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eISSN 2317-6377
Tambores emoldurados no mundo: uma proposta de
documentação
Frame drums in the world: a documentation proposal
Marcos Vinicius Lacerda Schettini
Universidade Estadual do Paraná, Campus Curitiba II FAP, Curitiba, PR, Brasil
vinapandeiro@gmail.com
Ana Paula Peters
Universidade Estadual do Paraná, Campus Curitiba I Embap, Curitiba, PR, Brasil
anapaula.peters@unespar.edu.br
SCIENTIFIC ARTICLE
Section Editor: Ronan Gil de Morais e Luís Bittencourt
Layout Editor: Edinaldo Medina
License: "CC by 4.0"
Submitted date: 31 oct 2023
Final approval date: 14 dec 2023
Publication date: 26 dec 2023
DOI: 10.35699/2317-6377.2023.48621
RESUMO: Existe uma grande variedade de tambores emoldurados na música e na cultura de diferentes tradições do mundo. Com
características estruturais análogas, agrupam-se em uma mesma “família” de instrumentos, diferenciando-se pelas variantes
morfológicas, pelas formas de execução, pelo timbre e pelos contextos de utilização. Este artigo se ocupa em relacionar e
documentar uma série de tambores emoldurados a partir de fontes bibliográficas, mostrando suas histórias, suas características
organológicas, formas de execução e aspectos de sua musicalidade. Este trabalho faz parte de uma pesquisa desenvolvida em
torno da temática do “pandeiro” e, também, evidencia a relevância da percussão no campo acadêmico em diálogo com áreas de
pesquisa histórico e documental em música.
PALAVRAS-CHAVE: Tambor emoldurado; Documentação; Percussão; Contextos de utilização.
ABSTRACT: There is a wide variety of frame drums in the music and culture of different traditions around the world. With similar
structural characteristics, they are organized into the same “family” of instruments, differing by morphological variants, forms of
execution, timbre and contexts of use. This article lists and documents a series of frame drums from bibliographical sources,
showing their histories, their organological characteristics, forms of execution and aspects of their musicality. This work is part of
a research developed around the subject “pandeiro”, which highlights the relevance of percussion in dialogue with areas of
historical and documentary research in music.
KEYWORDS: Frame drum; Documentation; Percussion; Contexts of use.
Per Musi | Belo Horizonte | v.24 | Section RePercussions | e232429 | 2023
2
Schettini, Marcos Vinicius Lacerda; Peters, Ana Paula. “Tambores emoldurados no mundo: uma proposta de documentação”
1. Introdução
Tambores emoldurados
1
são tipos de instrumentos membranofônicos, cuja principal característica é ser
constituído por um casco estreito, uma espécie de moldura, que circunscreve e delimita a estrutura base do
instrumento. Chamado de aro, fuste, casco ou corpo
2
, esta estrutura sustenta a pele ao mesmo tempo em
que pode acomodar diferentes componentes. Na grande maioria das vezes o corpo é construído em madeira,
entretanto, materiais como argila, material plástico ou mesmo metal também podem ser usados. O formato
circular é preponderante, com variações de moldura quadrada, losangular, triangular ou mesmo hexagonal.
A pele é o elemento que vibra e propaga o som já que o corpo destes instrumentos não tem função de caixa
de ressonância.
Diversos tipos de peles são utilizados: vaca, cabra, lagarto, cobra, diferentes tipos de animais marinhos ou
tecidos de órgãos internos de animais. Com o advento de certas tecnologias e o processo de industrialização
e fabricação de instrumentos musicais, o uso de pele sintética tem sido comum. A forma de execução destes
instrumentos utiliza movimentos de dedos e mãos, baquetas ou mesmo combinações entre eles. Algo
importante de se pontuar é que a especificidade dos tambores emoldurados se pelo fato da profundidade
do corpo ser igual ou menor que o raio da membrana (Figura 1).
Tambores emoldurados dividem-se basicamente em dois grupos (Figura 2). O primeiro é formado por
instrumentos que não tem nenhum componente preso ao corpo, ou seja, instrumentos compostos apenas
pela estrutura base e a pele, conhecidos como membranofones emoldurados. O segundo, agrupa aqueles
que dispõe de uma segunda fonte sonora acoplada ao corpo. Como exemplos de objetos acoplados
encontramos materiais metálicos como argolas, guizos, tipos de anéis, discos metálicos conhecidos como
platinelas (soalhas), cordas transpassadas junto a pele ou sementes internamente armazenadas em
bimembranofones. Ao possuírem uma segunda fonte sonora passam a ter características híbridas, soando
como instrumento membranofônico e idiofônico.
1
Termo traduzido a partir da expressão frame drums.
2
São usados os termos shell ou body em inglês, cadre ou fût em francês, Holzrand, Zarge ou Merge em
alemão, fusto ou corpo em italiano e caja ou cuerpo em espanhol para identificar tal estrutura (Frungillo
2002, 65).
3
Schettini, Marcos Vinicius Lacerda; Peters, Ana Paula. “Tambores emoldurados no mundo: uma proposta de documentação”
2. Contextos passados
Na pesquisa bibliográfica realizada, percebemos a presença de tambores emoldurados em diferentes
sociedades desde o período anterior a Era Cristã (Sachs 1940; Blades 1970; Redmond 1997; Montagu 2002;
Molina 2006 e 2010). De acordo com essa pesquisa, é provável que esses instrumentos tenham se
desenvolvido a partir de bandejas ou peneiras de grãos, prosperando junto com a intensificação da
agricultura e o surgimento de importantes civilizações no final da Idade da Pedra. A relação entre tambores
emoldurados e peneiras, e por extensão grãos e comida, pode ter sido relevante para a apropriação destes
instrumentos em diferentes tipos de rituais da sociabilidade humana.
Uma das evidências mais antigas da utilização destes tipos de instrumentos musicais encontra-se no afresco
do santuário da cidade neolítica de Çatal Hüyük, atual Turquia (Figura 3). Datada de 5800-5600 a.C., a pintura
mostra um grupo de pessoas dançando, sendo que duas delas carregam um tambor que pode ser uma
espécie de tambor emoldurado.
3
Pinturas como a de um vaso encontrado na cidade de Bysmia de 3.000 a.C.
(Sachs 1940, 31-32) e a de uma lira da primeira dinastia de Ur datada por volta de 2700-2450 a.C. (Molina
2006) são outros exemplos. Para além destas representações, a peça
4
de cerâmica sírio-fenícia descoberta
no sítio arqueológico Tel Shikmona (datada do séc. VIII a.C.) e os hieróglifos
5
do Egito Antigo reforçam o uso
destes instrumentos em diferentes culturas e épocas.
3
Ver Anderson (2001).
4
Peça em terracota encontrada no sítio arqueológico de Shikmona, cidadã atual de Haifa, em Israel.
Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/434386326566874235/. Acesso em: 01/11/2021.
5
Ver Diab (2017). Disponível em:
https://ijhth.journals.ekb.eg/article_30208_c91be3b858fbffb657de51a00b814244.pdf. Acesso em:
29/09/2023.
