exerci muitas atividades diferentes: instrumentista (por um breve momento), cantor, regente, arranjador,
professor, compositor, editor etc. Em todas elas, meu trabalho se forjou em cima da relação interpessoal,
pois tudo o que fazemos na nossa arte acontece em relação ao outro. Como regentes, tema que abordarei
aqui, nossa visão do outro, nossa capacidade de ter empatia e de exercer alteridade são fundamentais. Creio
que a parte técnica, importantíssima, é uma excelente ferramenta para tratar desses temas, mas a
capacidade de ouvir, de olhar ao redor e de se entender parte de um todo constitui nossa verdadeira missão.
Lembrando Gregório de Matos (1636-1696), "o todo, sem a parte não é todo, e a parte, sem o todo não é
parte". Assim, não consigo dissociar minha vida artística e profissional de minhas relações humanas, das
quais a família é uma parte fundamental. Sou um regente que entende seu lugar como o de alguém que
facilita a cantoria, seja para o cantor, o ouvinte e todos os demais envolvidos no processo. Como professor
e regente, acho que minha principal função é inspirar o outro.
EL. AO: A partir de que momento de vida começou sua caminhada na música?
EdL: Meu avô materno, Arthur Lakschevitz (1901-1980), chegou ao Brasil na década de 1920, vindo da
Letônia, um país onde a educação musical é encarada de forma muito séria e a cultura ocupa um lugar de
destaque no tecido social. Por isso, na minha casa nunca houve discussão com relação à importância do fazer
musical como parte da educação das crianças. Foi assim com minha mãe e tio, bem como comigo e com meu
irmão. Desde cedo participei de coro infantil, estudei instrumento e teoria. Mas como dizem, "casa de
ferreiro, espeto de pau". Quando adolescente, vivi uma fase de grande rebeldia (acho que típica da idade,
não é?) e me afastei totalmente de qualquer atividade musical. Quando chegou a época do vestibular,
porém, comecei a considerar uma carreira em música como uma possível área de atuação profissional.
Muitos amigos de meus pais atuavam nessa área, e nunca tive qualquer objeção familiar para seguir tal
carreira, como aconteceu com muitos de meus colegas (e percebo que ainda acontece com alguns alunos).
Lá em casa, essa opção não gerava conflitos.
Então, entrei para o Bacharelado em Instrumento (clarinete), aqui na UNIRIO, e fui seguindo na carreira
acadêmica: Mestrado em Regência Coral, na UMKC (University of Missouri-Kansas City), Doutorado em
Música, na linha do Ensino de Música, na UNIRIO e Pós-Doutorado na Syracuse University, onde pesquisei
aspectos de liderança no trabalho do regente coral e do professor de música. Posso dizer que essa caminhada
começou bem cedo, mas com um período de interrupção. Algo que me chama atenção nesse percurso é a
grande quantidade de lembranças que guardo do período inicial, o coro infantil. Não só o repertório, do qual
ainda tenho muita coisa memorizada, mas também de aspectos do funcionamento do fazer musical coletivo.
Sem falar nas amizades, que mantenho até hoje. Aliás, a grande maioria dos colegas que tive nesse período
de coro infantil é muito bem-sucedida profissionalmente, nas mais diversas áreas. De muitos deles, inclusive,
já ouvi testemunhos sobre como essa prática do fazer musical na infância os ajudou em suas respectivas
carreiras profissionais. Por outro lado, vários colegas dessa época seguiram carreiras de sucesso em música
como cantores, instrumentistas, regentes, pesquisadores, compositores e educadores. Somos exemplos
inquestionáveis da relevância da educação e da prática musical na formação de crianças e jovens e do fazer
musical coletivo como uma das atividades mais significativas da sociedade contemporânea.
EL. AO: Como tudo começou com a regência?
EdL: Nunca fui um bom clarinetista. No máximo, regular. Como disse acima, sempre tive interesses muito
diversos na área da música. A ideia de me dedicar a estudar somente um instrumento, ou investir a maior