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eISSN 2317-6377
Estudos de validade e confiabilidade da Escala de Avaliação dos
Efeitos da Musicoterapia em Grupo na Dependência Química
(MTDQ)
Validity and reliability of the assessment scale for group music therapy for
chemical dependency (MTDQ)
Frederico Pedrosa
Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Música, Departamento de Instrumentos e Canto, Belo Horizonte, MG, Brasil
fredericopedrosa@ufmg.br
Frederico Garcia
Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Medicina, Departamento de Saúde Mental, Belo Horizonte, MG, Brasil
Cristiano Mauro Assis Gomes
Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Departamento de Psicologia, Belo Horizonte, MG, Brasil
Cybelle Maria Loureiro
Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Música, Departamento de Instrumentos e Canto, Belo Horizonte, MG, Brasil
SCIENTIFIC ARTICLE
Section Editor: Fernando Chaib
Layout Editor: Elisabeth Rolim
License: "CC by 4.0"
Submitted date: 04 mar 2023
Final approval date: 07 aug 2023
Publication date: 16 aug 2023
DOI: https://doi.org/10.35699/2317-6377.2023.45027
RESUMO: A Escala de Avaliação dos Efeitos da Musicoterapia em Grupo na Dependência Química (MTDQ) é um teste de
autorrelato composto por 20 itens que avaliam os benefícios percebidos por pacientes adultos com dependência química sobre
os efeitos da musicoterapia em grupo em seus processos de mudança. A MTDQ possui evidências de validade de conteúdo
(Pedrosa; Garcia; Loureiro, 2023), mas carece de análises sobre outros aspectos da validade. Este estudo objetivou avaliar a
validade estrutural e a confiabilidade da MTDQ. Através da análise fatorial confirmatória de itens, três modelos foram testados:
unidimensional, dois fatores correlacionados e bifatorial. Os resultados indicam adequação da estrutura bifatorial, composta por
dois fatores específicos (processos cognitivos e processos comportamentais) e um fator geral. Este estudo traz evidências
iniciais de que a MTDQ é um instrumento apropriado para medir três benefícios percebidos pelos pacientes com dependência
química sobre a musicoterapia em seus processos de mudança.
PALAVRAS-CHAVE: Análise fatorial; Musicoterapia; Transtornos relacionados ao uso de substâncias; Psicometria.
ABSTRACT: The Assessment Scale for Group Music Therapy for Chemical Dependency (MTDQ) is a self-report test, consisting of
20 items that assess the benefits perceived by adult patients with chemical dependency participating in group music therapy
sessions and has evidence of content validity (Pedrosa; Garcia; Loureiro, 2023). This study aimed to evaluate the internal
structure and reliability of the MTDQ. Through confirmatory factor analysis, three models were tested: unidimensional, two
correlated factors and bifactorial. The results demonstrate the adequacy of the bifactorial structure, composed of two specific
factors (cognitive processes and behavioral processes) and a general factor. Evidence of the structural validity of this study
provides initial evidence that the MTDQ is an appropriate instrument to measure aspects of the benefits perceived by patients
with chemical dependence on music therapy.
KEYWORDS: Factorial analysis; Music therapy; Substance-related disorders; Psychometrics.
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Pedrosa, Frederico; Garcia, Frederico; Gomes, Crsitiano Mauro Assis e Cybelle Maria Loureiro.
Estudos de validade e confiabilidade da Escala de Avaliação dos Efeitos da Musicoterapia em Grupo na Dependência Química (MTDQ)
1. Introdução
A Escala de Avaliação dos Efeitos da Musicoterapia em Grupo na Dependência Química (MTDQ) foi
desenvolvida, inicialmente, como um instrumento de medida de autorrelato, composto por 20 itens que
avaliam os benefícios percebidos por pacientes adultos com dependência química (DQ) participantes de
atendimentos de musicoterapia (MT) em grupo (Pedrosa; Garcia; Loureiro 2023). Estes benefícios são
agrupados, teoricamente, em dois domínios: processos experienciais (ou cognitivos); e processos
comportamentais construtos provenientes do Modelo Transteórico de Mudança (MTM) (Prochaska;
DiClemente 1982; Prochaska 2014). Os Processos de Mudança indicam meios emocionais,
comportamentais e cognitivos de mudança que variam de pessoa para pessoa (Prochaska et al 1988). Eles
são divididos em: 1) Processos Cognitivos (Experienciais), composto por Ampliação de Consciência, Avio
Emocional, Autorreavaliação, Reavaliação Circundante e Deliberação Social, e 2) Processos
Comportamentais, integrados por Autoliberação, Contracondicionamento, Controle de Estímulos,
Gerenciamento de Reforço e Relações de Ajuda. Processos de Mudança Experienciais referem-se a
processos relacionados ao pensamento, enquanto os Comportamentais são assim chamados dado que são
ações para mudar, sobretudo, envolvendo comportamentos claros (Prochaska et al 1988; Szupszynski
2012).