4
Schettini, Marcos Vinicius Lacerda; Peters, Ana Paula. “Tambores emoldurados no mundo: uma proposta de documentação”
Muitos destes registros estão associados a religiosidade, ao sagrado, a figuras mitológicas e principalmente
a figura feminina, vistos como pontos centrais de certas tradições milenares (Redmond 1997, Doubleday
1999). Os vestígios arqueológicos deixados em representações ligadas ao culto da deusa anatoliana e greco-
romana Cibele, cuja devoção estendeu-se por diversos territórios da Grécia Antiga a partir da península de
Anatólia, sugerem estas associações. Cibele foi retratada em diferentes formas que sugerem a presença do
instrumento musical.
Fontes produzidas durante a Antiguidade e o início do Cristianismo, especificamente entre o séc. III a.C. e IV
d.C., ressaltam o uso de tambores emoldurados em louvações, procissões e danças associadas a deusas
Mesopotâmicas e Hititas como Inanna/Ishtar e a deusa egípcia Hathor, ambas sacralizadas em regiões do
território Mediterrâneo e Oriente Médio (Molina 2006). O livro sagrado judaico Torah, a bíblia hebraica
traduzida para o grego de nome Septuaginta e as citações de textos bíblicos cristãos (McCorkle 2002),
relatam a presença destes instrumentos junto a eventos ligados a religiosidade humana. Alusões ao hebreu
tof, ao grego/latim tympanom/tympanum e o uso de termos como adufes, tamborim, tamborins, tamboril
e tamboris atestam o uso de tambores emoldurados dentro das tradições islâmica, judaica e cristã. Na Bíblia
cristã, o capitulo 15 de Êxodos versículo 20 diz que: [...] Miriã, a profetisa, irmã de Arão, pegou um tamborim
e todas as mulheres a seguiram, tocando tamborins e dançando”
6
.
Seja na vida social ou nos contextos físicos e espirituais, parece-nos plausível dizer que tambores de moldura
e tocadores/as foram indispensáveis à música e ao entretenimento nos séculos que antecederam e iniciaram
a Era Cristã, sempre apoiando rituais, festejos, cultos de adoração, de êxtase e transe. Até o séc. V, conforme
aborda Molina (2010) no livro “Frame Drums in the Medieval Iberian Peninsula”, em específico na arte cristã
do Ocidente Medieval, uma vasta iconografia é encontrada, entretanto, entre os sécs. V e X, as
representações de tambores emoldurados começam a estar mais ausentes. Para o autor estes instrumentos
passariam a ocupar um lugar a margem da religião cristã organizada da época que, de algum modo, tentaria
erradicar instrumentos pagãos da vida secular e religiosa. Para Molina (2010), a não afirmação de seu papel
de importância, as insinuações de simbologia negativa e a preferência por um estilo de arte anicônico
7
poderiam indicar o motivo da falta de representação destes instrumentos na arte medieval do período.
Entretanto, este apagamento acabaria sendo suprimido em séculos posteriores:
O uso generalizado de tambores redondos e quadrados na península Ibéria durante a Alta
Idade Média e a Idade Média Tardia é documentado por um mero considerável de
representações criadas entre os séculos X e XV. Estas representações são encontradas em
esculturas de edifícios religiosos cristãos, em manuscritos de livros sagrados de cristãos e
judeus e em objetos decorativos islâmicos.
8
(Molina 2010, 17)
6
Outras ocorrências encontradas na Bíblia estão em: Gênesis 31:27; Juízes 11:34; 1 Samuel 10:5, 18:6; 2
Samuel 6:5; Isaías 5:12, 24:8, 30:32; Jeremias 31:4; Ezequiel 28:13; Naum 2:7; Salmos 68:25, 81:2, 149:3,
150:4; Jó 21:12; 1 Crônicas 13:8; 90.
7
Aniconismo é a ausência de representações materiais do mundo natural e sobrenatural.
8
The widespread use of round and square frame drum in the Iberian Peninsula during the High and Late
Middle Ages is attested by a considerable number of depictions created between the tenth and the fifteenth
centuries. These representations are found most commonly in the sculptural programs of Christian religious
buildings, in illuminations of Christian and Jewish sacred books, and in Islamic decorative objects.” (Molina
2010, 17). Tradução feita pelos autores.
5
Schettini, Marcos Vinicius Lacerda; Peters, Ana Paula. “Tambores emoldurados no mundo: uma proposta de documentação”
As fontes arqueológicas, iconográficas e literárias sugerem que as religiões monoteístas ajudaram a difundir
estes instrumentos pelo Norte da África, em intercâmbios culturais entre o Oriente Médio e o Sul da Europa
através do mar mediterrâneo. No continuum do tempo, no período pr-islâmico na Península Arábica
eram associados a mulheres e a contextos de carácter político, religioso e festivo, vindo a fixar-se na
Península Ibérica a partir do séc. VIII (Blades 1970; Montagu 2002; Redmond 1997; Molina 2006 e 2010,
Poch 1984 e 2001, Cohen 2008, Forsthoff e Kruspe 2013). Este contexto, impulsionou o espraiamento de
tambores pelo mundo, entretanto, no Sudeste Asiático, sua presença e suas variantes podem ter tido relação
com os tambores xamânicos usados em todo o Norte da Ásia, Asia Central e Índia (Sachs 1940, 240).
9
3. Terminologias congruentes
Um olhar sobre alguns termos, corruptelas e variações linguísticas ajudam a compreender a presença de
tambores emoldurados em diferentes recortes temporais e contextos culturais. No séc. VI, a expressão árabe
al-duff (foneticamente: adufe) foi utilizada para designar tipos de tambores de moldura de grande ou
pequeno porte, com ou sem platinelas, de formato redondo ou quadrangular (Molina 2010, 78-79).
Expressões como bendair, bandir e bendyr foram usadas para definir um tipo de pandeiro da antiga Pérsia
(cerca de 750 d.C.), conhecido entre os povos pan-islâmicos com o nome de duff, deff, toph e thar (Frungillo
2002, 28). Na Idade Média europeia é documentado o uso de termos como temple (provençal), timbrel
ingl., timbre fr., Rotumbes alem., margaretum (latim, tocado com baquetas) e tympanum (Frungillo
2002, 245). No período de transição entre o Renascimento e o Barroco, um tambor de nome Rorenpaucklin
é citado no tratado Syntagma Musicum de Michael Praetorius
10
.
Stottlemyer (2014, 49) traz diferentes variantes e transliterações que identificam tambores emoldurados da
região do Magrebe
11
. O termo tar seria usado para se referir a uma variedade de tambores emoldurados de
maior porte que a partir do séc. XVIII mudam de tamanho e passam a trazer platinelas presas ao corpo.
Termos como dof, daf, daff, deff e duff estariam associados a pandeiros com platinelas de médio e pequeno
porte presentes nas tradições Árabes, Persas e no Império Otomano turco. O termo tef indicaria um pandeiro
pequeno encontrado na Turquia durante o Império Otomano. Doyra, dayereh e dayera um tambor
emoldurado de médio porte, ornamentado por anéis e encontrado na Pérsia e Turquia.
