que permitiu – ou sugeriu – a Xenakis o uso, em certas passagens, de sons longos. Sons que se
desenvolvem lentamente sem sugerir articulações sonoras que venham se contrapor ou reforçar as
articulações de um ritmo visual pouco articulado. Em contraponto, em certos momentos o uso de
elementos rítmicos e articulados na trilha musical remetem não a elementos presentes na cena, mas a
uma forma de “ilustração” de sonoridades dessas culturas antigas. Ilustrações que emergem e se
constituem no nosso imaginário, visto que registros sonoros dessas culturas da antiguidade são,
evidentemente, totalmente inexistentes.
Movimento: os movimentos que compõem as imagens se constroem de maneira plural, com movimentos
de câmera, movimentos de objetos, movimentos de luz e a combinação entre todos esses elementos.
Aspectos que propomos analisar de forma mais detalhada.
2.3. Movimentos de câmera e objetos
O filme de Fulchignoni usa movimentos de câmera que preservam a natureza 2D do espaço cênico
simplesmente por não criar movimentos relativos: a) os pans horizontais, os pans verticais e as
aproximações pelas mudanças de valor do plano são amplamente trabalhados pelo posicionamento da
câmera em eixos frontais aos objetos; b) os movimentos que partem de um certo ponto no espaço e se
dirigem ao encontro dos objetos funcionam como uma espécie de entrada de cena de personagens. Neste
efeito bastante teatral, as personagens, as estátuas, ora surgem pelos lados do quadro, ora emergem por
baixo, como se saíssem de alçapões, ou, ocasionalmente, descem ao palco como que carregadas por um
mêkhanê, um mecanismo ou maquinaria do teatro grego antigo.
Quanto ao movimento de objetos, a rotação das obras em seus eixos longitudinais cria uma ilusão de
movimento circular da câmera em torno destas. Este movimento é um dos elementos que, tal como em
um museu onde podemos circular no entorno das esculturas, vêm chamar a nossa atenção não somente
quanto à tridimensionalidade dos objetos. Essa rotação coloca também em evidência o movimento
intrínseco às obras (e.g., pernas à frente, braços levantados, o calçar de uma sandália), movimento que
algumas esculturas já apresentam três milênios antes da nossa era (estátua egípcia, 16’22’’).
Finalmente, Orient-Occident é composto por uma diversidade de movimentos que se combinam a partir
dos diversos exemplos acima referidos, conjugando pans verticais com rotação das estátuas em seus eixos,
movimentos diagonais ou mesmo rotações das estátuas em seus respectivos eixos longitudinais. Tudo isso
somado a uma iluminação que, pelo movimento dos refletores de luz, clareia os objetos fazendo-os em
certos momentos simplesmente emergir sobre o fundo sombrio (1’29’’).
2.4. A iluminação
Ao que nos parece, a iluminação de Orient-Occident é produzida principalmente por dois pontos de luz: a
luz principal ou de ataque (key light) e uma luz lateral (a luz de preenchimento ou fill light). Mas em
diversos momentos, podemos perceber a existência de um provável terceiro ponto típico, a contraluz
(backlight), que tem por função recortar a silhueta dos personagens mis en scène (Andersson 2015,
cap. 12). A questão aqui é que a luz principal é por vezes colocada em posições laterais em ângulos bem
abertos (acima de 45°), o que tem por característica salientar o relevo das obras por meio de um
acentuado jogo de sombras e luzes. As luzes são, obviamente, ajustadas com grande precisão pois as áreas
iluminadas são, em determinados momentos, bem pequenas em comparação à superfície global das