eISSN 2317-6377
Desenvolver a percepção harmônica: conversa com Bruno Mangueira
Developing harmonic perception: a conversation with Bruno Mangueira
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Artes e Comunicação, São Carlos, São Paulo, Brasil
thais@ufscar.br
André de Oliveira
Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Artes e Comunicação, São Carlos, São Paulo, Brasil
Bruno Mangueira
Universidade de Brasília, Departamento de Música, Brasília, Distrito Federal, Brasil
INTERVIEW
Section Editor: Fernando Chaib
Layout Editor: Edinaldo Medina
License: "CC by 4.0"
Submitted date: 14 apr 2023
Final approval date: 19 sep 2023
Publication date: 24 oct 2023
DOI: 10.35699/2317-6377.2023.45389
RESUMO: Nesta entrevista, o guitarrista, compositor, arranjador, professor e pesquisador brasileiro Bruno Mangueira
compartilha seu processo de desenvolvimento musical a partir de uma conversa com ênfase na investigação sobre
desenvolvimento da percepção harmônica. Mangueira é de uma geração de guitarristas que teve acesso ao ensino superior na
área de música popular. No entanto, antes da universidade vivenciou processos de educação não-formal e informal relacionados
à música popular que foram incorporados não apenas na sua prática musical, mas também na sua prática pedagógica.
Mangueira atua tanto na carreira artística quanto acadêmica. Sua trajetória tem potencial de colaborar com os processos de
ensino e aprendizagem da música popular.
PALAVRAS-CHAVE: Bruno Mangueira; Percepção harmônica; Ensino e aprendizagem; Música popular; Guitarra elétrica.
ABSTRACT: In the present interview, Bruno Mangueira (a Brazilian guitarist, composer, arranger, professor and researcher)
shares his process of musical development through a conversation emphasizing the investigation on the development of
harmonic perception. Mangueira comes from a generation of guitarists that had access to higher education in popular music.
However, before university he experienced educational processes that were non-formal and informal, related to popular music.
Such educational processes were not only incorporated in his musical practice, but also in his pedagogical practice. Mangueira
performs both in artistic and academic careers. His trajectory has the potential to collaborate with the processes of teaching and
learning on folk music.
KEYWORDS: Bruno Mangueira; Harmonic Perception; Teaching and Learning; Folk music; Electric guitar.
Per Musi | Belo Horizonte | v.24| General Topics | e232416 | 2023
Per Musi | Belo Horizonte | v.24 | General Topics | e232416 | 2023
2
Nunes, Thais dos Guimarães Alvim; Oliveira, André de; Mangueira, Bruno. 2023. Desenvolver a percepção harmônica: conversa com Bruno Mangueira
1. Aspectos biográficos
Bruno Mangueira é guitarrista, compositor, arranjador e professor da Universidade de Brasília (UnB), onde
coordena o Laboratório de Guitarra e Música Popular e lidera o cleo de Estudos em Música Popular.
Nasceu em Vitória (ES), em 1978. Graduou-se em Música Popular pela Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp) no ano de 2001, tendo desenvolvido o projeto de Iniciação Científica intitulado O estilo de
improvisação de Hélio Delmiro. Em 2006 defendeu sua dissertação de mestrado, intitulada Concepções
estilísticas de Hélio Delmiro: violão e guitarra na música instrumental brasileira, e em 2012 defendeu a tese
de doutorado Arranjos de Nailor Proveta para a Orquestra Jazz Sinfônica: soluções contemporâneas para o
choro numa homenagem a Pixinguinha, ambas pela Unicamp. Parte de seu doutorado foi desenvolvido na
University of Cincinnati (EUA). Entre os anos de 2020 e 2021 realizou pós-doutorado no Queens College /
City University of New York. Bruno Mangueira possui cinco discos lançados e colaborou com mais de
outros vinte. Possui extensa carreira artística como instrumentista, compositor e arranjador, tendo atuado
no Brasil, Estados Unidos e Europa.
André Oliveira: Bruno
1
, como você conceitua “percepção harmônica”? Para você o que significa a
expressão “ter percepção harmônica”?
Bruno Mangueira: Olha, eu sempre penso em você conseguir identificar os acordes que estão sendo
tocados. Embora tenha o intervalo harmônico. Você pode reconhecer o intervalo harmônico. Mas eu
penso que seria você ouvir uma música e perceber qual é a harmonia que está acontecendo ali na hora.
André Oliveira: E qual a necessidade de desenvolver essa habilidade para o músico de formação geral e o
músico que atua com música popular?
1
Entrevista concedida no dia 12 de junho de 2021 para um trabalho de conclusão de curso desenvolvido
na Universidade Federal de São Carlos - SP (UFSCar). Vale ressaltar que o TCC foi submetido e aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa UFSCar, e Bruno Mangueira autorizou a divulgação da sua identidade por
meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A transcrição foi revisada e aprovada
pelo músico.
Per Musi | Belo Horizonte | v.24 | General Topics | e232416 | 2023
3
Nunes, Thais dos Guimarães Alvim; Oliveira, André de; Mangueira, Bruno. 2023. Desenvolver a percepção harmônica: conversa com Bruno Mangueira
Bruno Mangueira: Essa pergunta é muito interessante porque pra quem toca música clássica, em geral..., a
gente sabe que muita gente passa a vida sem ter conhecimento de harmonia, especialmente do que você
está tratando aqui, que é a percepção. A pessoa toca em orquestra, toca aquelas harmonias maravilhosas,
toca violino, oboé, trompa, toca as harmonias mais bem feitas que você puder imaginar e não entende
nada do que está acontecendo. Porque de uma maneira funcional, prática, ele, entre aspas, não precisa
daquele conhecimento para conseguir tirar um belo som do instrumento. Eventualmente a afinação, para
o cara tocar afinado, ele acaba precisando ter essa percepção. Isso porque se ele está tocando em relação
aos outros, pra ele afinar com os outros, alguma percepção harmônica ele vai ter que ter. Mas assim,
no caso dos acordes, de entender a harmonia, o que está acontecendo de fato... às vezes para o cara ser
um músico funcional, competente numa orquestra, sem ter isso desenvolvido ele consegue desempenhar
aquela função ali. E assim, no nível intermediário, antes de chegar na parte de música popular que você
comentou, até as pessoas que tocam em bandas e que também é bom a gente chamar de músico popular,
principalmente músicos de sopro, se o cara toca na Banda do Corpo de Bombeiros, ou em grupos menores
que têm o naipe de sopros pequenos, ou grupo de música pop, ou de axé, vários tipos de rock, vão ter
sopros... ele pode ser músico de naipe que está sempre lendo e não desenvolve essa parte. Porém, mesmo
para essas pessoas, a compreensão da harmonia possibilita uma compreensão muito melhor do que elas
estão fazendo. Inclusive qual a relação do que estão fazendo com o resto que está acontecendo. Então
acho que, mesmo para os músicos que, entre aspas, não precisam disso no dia a dia, isso os torna
melhores músicos, e até interfere no quanto eles vão curtir o que estão fazendo. O cara está tocando
numa orquestra sem saber o que está fazendo direito em relação ao resto harmonicamente, ele está
aproveitando muito menos do que se soubesse. Mas sabendo, ele certamente consegue entender melhor
as nuances pra direcionar a interpretação dele, pra entender o que o compositor, de fato, quis significar
com aquilo ali etc. Eu acho que, de maneira geral, para todos, às vezes até mesmo para cantores, a Thais,
ela é cantora e conhece harmonia, mas tem muitos cantores que conhecem de maneira mais intuitiva.