Termos como bandair e duff na língua árabe, tof em hebreu, tympanum em latim, pandero, panderete e
adufe em castelhano e línguas românicas são trazidos pela literatura (Frungillo 2002, Molina 2010,
Stottlemyer 2014). Especificamente sobre o termo pandeiro, Molina (2010, 60-61) infere que a filologia
acredita que ele tenha se desenvolvido da palavra grega pandura e sua derivação do latim pandorius, onde
o sufixo oriu poderia ter primeiramente evoluído para o latim panduoro, para o castelhano panduero e
finalmente para a forma pandero. A explicação mais provável para o termo galego-português pandeiro seria
a mutação do sufixo “ero” para “eiro”.
9
“Some of the frame drums of Southeast Asia probably came from the shamanic frame drum used all over
North and Central Asia and India” (Sachs 1940, 240). Tradução nossa.
10
O tratado foi publicado em três volumes entre 1615 e 1619. Os três volumes estão disponíveis em:
http://en.instr.scorser.com/CC/All/Michael+Praetorius/Syntagma+Musicum.html. O segundo volume,
voltado a organologia está disponível em http://en.instr.scorser.com/D/68476.html. Acesso em: 31/08/23.
11
Composta por países como Argélia, Líbia, Mauritânia, Marrocos, Tunísia e a região do Saara Ocidental.
6
Schettini, Marcos Vinicius Lacerda; Peters, Ana Paula. “Tambores emoldurados no mundo: uma proposta de documentação”
4. Tambores emoldurados: uma proposta de documentação
Nesta seção, nos ocuparemos de relacionar uma diversidade de tambores emoldurados de diferentes
culturas
12
. Buscamos construir uma proposta de documentação abrangente que abarque a variedade desses
instrumentos musicais, evidenciando suas características organológicas, de timbre, de formas de execução
e os contextos de utilização no interior das musicalidades das quais fazem parte.
4.1. Tambores xamânicos
A investida sobre este estudo e documentação passa necessariamente sobre os contextos ligados aos povos
nativos. Usados em práticas etnomédicas, de cunho mágico, religioso, social e filosófico, dentro de
cerimônias ritualísticas de simbolismo associado a espiritualidade, a circularidade da natureza, a fertilidade,
a morte, ao renascimento e as forças da mãe terra, tambores emoldurados estabelecem o ritmo, geralmente
em ostinato, que movimenta a música e a dança dessas culturas. Ao apoiarem processos de cura, de
transmutação, de transe, de contato com os espíritos, com seres míticos e antepassados, são vistos como
uma espcie de “chave” que liga o indivíduo a devoção, a ancestralidade e a estados de consciência
alterado
13
. Indispensáveis nas práticas e dinâmicas de funcionalidade social, transcendem sua função de
instrumento musical ao serem reconhecidos, nestes contextos, como um espírito vivo que chama o indivíduo
para as suas “origens”.
A fabricação dos instrumentos por povos nativos pode envolver um conjunto de conhecimentos, aspectos
simbólicos e crenças que ressalta o espírito do animal cuja pele é empregada, da madeira utilizada, o que
denota um amplo respeito a natureza e ao poder da criação. Muitos dos instrumentos estampam
ornamentos decorativos como imagens de animais, de pessoas e símbolos tradicionais das suas etnias
pintados sobre a pele do instrumento. Em geral, apresentam formato redondo e são seguros pelo trançado
em forma de cruz (ou estrela) feito com a membrana na parte de trás do instrumento. A depender do
contexto, seu formato pode variar em formatos mais ovais e outros em forma de raquete.
Na América do Norte a menção em escritos produzidos por William Clark e John Ordway durante a Lewis &
Clark expedition, primeira grande expedição exploratória do continente Norte Americano datada de 1804 e
1805, apontam o uso de tambores emoldurados por povos nativos que formaram as primeiras nações das
Américas. Nettl (1955) e Robinson (2003) documentaram estes tambores de mão entre os povos Arapaho e
Apache.
Entre os povos Inupaq e Yupik do Alaska o qilaun, com formato de raquete, é utilizado no acompanhamento
de danças miméticas da cultura esquimó (Johnston 1988). Variações são encontrados entre os Sioux norte
americanos, entre os povos do Ártico, do extremo norte da Sibéria, nos povos Samoieda, Yukaghir,
Chukchee, Koryak e Eskimó. Na região subártica do Canadá, entre os territórios de Yukon e Nunavut, são
usados na tradição do povo ıchǫ
14
.
12
Para fins deste artigo, os termos evidenciados com a fonte em bold do editor de texto indicam a primeira
aparição dos tambores emoldurados mencionados na seção 4.
13
Efeitos neurofisiológicos a partir de estímulos que usam frequência, ritmo, drumming ou ondas de efeito
cerebral foram descritos e analisados em trabalhos como Walter e Grey Walter (1949), Sargant (1959) e
Neher (1962).
14
Também conhecidos como Dogrib ou Dene.
7
Schettini, Marcos Vinicius Lacerda; Peters, Ana Paula. “Tambores emoldurados no mundo: uma proposta de documentação”
Entre nativos de países de língua lapônica da Europa Setentrional (Noruega, Suécia, Finlândia e a Península
de Kola) encontramos o tambor Sámi
15
. Instrumento de importância nas práticas religiosas da cultura Sámi,
apresenta-se em formato circular, oval ou tigela sendo coberto por pele de rena. A quase completa extinção
do tambor Sámi foi impulsionada pela perseguição imposta pelo cristianismo a partir do séc. XVI, suprimindo
a religiosidade e as tradições deste povo (Ahlbäck e Bergman 1991).
Remodeladas a partir das influências e pressões de cada região, práticas xamânicas e tambores emoldurados
foram preservados em culturas de povos nativos da Sibéria, do leste africano, da Ásia Central, do Tibete, da
Mongólia, do extremo Oriente, entre nativos norte-americanos e da região de Matacos ao norte da
Argentina (Jenkins apud Doubleday 1999, 103).
4.2. África
Ao norte do continente africano, em especial Marrocos e Tunísia, o tar
16
e bendir apresentam-se como
instrumentos de destaque (Dias 2011, Molina 2010). O bendir é um tipo de tambor de médio porte que leva
duas ou três cordas esticadas junto a membrana. Ao ser golpeado, a membrana entra em fricção com as
cordas produzindo um zunido ou chiado característico. No Marrocos, variações de maior tamanho do
instrumento podem ser encontradas com a presença de platinelas. A respeito do tar, o instrumento se
diferencia do bendir pelo pequeno porte, entre 14e 20” de diâmetro por 3” a 5 de profundidade e por
possuir discos metálicos presos a moldura. Ambos os instrumentos são posicionados perpendicular ao chão
e executados a partir da combinação dos movimentos das mão e dedos. Na Argélia, o deff caracteriza-se por
um instrumento de moldura quadrada.
No Egito, um instrumento similar ao tar do Magrebe, com tamanho que varia ente 22 a 25 cm de diâmetro
e 5 a 7 cm de profundidade, leva o nome de riq. Seu discos metálicos, construídos em latão, bronze ou cobre
e dispostos em duas fileiras, mesclam-se ao timbre da pele natural de peixe utilizadas nas versões
tradicionais. Reconhecido como um dos mais importantes instrumentos de percussão da sica árabe,
versões modernas com 10 pares de discos metálicos e pele sintética são comuns. Seguros em posição
perpendicular ao chão, são golpeados na pele e nos discos metálicos, junto a movimentos de giro em eixo
horizontal e vertical que enfatizam a sonoridade aguda do instrumento. Outro instrumento também similar
ao riq encontrado no Egito é conhecido pelo nome de mazhar (mizhar).
