[...] É pelo paciente no sentido de trazer a musicalidade dele à tona, à ação, à mobilização,
para que ela venha a se movimentar mais e mais. Pode ser que com o paciente eu esteja
num campo muito confortável meu, da minha musicalidade e isso funcione perfeitamente
para o paciente ser mobilizado e movimentado na musicalidade dele, que é tranquilo pra
mim [...] E às vezes não. Às vezes eu tenho que lançar mão de recursos musicais, de
habilidades musicais, da minha musicalidade de uma forma que me é mais difícil, ou
inconveniente, ou não habitual... tenho que estar preparado; tenho que estar disponível.
O estar preparado é estar disponível, para entrar em áreas musicais menos gostosinhas pra
mim. [...] Eu tenho que engajá-lo. Eu tenho que estar eu e o paciente na música, juntos
(Trechos da entrevista de Gregório Queiroz).
Carolina Veloso, a terceira entrevistada, não trouxe um conceito explícito de o que é a Musicalidade Clínica
como fizeram os entrevistados anteriores. Ela relata que a Musicalidade Clínica do musicoterapeuta é
constituída de aspectos e características importantes para o desenvolvimento do profissional, sendo estes
os seis fatores do diagrama da Musicalidade Clínica. Tais características, desenvolvidas sobretudo por meio
da prática clínica, levam o musicoterapeuta a refletir sobre sua atuação e seu aprimoramento, em um
processo contínuo de crescimento e aprendizagem. Acreditar no potencial terapêutico da música e ser um
profissional músico/artista, para Carolina Veloso, são quesitos essenciais do musicoterapeuta
musicocentrado, visto que no Modelo de Musicoterapia Musicocentrada o processo musicoterapêutico
ocorre por meio do fazer musical, na e com a música.
A Musicalidade Clínica é um aspecto, eu acredito, que seja constitutivo do
musicoterapeuta, porque são características que se tu parar (sic) para pensar são super
importantes para o desenvolvimento do musicoterapeuta que tu vai ser ou que tu é, mas
que tu precisa pensar. São características importantes, e à medida que tu vai (sic) te
desenvolvendo como clínico tu vai aprimorando, e são características que algumas só na
prática tu vai desenvolver. [...] Para nós é muito importante contratarmos quem é artista,
quem é músico. Como a gente dá muita importância para o fazer musical e para a música,
e nesse entendimento de estarmos na e com a música no processo musicoterapêutico tem
que ter essa vivência como músico, tem que acreditar no poder da música, tem que
acreditar nesse potencial terapêutico da música (Trechos da entrevista de Carolina Veloso).
Como observamos, cada entrevistado traz a sua própria concepção acerca de o que é ou quais são as
características da Musicalidade Clínica do musicoterapeuta musicocentrado. André Brandalise pontua a
questão da escuta da musicalidade e da demanda do paciente, Gregório Queiroz expõe sobre a mobilização
e a movimentação dessa musicalidade e Carolina Veloso sobre acreditar no poder da música, em seu
potencial terapêutico e na importância de o profissional refletir continuamente sobre sua atuação clínica.
Percebe-se que as três visões são diferentes e agregadoras, sem contradições. Dentro disso, poderíamos
propor que elas fossem unificadas, para que os conteúdos trazidos pelos entrevistados fossem estruturados
em uma possível definição formal do termo. Por outro lado, André Brandalise traz a reflexão de que
consolidar essa única definição não seja algo com que os musicoterapeutas devam se preocupar. A
Musicalidade Clínica pertence a um processo de educação de musicalidades, cabendo ao musicoterapeuta
possuir a clareza de que o seu trabalho esteja a serviço da Musicoterapia.