A análise semântica e a dos juízes (Pasquali 2010), compondo a análise da validade da MTDQ, indicaram
que todos os itens se conectam teoricamente aos domínios e que todos os domínios são pertinentes para a
avaliação de MT em DQ. Ademais, indicou-se que a MTDQ pode contribuir para a MT, de uma forma geral,
auxiliar na avaliação de pessoas com DQ a partir de práticas musicoterapeuticas e auxiliar outras pesquisas
nacionais (Pedrosa; Garcia; Loureiro 2023).
A despeito da validade de conteúdo ser uma análise relevante da validade de um teste, ela é um passo
inicial que demanda a análise de outros aspectos de validade, como é o caso da validade estrutural (Alves;
Souza; Baptista 2013). A validade de um teste diz respeito ao grau em que as interpretações propostas
para os seus escores encontram respaldo em evidências científicas sólidas, dependendo da quantidade e
da qualidade das evidências que a suportam (AERA; APA; NCME 2014).
Ainda que não haja consenso na literatura sobre as etapas do processo de construção de testes
usualmente chamados instrumentos de avaliação, no contexto da MT (Gattino 2021) , é recorrente que
estudos de validade de conteúdo precedam estudos empíricos relacionados à validade estrutural, bem
como estudos de confiabilidade (Pasquali 2010; Borsa; Seize 2017). A análise da validade estrutural avalia
se as variáveis observáveis de um teste se correlacionam adequadamente às variáveis latentes que
representam os construtos os quais o teste propõe mensurar (AERA; APA; NCME 2014). Se uma
associação apropriada, diz-se que evidências de validade estrutural. Com o uso de análises estatísticas,
como a análise fatorial confirmatória, é possível avaliar a validade estrutural (Alves; Souza; Baptista 2013).
A confiabilidade, também chamada precisão ou fidedignidade, diz respeito à capacidade do teste de gerar
escores próximos ao escore verdadeiro das variáveis latentes medidas por ele (Cunha et al 2016). Assim
como na validade, a confiabilidade não é uma propriedade fixa de um teste, mas depende da função do
instrumento, da população em que é administrado, das circunstâncias e do contexto de aplicação (Keszei;
Novak; Streiner 2010; AERA; APA; NCME 2014). A confiabilidade pode ser avaliada a partir da consistência
interna (Polit; Beck 2011; Cunha; Almeida Neto; Stackfleth 2016). É comum que pesquisadores avaliem a
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Pedrosa, Frederico; Garcia, Frederico; Gomes, Crsitiano Mauro Assis e Cybelle Maria Loureiro.
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consistência interna de instrumentos por meio do coeficiente alfa de Cronbach (Polit; Beck 2011; Souza;
Alexandre; Guirandello 2017), mas atualmente a literatura indica outros índices, como o ômega de
McDonald (Revelle; Zinbarg 2009). As estimativas do coeficiente ômega de McDonald são mais apropriadas
quando as cargas fatoriais dos itens nas variáveis latentes são diferentes entre elas (Reise 2012; Valentini
et al 2015). Outros dois coeficientes também bastante recomendados são o alfa ordinal, indicado para
variáveis categóricas e calculado em adição ao alfa padrão, que trata as variáveis ordinais como numéricas
(Zumbo et al 2007) e a confiabilidade composta, que em seu cômputo, possibilita a variação das cargas ou
pesos fatoriais dos itens, similar ao ômega de McDonald (Valentini; Damásio 2016).
