ela privilegiar os sentidos políticos, sociais, culturais e
históricos dos mesmos, ou se fixar nos seus aspectos ditos intrínsecos e estruturais, ou seja, naquilo que
constituiria o terreno de uma possível objetividade musical? Trata-se, como se sabe, de uma questão
antiga, que está na origem de várias divisões disciplinares no campo das ciências musicais, que permanece
viva e continuamente se desdobra como demonstrou Mário Vieira de Carvalho (2001) em tempos de
relativização do saber.
Na revisão bibliográfica que fez para situar o seu objeto de pesquisa, o professor Jonas Lana se deparou
precisamente com o referido dilema. Verificou que as investigações sobre o compositor e arranjador
paulista Rogério Duprat se dividiam nas duas correntes indicadas acima, e com o acréscimo de um detalhe
interessante, ainda que de certa forma esperado: os que se dedicavam aos aspectos intrínsecos da obra de
Duprat eram basicamente os musicólogos, ao passo que, no outro grupo, encontravam-se críticos
literários, historiadores, sociólogos, entre outros. Ou seja, de um lado, os especialistas, ciosos de seu
campo e treinados principalmente para a discussão do "estritamente musical"; de outro, os estudiosos da
"cultura", para os quais a música é um elemento entre outros e por isso mesmo precisa ser confrontado
com as várias forças sociais. Diante do potencial especulativo oferecido pela rica e acidentada trajetória do
músico paulista e tendo em vista algumas lacunas deixadas pelas pesquisas que a exploraram, Lana
identificou o que é óbvio, mas bem difícil de realizar: a necessidade de conciliar as perspectivas
tradicionais e propor a indissociabilidade entre compreensão musical específica e toda a rede de
significados tecida pela natural e inevitável inserção da música na sociedade e na cultura. E eis que
nasceria dessa postura não apenas um belo estudo específico sobre Rogério Duprat principalmente na
sua veste de arranjador tropicalista , mas também um dos mais interessantes e competentes trabalhos
sobre música que ultimamente ganharam a forma de livro no país.
"Rogério Duprat, arranjos de canção e a sonoplastia tropicalista", editado pela carioca 7Letras, decorre de
tese de doutorado defendida em 2013 no Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da PUC-Rio,
orientada por Valter Sinder. O autor, Jonas Soares Lana, então bacharel e mestre em História pela
UFMG, tornou-se posteriormente professor do Instituto Federal do Rio de Janeiro. Se seu currículo acusa a
ausência de uma certificação acadêmica em música, tal formalidade parece plenamente compensada pela
prática musical como violonista, que o acompanha desde muito jovem, e pelo trato prático e cotidiano
com a música em pesquisas que pontuam a sua trajetória universitária desde a graduação e o mestrado
(com dissertação sobre a obra para violão de Villa-Lobos) até os trabalhos atuais, como docente do IFRJ e
colaborador do PPGM da UFRJ, de cunho prevalentemente etnomusicológico.
Em poucas palavras, o que torna o livro de Lana um marco da produção acadêmica sobre música no Brasil
é a clareza metodológica aliada ao excelente preparo teórico do autor, a evidenciar que uma boa pesquisa
depende fundamentalmente da riqueza e profundidade do olhar sobre objeto e arrisco a dizer:
independentemente de um eventual potencial a priori do objeto somada à utilização de variados
instrumentos analíticos que comprovem a validade e a pertinência desse olhar.
Os seis capítulos em que o livro está organizado progridem em rculos de abrangência cada vez mais
restrita até culminarem no foco da pesquisa a "reconstituição das experiências de Rogério Duprat como
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Barbeitas, Flávio Terrigno. 2023. “Estudo sobre Rogério Duprat demonstra quão profunda pode ser uma análise sociomusical"
arranjador tropicalista" por meio da análise dos arranjos nas gravações de "Não identificado" (Caetano
Veloso, por Gal Costa), "Chão de Estrelas" (Sílvio Caldas e Orestes Barbosa, pelos Mutantes) e "Marginália
II" (Gilberto Gil e Torquato Neto, por Gilberto Gil). Para quem lamentavelmente se habituou a ver um uso
elementar e ingênuo das abordagens biográficas, que prospera incontido em pesquisas acadêmicas na área
de música, o livro é um bálsamo. Nada de um mero registro da biografia para preencher lacunas
documentais; tampouco o uso da vida para "explicar" detalhes da obra ou desta para espelhar aquela.