Na região da África Ocidental, na Libéria e em especial na Nigéria, o sakara é utilizado em gêneros musicais
herdados da influência árabe dos muçulmanos yorubás, em especial a partir da música Were e Ajisaari
(Waterman 1982; Omojola 2012). Com moldura construída em madeira ou barro, os de menor tamanho são
cobertos com pele de cabra, os de maior tamanho, com pele de vaca ou antílope. A pele é presa com pinos
de madeira que controlam a tensão. Para executar o instrumento deve-se acomodá-lo na perna e golpeá-lo
com um pequeno bastão na parte frontal. A mão livre pressiona a pele de modo a modificar a tensão e
alterar o timbre. Na região de Lagos na Nigéria, um tambor de moldura com formato hexagonal leva o nome
de sàmbá. Variações do instrumento em formato quadrado e octagonal são encontradas. Acredita-se que o
15
Para mais informações ver “The Saami Shaman Drum. Disponível em:
https://www.doria.fi/bitstream/handle/10024/134162/The%20Saami%20Shaman%20Drum%201991%20O
CR.pdf?sequence=2. Acesso em: 10/03/2022.
16
Dentro da cultura Persa usa-se o termo tār para definir um instrumento de cordas de formato similar a
um alaúde. Disponível em: https://www.metmuseum.org/art/collection/search/502242. Acesso em:
31/05/2023.
8
Schettini, Marcos Vinicius Lacerda; Peters, Ana Paula. “Tambores emoldurados no mundo: uma proposta de documentação”
instrumento possa ter sido introduzido no país através da imigração
17
de escravos emancipados, a maioria
provenientes do Brasil, em retorno a região no final do séc. XIX. Segundo Alaja-Browne (1989) o tambor é
utilizado em formas mais antigas da música tradicional Jùjú. Ao norte da Nigéria, o bandiri, similar ao bendir,
é usado na cultura do povo Haúças e entre praticantes do sufismo.
Na música do grupo étnico Anobonese do golfo da Guiné Equatorial, encontramos o cumbé (kunké) e o
tambalí. Segundo Aranzadi (2010) o cumbé é praticamente o mesmo instrumento encontrado na cidade de
Acra (Gana) com o nome de gome e em Freetown (Serra Leoa) com o nome de goombay. Com moldura
quadrada, dispõe de quatro pés que lhe dão um formado similar a um banco. Para tocá-lo, o instrumentista
senta em sua base golpeando com as mãos ao mesmo tempo em que pressiona a pele com o calcanhar. De
sonoridade grave, o instrumento executa as bases rítmicas enquanto o tambalí, tambor emoldurado de
construção similar, executa os solos. Os tambores são acompanhados de dois idiofones, o chin, uma espécie
de chapa de ferro, e o ka, duas varas golpeadas uma contra a outra. Ainda no continente africano, Horton
(1999) cita a existência de um tambor quadrado no Gabão com o nome de maringa e no Congo com o nome
de patenge. São similares ao gumbé da Guiné Equatorial embora com estrutura de profundidade mais rasa.
Nas ilhas Maurício dentro da música Sega, de tradição crioula originária do arquipélago de Chagos e objeto
de salvaguarda da UNESCO desde 2014, encontramos o tambor ravanne ou tambour chagos. Na Ilha da
Reunião, o malbar, instrumento tocado com duas baquetas em eventos de contexto religioso ligados as
origens hindus. Paravemán (2020) cita que o instrumento foi relocado a contextos recreativos ligados a
práticas indianas na área crioula da ilha a partir das décadas de 1980 e 1990.
4.3. Ásia
No Irã, o daff tem suas origens ligadas a cultura persa e aos curdos. Usados no médio Oriente, em práticas
religiosas do sufismo e na música tradicional do país o instrumento apresenta uma série de anéis presos ao
corpo que ressoam ao ser golpeado. Na região do sudeste asiático o rapa’i é tocado em atividades religiosas
e cerimônias tradicionais da região de Achém, ao norte da ilha de Sumatra na Indonésia. Usado em danças
como a rapa’i saman, rapa’i dabouh, rapa’i tuha e rapa’i passe, o instrumento é construído em madeira
maciça de jaqueira com pele de cabra. Os instrumentistas o executam sentados ao chão em movimentos
corporais junto ao canto e a música religiosa mulçumana (Kartomi 2010). Variações do instrumento de nome
rebana, terbang, kompang e raban são encontrados em países como Malásia, Singapura, Indonésia, Brunei,
Camboja e Sri Lanka. Na Malásia, o kompang, objeto de estudo de Abdullah (2005), sofreu processos
transculturais que culminaram em uma nova tradição do instrumento no país. Abdullah (2005) cita também
a presença de tambores similares na região como o genjring e derendeng
18
.
Na música tradicional da Tailândia e do Camboja o rammana, junto a um tambor em formato de cálice de
nome thon, compõe o instrumento conhecido pelo nome de thon-rammana. São tocados junto a outros
instrumentos de corda em grupos de música conhecidos como khruang sai.
No subcontinente asiático, Península Indostânica, especificamente na Índia, a kanjira é um tipo de pandeiro
de pequeno porte com moldura redonda e convexa que é usado dentro da música carnática do sul do país.
17
A primeira repatriação de africanos do Brasil para o que hoje é a Nigéria foi uma deportação liderada pelo
governo em 1835 após a rebelião liderada por iorubás e hauçás na cidade de Salvador conhecida como a
Revolta do Malês.
18
Usado em grupos de teatro de nome Prajuritan (Abdullah 2005).
9
Schettini, Marcos Vinicius Lacerda; Peters, Ana Paula. “Tambores emoldurados no mundo: uma proposta de documentação”
Objeto de estudo de Robinson (2013) o instrumento leva um par de platinelas acopladas ao corpo e é
revestido com pele de lagarto. Golpeado com a mão e dedos, sua sonoridade varia conforme o
instrumentista pressiona a pele alterando o timbre da membrana. Em artigo publicado na revista americana
Percussive Notes, Robinson (2003) cita o indiano parai (tape, dap ou dappul), tambor de médio porte com
moldura em madeira, latão, aço ou alumínio, pele de cabra e versões modernas com pele sintética.
Instrumento tradicionalmente usado na dança Dappu e nas cerimônias de funerais das regiões indianas de
Tamil Nadu, Karnataka, Telangana e Andra Pradesh, ele é posicionado a frente do corpo e tocado com
baquetas. No mesmo país, na região de Kerala, o thappu é usado na dança conhecida como Padayani.
Ao leste da Ásia, dentro da tradição chinesa um pandeiro octogonal de pequeno porte com pele de cobra é
chamado de bafanggu (bajiao Gu)
19
. Na ópera Chinesa usa-se um tambor de moldura de nome bangu. Na
região de Okinawa no Japão, dentro das tradições ligadas aos tambores taiko, existe o paranku. Ainda no
Japão, um tambor de moldura em formato de raquete leva o nome de uchiwa-daiko. Entre o grupo étnico
Ainu, o tambor kakko é documentado. Na Coréia do Sul o sogo, com formato de raquete e moldura coberta
com pele em ambos os lados é seguro por um pegador e golpeado com um pequeno bastão de madeira.