Aquilo acaba interferindo na interpretação que eles vão dar, como eles vão compreender.
Para quem trabalha com música popular... porque a gente tem diferentes instrumentos. Pra quem toca
bateria, embora ele trabalhe com música popular, ele fica na mesma situação do músico da orquestra. Ele
pode saber até menos, em tese, porque ele não vai nem precisar afinar a nota que está tocando com os
outros. Ele precisa afinar ali a bateria, mas na hora que tiver tocando não vai estar preocupado com
afinação, nem tem como ele mexer na afinação quando estiver tocando. Então assim, acho que a diferença
maior é para quem trabalha com instrumentos harmônicos ou com arranjo, com composição. Esses são os
que vão necessariamente ter que desenvolver isso, porque não tem como você fazer determinadas coisas
sem conhecer isso. Você fica inviabilizado.
Thais Nunes: Eu queria aproveitar que você falou do músico arranjador ou do músico que toca
instrumento harmônico e perguntar em relação ao músico improvisador, mesmo que seja um instrumento
melódico.
Bruno Mangueira: Na verdade, eu acho assim, pensando em atividades criativas da música, tem três coisas
que eu considero como uma mesma coisa, e fica dentro do mesmo raciocínio. são formas diferentes de
raciocinar, que são: composição, arranjo e improvisação. Então a pessoa que está improvisando vai ter
que fazer isso mais rápido. tem aquela coisa de você ter uma harmonia pré determinada, mas em
termos de percepção harmônica é a mesma necessidade. Como é que o cara vai improvisar sobre uma
harmonia se ele não entende? Mesmo quem toca de ouvido é a mesma coisa, é só uma forma diferente de
desenvolver. Não é questão de saber teoricamente, embora isso ajude bastante. Mesmo o cara que toca
de ouvido, ele também desenvolve isso. Eu, particularmente, aprendi isso tudo primeiro de ouvido.
Inicialmente [aprendi] as relações harmônicas para depois estudar teoria e vi muitos músicos assim.
Mesmo que a pessoa faça de ouvido, ela também tem o conhecimento das relações harmônicas. Então
quem trabalha com improvisação ] da mesma forma. Eu até li em livros de arranjo falando que o cara
vai acabar usando muitas coisas do que ele conhece como improvisador para trabalhar com arranjo, para
Per Musi | Belo Horizonte | v.24 | General Topics | e232416 | 2023
4
Nunes, Thais dos Guimarães Alvim; Oliveira, André de; Mangueira, Bruno. 2023. Desenvolver a percepção harmônica: conversa com Bruno Mangueira
criar frases, criar linhas. Você acaba utilizando recursos que conhece como improvisador, ajuda muito
você a trabalhar com arranjo. Porque na improvisação você fica trabalhando “n” soluções melódicas e
harmônicas junto, o que funciona e o que não funciona. Dessa forma, naturalmente você expande seu
vocabulário melódico e harmônico relacionado que você acaba usando para compor e arranjar. Então, na
verdade, eu vejo essas três coisas como uma coisa só: composição, arranjo e improvisação.
André Oliveira: E você identifica algum momento ou idade na qual você se deu conta de que estava
desenvolvendo a percepção harmônica? Se sim, você poderia falar sobre os fatores que o levaram a essa
constatação?
Bruno Mangueira: Olha, eu nem sei te dizer. Eu não me lembro de uma época em que eu não tivesse
mexendo com isso. Eu comecei a tocar muito novo, comecei a tocar com quatro anos. Eu fui começar a
aprender alguma coisa de teoria com quinze anos. Como meu pai tocava violão também, eu ficava tocando
de brincadeira. Meu pai tocava de ouvido também, eu ficava tocando com ele. Então eu sempre me
lembro de estar brincando com os acordes. Foi totalmente intuitivo. Eu tive umas aulas de violão, o
professor se demitiu. Mas era de ouvido. Depois eu ficava tirando as músicas da novela, ficava ouvindo,
tocando várias músicas: da Xuxa
2
, do Bozo
3
, Trem da Alegria
4
.
André Oliveira: Você consegue identificar alguém que tenha apresentado percepção harmônica a você?
Bruno Mangueira: Não, mas depois eu fui estudar. Eu comecei a estudar no ensino médio, chamava-se
segundo grau. Quando eu fiz [segundo grau], tinha uma banda na escola, tinha aula de teoria, eu
comecei a estudar lá. Primeiro eu fui aprender a teoria assim bem básica, o que era uma figura, as alturas,
o pentagrama. Quando chegou no segundo ano dessa escola, final de 94/início de 95, o maestro que era
nosso professor falou de um curso de Brasília. Falou: “Aqui, oh! Nesse curso...” ele recebeu um
folhetinho... Chegava um caderninho para os professores. Na época, as pessoas programavam as coisas
com mais antecedência. Hoje em dia essas coisas são todas bagunçadas, mas na época chegava meses
antes a divulgação, quem seriam os professores. Então ele falou: ”Vai nesse curso aqui quem puder”. Falou
para um monte de gente, acho que era num ensaio. eu fui pra Brasília nesse curso, porque meu pai, por
coincidência, estava trabalhando em Brasília. Meu pai era engenheiro e pintou um serviço. Ele nem era da
ENCOL, mas pintou um serviço na ENCOL Brasília. Eu falei: “eu posso ir, meu pai vai estar esses meses,
eu posso ficar com ele”. E aí, rapaz, eu fui assim totalmente de paraquedas nesse festival. Eu não fazia a
menor ideia de quem era quem. eu fui estudar com Hélio Delmiro, com o Ian Guest, até tinha um curso
de percepção de uma professora que nunca mais ouvi falar, se chama Felícia Wang, não sei se vocês a
conhecem. Então tinha aula, eu acho que era de percepção com a Felícia, mas com o Ian Guest era aula de
harmonia. Ele trabalhava as coisas de percepção também na aula. Então, isso pra mim deu um choque,
porque era uma coisa de um nível bem mais alto do que eu estava acostumado a ver, e tinha muitos alunos
bons. O Hélio Delmiro, quando eu o vi tocando, sem comentários. Eu acho que tinha uns 16 anos. Mas
nessas aulas do Ian Guest e dessa professora é que eu fui ver uma coisa mais direcionada pra esse tipo de
estudo. Eu voltei nesse curso de Brasília dois anos depois, em 97. eu fiz aula com o Ian Guest de novo,
acho que era de harmonia também, mas sempre puxava bastante para esse lado da percepção. Eu fiz aula
com o Toninho Horta nesse curso de 97 e no ano seguinte eu entrei na UNICAMP, foi quando eu conheci a
Thais, eu tive que desenvolver muito minha percepção para poder conversar com ela [risadas].
André Oliveira: Uma pergunta aqui que me surgiu. Esse festival que você mencionou era numa escola?
