As Paixões aristotélicas: uma leitura aproximada entre Física III e Retórica II.
Resumo
Neste artigo buscamos apresentar como a paixão é entendida na filosofia aristotélica a partir da análise dos textos da Física e da Retórica. O ponto que norteia nossa reflexão é o “problema do movimento”, tópico estruturante para a teoria física de Aristóteles que está presente, também, na definição da paixão na arte retórica. Para isso, propomos uma leitura aproximada do livro III da Física, onde encontramos, no terceiro capítulo, uma problematização em relação aos entes nos quais o movimento acontece. O movimento envolve um “par de opostos”, um ente que age e outro que padece, mas a pergunta é: em qual desses entes está o movimento? O movimento está no que é movido ou naquele que move? Agir e padecer são opostos de um único movimento, ou movimentos distintos? A paixão configura-se como uma resposta à uma ação que a move ou se constitui enquanto tal nessa relação de movimento? Articulada a esses problemas, a definição de paixão que encontramos no livro II da Retórica insere mais um elemento na discussão, isto é, a consequência desses movimentos na vida pública. Quando o filósofo define que as paixões “são movimentos na alma que podem alterar os juízos” (Rhet. II, 1, 1378a), percebemos que, extrapolando a dimensão estritamente física, a relação entre o agente e o paciente pode nos conduzir a questões éticas e políticas. É deste modo que apresentamos a nossa leitura aproximada dos dois textos, buscando indicar que a filosofia aristotélica encontra, em seus pressupostos fundamentais, apontamentos conceituais que ajudam no entendimento do corpus como um projeto filosófico autêntico que resgata alguns problemas teóricos do seu tempo e dialoga com os seus interlocutores. Aproximar a Física e a Retórica, textos que são categorizados pelos estudiosos em grupos diferentes é, também, uma oportunidade de indicar a fluidez da filosofia aristotélica e a importância da investigação conjunta da obra do estagirita.
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