Mbira/Santse/Kalimba/Chityatya – a Património Intangível da Humanidade. A etnografia, concordando
assim com Ingold (2014, 393), se constituía de correspondências educacionais da vida real, onde a teoria,
por sua vez, era uma imaginação nutrida por seus compromissos observacionais com o mundo pesquisado.
A obtenção, organização e análise dos dados teve como base as seguintes técnicas: observação
participante, entrevista semi-estruturada, registro de fotografia e pesquisa bibliográfica.
A observação participante possibilitou a minha inserção e a consequente compreensão de particularidades
que aconteciam nos ensaios, apresentações, festas, oficinas e em outras atividades. Observar significou
prestar atenção, vigiar, ouvir e sentir o que estava acontecendo ao redor. Participar significou levar uma
vida ao lado e junto das pessoas e coisas que fazem parte do fenômeno musical, tal como prescreve
Ingold (2014). Assim, tornei-me sujeito da prática, sentindo o vivenciado e estabelecendo uma
participação, ativa e diretamente, conectada às pessoas estudadas, afetando o meio e vice-versa. Este
envolvimento incluiu conversar, experimentar, rir, cantar, tocar, dançar, comer e conviver com outras
pessoas envolvidas. A observação participante serviu para organizar, descrever e identificar o que acontece
na música de mbira. A sua análise trouxe à tona os processos e situações que definem a prática musical e
suas formas de transmissão.
As entrevistas semiestruturadas forneceram informações acerca da música de mbira, sua performance,
seus processos e situações de transmissão musical. Elas foram gravadas, mediante autorização prévia da
pessoa entrevistada, em gravadores digitais portáteis como câmera Handy Video Recorder Zoom Q4, Zoom
H2n e celular Samusung J5. A gravação permitiu a flexibilidade e economia de tempo tanto para o
pesquisador quanto para as pessoas pesquisadas. Estas entrevistas foram realizadas, transcritas e
organizadas de forma individual no caderno de entrevista com vista construir as percepções e nuances
particulares de cada interveniente. Na descrição textual usei nomes reais das pessoas pesquisadas de
acordo com autorizações dos/das vachayi va timbira. A análise das entrevistas elucidou as sutilezas
implícitas na subjetividade de algumas questões da pesquisa, permitindo compreender melhor as
principais práticas e estratégias de reinvenção e manutenção artística dos/das vachayi va timbira no
cenário contemporâneo. Os/As vachayi va timbira entrevistados/as incluem Ivan Mucavel, Xitaro, Xakada,
Maneto, Beauty, Ozias Macoo, NBC Gas Butano, Simão Nhacule, Virgínia Uamusse, Zande Mudolas, May
Mbira e Delta Cumbane.
O registro fotográfico ajudou-me na captação dos diferentes tipos de mbira. As fotos foram captadas com
um celular Samusung J5 e catalogadas na pesquisa, descrevendo o nome da mbira, grupo ou situação e
data da obtenção. Elas foram selecionadas, inseridas e analisadas junto ao texto, trazendo para a pesquisa
perspectivas visuais dos tipos de mbira.
A pesquisa bibliográfica foi realizada durante todo trabalho e configurou-se como uma técnica de obtenção
de documentos científicos, tais como: livros, periódicos, ensaios críticos, dicionários e artigos científicos
dos campos de Musicologia Africana, Etnomusicologia e afins. A partir da pesquisa bibliográfica aliada à
constante relação com a realidade pesquisada foi pensado o referencial teórico da investigação, buscando
compreender e analisar os conceitos centrais, bem como as bases epistemológicas e metodológicas da
pesquisa em manifestações africanas e moçambicanas.