Utilizado por dançarinos na música e danças associadas ao folclore coreano de nome Sogochum
20
, no Nong-
ak
21
, gênero de música ligado as tradições de agricultores, o sogo é visto no conjunto de percussão típico da
manifestação. Junto a movimentos tradicionais em que dançarinos giram fitas presas aos seus chapéus, o
Sogo apoia performances de grupos de agricultores na dança de nome Popku Nori. Man-Young (1985)
acredita que as origens dessas tradições de música folclórica coreana estariam ligadas as heranças deixadas
pela música de rituais xamânicos.
Na Ásia central, em países como Azerbaijão, Afeganistão e Uzbequistão encontramos a doyra (ghaval),
conhecida como dayere no Irã. O instrumento utiliza pele de peixe com versões em pele de cavalo, vaca ou
cabra. Sua característica peculiar são os anéis (as vezes junto a guizos) presos a moldura que ressoam ao
serem chacoalhados junto aos movimentos dos braços, mãos e dedos. O instrumento é encontrado também
em partes da China, na Turquia e regiões da antiga União Soviética.
4.4. Europa
Em direção ao centro da Europa encontramos o tamburello (tamorra), instrumento reconhecido como o
mais importante membranofone da música de tradição oral italiana (Guizzi, 1998). É usado em regiões do
centro e sul do país como Marche, Lazio, Abruzzo, Molise, Apulia, Basilicata, Calabria e Sicília para o
acompanhamento de danças típicas. Entre as danças destacam-se a tarantella calabrese, a pizzica, o
saltarello e a tammurriata, este um festejo voltado a Virgem Maria retratada com pigmentação de pele
escura (Black Madona). Na região da Puglia é usado na pizzica tarantata, uma espécie de terapia envolvendo
dança, música e transe originalmente ligada ao exorcismo e ao poder mítico da picada da aranha tarântula.
Essa tradição evoca a região denominada pelos romanos de Magna Graecia, localizada ao sul da Itália e
povoada por colonos gregos a partir do séc. VIII d.C. O instrumento apresenta-se em formato redondo, com
pele animal e um conjunto de platinelas presas ao fuste. Entre as diferentes técnicas de execução
19
Usado pelo povo Bai (região de Yunnan).
20
Disponível em: https://youtu.be/iojDwDB43MI. Acesso em: 10/05/2022.
21
Disponível em: https://youtu.be/5r1xOa9E8vg?si=0h1n7vkHE2HbCQ8D. Acesso em: 10/05/2022.
10
Schettini, Marcos Vinicius Lacerda; Peters, Ana Paula. “Tambores emoldurados no mundo: uma proposta de documentação”
destacamos um padrão mais ou menos comum: com o instrumento vertical o músico movimenta-o em eixo
Leste-Oeste ao mesmo tempo em que a mão livre golpeia a parte frontal em movimentos de eixo variado.
Nas áreas de fronteira entre Portugal e Espanha o adufe apresenta-se como um dos poucos tambores
emoldurados com pele na parte posterior e anterior do instrumento. São tipos de bimembranofones
tradicionais da parte oriental portuguesa, em regiões como Trás-os-Montes, Moimenta, Monsanto e Idanha
(Beira Baixa). Encontrados também em regiões espanholas como Penãparda, León, Arroyo de La Cruz,
Cáceres (Estremadura), Astúrias, Galícia e em Lérida, essa última na divisa com a França (Dias 2011; Silva
2012), algumas de suas variações usam uma baqueta para percuti-lo. Seu formato mais comum é o
quadrado, mas são encontrados modelos com molduras losangulares, triangulares e hexagonais. As peles
mais utilizadas são a de cabra, a de ovelha e de cachorro. Para enriquecer a sonoridade do instrumento
colocam-se sementes, areia, tampas metálicas de garrafa ou pequenas pedras soltas dentro da moldura que
ressoam quando este é golpeado. Tripas de ovelhas passadas em contato com a parte interna da pele
também podem ser usadas. Em Portugal na região de Trás-os-Montes é chamado de pandeiro, em Beira
Baixa de adufe. Com grande relevância na tradição musical local, são quase que exclusivamente tocado por
mulheres no acompanhamento de cantos profanos, religiosos, de trabalho, festivos e romarias. Apoiados na
palma da mão em posição vertical frente ao rosto, são executados com os dedos e mão. Em Portugal,
pandeiros redondos com discos metálicos também são encontrados.
Pandeiros redondos com discos metálicos encontrados na Espanha levam o nome de panderetas. Variações
de tamanho e técnica de execução são vistas na pandereta castellana, na pandereta asturiana ou na
pandereta gallega. No País Basco e na Galícia é chamado de panderoa. Tem presença marcante em regiões
de Astúrias e Cantábria em diferentes manifestações de música e dança do país. Entre os grupos musicais da
Fiesta de los Verdiales, no sul do país, é chamado de pandero, tendo tamanho e técnica de execução
diferenciada.
Na Europa Oriental, alguns países eslavos como Ucrânia, Bielorrússia e Rússia utilizam o buben. Tocado com
baquetas ou a mão, o buben traz platinelas e um cordão cruzado na estrutura interna onde guizos são
pendurados. Entre os modos de execução podemos encontrar tocadores que golpeiam o instrumento com
o joelho, a cabeça, os cotovelos, as mãos e outras partes do corpo. Acredita-se que esta tradição tenha
origem nos Shomorokh, uma espécie de arlequim medieval eslavo que utilizava o canto, as habilidades com
instrumentos musicais e o teatro para o entretenimento. Rice et al. (2000), no volume VIII de “The Garland
encyclopedia of world music”, citam o buben z brazhotkami” como um tipo de pandeiro com platinelas
(encontrado na Bielorrússia) e o bubon como um tipo de pandeiro tocado com baquetas.
Ao norte do continente, o bodhrán é o instrumento tradicional da música irlandesa. Com medidas que
variam entre 40 cm e 50 centímetros de diâmetro, é construído em madeira e coberto com pele de cabra.
Para executá-lo, o instrumentista golpeia a parte frontal do instrumento com um pequeno bastão chamado
de tipper. A mão livre encosta atrás da pele pressionando e alterando sua tensão. O modo como se utiliza o
tipper diferencia seus estilos de execução. No estilo Kerry (tradition Style) utiliza-se as duas pontas do tipper,
no West Limerick (Modern Style ou Top-End) apenas uma delas. No estilo Roscommon não se utiliza o tipper.
O bodhrán está presente na sica folclórica irlandesa desde a metade do séc. XVII, popularizando-se a
partir de 1950 em gravações de artistas da música local. Morrison (2011) associa sua origem as peneiras
contruídas para auxiliar o trabalho no campo dos primeiros habitantes da região, incorporando-se a práticas
xamânicas, a cultura dos vikings irlandeses e a região da Lapônia. Forsthoff e Kruspe (2013) associam sua
11
Schettini, Marcos Vinicius Lacerda; Peters, Ana Paula. “Tambores emoldurados no mundo: uma proposta de documentação”
origem aos intercâmbios culturais entre norte da África, Oriente Médio e Sul da Europa através do mar
mediterrâneo.