Considerando que a MTDQ possui evidências de validade de conteúdo, mas carece de outras análises de
validade, este estudo tem como objetivo apresentar as primeiras análises sobre a validade estrutura deste
instrumento, a partir de análise fatorial confirmatória de itens. Neste estudo, testamos um modelo com
um fator (unidimensional), um modelo com dois fatores correlacionados (bidimensional) e um modelo
bifatorial com dois fatores específicos e um fator geral, todos ortogonalizados em si, buscando verificar
qual seria mais apropriado para representar a medida do MTDQ
Cada um dos modelos testados indica que o teste mede benefícios percebidos distintos. O modelo com um
fator pressupõe que a MTDQ apenas mede a percepção dos pacientes adultos com dependência química
sobre os benefícios da musicoterapia em seu processo geral de mudança. O modelo com dois fatores
correlacionados baseia-se no Modelo Transteórico de Mudança. Esse modelo assume que a MTDQ mede
uma percepção do paciente sobre os benefícios da musicoterapia em seus processos cognitivos e em seus
processos comportamentais de mudança, cada um desses processos representando os dois fatores do
modelo e explicando, respectivamente 10 itens do instrumento. Por fim, o modelo bifatorial corresponde a
junção dos dois modelos. Ele assume que a MTDQ mede tanto um fator geral como dois fatores
específicos. O fator geral representa a percepção do paciente sobre os benefícios da musicoterapia em sua
mudança pessoal geral e os fatores específicos representam a percepção do paciente sobre os benefícios
da musicoterapia em seus processos cognitivos e comportamentais de mudança pessoal
Assim, este estudo tem o intuito de levantar evidências de validade estrutural da MTDQ, bem como
analisar a confiabilidade deste instrumento de avaliação. A seguir, descrevemos as escolhas metodológicas,
bem como apresentamos e discutimos os resultados de nossas análises.
2. Metodologia
Este é um estudo que faz parte de uma pesquisa doutoral do primeiro autor (Pedrosa; Garcia; Loureiro,
2023). A pesquisa foi submetida à Plataforma Brasil onde foi avaliada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
UFMG, CAAE 30939720.1.0000.5149 e da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, CAAE
30939720.1.3001.5140. Além disto, esta pesquisa recebeu auxílio do Programa Institucional de Auxílio à
Pesquisa de Docentes Recém-Contratados pela UFMG - Edital PRPq 07/2020.
Seis estagiários (dois homens e quatro mulheres) de musicoterapia, atuantes na área de DQ, receberam
treinamento e supervisão do primeiro autor sobre as técnicas que apresentaram melhor eficácia para este
tratamento (Pedrosa; Garcia; Loureiro 2022a), sobre a abordagem criada a partir da aproximação destas
técnicas musicotrapêuticas com o Modelo Transteórico (Pedrosa; Garcia; Loureiro 2022b) e sobre a forma
de aplicar a MTDQ. Estes atendimentos foram planejados a partir do modelo presente no manual exposto
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Pedrosa, Frederico; Garcia, Frederico; Gomes, Crsitiano Mauro Assis e Cybelle Maria Loureiro.
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no Apêndice A. Os atendimentos aconteceram entre os meses de maio e novembro de 2022, em um
Centro de Referência em Saúde Mental Álcool e Drogas (CERSAM AD), aparelho da Rede de Atenção
Psicossocial que funciona como um CAPs AD III, na cidade de Belo Horizonte /MG.
2.1. Amostra
Uma amostra de conveniência foi constituída por 202 participantes, sendo 154 homens (77,37%) e 45
mulheres (destas, uma mulher trans), com idade média de 44,7 anos (DP = 12,7, mínimo = 18 e máximo =
69). Porém, devido aos dados faltantes (missing values), as análises foram realizadas com 141
participantes. Todos os participantes preencheram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
exposto no Apêndice B. Informações sobre idade e gênero foram fornecidas pela gerência do CERSAM, a
partir de seu sistema.