Tudo o que antecede o último capítulo que se debruça especificamente sobre as gravações citadas a
formação de Duprat, a sua relação com movimentos artístico-culturais, a imbricação moderna de canção,
arranjo e gravação e seus reflexos no trabalho do músico paulista tudo isso se mostra absolutamente
imprescindível para a compreensão dos arranjos, entre outras razões pelo uso de noções que dissolvem
entendimentos fechados, deterministas e limitadores tanto de indivíduo e identidade quanto da própria
realidade social. Lana, rigorosamente fundamentado em referências sociológicas, como Gabriel Tarde (e
um de seus principais comentadores, Maurizio Lazzarato), observa a trajetória de Duprat sob a ótica dos
agenciamentos e da invenção coletiva, o que o torna apto a demonstrar que:
os arranjos de Duprat para canções tropicalistas são inventos cuja criação contou com a
colaboração não apenas dos envolvidos na produção das gravações, como também de
colaboradores diretos e indiretos na invenção de tudo aquilo que ele mobilizou em seus
arranjos, como a musique concrete e outras técnicas, estilos e procedimentos
composicionais eruditos que ampliaram o seu repertório (Lana 2022, 57).
Se, para Gabriel Tarde, a sociedade corresponderia a "uma multiplicidade atualizada por movimentos e
mútuos agenciamentos em um constante, imprevisível e infindável processo de rearticulação das forças
difusas que animam a vida social" (Lana 2022, 57), para o mesmo autor estaria descartada a ideia de
indivíduo como o sujeito encapsulado e autônomo festejado nos preceitos iluministas e liberais. Em seu
lugar, Tarde propõe o conceito de "singularidade", ontologicamente diferente do de indivíduo, pois
fundado no agenciamento com outras singularidades portanto, em contínua e permanente
reconfiguração.
É precisamente que a abordagem biográfica realizada por Lana se revela imprescindível, desde os
primeiros passos formativos e profissionais de Duprat, para uma compreensão realmente profunda de seus
arranjos tropicalistas. Pelo menos, a narrativa construída pelo autor consegue convencer o leitor que as
vicissitudes de Duprat concorrem indiscutivelmente para o gran finale que emerge da análise dos arranjos:
dos seus trabalhos iniciais como violoncelista de orquestra, em que conheceu de perto os arranjos de
mestres como Radamés Gnattali, aos festivais de Darmstadt junto com os companheiros do Música Nova;
do período docente numa UnB pedagogicamente pioneira à composição de trilhas sonoras inovadoras para
filmes nacionais; da rebeldia contra o engessamento nacionalista e estetizante do mundo musical erudito
aos trabalhos de sonoplastia na empresa Audimus, que criou juntamente com Damiano Cozzella e Décio
Pignatari. Tudo isso e muito mais constituiria a singularidade de Rogério Duprat, tributário, portanto,
de um sem-número de outras singularidades e de agenciamentos entre elas.
Mas o embasamento teórico do livro vai bem além do que acabo de apresentar. Pelo menos outras duas
referências me parecem muito significativas para o resultado alcançado, na medida em que permitiram a
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Barbeitas, Flávio Terrigno. 2023. “Estudo sobre Rogério Duprat demonstra quão profunda pode ser uma análise sociomusical"
caracterização do trabalho de Duprat numa perspectiva ampla e bem integrada aos arranjos que foram
analisados, além de terem capacitado o autor a dar os devidos contornos do rico quadro cultural em que o
tropicalismo floresceu.
Refiro-me inicialmente ao conceito de círculo colaborativo, que Lana toma de Michael Farrell e com o qual
consegue evidenciar as particularidades tanto do grupo Música Nova do qual Duprat fazia parte, tendo
sido inclusive, segundo os colegas, o principal responsável pelo texto do manifesto de 1963 quanto dos
outros dois grupos fundamentais no cenário de então: os concretistas e os tropicalistas. Para Farrell, os
círculos colaborativos são marcados por valores afetivos e interesses compartilhados, bem como por
afinidades estéticas e políticas geralmente em antagonismo com a posição hegemônica no campo
profissional em que atua o grupo. Com base nesse autor, Lana consegue não só traçar muito bem o perfil
de cada um desses grupos, como também flagrar as razões da colaboração entre eles.
o outro conceito a que aludi é mais conhecido dos músicos, principalmente dos familiarizados com a
literatura etnomusicológica. Trata-se de musicking, presente no livro homônimo de Christopher Small e
que Lana diligentemente propõe traduzir com o neologismo "musicação". Com ele, como se sabe, Small
procurou retirar o acento da música do âmbito idealista e abstrato das obras para colocá-lo na ação de
musicar, evidenciando que, uma vez que esta se apresenta em meio às relações humanas, é precisamente
o conjunto de todas elas (expostas de forma não hierárquica) que vai criar e transformar os significados da
música. Aproximando Small de John Cage e da influência deste sobre Duprat, Lana um passo decisivo
para compreender o cenário no qual enxerga a vida e a obra desse grande músico: Duprat, a seu modo,
teria se deslocado do papel inicial para o qual se formara, de compositor ou intérprete, para assumir como
estranho o que era inicialmente familiar, primeiro passo para incorporar as dobras, os resíduos, o
descartado, o entorno da "música", tornando tudo isso musicável e funcional para o uso em seus arranjos.
