
Per Musi |Belo Horizonte |v.26 |General Topics|e252601 |2025
Santos, Cassiano Lima da Silveira; Mendes, Adriana do Nascimento Araújo.
“Contrapontos epistemológicos entre as concepções do conhecimento de arte na BNCC e propostas arte-educativas”
e sem o estímulo da explosão afetiva comumente chamada de apreciação. É
perfeitamente possível nos comprazermos com as flores, em sua forma colorida
e sua fragrância delicada, sem nenhum conhecimento teórico das plantas. Mas
quando alguém se propõe a compreender o florescimento das plantas, tem o
compromisso de descobrir algo sobre as interações do solo, do ar, da água e do
sol que condicionam o seu crescimento. Para compreender o estético em suas
formas supremas e aprovadas, é preciso começar por ele em sua forma
bruta; nos acontecimentos e cenas que prendem o olhar e ouvido atentos
do homem, despertando seu interesse e lhe proporcionando prazer ao olhar
e ouvir (Dewey, 2010, 62, grifo nosso).
Em relação às ideias da “Abordagem Triangular”, Barbosa (2014) reitera que elementos
meramente envolvidos com os sentidos, a sensorialidade e as emoções imbuem à arte-
educação um desprezo pelo interesse no “social”. Essa tradição esteve presente durante muitos
anos no ensino artístico brasileiro, que necessitava de uma ampliação via “leitura” – concepção
que perpassa a ideia de “apreciação” ou “abertura”. Para a pesquisadora, “ler arte” se dá por
meio de uma linguagem e a partir de um campo de sentido decodificável, ainda que, muitas
vezes, individualista. Por isso, o “arrepio”, ou “suspiro romântico”, no contato com a arte – nos
termos da autora – necessita de uma contextualização para além da apresentação do histórico
da obra e do artista, visando situá-la em um contexto que produza “sentido na vida daqueles
que a observam, [permitindo] que cada um encontre, a partir da obra apresentada, seu devir
artista” (Barbosa, 2014, 34).
Pela abordagem Orff-Schulwerk, observarmos a ênfase em um ensino/aprendizagem musical e
da dança por meio de aspectos práticos, ou seja, no qual as artes são vivenciadas e produzidas
de forma ativa e participativa. Assim, as experiências particulares e coletivas não são passivas
ou apreciadas à distância, de forma contemplativa, mas sim (re)significadas por meio das
diversas possibilidades produtivas que a unidade artística da abordagem proporciona. De fato, a
Orff-Schulwerk sempre destacou um ensino musical atrelado ao aspecto emocional e sensível
como elementos conaturais às artes. Entretanto, ao encontro das discussões acima, proposições
orffianas majoritariamente consideram o caminhar conjunto aos aspectos intelectuais e sociais,
caracterizando uma Educação Musical contextualizada e permeada de saberes culturalmente
(re)construídos, tal como destacado por Cunha, Carvalho, Maschat (2015, 46): “À
experimentação estão ligadas ações como propor, descobrir, criar, refletir, às quais, por sua vez,
está inerente a noção de que sentir, pensar, agir e comunicar implicam aspetos físicos,
sensoriais, intelectuais e sociais”.
Por fim, no paralelo traçado por Swanwick, Barbosa e a Orff-Schulwerk, “fruição” e “estesia”
seriam “primeiro plano”, “intrínsecas” e “conaturais” ao conhecimento artístico, tal como em
outras áreas do conhecimento – considerando que se trata de uma relação individualizada e
intuitiva no contato e experiência com qualquer objeto, não somente com a música, ainda que
consideremos perspectivas pedagógico-musicais cujas possibilidades práticas contribuem para
o acesso e comunicação a um plano experiencial, emocional e sensível. Entretanto, destacá-los
como dimensões de saberes pode até fazer bastante sentido no contexto da BNCC (documento