Bruno Mangueira: É, esse festival tem décadas. Chama-se Curso Internacional de Verão da Escola de
Música de Brasília [CIVEBRA]. Inclusive eu tenho até hoje o cartaz de 97, aquele do Pixinguinha ali, oh!
2
Apresentadora brasileira de programa infantil veiculado nas décadas de 1980 e 1990.
3
Palhaço Bozo, criado nos Estado Unidos e veiculado pela rede SBT de Televisão nos anos de 1980.
4
Grupo musical infantil surgido no ano de 1985.
Per Musi | Belo Horizonte | v.24 | General Topics | e232416 | 2023
5
Nunes, Thais dos Guimarães Alvim; Oliveira, André de; Mangueira, Bruno. 2023. Desenvolver a percepção harmônica: conversa com Bruno Mangueira
[Bruno aponta para o quadro atrás dele na sua sala]. Esse festival tem todo ano. Alguns anos atrás as coisas
caíram muito na verdade fui depois para fazer o parecer do pessoal para o governo do Distrito
Federal. Eu fui na Escola de Música e entendi que, na verdade, eles direcionaram uma verba que ia ser
pro festival para reforma. Realmente foi uma reforma muito boa nos auditórios. Eu sei que teve uma
interrupção no padrão que tinha no festival, de muita gente. Era um festival que tinha muitas pessoas,
inclusive do exterior, e uns músicos muito bons do Brasil. Esse festival tinha todo ano, ainda tem, mas
tenho a impressão de que ele ficou com a cara um pouco mais regional em relação ao que ele tinha antes,
que era mais nacional. Mas ele tinha todo ano. Pra você ter uma ideia, o meu professor tinha ido no
festival dez anos antes. Mas esse festival deve ter desde a década de 80 ou 70 talvez.
Thais Nunes: Acredito que os festivais se espalharam pelo Brasil. Então deve ter enfraquecido um pouco o
de Brasília, porque os festivais passam a surgir pra tudo quanto é lado.
Bruno Mangueira: Olha, em 97 é o décimo nono. Aquele é de 97 [Bruno volta a apontar para o quadro].
Então o Festival é da minha idade, de 1978.
Thais Nunes: Olha, são várias coincidências. Ter contato com Ian Guest e Hélio Delmiro na sua primeira
experiência em festival não é tão comum.
Bruno Mangueira: Pois é, foi uma sorte danada.
André Oliveira: Pensando um pouco na sua trajetória musical, quais foram as práticas que você utilizou
para desenvolver a percepção harmônica? Se você se lembrar, poderia citar alguma?
Bruno Mangueira: Principalmente transcrição. Mesmo essas coisas que eu te falei de quando eu era
criança, não deixa de ser uma transcrição. Você fica tirando músicas do disco, da televisão... Transcrição e
tocar com outras pessoas em “n” situações. Tinha muita coisa de música da minha família. O pessoal
tocava e você tinha que acompanhar. Eu acompanho muita gente cantando desde criança, muito antes de
eu começar a trabalhar com música. Na minha família tinha essas coisas do pessoal ficar cantando e eu
ficava tocando, acompanhando os outros cantando. Tinha um primo meu que gostava muito de cantar. Eu
ficava tocando e ele cantando. Quando eu era criança, meu pai me levava numa roda de samba que fazia
toda semana com os amigos, durante muitos anos. tinha adulto. Eu ia com ele nos bares, aí ficava o
pessoal tocando samba, MPB. E na escola eu ficava tocando também, tinha gente que cantava. depois
eu fui começando a fazer isso profissionalmente. que esse negócio de cantar também me obrigava a
saber tocar em vários tons, porque daí uma pessoa canta em um tom enquanto outra pessoa canta em
outro. Então eu sempre acostumei tocar em vários tons. Quando eu fui trabalhando com isso, esse
maestro [da escola que cursava segundo grau] também viu que eu gostava muito de estudar. Ele começou
a me chamar para fazer várias coisas, então eu toquei muito com ele. Na época ele tocava, depois ele foi
parando de tocar. Ele é clarinetista e saxofonista. Ele sempre levava o sax alto, sax tenor... que ele
levava as partituras para ele tocar e eu tinha que sair transpondo as partituras, cifras. Ele tinha o Real Book
em Si bemol e eu ficava transpondo as partituras na noite, na hora. A gente tocando e eu ficava
transportando. Isso foi desenvolvendo, não exatamente a percepção, mas não deixa de ser também,
porque acabou me ajudando a raciocinar muito. Eu fazia isso intuitivamente, mas isso me ajudou a
desenvolver mais essa coisa de raciocinar por graus. Você tem que pensar mais funcionalmente e não
exatamente no nome das notas. Você pensa primeiro grau, segundo, quarto. Mesmo que você não pense
nestes nomes, mas é um raciocínio funcional, de harmonia funcional
5
. Esse maestro também passava
5
Para saber mais sobre harmonia funcional indicamos a leitura do segundo capítulo da dissertação de
mestrado intitulada Teoria da Harmonia na Música Popular: uma definição das relações de combinação
entre os acordes na harmonia tonal, de Sérgio Paulo Ribeiro de Freitas (1995). Segundo o autor, a teoria
funcional está baseada no princípio de que "só existem três classes de funções harmônicas" (Riemann,
1927, p. 39 apud Freitas, 1995, p. 21). Em síntese, a função "Tônica" (T) estaria associada ao repouso, a
Per Musi | Belo Horizonte | v.24 | General Topics | e232416 | 2023
6
Nunes, Thais dos Guimarães Alvim; Oliveira, André de; Mangueira, Bruno. 2023. Desenvolver a percepção harmônica: conversa com Bruno Mangueira
transcrições pra eu fazer. Tinha um grupo que tocava na noite, uma big band que, aliás, eu comecei a tocar
na noite profissionalmente nessa big band. Chamava Orquestra Victória. Era uma big band completa
profissional de ex-alunos dessa escola. E aí ele passava coisas para [eu] transcrever para o pessoal tocar.
Eu transcrevia coisas de arranjo de base. Bastante coisa eu transcrevi: da Rita Lee, do Lulu Santos. Eu fui
aprimorando, porque eu tinha que transcrever coisas melódicas também. Depois ele corrigia a escrita:
“não, foram tantos compassos aqui, tantos compassos lá, faz tudo de novo”, e nisso eu fui
desenvolvendo essa parte de arranjo junto. Tinha que pensar na forma, no... mas sempre mexendo com
harmonia. Com o tempo eu fui acrescentando essas outras coisas que iam, inclusive, aumentando a
complexidade das coisas de harmonia.
Thais Nunes: Achei interessante você falar que as transposições inicialmente eram mais intuitivas. Pelo
jeito que você está falando, inicialmente você tinha ali uma noção sonora e ia fazendo... Aos poucos, com
esse conhecimento teórico sendo adquirido, você passou a lançar mão, provavelmente, de harmonias mais
complexas. Como é que você usa esses dois conhecimentos?
Bruno Mangueira: Para mim, o que eu sinto é exatamente a mesma coisa que eu fazia. Eu penso da mesma
forma, que obviamente eu fui adquirindo mais recursos. Então eu consigo fazer a mesma coisa com
acordes mais complicados, com harmonias mais complicadas. Mas eu penso muito mais de ouvido do que
teoricamente na hora que eu estou tocando. Quer dizer, na verdade, claro que vai ficando tudo orgânico.
