Per Musi | Belo Horizonte | v.24 | Section RePercussions | e232421 | 2023
Brasil para trabalhar na filial brasileira da companhia, na cidade de Taubaté, no interior de São Paulo, onde
seguiu atuando até os 41 anos de idade. Após pedir demissão, o japonês decidiu permanecer no Brasil e unir
sua paixão por música à experiência no manejo de madeira para aprender a arte da construção de violões.
Para isso, teve como mentor Shigemitsu Sugiyama, bastante conceituado na área de luteria. Após um ano
de observação, Tsukasa começou a vender seus próprios violões, obtendo clientes renomados da Música
Popular Brasileira, como os instrumentistas João Bosco e Toquinho. No entanto, o despertar para os
instrumentos japoneses e a música folclórica do país asiático surgiu somente aos 44 anos, ao assistir uma
apresentação de shamisen que ocorreu na cidade de Taubaté. Isso, segundo o próprio Tsukasa, o despertou
para suas raízes japonesas, e ele então começou a estudar o instrumento com o professor Katsumi
Yonemoto. Esse encontro com o shamisen foi tão importante que, após o episódio, passou a ensinar também
seus filhos e sobrinhos e, usando do seu conhecimento em luteria, começou também a fabricar não só os
instrumentos de corda, mas também os shakuhachi e os taiko, que fazem parte das formações tradicionais
do minyô, música folclórica japonesa. Foi assim que surgiu, em 1994, o grupo de música folclórica japonesa
Kaito Shamidaiko, que passou a se apresentar em festivais de música japonesa no Brasil e demais eventos
da colônia (Arima 2007).
Yoohey Kaito, filho de Tsukasa, era um dos integrantes do grupo familiar e, a partir dessa vivência, decidiu
seguir a paixão do pai e se tornar um músico profissional especializado em tocar e construir os instrumentos
tradicionais japoneses. A imersão na cultura e na música nipônica teve seu auge num intercâmbio de um
ano no renomado grupo de taiko Kodo, na ilha de Sado, entre os anos de 2010 e 2011, integrando o Kodo
Apprentice Center. Essa experiência, segundo o próprio, proporcionou que pudesse vivenciar o taiko vinte e
quatro horas por dia: “Lá a gente respirava taiko” (Kaito 2022). Atualmente, Yoohey mantém, na cidade de
Taubaté, uma escola de taiko, shinobue, shakuhachi, shamisen e canto, além de sua própria oficina de
construção, que completou vinte anos em 2022.
No Brasil, existem, ao todo, cinco construtores de taiko, todos localizados em cidades do interior de São
Paulo: dois em Embu-Guaçu, um em Osasco, um em Presidente Prudente e os Kaito de Taubaté. Apesar de
Yoohey afirmar que há um enorme respeito entre todos os construtores, ele também revela não haver um
grande intercâmbio de informações entre eles. Dessa forma, o processo de construção do taiko brasileiro
promovido pela família Kaito foi, de maneira geral, bastante baseado em pesquisas próprias e tentativa e
erro. Uma das preocupações em sua investigação para a construção dos instrumentos era de adaptar todo
processo à realidade brasileira. Para isso, conduziu e ainda conduz diversas pesquisas com matérias-primas
nacionais, para tornar o instrumento acessível sem perder sua qualidade. Segundo ele, a parte mais difícil é
encontrar madeiras adequadas ao uso nos tambores que sejam mais ou menos atraentes em função de
diversos fatores, como peso, cor, textura, facilidade de manuseio e incidência na região. Além disso, os
couros também podem apresentar algumas dificuldades, uma vez que, dependendo da idade do animal, as
características são bastante distintas e influenciam na construção e som do instrumento. Soma-se isto à
dificuldade de barganhar com empresas fornecedoras da matéria-prima animal, acostumadas a negociar
grandes quantidades no mercado nacional ou internacional, os desafios são muitos, mas, mesmo assim, a
qualidade dos tambores produzidos por Yoohey e sua equipe já foram elogiados por diversos tocadores
profissionais brasileiros e japoneses.
As adaptações, porém, não se limitam às matérias-primas: todo o processo artesanal conduzido na oficina,
que conta atualmente com dois trabalhadores (Mário Nakamura, gerente de produção e Moisés Barbosa de
Paula, auxiliar de produção), além do próprio Yoohey e sua esposa e sócia Natália Kanashiro, que é