Após a apresentação desse aparato teórico, colocado em frutífero confronto com a experiência concreta
dos percursos dupratianos, ocorre uma suave focalização no livro em favor do trabalho com o tropicalismo,
os arranjos e as gravações. Insisto no caráter suave porque não há mesmo nenhum corte brusco aqui, nada
que nem de longe se assemelhe a um procedimento do tipo "agora que terminei de tratar da vida, começo
a análise da obra", fórmula mais do que comum em trabalhos acadêmicos convencionais. Pelo contrário,
toda a trama que enreda os aspectos musicais, biográficos, históricos e socioculturais do objeto está muito
bem urdida no livro e é a todo momento recuperada pela escrita elegante, pelo trato rigoroso e pela
disposição dos vários tópicos, sempre dialogantes entre si.
Ressalte-se, contudo, que é principalmente nesse aprofundamento tropicalista que vai se adensando outra
grande contribuição de Lana para os estudos de música popular brasileira. o as entrevistas que o autor
conseguiu realizar com personagens fundamentais de toda essa história: desde Régis Duprat, irmão de
Rogério, e Lali , sua viúva, passando por Rafael Menezes Bastos, antropólogo e ex-aluno de Duprat na UnB,
Júlio Medaglia e Sandino Hohagen, seus companheiros de Música Nova, até pessoas mais diretamente
ligadas ao universo tropicalista e à produção das gravações: os técnicos Johann Gunther Kibelkstis, Stelio
Carlini e Manoel Barenbein, o luthier e inventor de equipamentos Cláudio Dias Baptista, além do próprio
Gilberto Gil.
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Barbeitas, Flávio Terrigno. 2023. “Estudo sobre Rogério Duprat demonstra quão profunda pode ser uma análise sociomusical"
Esse material, somado à extensa bibliografia e discografia consultadas, garantiu à pesquisa um
considerável corpus documental para uma análise detida dos arranjos. Sobretudo as entrevistas com os
técnicos, em larga medida coautores dos registros fonográficos, permitiram ao autor, segundo ele mesmo
anota na Introdução, reconstituir rotinas e práticas das gravações, o que foi fundamental para distinguir o
papel e as atribuições do compositor paulista nos arranjos tropicalistas.
Não é novidade para ninguém que os arranjos feitos por Rogério Duprat para algumas canções
emblemáticas da MPB se tornaram um imenso desafio para outros arranjadores que vieram na sequência,
tal a pregnância, na canção e em sua fortuna performativa, do material musical gravado, que confere um
fortíssimo aporte de significados e um nível de imbricação raro e elevado com os demais elementos da
obra, sobretudo a letra. Basta pensar no célebre caso de Construção, de Chico Buarque (não abordada no
livro de Lana, mas tema de um artigo de Gil Jardim, em 2016), que ainda que regravada pelo próprio autor
e por vários outros intérpretes, parece destinada a ter no arranjo de Duprat tanto o seu certificado de
nascimento quanto o de "óbito" (no sentido, é claro, de permanecer como uma referência auditiva
inevitável e de rendimento muito dificilmente igualável).
Precisamente a relação estabelecida entre arranjo e letra é um dos principais fios perseguidos por Lana em
suas análises e, tal como em Construção ou ainda mais , é claramente um traço distintivo da produção
examinada no livro. Nas canções tropicalistas, o diálogo é tão intenso que adquire um sentido visual, de
"caráter plástico":
Os arranjos tropicalistas de Duprat segundo [Manoel] Barenbein, são descritivos, dando
vida às imagens projetadas pelo texto da canção. como se você visse um videoclipe
hoje", comentou, ilustrando com as gravações de canções narrativas como "Domingo no
parque" e "Coração materno" (Lana 2022, 145).