Você vai estudando a teoria, estudando a escala, você vai deixando tudo mais... Mas realmente eu
considero que eu continuo tocando de ouvido quando penso em harmonia, a menos que eu esteja lendo.
Thais Nunes: E você usa a memória física do instrumento também?
Bruno Mangueira: Demais, totalmente. Inclusive eu lembro até… acho que era nessa aula do Ian Guest.
Agora que você falou eu até lembrei dessa aula do Ian Guest lá em Brasília. Eu não lembro o que ele falava,
mas tinha esse negócio para você cantar: “Oh, pensa no seu instrumento que você vai acertar a nota”. E
isso ajuda mesmo. Com certeza essa coisa do físico ajuda muito. Geográfico, né, que o pessoal fala.
Thais Nunes: É, exatamente, porque daí você tem uma memória que está associada a um som. Você muda
o tom, você tem um caminho meio físico, mas que ele está ligado à sonoridade também.
Bruno Mangueira: Com certeza isso ajuda muito!
André Oliveira: Dentre as práticas que você mencionou na pergunta anterior, você saberia dizer se foram
decorrentes da aprendizagem formal realizada em instituições de ensino ou de outras formas?
Bruno Mangueira: Foram as duas coisas. No meu caso, o aprendizado formal me ajudou a organizar e a
entender melhor as coisas que eu fazia intuitivamente e poder evoluir. No meu caso, foi primeiro
informal. Depois, as principais instituições que eu fiz foram a Escola Técnica Federal do Espírito Santo, que
é o atual Instituto Federal do Espírito Santo, onde eu estudei teoria musical, prática de banda, big band, e
algumas coisas de harmonia, e depois a Unicamp. Esses foram os dois lugares que eu estudei mais
intensamente. Teve esse curso também de Brasília, de Campos do Jordão, mas foram coisas
função "Subdominante", ao afastamento do repouso, e a função "Dominante", à aproximação do repouso.
A partir desse princípio, o discurso harmônico se constitui enquanto um "jogo de relações entre estas três
funções" (p. 21). Cada função reúne um conjunto de graus do campo harmônico. No caso do campo
harmônico maior, por exemplo, os graus I7M, IIIm7 e VIm7 possuem função de "Tônica". Os graus IIm7 e
IV7M possuem função de "Subdominante", e os graus V e VIIm7(b5) possuem função de "Dominante".
Bruno Mangueira está mencionando pensar mais nos graus da tonalidade e nas relações entre eles, do que
no nome de cada acorde correspondente a uma determinada tonalidade, para facilitar o processo de
transposição para qualquer outra tonalidade.
Per Musi | Belo Horizonte | v.24 | General Topics | e232416 | 2023
7
Nunes, Thais dos Guimarães Alvim; Oliveira, André de; Mangueira, Bruno. 2023. Desenvolver a percepção harmônica: conversa com Bruno Mangueira
complementares. Mas [o estudo nas instituições] me ajudou muito a organizar as coisas e evoluir, então as
duas coisas.
Thais Nunes: Esse Instituto Federal lá no Espírito Santo, ele não é um curso técnico em música não, né?
Bruno Mangueira: Não é Thais, você acredita? E é o melhor local de ensino de música do Espírito Santo,
embora seja uma oficina. Isso é uma coisa incrível. Célio Paula da Costa, o maestro, me convidou uns dois
anos atrás para produzir o disco dele. Fiz os arranjos, me chamaram até pra cantar. Ele com um cantor que
se chama Yuri Guijansque. O Célio foi dar aula lá muito novo, acho que ele tinha uns 18 anos. Ele dá aula lá
até hoje. Inicialmente era uma oficina de música, mas como ele é músico de banda, ele é de São Fidélis
6
inclusive. O pai dele tinha uma banda, era clarinetista. Eu sei que ele fez uma banda. Quando eu entrei
não era mais desse tamanho, mas a banda chegou a viajar com três ônibus fazendo aqueles desfiles, fez
concurso de bandas no Estado de São Paulo. Tinha a banda e a big band. Os melhores músicos iam para a
big band. A big band era um negócio meio misterioso na época. quando eu descobri que tinha uma, eu
consegui entrar. Antes disso eu estudei um pouquinho de saxofone e trombone. Então tinha aula de
música. Na verdade, tinha dois professores. Ele dava aula dessa parte, mais com notas, e tinha outro
professor que dava uma aula que ensinava a marchar. A gente marchava no campo de futebol, um negócio
meio militar. O pessoal da banda tinha que marchar. Então a gente fazia umas aulas e ficava marchando.
Depois esse outro cara aposentou, o Wilson. Então tinha a aula e tinha a banda. Eu sempre assistia o
ensaio da banda. Nunca toquei na banda, mas adorava os ensaios. À noite eu ficava lá, tinha arquibancada.
A Escola Técnica era o seguinte, ela tem mais de 100 anos, então lá pelas tantas eles incorporaram o Clube,
acho que era o antigo local onde funcionava o Vitória Futebol Clube. Depois o Vitória foi pra um outro
lugar. Então anexo à escola... a parte de esporte da escola é um negócio enorme, tem campo, quadra, é
muito grande lá. A banda fica debaixo da arquibancada. Hoje em dia está super bonito lá. Depois juntou a
banda com a big band. Então atualmente o que tem é uma orquestra de música popular. Além de uma
big band completa, tem um naipe de percussão grande, tem bastante coisas de cozinha, tem sanfona, tem
um coro, acho que tem umas seis cantoras, quando fazem aquelas coisas do Tom Jobim. Tem flautas,
clarinetes. Deve ter umas 40 e poucas pessoas atualmente. Virou Pop & Jazz, chamava Pop & Jazz
Orquestra.
Thais Nunes: Então já tinha esse grupo instrumental coletivo?
Bruno Mangueira: Tinham dois.
Thais Nunes: E aí você participava de um deles e tinha que atender as demandas no grupo?
Bruno Mangueira: Não era todo mundo que participava. Quando entrei na escola tinha algumas opções de
aulas para gente fazer, não lembro o nome. Acredito que oficina. Tinha de teatro, de dança... tinha um
coral também. A banda era uma das opções. Eu fui pra banda porque eu queria estudar teoria. Muita gente
fazia as aulas, porque as aulas eram mais de um semestre. A gente estudou aqueles livros da Maria
Priolli
7
. Muita gente fazia as aulas e ia embora. As aulas eram abertas não para os alunos da escola,
mas também para a comunidade. Então tinha muita gente que nem era aluno da escola. A maioria dos
músicos da polícia de Vitória, os caras são ex-alunos de lá. Muita gente estudou lá, inclusive os caras de
6
Cidade do estado do Rio de Janeiro, Brasil.
7
Maria Luisa de Mattos Priolli (1915-1999), mais referenciada como Maria Luisa Priolli. De acordo com o
site da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ela foi diretora da Escola de Música da instituição de
1976 a 1980 e autora dos livros Solfejos melódicos e progressivos (2v., 1951) e Princípios básicos da música
para a juventude (2v., 1953). Disponível em: https://musica.ufrj.br/institucional/escola/galeria-de-ex-
diretores/diretor/16. Acesso em: 02 out. 2023. A partir de outras pesquisas foi possível identificar mais
uma publicação da musicista intitulada Harmonia - da concepção à expressão contemporânea (2v., 1976).
