vocal de Silva, que, ao articular determinadas notas, emprega uma percussividade na voz, priorizando o
ataque consonantal, instalando, de forma local, um traço dançante que faz pulsar um ímpeto somatizador,
eufórico: / Não pinta esse ros-to que eu gos-to/. Por outro lado, quando a seguir o cantor utiliza-se de
quiálteras, levando-nos a entendê-las, num primeiro momento, como um traço portador de valores
semânticos positivos, o prolongamento sonoro das palavras, executadas por vezes ligadas, sem entoar
qualquer tipo de interrupção, parece amenizar o suposto tema, ora articulado sob saltos constantes de
quartas justas. Isso matiza a descontinuidade vertical, mas, de outra forma, reforça a desaceleração de
base pelo incremento da duração das notas: /Marina, você já é bonita / Com o que Deus te deu/. O
procedimento se repete ao longo de boa parte da interpretação. É algo tão renitente quanto a indolência
interpretativa sinalizada pela incidência dos frys e pelas respirações. Todavia, as ligaduras se mesclam com
notas que demarcam silabicamente o texto, deixando rastros de reiteração rítmica, amortecendo ainda
mais as características passionalizantes que, por sua vez, permanecem incidindo ao longo da narrativa nas
investidas, nada enérgicas, para se alcançar as notas mais distantes. São intervalos de sexta maior, quinta e
quarta justas em fins e meios de percursos frasais que tendem a ver sua força disfórica bruscamente
amortecida, amortecimento que não chega a anular a força disruptiva, mas que a deixa em modo de
subocorrência disjuntiva. E isso é identificado pelas insistentes idas a M0 e, também, pelos arfares
propositalmente soados e amplificados. O gesto blasé de Silva, indicando um descompromisso com o
aspecto disfórico, é o traço mais marcante de sua atitude vocal, que exprime um estado de ânimo que
ratifica o entendimento de que estamos diante de um arrefecimento tensivo (menos menos). Tal
característica, também faz coro com aquilo identificado por Tatit. Se não há crise ou conflito diante da
separação é porque não há disjunção afetiva, mas apenas um arremedo, um simulacro. Assim, o
enunciador não emprega força de convencimento ou algo que o valha, sabedor que é de que vive uma
disjunção na conjunção, que de fato a ruptura não durará mais do que o tempo de um
podemos mesmo pensar que o gesto passional, além de discreto, pode ser algo dissimulado num disfarce,
por assim dizer, diáfano. Tudo isso nos leva à identificação de uma escolha pela qualidade emotiva
tematizada figurativizada, algo que acontece quando valores da oralização são adicionados aos aspectos
temáticos. Contudo, neste caso, o comportamento vocal de Silva nos leva a admitir uma tematização
figurativizada residualmente passional.
Voltemos às características apresentadas pela gestualidade vocal de Silva. O intérprete exibe uma
quantidade expressiva de ar, acionando uma fonação por vezes soprosa e, ainda, ressonantalmente,
recorre à ativação do que se usa chamar de voz mista , que ajuda na impressão de desinteresse fórico.
Sua emissão, de uma forma geral, apresenta algum anasalamento característico. Ao perfil anasalado da
emissão soma-se uma ressonância frontalizada, traços esses que operam como indicadores de
figurativização do projeto. A expressão que antecede o refrão, /tô de mal com você/, parece ser mesmo a
chave que revela esse jogo furtivo dos valores juntivos e emplaca a tal dimensão infantilizada que Tatit diz
ser fonte de amortecimento fórico. Um aspecto acriançado, imaturo, parece percorrer a narrativa e
atenuar a ruptura, tornando-a cada vez mais improvável. Ao optar por suprimir o A na repetição, trecho
onde se elenca os atributos positivos de /Marina/, onde se evidencia a admiração e afeto, por exclusão,
destaca-se exatamente o motivo da quase-zanga, do aborrecimento, destacando a face disjuntiva do
projeto. Porém, isso em nada desconstrói o aspecto pouco convincente que procura sinalizar a ruptura.
Isso está indicado na expressão que anuncia o estribilho: /mas eu tô de mal/. Enquanto a canção original