iconografia, materiais diversos, testemunhos orais, produções sonoras e audiovisuais e que, em jornalismo,
as próprias pessoas que transmitem informações por entrevistas, orais ou por escrito, gravadas ou não, são
também chamadas de “fontes”). Ruy Castro não concorda com menções ao próprio autor em uma biografia,
o que, como já vimos na citação de Vasco Mariz sobre Claudio Santoro, é uma prática comum em muitos
textos biográficos.
O biógrafo deve ser uma parede de vidro entre o leitor e o biografado. Ou seja, invisível.
Ele não faz parte da história, e não se justifica nenhuma referência a si próprio no texto, na
primeira ou na terceira pessoa. Ao transcrever a fala de uma fonte, por exemplo, não tem
cabimento acrescentar: “...como declarou fulano ao autor” ou “...como confidenciou
beltrano a este biógrafo”. Se for uma tentativa de valorizar-se, isso é desnecessário porque
se supõe que tudo no livro se constitui de declarações ao biógrafo. Além disso, para que
expor a fonte? No meu caso, recebo como confidências tudo que ouço de minhas fontes
e, ao transcrevê-las, não apenas nunca as atribuo à dita fonte como faço de jeito a não ser
possível ao leitor identificá-la. A partir do momento em que recebo uma informação,
aproprio-me dela e assumo total responsabilidade por isso (Castro 2022, 171).
Ruy Castro, autor de Carmen: uma biografia (2005), trabalhou como jornalista na imprensa do Rio de Janeiro
e São Paulo, atua como cronista e foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2022. Recentemente
reuniu 99 crônicas relacionadas a Tom Jobim, em O ouvidor do Brasil: 99 vezes Tom Jobim (Castro 2024). É
autor de livros sobre música popular, como Chega de saudade (Castro 1990), sobre a bossa nova, A noite do
meu bem (Castro 2015), sobre o samba-canção, e Metrópole à beira-mar (Castro, 2019), sobre o Rio de
Janeiro dos anos 20, que ele considera livros de reconstituição histórica. Usando tanto documentação já
existente como anotando todos os nomes de pessoas relacionadas ao biografado, que poderão ser
procuradas para entrevistas, Ruy Castro esclarece seu método para trabalhar com grande volume de dados,
tendo por base a cronologia.
Sabendo quando começa e termina a história do biografado, crio um arquivo no
computador para cada ano de sua vida – Nelson Rodrigues, de 1912 a 1980; Garrincha, de
1933 a 1983; e Carmen Miranda, de 1909 a 1955. Quando trabalho com livros de
reconstituições históricas, faço o mesmo com o período que, pelo que imagino, cobrirá o
arco da investigação: Chega de saudade, de 1945 a 1970; A noite do meu bem, de 1945 a
1965; e Metrópole à beira-mar, de 1918 a 1930. Criados esses arquivos, passo a alimentá-
los com as informações captadas em todas as fontes. Depois de algum tempo de apuração,
descubro que posso precisar de mais alguns anos no passado e tenho de abrir novos
arquivos. Para mim, a cronologia é cláusula pétrea – se toda vida tem começo, meio e fim,
a história da pessoa também terá, e nessa ordem (Castro 2022, 107).
Ao escrever sobre a biografia, Lira Neto aborda alguns dos temas presentes em Ruy Castro, mas sua
perspectiva, embora também seja a de um biógrafo vindo da profissão de jornalista, tem conexões com a
história, a literatura de não ficção e a pesquisa acadêmica. Ganhador do Prêmio Jabuti por 4 vezes, sempre
com livros biográficos, é Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo. O livro A arte da
biografia foi produzido enquanto era doutorando na Universidade de Coimbra, em Portugal, na área de