2.2. Instrumento
O único instrumento utilizado foi a Escala de Avaliação dos Efeitos da Musicoterapia em Grupo na
Dependência Química, um instrumento de autorrelato composto por 20 itens que avaliam os benefícios
percebidos por pacientes adultos com dependência química a respeito dos efeitos da musicoterapia em
grupo em seus processos de mudança. Os usuários respondem os itens em uma escala Likert em que
Nunca = 1; Raramente = 2; Às vezes = 3; Muitas vezes = 4; Sempre = 5.
2.2. Procedimentos e análises estatísticas
A fim de obter evidências de validade estrutural e da confiabilidade da MTDQ realizamos as análises no R v.
4.2.0 (R Core Team 2022)
1
. Inicialmente fizemos o teste de Mardia (Mardia 1970) para avaliar a
normalidade multivariada dos itens por meio do pacote MVN versão 5.9 (Korkmaz et al 2014). Essa análise
foi realizada com a finalidade de embasar a seleção do estimador adequado para a análise fatorial
confirmatória de itens. Caso a hipótese da normalidade multivariada fosse rejeitada, o método de
estimação Robust Weighted Least Square Mean and Variance (WLSMV) seria utilizado (Li 2016).
A análise fatorial confirmatória dos itens foi aplicada via o pacote lavaan v. 0.6.12 (Rosseel et al 2022) e a
confiabilidade foi examinada com o pacote semTools v. 0.5.6 (Jorgensen et al 2021). Os modelos testados
foram: modelo unidimensional, com um fator geral carregando os itens 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 ,10, 11, 12,
13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20; modelo com dois fatores correlacionados, com processos cognitivos
carregando os itens 3, 4, 5, 7, 8, 9, 12, 14, 15, 20 e processos comportamentais carregando os itens 1, 2, 6,
10, 11, 13, 16, 17, 18 e 19; e modelo bifatorial, contendo processos cognitivos, processos
comportamentais e o fator geral, todos ortogonalizados entre si.
A qualidade do ajuste dos modelos foi avaliada por meio do índice de ajuste comparativo (comparative fit
index, CFI) e do erro médio quadrado de aproximação (root mean square error of approximation, RMSEA).
Os modelos seriam rejeitados caso apresentassem CFI < 0,90 ou RMSEA > 0,10 (Thakkar 2020).
O teste de diferença do χ2 escalonado de Satorra (2000) foi utilizado para comparar os modelos, caso eles
não fossem rejeitados.
1
A sintaxe está disponível no Apêndice C.
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Pedrosa, Frederico; Garcia, Frederico; Gomes, Crsitiano Mauro Assis e Cybelle Maria Loureiro.
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3. Resultados
O teste de Mardia (curtose = 10,76; p < 0.0001 e assimetria = 2487,78; p < 0.0001), indicou que os itens
não apresentam evidências de normalidade multivariada. Por isso, a análise fatorial confirmatória de itens
foi realizada com o estimador WLSMV. Os índices de ajustes dos três modelos testados são apresentados,
abaixo, na Tabela 1. Nenhum dos modelos foi rejeitado.
Tabela 1 - Ajuste dos modelos testados
χ²[df]
CFI
RMSEA
RMSEA
[IC 90%]
283,290[170]
0,968
0,073
[0,058; 0,087]
267,859[169]
0,972
0,068
[0,052; 0,083]
188,811[150]
0,989
0,045
[0,020; 0,064]
Por meio da Tabela 1 observamos que o modelo bifatorial apresentou índices de ajuste superiores quando
comparado aos outros modelos. De acordo com Rios e Wells (2014), um ∆CFI superior 0,01 seria
indicativo de que determinado modelo é superior a outro. Isso ocorre com o modelo bifatorial, que possui
um ∆CFI > 0,01 em relação aos modelos unidimensional e dois fatores correlacionados. Por sua vez, o teste
de diferença do χ2 escalonado de Satorra (2000) corrobora esse resultado, também indicando que o
modelo bifatorial é superior ao modelo unidimensional (∆ χ²[df] = 13.562[1], p = 0,0002308) e ao modelo
com dois fatores correlacionados (∆ χ²[df] = 64,202[19], p = 0,0000009). As cargas fatoriais dos itens no
modelo bifatorial estão apresentadas na Tabela 2.