4.5. América
Nas Américas tambores emoldurados são usados em expressões de tradição popular de diversos países.
Davis (2012) cita o pandero, instrumento tocado na República Dominicana por mulheres em cantos de
louvação da expressão musical e cultural conhecida como Salve. O caráter secular não litúrgico está ligado
as tradições crioulas, as formas sagradas, a igreja católica e a devoção da Virgem Mãe de Deus. Em Porto
Rico, três tipos de panderetas chamadas de pandereta seguidor (grave), pandereta punteador (médio) e
requinto (agudo) compõem a música conhecida como Plena
22
.
No Chile, na música e dança de nome Cueca, o pandero cuequero de formato hexagonal é peculiar. Sua
forma de execução usa várias partes da mão em movimentos de eixo variado. Quando performado junto a
dança, é golpeado com diferentes partes do corpo. O grupo Los Chileneros
23
, criado nos anos 60 e ativo até
os anos 2000, é considerado um dos mais importantes conjuntos de Cueca urbana do Chile, tendo influência
na consolidação deste gênero musical.
Na cultura dos quilombolas jamaicanos encontramos o gumbé
24
, uma variação do cumbé da Guiné
Equatorial. Para Collins (2007), o Cumbé africano pode ter sido “devolvido” ao continente em 1800 em uma
espécie de jornada cultural transatlântica entre a América e a África, vindo a se espalhar por diferentes países
da África Central e Ocidental a partir da cidade de Freetown em Serra Leoa.
Nos Estados Unidos, na música de tradição religiosa pentecostal usa-se o tamborine no acompanhamento
dos cantos de louvação do cristianismo evangélico. No Haiti, o tambor bassé, bas ou tanbourin é usado na
música Rara e no Vudo. Nas ilhas de Martinica e Guadalupe usa-se o tapou, na Guatemala o pandero
quadrado, nas tradições da música da região de Vera Cruz no México um tambor de formato octogonal leva
o nome de pandero jarocho.
No Brasil, diferentes tipos de pandeiro movem manifestações de música e dança de tradição popular. Suas
origens, ao que tudo indica, voltam-se as heranças culturais portuguesas. O tambor emoldurado que
atravessou o Atlântico foi gradualmente modificado pela influência negra, indígena e das demais culturas
que desembarcavam no Brasil colonial, sendo incorporado em diferentes contextos e transfigurando-se,
através dos tempos, em diferentes formas regionais. Reconhecido como um dos instrumentos mais
representativos da cultura nacional, em contextos ligadas a Súcia
25
, aos Fandangos dançados, aos Batuques,
as Congadas Mineiras, as Cheganças, as Marujadas, ao Marambiré, ao Marabaixo, entre outras, é construído
de modo artesanal com formato variado.
22
Para maiores informações sobre o gênero musical acessar o documentário Plena is Wok, Plena is Song”
produzido por Pedro Rivera e Susan Zeig. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=iAsX3qi0Kg8.
Acesso em: 10/05/2022.
23
Ouvir o disco La Cueca Brava gravado em 1968.
24
Ver em Aranzadi (2019) o verbete do gênero de música e dança Gumbé do povo Anobonese da Guiné
Equatorial, publicado na Bloomsbury Encyclopedia of Popular Music of the World, Volume XII Genres: Sub-
Saharan Africa.
25
Podemos encontrar a dança grafada como sússia, sussa, súcia ou suscia.
12
Schettini, Marcos Vinicius Lacerda; Peters, Ana Paula. “Tambores emoldurados no mundo: uma proposta de documentação”
Na região do Maranhão, as variações presentes na manifestação do Bumba-Meu-Boi levam o nome de
pandeirão, pandeiro costa de mão, pandeirinho (panderito), pandeiro V8, adufe e bombo poligonal (IPHAN
2011). O termo pandeiro, em geral, destina-se a instrumentos com moldura entre 8 e 14 polegadas de
diâmetro, com pele sintética ou animal. Para citar apenas alguns exemplos, o pandeiro é utilizado em
manifestações de importância na cultura brasileira, em contexto ligados as Escolas de Samba, ao Coco de
Embolada, ao Cavalo Marinho, ao Samba, ao Samba de Roda, a Capoeira, ao Frevo e ao Choro. Pela tradição
religiosa do pentecostalismo norte americano passou também a ser utilizado no cristianismo evangélico
brasileiro.
5. Tabela referencial
Frente ao que foi exposto, criamos uma síntese das informações referenciais (Tabela 1). Longe de se esgotar
o assunto, são elencados elementos que, embora primários, parecem ser essenciais para a compreensão e
o estudo deste conjunto de instrumentos. A tabela segue a ordem de exposição dos instrumentos no corpo
do texto. A tabela é divida nas categorias: nome”, “local de ocorrência”, “morfologia” e “informação
adicional”.
Em nome relacionamos os termos e possíveis variações usadas em sua identificação. Em “local de
ocorrência, pontuamos as regiões onde eles parecem ter maior incidência. Em “morfologia”, quatro
informações relativas aos instrumentos são relacionadas a partir de uma série de letras de identificação
separadas pelo caractere “barra” (/). A primeira informação se refere ao “tamanho” do instrumento. Para
identificar instrumentos de pequeno porte, com moldura entre 10 e 20 centímetros de diâmetro, utilizamos
a letra “P”; para instrumentos de mdio porte, com moldura entre 20 e 30 cm de diâmetro, a letra “M”; para
os de grande porte, com moldura maior que 30 centímetros de diâmetro, a letra “G”. Em casos com mais de
uma indicação expressa, entende-se que o instrumento possui variações. A indicação “PM” significaria, por
exemplo, que o instrumento pode apresentar variações de pequeno e médio porte.
A segunda informação se refere ao “formato”. Para identificar instrumentos quadrados, utilizamos a letra
“Q”; tambores redondos, a letra “R”; os triangulares, a letra “T”; os hexagonais, a letra “H”; tambores
octogonais, a letra “O”; tambores em formato de raquete serão identificados pela letra “r” minúscula e
tambores ovais pela letra minúscula “o”. Em casos com mais de uma indicação expressa, entende-se que o
instrumento possui variações. A indicação “QR” significaria, por exemplo, que o instrumento pode
apresentar variações de formato quadrado e redondo.
A terceira informação se refere ao “tipo de objeto acoplado”. A letra “D” será utilizada para identificar
tambores que portam discos metálicos; “A” tambores que portam anis; G tambores que portam guizos;
“C” tambores que trazem cordas esticadas; “S” bimembranofones contendo sementes, pedras, tampas de
garrafas ou outro objeto solto dentro da moldura. Utilizaremos a letra “x” para identificar instrumentos sem
componentes acoplado a moldura e x quando possuir pés que lhe dão a forma de um banco. Em casos
com mais de uma indicação expressa, entende-se que o instrumento possui variações. A indicação “DGx”,
por exemplo, indicaria que o instrumento se apresenta em variações com discos metálicos, com guizos ou
sem nenhum componente. A quarta informação se refere as “formas de execução”. Utilizaremos a letra “m”
para instrumentos tocados com mãos e/ou dedos, “b” para instrumentos tocados com baquetas e “bm” para
instrumentos que combinam ambas as técnicas. A indicação “mbm”, por exemplo, indicaria que o
instrumento apresenta variações em sua forma de execução, podendo ser tocado com as mãos ou
combinado com baqueta.
