
Per Musi |Belo Horizonte |v.26 |General Topics |e252602 |2025
Pasquali, Matheus Mesquita; Piermartiri, Leonardo
“A linha de baixo nos ritmos do sul do Brasil: proposições práticas, teóricas e suas aplicações no contrabaixo acústico”
espanhóis resultaram em conflitos políticos, conduzindo processos de guerras civis, revoluções
e golpes de Estado (Nogueira 2015). Essas assimetrias podem ser verificadas até os dias atuais,
dificultando, muitas vezes, a pauta da integração regional. Apesar de compartilharem de um
mesmo passado e de desafios políticos e econômicos similares, a integração na América Platina
apresentou avanços e retrocessos, marcada por rivalidades e alianças com outras potências. A
música sulina, portanto, é resultante de uma mistura de fatores sociais, climáticos e culturais,
como não poderia deixar de ser.
Voltando à problemática concernente às estéticas da música sulina, Alvares (2007) já apontava
em sua monografia a percepção do quão pouco a música tradicional do Sul é utilizada nos
currículos escolares, tanto em nível universitário quanto nos currículos dos ensinos fundamental
e médio. Esperamos que o presente trabalho possa contribuir para romper com este padrão,
valorizando mais essa forma de expressão. Trataremos da figura do gaúcho, que não está ligado
apenas ao estado do Rio Grande do Sul, mas também aos estados brasileiros de Santa Catarina,
Paraná e Mato grosso do Sul, onde a tal cultura existe de maneira latente, e principalmente aos
países vizinhos, Uruguai e Argentina, que são o verdadeiro berço do gaúcho em si.
2.1. O baixo na música sulina
Com a finalidade de tentar sanar, ainda que de maneira parcial e sem a pretensão de criar uma
fórmula que dê conta de todas as questões e dicotomias da tarefa de propor acompanhamentos
funcionais para determinados gêneros, a presente análise tratará de lançar um olhar
aprofundado às questões rítmicas dentro do contexto dos instrumentos graves, e num segundo
momento, sobre as questões harmônicas e melódicas . Dentro desse âmbito, pode-se
compreender que todas as características das nações banhadas pelo rio da Prata estarão aqui
englobadas. Também tentaremos atentar para as lacunas presentes nos métodos de ensino de
contrabaixo voltados à música brasileira, onde possa-se colocar a linha do baixo como algo mais
importante que o contrabaixo em si (Carvalho 2006). Atualmente esses referem-se
exclusivamente aos ritmos oriundos das regiões central/norte e nordeste, de clima tropical, como
os encontrados no samba, frevo, baião, maracatu, bossa, e excluem a milonga, a chamarra, a
guarânia, a zamba, que por paradoxal que possa parecer, por várias vezes contam com rítmicas
advindas das mesmas claves.
A dita clave, pode ser encontrada como o termo timeline, segundo alguns autores como Joseph
Hanson Kwabena Nketia (1921-2019) e Kofi Agawu (1956-). Este último traz a sua visão sobre o
termo que estrutura a rítmica na música africana:
[…] padrão rítmico de curta duração que é repetido na forma de um ostinato,
através de uma batida de percussão específica [...]. Normalmente atreladas ao
uso de sinos, baquetas ou pedra, as timelines, muitas vezes, projetam uma forma
distinta e até memorável. Embora existam padrões percussivos de pulsação
imutável, a maioria das timelines exibe pelo menos dois valores de modos
contrastantes, um longo e um curto. Isso, a propósito, é outro sinal do impulso
minimalista que é difundido na criatividade africana. Embora a função dos