Tabela 2 - Cargas fatoriais dos itens no modelo bifatorial
Itens
Processos
Cognitivos
Processos
Comportamentais
Fator
Geral
Média
Desvio padrão
3
0,133
0,464
3,75
1,14
4
0,442
0,262
3,99
1,27
5
-0,280
0,644
3,80
1,17
7
0,183
0,553
3,77
1,10
8
0,584
0,280
3,80
1,18
9
0,014
0,670
3,61
1,25
12
0,467
-0,061
3,12
1,61
14
0,424
0,522
4,11
1,04
15
0,012
0,760
4,10
0,94
20
0,143
0,566
4,00
1,04
1
0,236
0,357
3,52
1,27
2
-0,010
0,724
4,05
1,12
6
0,198
0,608
3,84
1,05
10
0,284
0,454
3,73
1,11
11
0,274
0,500
3,84
1,08
13
0,475
0,407
3,79
1,19
16
0,363
0,627
3,86
1,08
17
0,675
0,559
4,07
1,12
18
0,137
0,767
4,21
1,05
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0,403
0,640
4,12
0,98
As cargas fatoriais tendem a ser mais elevadas no fator geral quando comparadas às cargas fatoriais nos
fatores específicos. Contudo algumas exceções foram observadas nos itens 4, 8, 12, 13, 17. Destacamos em
negrito na Tabela 2 o fato dos itens 2, 9 e 15 não apresentarem carga fatorial igual ou superior a 0,1 no
respectivo fator específico, apresentando boas cargas fatoriais no fator geral. O item 12, por outro lado,
apresenta boa carga fatorial no item específico, mas com um valor abaixo de 0,1 no fator geral. O item 5
foi o único apresentou carga fatorial negativa no fator específico (- 0,280) com um valor expressivo (> 0,1).
A carga negativa nos itens 2, 5 e 12 indica que o fator geral ou o fator específico explicou toda a sua
variância comum desses itens, levando em consideração que no modelo bifatorial os fatores são
ortogonalizados e a variância explicada dos itens sofre uma competição entre o fator geral e o fator
específico. Isso é comum de ocorrer em modelos bifatoriais e, em função disso, deve-se constrangir essas
cargas negativas para o valor zero para se ter uma estimativa adequada da confiabilidade dos fatores do
modelo. Um novo modelo bifatorial foi rodado, constrangindo à zero todas as cargas negativas. Esse
modelo foi denominado modelo bifatorial de cargas negativas constrangidas e apresentou bom ajuste aos
dados, χ²[df] = 199.079[155]; CFI = 0,988; RMSEA = 0,048; RMSEA [IC 90%] = [0.025; 0.066].
A Tabela 3 apresenta a média das cargas fatoriais, bem como a confiabilidade das variáveis latentes do
modelo bifatorial de cargas negativas constrangidas, medida por alpha de Cronbach, alpha ordinal, ômega
de McDonald e confiabilidade composta. Os dois fatores específicos do modelo bifatorial tiveram médias
de cargas fatoriais consideravelmente mais baixas, o que provavelmente se pelo fato dos mesmos itens
serem mais explicados pelo fator geral.
Tabela 3 Média das cargas fatoriais e confiabilidade das variáveis latentes.
Modelo
Variável latente
M (DP)
min
max
α
αord
Ω
cc
Bifatorial
Processos cognitivos
0,24 (0,22)
0,00
0,60
0,63
0,69
0,33
0,48
Processos
comportamentais
0,30
(0,19)
0,00
0,67
0,81
0,86
0,22
0,62
Fator geral
0,52
(0,19)
0,00
0,78
0,87
0,90
0,80
0,90
Nota. M = média, DP = desvio-padrão, min = mínimo, max = máximo, α = alfa de Cronbach, αord = alfa
ordinal, Ω = ômega de McDonald, cc = confiabilidade composta
Analisando a distribuição dos itens em relação ao modelo bifatorial, tem-se que 17 dos 19 itens
relacionados ao fator geral apresentam médias entre 3,6 e 4,2. O item 18 apresenta uma média levemente
maior, com 4,21 e o item 1 levemente menor, com 3,52. A média das médias dos itens relacionados ao
fator geral é de 3,85 e o desvio padrão de 1,14. A média das médias dos itens explicados pelo fator
específico processos cognitivos foi de 3,8 e o desvio padrão de 1,17, enquanto a média das médias dos
itens explicados pelo fator específico processos comportamentais foi de 3,9 e o desvio padrão de 1,11.