A visualidade da produção tropicalista, presente na canção em si, mas exacerbada nas gravações em
virtude dos arranjos, é o fator que autorizou Lana a falar em plástica sonora ou sonoplastia tropicalista,
termo que foi levado ao título do livro. Sem dúvida, a escuta atenta do texto praticada por um músico e
intelectual de alto nível como Rogério Duprat, aliada à sua experiência de compositor de trilhas sonoras
para cinema, foram elementos determinantes para esse sentido visual dos arranjos. Mas não só eles e não
apenas de visualidade vivem as inovações desse momento glorioso da MPB. Entram no conjunto também,
como bem aponta Jonas Lana, a disposição dos tropicalistas para experimentar, o uso de técnicas de
colagem, o questionamento do padrão hi-fi de gravação, recursos tipicamente cinematográficos, práticas
da música concreta, a colaboração de pessoas iniciadas nas tecnologias de captação, edição e gravação de
áudio; tudo isso também confirmando o aspecto de produção coletiva dos arranjos ainda que
inegavelmente conduzidos pela batuta de Rogério Duprat ponto defendido pela pesquisa de Lana.
Os detalhes abordados no livro, sobretudo na parte mais consagrada à análise, são inúmeros, e todos
muito bem argumentados e sustentados por discussões relativas ao contexto e à comparação com
diferentes produções mais ou menos contemporâneas, inclusive de outros artistas, como Frank Zappa e
The Beatles. Não se tratando de reproduzi-los aqui, mais vale citar um trecho que bem pode servir como
resumo esquemático do arranjo tropicalista dupratiano:
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Barbeitas, Flávio Terrigno. 2023. “Estudo sobre Rogério Duprat demonstra quão profunda pode ser uma análise sociomusical"
Nas gravações tropicalistas, os arranjos de Duprat ganham aspectos diferentes conforme
a predominância dos modos narrativo ou icônico
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. Em canções ou trechos nos quais
impera o viés da iconicidade, os arranjos tendem a sobrepor referências a obras e a
estilos musicais, bem como a técnicas e a procedimentos composicionais. Geralmente
estranhas entre si, essas referências e as imagens que elas evocam se acomodam
precariamente em uma espécie de arranjo-colagem. Em canções ou passagens com forte
traço narrativo, como as citadas "Domingo no parque" e "Coração materno", os
arranjos de Duprat tendem a acentuar a dramaticidade de ações narradas. Unidos no
contexto da gravação, a palavra cantada ganha contornos de um roteiro de cinema para
um filme cuja trilha sonora é o arranjo. (Lana 2022, 148)
Este ótimo "Rogério Duprat, arranjos de canção e a sonoplastia tropicalista" desde logo deverá se impor,
pela inegável qualidade, como item bibliográfico obrigatório em nossos cursos universitários de música
(pelo menos), principalmente em disciplinas que tratam, sob ângulos diversos, a música (popular)
brasileira; mas também como exemplo sólido para cursos de metodologia da pesquisa e em debates
variados na pós-graduação.
Por fim, cabe uma palavra sobre alguns aspectos da edição. Pensando em um leitor menos ou nada
familiarizado com termos musicais, o autor preparou um glossário, muito bem-vindo, com o qual ilumina
brevemente certas expressões nada óbvias. Deixo como sugestão para futuras reimpressões a inclusão de
um índice remissivo que, dada a profusão de assuntos tratados no livro, seria extremamente útil. Da
mesma forma, o sumário mereceria uma versão um pouco mais roteirizada, que refletisse os tópicos
presentes em cada capítulo e, desde o início, melhor apresentasse a disposição do livro.
Sabemos todos o quanto costuma ser penosa a explicação verbal da música, as inúmeras palavras que, às
vezes, são requeridas para referir um brevíssimo instante musical. Lana não fugiu a esse empenho literário
e o fez com admirável maestria. Pensando agora, porém, no leitor mais especializado, talvez não fosse
ideia a inclusão de um ou outro quadro que resumisse certas características dos arranjos analisados que
tendem a ficar muito dispersas quando distribuídas num texto convencional. Certamente o serão
quadros como esse um corpo estranho o bastante pra comprometer negativamente o agradável estilo que
o autor soube imprimir ao seu trabalho.
Referências
Carvalho, Mário Vieira de. 2001. “As Ciências Musicais na transição de paradigma”. Revista da Faculdade
de Ciencias Sociais e Humanas 14: 211-233.
Jardim, Gil. 2016. "O arranjo como estrutura e tecido do discurso musical". Revista USP 111: 45-58.
Lana, Jonas Soares. 2022. Rogério Duprat, arranjos de canção e a sonoplastia tropicalista. Rio de Janeiro:
7Letras.
1
O autor faz referência, nessa passagem, à classificação de Luiz Tatit, elaborada em seu livro O cancionista,
quanto aos modos de organização das letras.