13
Schettini, Marcos Vinicius Lacerda; Peters, Ana Paula. “Tambores emoldurados no mundo: uma proposta de documentação”
Neste sentido, sabendo que os parâmetros da categoria morfologia estão separados pelo caractere “barra”
(/), hipoteticamente, para facilitar o entendimento dos códigos utilizados, a sigla PM/QR/DGx/bm
identificaria: o tambor descrito apresenta variações de tamanho pequeno e médio / variações de formato
quadrado e redondo / podendo ter discos metálicos, guizos ou nenhum objeto acoplado / e com forma de
execução que combina baquetas e mão.
Vale ressaltar que, salvo raras exceções, a grande maioria destes instrumentos tradicionalmente se
desenvolveram com corpo em madeira e pele animal. Por isso, em morfologia, acabamos optando por não
trazer especificidades sobre o tipo de pele animal e madeira utilizada. Tal escolha foi feita pelo fato de que,
quando identificadas, essas informações foram citadas anteriormente no corpo do texto. Cabe adicionar que
nos dias de hoje, com o advento da tecnologia, muitos tambores emoldurados sofreram adaptações pela
influência do processo de industrialização e comercialização de instrumentos musicais. Neste sentido,
muitos dos instrumentos aqui apresentados também são construídos em material plástico e pele sintética.
Para concluir, a coluna Informações adicionaisindica referências bibliográficas, informações iconográficas
e audiovisuais sobre o instrumento mencionado. Todos os links
26
estão disponíveis para consulta via web.
Quando a tabela apresentar o sinal “?”, entende-se que o estudo não conseguiu mapear a informação.
Tabela 1 Tabela referencial, criada pelos autores, com parte da variedade de tambores emoldurados existentes no mundo
Nome
Local de ocorrência
Morfologia
Informação adicional
tambor emoldurado
(povo Apache)
América do Norte
MG/R/x/b
https://www.metmuseum.org/art/collection/search/502763?sort
By=Relevance&ft=Native+American+(Apache)&offset=0
&rpp=40&pos=30
tambor emoldurado
(povo Saami)
Europa Setentrional
PM/o/x/?
https://www.doria.fi/bitstream/handle/10024/134162/The Saami
Shaman Drum 1991 OCR.pdf?sequence=2
tambor qilaun (povo
Inupaq e Yupik)
Alaska
G/r/x/b
https://edblogs.columbia.edu/AHISG4862_001_2015_1/iii-class-
research/inupiat-aesthetics/inupiaq-material-culture-in-
conversation-with-the-avery-properties-drawings/qilaun-hand-
drums/
tambor emoldurado
(Dakota/Sioux)
América do Norte
MG/R/x/b
https://www.metmuseum.org/art/collection/search/501176
tambor emoldurado
(Povo Chukchee)
Sibéria
MG/r/x/b
https://www.metmuseum.org/art/collection/search/503747
tambor emoldurado
(povo Koryak)
Rússia
G/R/x/b
https://www.youtube.com/watch?v=HsnA3P-mHXU
tambor emoldurado
(povo chǫ)
Canadá
MG/R/x/b
https://www.youtube.com/watch?v=7M6QlkuzdEk
tar
Magreb e Oriente Médio
P/R/D/m
https://www.metmuseum.org/art/collection/search/501885
bendir
Magreb e Oriente Médio
PM/R/C/m
https://www.metmuseum.org/art/collection/search/501886
deff
Argélia
M/Q/x/m
https://www.metmuseum.org/art/collection/search/501882
riq
Egito e alguns países de
língua árabe
P/R/D/m
https://youtu.be/7BqZoCzyZ6I?si=HeXEbfu4BWlyhls5
mazhar, mizhar
Egito e Oriente Médio
P/R/D/m
https://wmic.net/egypt-mazhar-tambourine-apple/
sakara
África Ocidental, Libéria e
Nigéria
PM/R/x/bm
https://www.metmuseum.org/art/collection/search/503291
sàmbá
Lagos (Nigéria)
P/H/D/m
Documentário “Juju Music”, instrumento aparece em 1'26".
https://youtu.be/HJFu-9Ri2OI?si=7Xj6HAGd8wm3FzIR
bandiri, bandir
Norte da Nigéria e Sudeste
do Níger
M/R/DCx/m
https://www.citypeopleonline.com/why-islamic-clerics-love-to-
play-bandiri-drum-at-major-religious-gatherings/
cumbé, kunké
Golfo da Guiné Equatorial
M/Q/x/m
Para mais informações ver Aranzadi (2010)
tambalí
Guiné Equatorial (grupo
étnico Anobonese)
P/Q/x/b
Para mais informações ver Aranzadi (2010)
gome
Acra (Gana)
M/Q/x/m
Para mais informações ver Aranzadi (2010)
gumbé, gumbay,
goombay
Freetown (Serra Leoa)
M/Q/x/m
Para mais informações ver Aranzadi (2010)
26
Todos os links foram acessados durante a revisão do presente artigo no dia 28/10/2023.
14
Schettini, Marcos Vinicius Lacerda; Peters, Ana Paula. “Tambores emoldurados no mundo: uma proposta de documentação”
Tabela 1 (cont.)
maringa
Gabão
?
?
patenge
Congo, Gabão e Zaire
?/Q/?/?
?
ravanne, tambour chagos
Ilhas Maurício
MG/R/x/m
https://www.youtube.com/watch?v=vdjl1vyqmmk&t=132s
malbar
Ilha de Reunião
MG/R/x/b
https://www.istockphoto.com/br/foto/músico-tocando-com-um-
tambor-de-malbar-gm803940942-130451625
https://youtu.be/ik6-dh3eb6a?si=3zdzm-coqk5olmh_
daff
Irã, Oriente Médio e Ásia
Central
MG/R/AG/m
https://youtu.be/cWy0PeosPEg?si=raN59WIVwY39z82_
https://youtu.be/k34vLdm_cf4?si=za0FEgR7Q8WEey_F
rapa`I
Achém (Norte de Sumatra)
PM/R/Dx/m
Kartomi (2010)
rebana
Malásia Peninsular
PMG/R/D/m
Abdullah (2005)
terbang
Indonésia (Java)
PM/R/D/m
Robinson (2003) disponível em
http://www.nscottrobinson.com/framedrums.php
kompang
Arquipélago Malaio
PM/R/Dx/m
Abdullah (2005)
genjring
Indonésia (Java)
G/R/D/m
Abdullah (2005)
derendeng
Indonésia (Java)
M/R/x/m
Abdullah (2005)
rammana
Tailândia e Camboja
P/R/x/m
https://collections.mfa.org/download/51071;jsessionid=a9b5513
79b1d5bd412408873a2bc68ff
kanjira
Índia
P/R/D/m
Robinson (2013)
parai, tape, dap, dappul
Índia
M/R/x/b
https://www.youtube.com/playlist?list=PL887D53C4C5213A0F
thappu
Índia
M/R/x/m
https://youtu.be/iXK3qiSo1aE?si=EX0UPvJznD7nSmRA
bafanggu, bajiao gu
China
P/O/D/m
https://www.metmuseum.org/art/collection/search/500602
bangu
China
P/R/x/b
https://www.metmuseum.org/art/collection/search/500604
paranku
Japão
P/R/x/b
?
uchiwa-daiko
Japão
P/r/x/b
https://www.metmuseum.org/art/collection/search/504427
kako
Japão
?