Os livros da autora continuam recebendo novas edições e ainda são encontrados para compra.
Per Musi | Belo Horizonte | v.24 | General Topics | e232416 | 2023
8
Nunes, Thais dos Guimarães Alvim; Oliveira, André de; Mangueira, Bruno. 2023. Desenvolver a percepção harmônica: conversa com Bruno Mangueira
sopro... inclusive a maioria dos músicos de Vitória que foi pra Unicamp também estudou lá: o Fabiano
8
, o
Pedro de Alcântara, o Weber Marely estudou também. Tinha aula de teoria e aula de instrumento.
Muita gente fazia aula de instrumento. Você conseguia entrar na banda quando você estava em um
certo nível no instrumento. Eu mesmo, por exemplo, estudei dois instrumentos e não toquei na banda. Eu
fui para a big band porque ele viu que [eu] tocava. Na verdade, ele me viu tocando violão com alguém
cantando lá na arquibancada. Ele viu que eu estava com um songbook de Bossa Nova, só que eu levava pra
um amigo ler a letra. Eu não sabia ler nada dos acordes. Ele começou a perguntar se eu tocava um [tema],
tocava outro... disse assim [Maestro pergunta]: “Sabe ler?”. Eu disse: “Não sei ler nada disso”. Eu tocava
uns Tom Jobim, uns negócios. Ele falou: “Então você vai fazer aula comigo. Você vai tocar guitarra comigo
na big band”. ele abriu uma turma, eu e mais um cara pra ele dar aula pra gente tocar na big band.
Muita gente só fazia aula, muitos iam para a banda, e os melhores da banda, mais experientes, iam pra big
band. que, além dos instrumentos de sopro, tinha os instrumentos de cozinha na big band, que ele
tinha que arrumar de outra forma. Guitarra, baixo, bateria... não era todo mundo que fazia aula que
tocava, pelo contrário, acho que a minoria que acaba indo pra..., porque o pessoal ficava anos na Banda,
saía da escola e voltava pra Banda. Hoje tem um cara que voltou. Ele toca trompete e é neurocirurgião.
O cara vai lá, opera a cabeça dos outros e continua indo lá [risadas].
Thais Nunes: Mas é um trabalho importante de formação mesmo, de iniciação à música.
Bruno Mangueira: É seríssimo. Um trabalho seríssimo, mas o engraçado é que é uma coisa que não é curso
na escola, é uma oficina complementar. Mas virou uma coisa quase independente, porque é uma coisa
muito bem feita.
André Oliveira: Em relação a materiais didáticos, desde o início do seu contato com a sica e ao longo
das décadas da sua prática musical, você poderia comentar sobre a existência ou não de materiais
disponíveis para estudo de percepção harmônica? Seria possível comentar algo relacionado a cada década
de sua aprendizagem?
Bruno Mangueira: Bom, as gravações, obviamente, foi a coisa que eu mais usei a vida inteira. Quando
chegou nessa fase da Escola Técnica, não era exatamente material de estudo de percepção harmônica. Eu
sempre relacionava tudo à percepção. Ia estudando teoria e vendo o nome das notas, fui associando as
coisas, porque eu conhecia as notas, como é que funcionava. Mas as transcrições, eu passei a escrever e
tal… Agora o material, assim, de aula de percepção, engraçado, de Brasília não lembro exatamente como
era essa aula, até porque eu não sabia ler direito nessa época. O que eu me lembro de material de
percepção harmônica foi na Unicamp. Tinha uma disciplina de percepção harmônica com o Paulo
Pugliese
9
. ele tinha um material de fato, ele tinha até uns playbacks que tocavam e tinha que escrever.
Então eu me lembro que na Unicamp o material de tipos de acordes, você tinha que cantar alguma coisa
junto. Na verdade, as coisas que eu estudei de percepção melódica também sempre me ajudaram muito
com a parte harmônica. Na Unicamp tinha mais de um semestre de aula com o Ricardo
10
, daquelas coisas
8
Fabiano Araújo Costa, atualmente docente da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e Diretor da
Faculdade de Música do Espírito Santo (FAMES). Currículo lattes disponível em:
http://lattes.cnpq.br/7101979822731454. Acesso em: 02 out. 2023.
9
Paulo Pugliesi é contrabaixista e arranjador. Foi professor da disciplina de percepção harmônica na
Unicamp e integrou o grupo de docentes que formulou o curso de Música Popular desta instituição.
Pugliesi sempre foi avesso aos holofotes. Atuou nas primeiras décadas do curso. Para saber um pouco da
sua trajetória, acessar a matéria do Jornal Correio da cidade de Campinas. Disponível em:
https://correio.rac.com.br/entretenimento/entre-as-feras-da-musica-1.1210237. Acesso em: 28 set. 2023.
10
Referência à Ricardo Goldemberg, docente do Departamento de Música da Unicamp. Nessa época
relatada por Bruno Mangueira, Goldemberg era professor da disciplina de Percepção Melódica. Currículo
lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/4471690196061941. Acesso em: 02 out. 2023.
Per Musi | Belo Horizonte | v.24 | General Topics | e232416 | 2023
9
Nunes, Thais dos Guimarães Alvim; Oliveira, André de; Mangueira, Bruno. 2023. Desenvolver a percepção harmônica: conversa com Bruno Mangueira
do Bach para cantar, eu sempre associei aquilo com a parte harmônica também, mesmo que fosse uma
melodia.
Na verdade, para mim, a dificuldade mesmo que eu tive no meu estudo ao longo de muitos anos,
principalmente a partir da época da Unicamp, foi desenvolver a parte melódica. Porque para mim a parte
harmônica, como foi uma coisa que eu sempre fazia desde a infância, nunca foi uma coisa que eu precisei
me preocupar muito. Eu nunca tive muita dificuldade. Foi uma coisa tão natural! Eu me lembro dessas
coisas do Paulo Pugliesi, mas assim, a parte harmônica que eu me lembro estudando, era sempre mais
transcrevendo coisas. Mas mesmo essas coisas de percepção melódica ajudaram bem também. Você
pensar numa nota, se tem que ir para outra nota você já tem que imaginar outra nota a partir dessa daqui.
Então você pensa na relação entre as duas. Quando você consegue pensar simultaneamente nas duas,
mesmo que você cante uma de cada vez, você está fazendo uma relação harmônica na sua cabeça.
Intervalo de quinta aumentada: “Como é que é uma quinta aumentada?” você canta [Bruno canta
primeiro o intervalo de uma quinta justa e depois sobe meio tom da segunda nota]. Mesmo que você
cante uma de cada vez, é um raciocínio harmônico. Acho que não deixa de ser. Então eu incluiria essas
coisas de estudo de percepção melódica no estudo de percepção harmônica. Para mim, eu acho que faz
parte. Agora material, cara! Como a Thais falou, todo o estudo de instrumento acabou ajudando também.