Podemos concluir que tanto os itens explicados pelo fator geral quanto os explicado pelos fatores
específicos apresentam distribuição bastante similar.
Ainda que o haja um consenso sobre o valor do ponto de corte dos coeficientes de confiabilidade é
comum considerar valores entre 0,6 e 0,7 como aceitáveis (Bagozzi; Yi 1988; Hair et al 2009; Valentini;
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Damásio 2016). No entanto, esses valores de corte não são adequados para modelos bifatoriais em que o
fator geral é ortogonal aos fatores específicos. Modelos com essa característica tendem a tornar as cargas
fatoriais dos fatores específicos muito mais baixas que sofrem a concorrência do fator geral para a
explicação da variância comum dos itens. Nesse sentido, é apropriado considerar um valor de corte de 0,40
para os índices omega ou confiabilidade composta. Considerando que todos os fatores apresentaram
adequado valor de corte no alfa, alfa ordinal e confiabilidade composta, concluimos que todos eles
apresentam confiabilidade adequada. No entanto, é relevante melhorar a confiabilidade dos fatores
específicos, já que esses processos específicos de mudança são relevantes para a prática da musicoterapia.
Uma maneira de melhorar essa confiabilidade envolve compreender melhor quais são as características
dos itens que melhor carregaram esses fatores no modelo bifatorial e elaborar novos itens tomando essas
características como referência.
4. Considerações finais
Esta pesquisa teve como objetivo levantar evidências de validade estrutural da MTDQ, bem como analisar
a confiabilidade deste instrumento de avaliação. Para tanto, recorreu-se a verificação dos índices de ajuste
de três diferentes estruturas fatorais, aventadas em Pedrosa, Garcia e Loureiro (2023), modelo
unidimensional, modelo com dois fatores correlacionados e modelo bifatorial. Os resultados indicaram a
melhor adequação da estrutura bifatorial da MTDQ, composta por dois fatores específicos Processos
Cognitivos e Processos Comportamentais e fator geral. Vale ressaltar que os dois fatores específicos
correspondem ao modelo transteórico de mudança (Prochaska et al 1988).
Nesta pesquisa o fator geral representa a percepção do paciente sobre os benefícios da musicoterapia em
sua mudança pessoal geral. Como o MTM não indicou teoricamente, ainda, um fator geral, teorizamos
que, se os pacientes percebem os benefícios da musicoterapia como relevantes para sua mudança, eles
tendem a se envolver mais ativamente no tratamento, a seguir as recomendações e a trabalhar mais para
alcançar seus objetivos terapêuticos. Por outro lado, se os pacientes não percebem os benefícios da
musicoterapia ou os percebem como irrelevantes, eles podem desmotivar-se ou perder o interesse no
tratamento, prejudicando o seu sucesso terapêutico. Esta discussão se comunica com o MTM (Prochaska
et al 1988; Prochaska 2014) dado que os Processos de Mudança indicam que a percepção dos próprios
processos cognitivos relativos à mudança, podem levar a mudanças comportamentais.
Futuras pesquisas, com uma amostra consideravelmente maior, devem avaliar a pertinência dos itens 2, 9
e 5 aos seus respectivos fatores específicos, bem como a pertinência do item 12 para o fator geral. Novas
pesquisas se fazem necessárias, a fim de estabelecer normas de interpretação dos escores brutos da
escala, imputando assim significado aos resultados obtidos através da aplicação da MTDQ. Estudos futuros
deverão investigar evidências de validade desta escala, baseados em processos de resposta aos itens, na
estrutura interna, em relações com outras variáveis, e/ou na consequência da testagem (AERA; APA; NCME
2014). Por fim, é importante continuar a avaliação do desempenho do instrumento com amostras clínicas e
mais diversificadas regionalmente. Em suma, concluimos que o instrumento apresentou boas propriedades
psicométricas de validade estrutural com a amostra pesquisada, mostrando-se promissor para o uso
profissional.
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5. Referências
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