?
sogo
Coréia do Sul
P/r/x/b
https://omeka-s.grinnell.edu/s/musicalinstruments/item/931
https://www.metmuseum.org/art/collection/search/504307
doyra, ghaval
Ásia Central
M/R/AG/m
https://www.cooperman.com/coopermanhanddrums/hand-
drums-ghaval/
dayere
Irã, Azerbaijão e Turquia
M/R/AG/m
https://www.metmuseum.org/art/collection/search/500948
tamburello, tamorra
Itália
PMG/R/D/m
https://www.youtube.com/watch?v=yosrp2zpatg
adufe
Portugal e Espanha
MG/QROT/CS/
mbm
Dias (2011), Silva (2012) e Oliveira (2000)
https://youtu.be/mKEPeq26raQ?si=etmSsDB-cAodUOHt
panderetas, pandero
Espanha (Noroeste, região
asturo-leonesa)
PMG/R/D/m
https://youtu.be/P2Yju0_I3V8?si=OhGDcYpeQ-kFVkOh
https://musicaljr.com/es/14-panderetas-asturianas
https://youtu.be/geucyvw8z0Y?si=0JxC7yXuhNWnCdsZ
panderoa
Galícia / País Basco
(Espanha)
MG/R/D/m
https://youtu.be/ilO5EFQSp-Y?si=HCMbrPIr2EK8UF6h
https://www.soinuenea.eus/eu/panderoa/er-30015/#
buben, buben z
brazhotkam, bubon
Países eslavos e da antiga
União Soviética
PM/R/DG/bm
https://www.youtube.com/watch?v=ort3yljwc74
https://youtu.be/3SuBHIhXYUw?si=QO-D9ESNXqPFKCZ4
bodhrán
Irlanda
MG/R/x/bm
https://www.museum.ie/en-ie/collections-
research/collection/resilience/artefact/bodhran-and-
stick/9a036da6-9e7c-4c47-96a9-9b5a23ba60b7
https://www.bodhran-info.de/en/
pandero
Republica Dominicana
P/R/D/m
Davis (2012)
panderetas, pandereta
seguidor, pandereta
punteador, requinto
Porto Rico
PM/R/x/m
https://www.youtube.com/watch?v=Q6Rk46KJRr0
https://www.youtube.com/watch?v=uTQ4VRsU8x4
pandero cuequero
Chile
P/H/D/m
https://www.instagram.com/pandero.cuequero/
gumbé
Jamaica (quilombolas)
M/Q/x/m
Para mais informações ver Aranzadi (2010)
tamborine
América do Norte
PM/R/D/m
https://youtu.be/ib9lUmgCyFU?si=nO48rt-LtbnA58J8
https://youtu.be/UDzDtUCjT0o?si=tSVFIuQ1ozkuzq68
tambor bassé, bas,
tanbourin
Haiti
MG/R/x/m
Robinson (2003) disponível em
http://www.nscottrobinson.com/framedrums.php
pandeiro
Portugal
PM/R/D/m
Oliveira (2000)
tapou
Martinica e Guadalupe
G/R/x/b
https://youtu.be/hsto4L4YWFk?si=s_vMaytXPvKk723q
pandero quadrado
Guatemala
M/Q/x/?
https://youtu.be/-50z8QLLCWU?si=rsyrHt5IZGptJzz8
pandero jarocho
México (Vera Cruz)
M/O/D/m
https://www.youtube.com/watch?v=b4MMp3J8zC0
pandeiro, pandeirão,
pandeiro costa de mão,
pandeirinho (panderito),
adufe, pandeiro
Brasil (diversas regiões)
PMG/RQ/Dx/
mbm
Monteiro (2019), IPHAN (2011), Videira (2010), Trindade (1999),
Rodrigues (2014), Costa (2018) e Vidili (2021)
15
Schettini, Marcos Vinicius Lacerda; Peters, Ana Paula. “Tambores emoldurados no mundo: uma proposta de documentação”
6. Considerações finais
Como objetivo desta pesquisa, vislumbramos apresentar uma variedade de tambores emoldurados através
de uma proposta de documentação. Utilizando uma bibliografia particular, abordamos um recorte histórico
de sua utilização desde a Pré-história onde era objeto cotidiano das primeiras civilizações. Sua presença na
sociabilidade humana, dentro de celebrações de cunho musical, espiritual e festivo, foi historicamente
colocada em evidência pela figura feminina, passando por conflitos de valorização e marginalização nas
religiosidades monoteístas e vindo a consolidar-se como instrumento musical de relevância, em suas
múltiplas formas, na música e na cultura de diversas tradições.
Presente entre romanos e visigodos já nos primeiros séculos da Era Cristã (Molina 2010), a partir do séc. VII,
com a invasão dos mouros na Península Ibérica e a consequente intensificação dos processos de trocas
culturais entre o Oriente Árabe e o Norte da África, tambores emoldurados espalham-se pela Europa e outras
culturas do mundo. A influência muçulmana na difusão destes tambores pelo Norte da África, subcontinente
indiano, Ásia central e povos da região do Cáucaso e Balcãs é relevante, entretanto, estudos futuros, poderão
auxiliar na compreensão de possíveis influências das culturas ditas nativas na variedade de tambores
emoldurados, como por exemplo, do Sudeste Asiático.
Acreditamos que esta pesquisa contribuirá para estudos futuros ao registrar parte da história, das
características organológicas, das formas de execução, da variedade e dos aspectos musicais de tambores
emoldurados. Ao mesmo tempo, ao estabelecer elementos formativos deste grupo de instrumentos, por
vezes não recorrentes no campo da pesquisa em música, revelamos o idiomatismo pertinente a uma família
de instrumentos sui generis, muitas vezes estigmatizada e desestimada em comparação a família de
instrumentos melódicos e harmônicos. Neste sentido, a pormenorização apresentada no trabalho poderá
afetar as representações sobre a percussão e seus instrumentos nos dias de hoje, contribuindo para desvelar
suas especificidades e, consequentemente, reconhecer sua relevância na música do mundo.
7. Referências
Abdullah, Mohd Hassan. 2005. Kompang: An Organological and Ethnomusicological Study of a Malay Frame
Drum. Tese (Doutorado em Filosofia). Inglaterra: University of Newcastle upon Tyne.
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https://www.doria.fi/bitstream/handle/10024/134162/The%20Saami%20Shaman%20Drum%201991%
20OCR.pdf?sequence=2
Alaja-Browne, Afolabi. 1989. “The Origin and Development of Juju Music. The Black Perspective in Music, 17 (1/2):
55-72. https://doi.org/10.2307/1214743
Anderson, Robert. 2001. “Drum, II (vi) Frame Drums.” In The New Grove Dictionary of Music and Musicians,
2nd ed., editado por Stanley Sadie e John Tyrrell. London: Macmillan.
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