Então tudo o que eu estudei no instrumento, absolutamente tudo que envolve melodia, harmonia, me
ajudou muito na percepção harmônica: escalas, arpejos, montagem de acordes, harmonia das músicas,
tudo isso eu considero material de estudos de percepção harmônica.
André Oliveira: Ter uma visão mais integrada.
Bruno Mangueira: É, porque na verdade a gente estuda tópicos com a disciplina: vou estudar harmonia,
vou estudar ritmo. Mas quando as coisas acontecem, elas acontecem todas misturadas. Então eu acho que
todo estudo de instrumento, especialmente quem toca instrumento harmônico, acaba sendo estudo de
percepção também. Eu realmente não me lembro muito de material para estudar percepção harmônica,
além dessa aula do Paulo. Essa aula do Paulo eu lembro bem que tinha um material lá pra isso.
André Oliveira: No seu ponto de vista, há conhecimentos prévios necessários para que o estudante de
música ou músico desenvolva sua percepção harmônica? Se sim, poderia citá-los?
Bruno Mangueira: Não. Pode começar do zero. Eu acho que ajuda muito tocar um instrumento harmônico.
Inclusive eu dou aula de harmonia há muito tempo. dou aula na UnB 10 anos e, mesmo antes de dar
aula na UnB, eu dava aula [de harmonia]. Eu dei dois anos de aula de harmonia na EMESP
11
, pelo menos
um semestre na Unicamp, e dei um curso de harmonia em Campinas, junto com o Bebeto
12
. Essa minha
aula de harmonia atualmente é teórica. Teve uma época que até era uma aula de harmonia e
improvisação, eu separava um dia pra harmonia e no outro trabalhava aquilo com a parte prática. Faz
alguns anos que eu estou ministrando matéria teórica de harmonia. Mas mesmo ela sendo só teórica, logo
no começo do semestre eu faço uma pergunta para o pessoal para saber quem toca o quê. Eu sempre falo
o seguinte: que é bom quem não toca instrumento harmônico pegar um instrumento harmônico e
começar a aprender alguma coisinha, mesmo que seja uma coisinha de tríade, tipo Legião Urbana
13
.
11
Escola de Música do Estado de São Paulo.
12
Arno Roberto von Buettner (1947-2014), pianista, arranjador e compositor campineiro. Foi professor de
piano popular e harmonia da Unicamp. Autor do livro Manual dos Acertos - os modelos harmônicos da
música popular (2014).
13
Bruno Mangueira faz referência ao repertório do grupo musical Legião Urbana, no qual podemos
encontrar muitas canções compostas com dois ou três acordes triádicos, ou seja, formado por três notas,
ainda que algumas dessas notas apareçam em dobra. Sua fala revela a opinião de que é melhor tocar
Per Musi | Belo Horizonte | v.24 | General Topics | e232416 | 2023
10
Nunes, Thais dos Guimarães Alvim; Oliveira, André de; Mangueira, Bruno. 2023. Desenvolver a percepção harmônica: conversa com Bruno Mangueira
Qualquer coisa a pessoa tem contato com os caminhos dos acordes. E além disso, é ter repertório.
Porque eu falo assim: “Olha, essa aula aqui, esse conteúdo vai fazer sentido, pelo menos no meu ponto
de vista, se você conhece o repertório, senão vira uma coisa muito abstrata”. Senão parece uma aula de
química, entendeu? Eu via isso quando a gente fazia aula na Unicamp. Muitos colegas não entendiam o
que estava acontecendo por falta de experiência, de repertório. Porque faz sentido você ficar falando
em clichês harmônicos, tipos de progressões, padrões, cadência plagal, cadência perfeita ou
subdominante, subV, enfim, esses termos todos de harmonia, faz sentido com o repertório... onde
aquilo acontece. É a mesma coisa com relação à harmonia tradicional. A harmonia explica coisas de estilos,
de gêneros. Aquelas regras, isso que pode, que não pode... Na verdade são características de determinado
estilo: “Nesse estilo, isso aqui não pode, está fora do estilo”...
Então, voltando à pergunta, eu acho que não. Eu acho que você se desenvolve a partir do nível que você
está. Se a pessoa não tiver experiência nenhuma, nunca tocou nenhum instrumento, então ela vai começar
dos conhecimentos mais elementares ali: uma escala. Por que na verdade todo mundo está ouvindo
música sempre. Algumas pessoas têm mais facilidade do que outras para perceber, cantar afinado.... muita
gente naturalmente canta tudo certinho, outras pessoas cantam completamente em outro... Então para
desenvolver, eu acho que não tem um pré-requisito. Tem um pré-requisito obviamente pra você tocar a
música do Tom Jobim. Para desenvolver, basta a pessoa se dedicar no nível que ela tiver.
Uma pessoa que não tem experiência nenhuma não vai conseguir entender uma coisa que demanda
bastante experiência. Mas eu acho que pode desenvolver. Às vezes, chegam uns alunos com muita
dificuldade de percepção. Falo assim: “cara, tira isso e traz semana vem”. o cara não consegue ouvir.
Então eu vou tentando desmembrar. Eu falo assim: “Tira só os baixos. Transcreve esse baixo inteiro, a linha
de baixo para semana que vem”. Pego uma música que tem os baixos sem inversão. eu sempre falo pra
ele mexer no equalizador: tira os agudos, médios e aumenta graves que você vai ouvir o baixo bem
presente”. Tem gente que não consegue [tirar a harmonia]. quando transforma numa coisa melódica
fica mais fácil para o cara entender. “Ah... vou tirar o baixo, é uma linha melódica”. com a própria
melodia da música você mostra as relações: “aqui está esse baixo sendo que na melodia estocando a
terça”. A partir daí alguns têm mais facilidade, outros menos, mas eu sempre trabalho bastante transcrição
com os alunos, principalmente se é aluno de instrumento, porque mais tempo. Mas esse último
semestre que passou, eu trabalhei bastante coisa com o pessoal das aulas de harmonia também. Eu passei
uma transcrição por semana, que deu tive que fazer junto, eu me ferrei pra transcrever, pra corrigir,
fazendo os PDF’s, fazendo um monte de coisa. Mas eu sempre trabalho com transcrição porque eu acho
assim, se o músico não consegue saber o que está acontecendo harmonicamente, melodicamente...
principalmente quem trabalha com música popular.
Tem uma disciplina que se chama “Harmonia na música popular”. Eu dou aula desta disciplina
atualmente. Eu estou sem dar aula de prática de conjunto por causa da pandemia. Eu vinha dando aula de
prática de conjunto também. Eu fiquei uns 2 anos com a big band, depois eu pedi para sair. Os caras não
queriam estudar nada. Muito trabalho aquela big band, eu pedi para sair. Tinha que ficar fazendo muito
arranjo. Aí eu fiquei dando aula de prática de conjunto e de violão, voltado para a parte de música popular.
Eu sempre trabalho com bastante coisa de transcrição com o pessoal, sabe, porque eu acho que a
transcrição é mais eficaz.
Thais Nunes: Do que os ditados que o professor vai lá e toca no instrumento, né?
Bruno Mangueira: Exatamente. Os ditados eu acho super legais também. Mas eu acho que o que me
ajudou muito com esses ditados foi exatamente as experiências que eu tinha com transcrição, aí os ditados
harmonicamente uma música simples com poucos acordes, para que seja possível perceber as relações
harmônicas, do que estudar harmonia apenas de forma teórica.
