primeiros ritmos do samba no tamborim, pandeiro, cuíca, surdo, agogô e tarol. A família de seu pai tinha
vários músicos, e todos gostavam de cantar e ouvir o jazz. Segundo Neném:
quase todos os tios e primos tocavam alguma coisa. Meu pai cantava muito bem, tinha a
voz bonita. Toda a família dele gostava de cantar, de jazz, de Nat King Cole, de Frank Sinatra
e de Billie Holiday. Já a parte da minha mãe é o povo do samba. São de Diamantina. Ela
tocava quase todos os instrumentos de percussão, pois foi fundadora de uma das primeiras
escolas de samba de Minas Gerais, a Monte Castelo. Com ela aprendi a parte do samba.
Meus tios tocavam trompete. Fui criado nesse meio. (Ferreira 2009)
Aos sete anos de idade, devido a problemas de saúde de sua mãe, Neném passou a viver com sua tia Maria
Paulina, babalorixá no terreiro de candomblé Santa Joana D’Arc. Nesse terreiro, ele começou a brincar com
o atabaque criando associações ao que já havia ouvido, tocado e aprendido na referida escola de samba.
Durante anos, Neném teve profunda formação no candomblé, na função de tocar o atabaque em rituais até
chegar ao mais alto posto, isto é, tornar-se um ogã.
Aos dezesseis anos de idade, Neném teve seus primeiros contatos com a bateria, quando se mudou para o
bairro Alto dos Pinheiros e começou a frequentar os bailes no Clube Recreativo, onde ia exclusivamente para
observar o baterista tocar. Em dado momento, se enturmou e conseguiu autorização para praticar naquela
bateria, desde que a banda não estivesse ensaiando e, assim, começou a aprender a tocá-la sozinho.
Nos anos 60, já profissional em Belo Horizonte e tocando em ambientes como a boate Sucata e o bar 890,
sentiu a necessidade de se aprimorar. Com essa motivação, Neném fez aulas de técnica com o professor
Emílio Gama. Além de Emílio, seu “professor técnico”, Neném tinha um grande mentor musical: o baterista
Laércio Vilar. Como ele afirma:
No geral meu grande mestre foi o Laércio Vilar. O primeiro que me fez enxergar os outros
bateristas do mundo. Ele e outro amigo nosso, o baterista Dinelli, que hoje é advogado.
Íamos para a casa do Dinelli, no Padre Eustáquio, ouvir os grandes mestres, pois não
tínhamos radiola. Ouvíamos Elvin Jones, meu grande mestre, Art Blakey, Max Roach e
Buddy Rich. Os mais novos também, como Jack DeJohnette, meu ídolo maior na atualidade,
Billy Cobham, Steve Gadd, Philly Jo Jones e Tony Williams. São caras criativos, inventaram
o que o mundo todo copia. Criaram vários estilos. Nessa mesma época, também tive ídolos
brasileiros, músicos que ouvi muito lá na casa do Dinelli, como Edson Machado, Airto
Moreira, Dom Um Romão, Paulo Braga e Robertinho Silva. São meus ídolos [...].
Na minha forma de tocar está presente a coisa africana, por causa dos tambores e da escola
de samba. Participei disso tudo. Além do toque jazzístico das músicas que ouvia com meus
pais, de Nat King Cole e de Count Basie. Então, é tudo misturado: o lado africano com a
paixão pelo jazz e as coisas brasileiras, pois sou brasileiro, graças a Deus, com baião,
xaxado, maracatu, samba e samba de roda [...] (Ferreira 2009)
Nos anos 1970, quando Neném tocava profissionalmente no bar 890 em Belo Horizonte, seus primeiros
contatos com músicos e artistas daquela época começaram a se expandir. Certa vez, foi chamado para
participar de uma banda, a Arca de Noé, junto com o cantor e compositor Fernando Oly. Então, fizeram uma
gravação: