Solomos, Makis; e Villa, André. 2022. “Orient-Occident de Fulchignoni-Xenakis: Análise da relação entre música e imagem”
Per Musi no. 42, Iannis Xenakis: 1-19. e224229. DOI 10.35699/2317-6377.2022.48275
exposição de 1958-59 organizada por Vadim Elisséeff, curador do museu parisiense Musée
Cernuschi, durante a qual foram exibidas esculturas e outros objetos da Ásia, Europa e Egito,
destacando as relações entre Leste (Oriente) e Oeste (Ocidente). O subtítulo do filme é Images
d’une exposition (Imagens de uma exposição), provavelmente uma referência a Mussorgsky. No
filme, um texto falado descreve estas relações, um texto que, se confiarmos nos créditos finais
do filme, foi escrito por Pierre Henry. Fulchignoni escreveu um artigo importante sobre sua
colaboração com Xenakis, no qual ele escreve:
O filme era difícil de fazer, pois envolvia a mudança de um lugar para outro,
de uma cultura para outra, de uma época para outra. Uma das seções do
filme, por exemplo, envolveu a transição da estátua imóvel, de perspectiva
frontal, como a dos egípcios, para a escultura dinâmica e tensionada da
Grécia, particularmente a de Alexandre, através de várias etapas. O objetivo
era dar a impressão desta evolução e ao mesmo tempo aquela da
permanência mágica e imutável do corpo humano. Havia todo tipo de casos
deste tipo. Se eles me colocavam problemas difíceis como cineasta, eles
colocavam problemas talvez ainda mais complexos para o músico, porque,
onde a transição visual podia encontrar soluções na montagem, para a
música, estas mesmas operações de montagem implicavam extensões de
uma área para outra, um empreendimento muito mais complexo4. (1981,
256-257, trad. Danilo Rossetti)
Segundo estes relatos de Fulchignoni, a realização do filme durou cerca de oito meses, fato que
de certa forma chama a atenção para a complexidade do projeto. Sobre a produção do projeto,
por exemplo, as dificuldades com as filmagens dos planos, devido ao fato de ser necessário
filmar objetos de tamanhos muito diferentes. A equipe era também constituída por dois cineastas
italianos bem qualificados. O diretor de fotografia, Piero Portalupi, era um cinematógrafo muito
experiente com vários longas-metragens em seu currículo. Piero Portalupi foi auxiliado por
Idelmo Simonelli, um experiente operador de câmera, maquinista e igualmente diretor de
fotografia. A montagem do filme consumiu três meses de trabalho e obrigou Fulchignoni e
Elisséeff a encontrar um fio condutor para desenvolver uma narrativa visual coerente e fluida.
Somam-se a isso os dois meses em que Xenakis, Pierre Henry e alguns colegas do GRM
trabalharam para criar a música, a narração e mixagem da trilha sonora do documentário.
O filme, nas palavras de seu diretor, narra “o quadro de contatos entre culturas5” (Fulchignoni
1981, 257). Além disso, o documentário – como uma espécie de catálogo de exposição – nos
mostra, por meio de sua excepcional composição de imagens, “a extensão do intercâmbio
4“Le film était de réalisation difficile, puisqu’il s’agissait de passer d’un endroit à l’autre, d’une
culture à l’autre, d’une époque à l’autre. L’une des sections du film, par exemple, comportait le
passage d’une statuaire immobile, à perspective frontale, comme celle des Égyptiens, à la
sculpture dynamique, en tension, de la Grèce, celle d’Alexandre en particulier, à travers plusieurs
étapes. Il s’agissait là de donner en même temps l’impression de cette évolution et celle de la
permanence magique et immuable du corps humain. Il y avait toutes sortes de cas de ce type.
S’ils me posaient, en tant que cinéaste, des problèmes ardus, ils en posaient peut-être d’encore
plus complexes au musicien, car, là où la transition visuelle pouvait trouver des solutions dans le
montage, pour la musique, ces mêmes opérations de montage impliquaient des prolongements
d’une zone dans l’autre, entreprise beaucoup plus complexe”.
5“le cadre des contacts entre les cultures”.