Per Musi | Belo Horizonte | v.24 | General Topics | e232416 | 2023
11
Nunes, Thais dos Guimarães Alvim; Oliveira, André de; Mangueira, Bruno. 2023. Desenvolver a percepção harmônica: conversa com Bruno Mangueira
foram uma coisa super legal. que eu acho que faz muito mais sentido quando você tem o hábito de
transcrever. Então eu acho que a transcrição é uma coisa até mais prazerosa de você estar trabalhando
com a música mesmo. Na transcrição o cara acaba aprendendo “n” outras coisas, além dos acordes, você
tem de interpretação, de estilo, de sonoridade, de um monte de coisa. Até dispensa você de ficar dando
algumas outras explicações. Por exemplo, outro dia chegou o menino que queria estudar
acompanhamento. A gente estava vendo as coisas de acompanhamento, era uma coisa de bossa nova.
teve épocas em que eu passava: “ah! estuda esse padrão aqui, o João Gilberto parece usar esse padrão”
[Bruno faz o gesto da batida com a mão]... Eu nem perdi muito tempo, eu falei para ele assim: “oh! chega
tocando essa gravação aqui”. Eu passei uma gravação do João Gilberto pra ele. Eu falei: “tira o que você
conseguir. Quando você trouxer a gente vê. Se tiver alguma dificuldade, se não tiver”. No fim das contas
ele teve até mais facilidade do que pensava. Só que aquilo dispensou “n” explicações que [eu] teria que dar
pra ele. Às vezes, a gente fica dando explicação, “porque esse padrão aqui é assim”. Você fica dando
explicação longa que para o cara fica até uma coisa meio sem sentido. Fica muito mais fácil primeiro você
pedir para ele trabalhar aquilo de ouvido. Porque daí ele gasta o tempo dele tentando decodificar o que
está acontecendo. Quando o cara chega, depois disso, fica muito mais fácil você trabalhar
separadamente alguma coisa. Acho que faz muito mais sentido, até para o cara entender mesmo a
explicação teórica. E nessa da gente ficar ouvindo, você acaba estudando com muito mais elementos do
que numa explicação que eu dei ali na aula. Tem muito mais informação na gravação.
Thais Nunes: Bruno, eu queria que você explorasse mais, porque pra gente interessa saber o que você faz
com esse aluno. Você falou: “às vezes eu peço pra ele tirar o baixo”. E se ele mexe no equalizador pra
ouvir melhor e de repente não consegue [tirar a harmonia] pela linha do baixo? Com quais outras práticas
você se deparou a partir das dificuldades dos alunos que você teve que caminhar para ou para e, de
alguma maneira, isso trouxe caminhos interessantes que talvez não eram nem o primeiro que você
imaginou, mas a dificuldade do aluno fez [você] buscar outras formas? Se você puder comentar.
Bruno Mangueira: Olha tem uma situação que volta e meia acontece e é muito eficaz essa solução. É a
dificuldade rítmica, porque muitas vezes essa coisa de tirar o baixo, o cara trava. Eu sempre peço para tirar
e escrever, inclusive, porque daí eu já vou trabalhando... porque eu não estou dando aula para uma pessoa
que está fazendo aquilo por diversão. Eu estou dando aula na faculdade, então o cara quer se
profissionalizar. Eu sempre penso que o cara vai ter que ganhar dinheiro com aquilo, vai ter que trabalhar
com aquilo, então ele precisa também ter um mínimo de competência profissional para estar no mercado
depois. Então sempre peço para eles escreverem essas transcrições: Assim, oh! Traz a linha do baixo
transcrita na clave de fá”. Uma coisa que o pessoal costuma ficar travado é porque eles não conseguem
escrever o ritmo da linha melódica. E aqui então, a dificuldade não é exatamente ele ouvir. Porque esse
negócio de ouvir a nota do baixo, alguns têm um pouco de dificuldade, mas raramente alguém não
consegue. Acho que eu nunca tive alguém que não conseguisse de jeito nenhum transcrever a linha do
baixo. Então o que pode acontecer é eu pegar uma música mais simples: “Oh! essa música está no nível
que eu não estou conseguindo” [referência ao aluno falando]. você pega… até chegar no Sambalelê.
Alguma delas o cara vai conseguir. Mas teve vez de eu pegar coisas bem simples mesmo: “Oh! aqui está
difícil...Ah! aqui deu”. Então, a primeira coisa aqui é tentar achar onde está o nível de percepção do cara
pra que não pareça uma coisa impossível dele fazer. “Isso aqui eu não consigo” [referência à fala do aluno].
Fica aquela sensação de que o cara não consegue fazer nada. Então procuro achar um nível ali… “Oh! isso
aqui bom? Rita Lee tá difícil? Não. Legião Urbana? ou...” até chegar numa coisa, sei lá, do e
Guarabyra. Varia com o nível. Mas o pessoal que vai fazer aula fez sua prova para entrar na UnB,
então eles têm que saber alguma coisa. Eles não entram do zero. Mesmo se fosse do zero seria parecido.
Então isso é uma primeira coisa. Muitas vezes [o aluno se] depara com dificuldade rítmica. O cara não
sabe escrever aquela divisão rítmica para escrever melodia. Às vezes tem qualquer coisinha a mais [na
linha de baixo], ou especialmente, quando começa a entrar com coisas de violão e de melodia. Uma coisa
Per Musi | Belo Horizonte | v.24 | General Topics | e232416 | 2023
12
Nunes, Thais dos Guimarães Alvim; Oliveira, André de; Mangueira, Bruno. 2023. Desenvolver a percepção harmônica: conversa com Bruno Mangueira
que eu faço que funciona muito bem, faço desde que eu dava aula no CEU Perus
14
em 2003/2004. Eu
misturei as coisas que eu aprendi da Maria Priolli com o que a Lilian Carmona passava pra gente na
Unicamp. Eu desenvolvi um método de aprender ritmo. Eu coloco o metrônomo e tasco a galera para ler o
[Método] Pozzoli
15
[Bruno sorri]. É superdivertido. Eu percebi que, às vezes, é muito mais eficiente você
ensinar o cara a ler o Pozzoli rápido, que ele resolve “nproblemas de ritmo, do que ficar insistindo pra
decodificar o ritmo que ele não sabe. Então você põe o metrônomo e começa a primeira série.
Thais Nunes: Você pede para ele reger também, ou não?
Bruno Mangueira: fiz isso também regendo, mas depende. A aula de guitarra é muito curta. no CEU
Perus eu fazia regendo com o pessoal. Inclusive tem um menino que a família inteira estudava comigo lá,
era o pai e os três filhos. O menino tinha 8 anos. Depois eu o encontrei de novo na EMESP, ele já tava com
uns 15 anos [e estava] tocando bateria pra caramba. Ele tocava bateria. Anos depois ele entrou em
contato comigo, porque queria ir para os Estados Unidos. Hoje em dia está morando em Los Angeles,
trabalhando lá, tocando muito. Então eu fiz coisa de reger... é muito legal. Mas na aula de guitarra
atualmente, como é uma coisa mais rápida, ponho o click e a pessoa tem que cantar do início ao fim
com click. Depois vou aumentando o andamento, ou seja, o cara tem que ganhar uma fluência. E no que
ele aprende a ler, obviamente, ele acaba aprendendo a escrever aquelas figuras. Então acho que é uma
coisa mais musical. Até ir chegando nas séries que têm as semicolcheias, síncopes, aquelas outras coisas.
