A relação entre consuetudo e voluntas no livro VIII das Confissões de Agostinho de Hipona, ou, da possibilidade de um hábito do bem.

Autores

  • Daniel Rodrigues da Costa Universidade de São Paulo

Resumo

O texto seguinte tem por objeto os conceitos de hábito (consuetudo) e vontade (voluntas) presentes na filosofia agostiniana, em especial no livro VIII das Confissões, e visa analisar como Agostinho compreende o modo de operação das paixões sobre a vontade. O livre-arbítrio, enquanto condição de possibilidade para a vida moral, é o responsável por lidar com as paixões que acometem a alma; contudo, Agostinho é notadamente um dos autores que melhor utiliza a linguagem dita “psicológica” para marcar as dificuldades que o homem terá em determinar sua vontade para a retidão e a justiça, já que muitas vezes ela sequer parece livre. Embora o livre-arbítrio permaneça livre, há um fator que compromete profundamente seu modo de operação característico: o hábito. Compreendido como uma segunda natureza, Agostinho irá mostrar que o hábito não extingue a vontade e seu liberum arbitrium essencial, mas que, pelo modo próprio de sua aquisição, a força que ele incide sobre a natureza humana é tal que fará alguns cogitarem se não existem duas almas em um só homem. Nosso objetivo é esclarecer, na linguagem ético-metafísica característica de Agostinho, porque o hábito possui tamanha força na natureza humana; de modo corolarial, analisaremos também se o bem (a boa ação) pode ser adquirido através de um hábito ou se ele, sendo a própria natureza um bem, será apenas a manifestação da propriedade ontológica dessa mesma natureza, esclarecendo o problema do “bem desacostumado” (melius insolitum), ensejado em Conf. VIII, XI, 25.

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Publicado

2020-05-08