Quando o cara consegue ler aquilo com metrônomo junto ele assimila melhor aquelas figuras, e quando
ele ouve aquilo acontecendo fica muito mais fácil para ele escrever. Então uma coisa que eu faço que ajuda
muito, por incrível que pareça, com essa parte de transcrição de melodia, é trabalhar o Pozzoli,
entendeu? Pra eliminar esse problema de o cara não saber como escrever alguma coisa rítmica. Outra
coisa. Às vezes eu peço pro pessoal cantar. Tem uns caras que sabem tocar e cantam o negócio todo
desafinado, todo errado...tem uma desconexão do que ele tá fazendo mecanicamente com o som da coisa.
Então [para] alguns, eu peço para cantar junto para poder desenvolver a percepção. Às vezes, fica um
estudo que a pessoa associa com a coisa mecânica, e cantar junto acho que essa conectada da
percepção com o instrumento. Deixa eu ver se tem mais alguma coisa... Porque assim, são diferentes tipos
de transcrição. Tem transcrição harmônica, transcrição melódica... Como falei, eu vejo tudo como uma
coisa só. Mesmo as [transcrições] melódicas eu faço o pessoal fazer conexão com a coisa harmônica.
Thais Nunes: Você tinha mencionado uma coisa interessante, que a partir da transcrição você vai
explicando coisas teóricas, ou seja, ele absorveu ali a música, agora ele vai entender alguns elementos
que ainda não foram compreendidos. Então é partir de uma prática já assimilada para poder compreender.
Foi um pouco o seu processo, não é Bruno, pelo que você relatou lá no início.
Bruno Mangueira: Exatamente. Eu vi isso em mim quando eu era aluno, em vários colegas e agora com
vários alunos que eu tenho. Às vezes, o pessoal chega na aula de harmonia... e você que as pessoas,
muitas pessoas veem aquilo como uma coisa totalmente abstrata. Você falando: “Olha, o [acorde]
dominante do tal pode resolver não sei onde, não sei onde. o cara olha e anota a regra: “Ah! tá!” [Bruno
faz a expressão de alguém que não está compreendendo]. “Como eu vou aplicar isso?” [o aluno pergunta].
Eu vejo que o raciocínio do pessoal é muito: “Onde eu vou usar isso?” Eu acho isso um equívoco. Eu falo:
“Para com essa pergunta de onde eu vou usar isso. Você não sabe nem onde as pessoas usam isso. Você
tem que primeiro ver como estão usando, para depois ver onde vai usar. Então você precisa ver onde isso
acontece nos compositores, nos arranjadores, esse tipo de resolução. Porque a melhor forma de você
14
Centro Educacional Unificado do bairro de Perus da cidade de São Paulo.
15
Referência ao Guita Teórico-Prático para o ensino do ditado musical (1978), partes I e II, do professor
italiano Ettore Pozzoli. A parte I é dedicada às noções gerais relacionadas a unidades de tempo e de
compasso, tipos de compasso simples e composto etc, e a segunda parte é voltada à pratica de solfejo e
ditado rítmico. O método é organizado de forma progressiva dos ritmos mais simples aos mais complexos.
Per Musi | Belo Horizonte | v.24 | General Topics | e232416 | 2023
13
Nunes, Thais dos Guimarães Alvim; Oliveira, André de; Mangueira, Bruno. 2023. Desenvolver a percepção harmônica: conversa com Bruno Mangueira
saber onde vai usar é saber como é que os outros usam. Se você não souber como é que os outros usam,
como é que você vai pegar a regra aqui agora e vai usar?”. O pessoal de instrumento tem um tal de “jogar”
[Bruno sorri]: “Você joga um bemol treze ali” ...
Thais Nunes: Ou então faz exercício de forma teórica seguindo algumas regras e aquilo não soa também.
De repente você começa encadear um monte de acordes porque o livro disse que pode, mas na hora que
toca, você fala meu Deus!
Bruno Mangueira: Essa forma de raciocinar, realmente pra mim é uma coisa que eu não consigo ver muito
sentido. Porque essas regras harmônicas, essas coisas todas, elas explicam fenômenos físicos, as coisas que
estão acontecendo. Claro que uma coisa ajuda a outra, a teoria ajuda. Tanto que você vai ver os livros
todos de harmonia terem exemplos: “na música tal acontece isso”. Tanto que se você for ver esses cursos
de jazz, todas as pessoas têm que tocar piano. Na Unicamp mesmo a gente tinha aula de teclado. Esses
músicos de jazz, esses cursos todos, os caras têm que saber harmonizar, têm que saber fazer as
progressões harmônicas, independente do instrumento que ele toca. Porque eu realmente não vejo muito
sentido na pessoa estudar harmonia teoricamente e não saber tocar aquilo, não saber ouvir aquilo. Saber:
“Olha, tá acontecendo aquilo lá”.
Thais Nunes: Acho que você falou coisas bastante interessantes para o que a gente estava querendo
levantar. A sica popular é muito recente na escola. Nos interessa investigar como podemos levar a
prática do músico popular para dentro de espaços formais, e ainda refletir sobre isso para que essa prática
chegue como um outro modo de ensino de música. O André é professor de guitarra no [Projeto] Guri aqui
no polo de São Carlos-SP. Ele trabalha com a criançada e está pesquisando para que possa ajudar os seus
alunos a fazerem essa ligação da prática com a teoria de uma forma que eles possam avançar nesse ponto.
A pesquisa surgiu um pouco por isso, por ele lidar o tempo todo com essas dificuldades de como fazer o
aluno desenvolver. Temos mais dois grandes guitarristas que vão compor a pesquisa: o Nelson Faria e o
Mozart Mello
16
.
Bruno Mangueira: Ah! O Mozart Mello, que legal. [Bruno havia sido informado sobre a participação de
Nelson Faria, em conversa antes do início da entrevista]
Thais Nunes: A gente escolheu guitarristas nascidos em três décadas diferentes para podermos comparar o
processo de vocês. Você é o mais novo deles. Talvez você tenha pego um momento mais formal. Então é
isso, muito obrigada, mais uma vez.
Bruno Mangueira: Valeu!
André Oliveira: Obrigado, Bruno!
2. Referências
Mangueira, Bruno R. 2006. Concepções estilísticas de Hélio Delmiro: violão e guitarra na música
instrumental brasileira. Dissertação de Mestrado. Campinas: Instituto de Artes da Unicamp.
_______________. 2012. Arranjos de Nailor Proveta para a Orquestra Jazz Sinfônica: soluções
contemporâneas para o choro numa homenagem a Pixinguinha. Tese de Doutorado. Campinas:
Instituto de Artes da Unicamp.
16
A entrevista com Mozart Mello foi publicada no periódico Música popular em revista. Disponível em:
https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/muspop/article/view/17640. Acesso em 03 out. 2023.