Secciones
Referencias
Resumen
Servicios
Descargas
HTML
ePub
PDF
Buscar
Fuente


O orador humorístico: a construção do ethos na comédia
The humorous speaker: the construction of ethos in comedy
Texto Livre: Linguagem e Tecnologia, vol. 9, núm. 1, pp. 48-61, 2016
Universidade Federal de Minas Gerais

Linguística e Tecnologia


Recepção: 29 Março 2016

Aprovação: 26 Maio 2016

DOI: https://doi.org/10.17851/1983-3652.9.1.48-61

Resumo: A retórica é norteada por três dimensões: o logos, o pathos e o ethos. O logos trata do discurso em si; o pathos das paixões que o orador, por meio do logos, desperta em seu auditório; e o ethos é a imagem que o orador cria de si, também por meio do logos, frente a um auditório. Os gêneros retóricos são três: deliberativo (que impulsiona o auditório ou o juiz a pensarem sobre eventos futuros, caracterizando-os como convenientes ou prejudiciais), judiciário (o auditório pensará sobre eventos já ocorridos, para classificá-los como justos ou injustos) e epidítico (o auditório julgará algum fato ocorrido, ou mesmo o caráter de uma pessoa, como belo ou não). Na esteira de Figueiredo (2014) e alicerçados em Eggs (2005), propõe-se que o ethos não seja uma marca deixada pelo orador somente nos gêneros retóricos, mas sim em qualquer gênero textual, uma vez que, sendo fruto da produção humana, as mais singelas escolhas, na construção textual, são capazes de reproduzir algo que esteja intimamente ligado ao orador, demarcando assim o seu ethos. Para investigar tal proposição, selecionamos uma mostra de um vídeo do comediante Danilo Gentili, que será analisada à luz da Retórica e da Linguística Textual. Assim, nosso objetivo é encontrar, no gênero stand-up comedy, marcas deixadas pelo orador no discurso que caracterizam seu ethos. Os resultados da análise evidenciam que ethos, gênero discursivo e propósito comunicacional se amalgamam em um complexo indissociável em que o sucesso de um interdepende da forma como o outro se construiu.

Palavras-chave: ethos, gêneros, gêneros textuais, comédia de stand-up, etóric, retórica, intertextualidade.

Abstract: The rhetoric is guided by three dimensions: logos, pathos and ethos. Logos is the speech itself, pathos are the passions that the speaker, through logos, awakens in his audience, and ethos is the image that the speaker creates of himself, also through logos, in front of an audience. The rhetorical genres are three: deliberative (which drives the audience or the judge to think about future events, characterizing them as convenient or harmful), judiciary (the audience thinks about past events in order to classify them as fair or unfair) and epidictic (the audience will judge any fact occurred, or even the character of a person as beautiful or not). According to Figueiredo (2014) and based on Eggs (2005), we advocate that ethos is not a mark left by the speaker only in rhetorical genres, but in any textual genre, once the result of human production, the simplest choices in textual construction, are able to reproduce something that is closely linked to speaker, thus, demarcating hir/her ethos. To verify this assumption, we selected a display of a video of the comedian Danilo Gentili, which will be examined in the light of Rhetoric and Textual Linguistics. So, our objective is to find, in the stand-up comedy genre, marks left by the speaker in the speech that characterizes his/her ethos. The analysis results show that ethos, discursive genre and communicational purpose amalgamate in an indissoluble complex in which the success of one of them interdepends on how the other was built.

Keywords: ethos, textual genres, stand-up comedy, rhetoric, intertextuality.

1. Introdução

Desde sua fundação, aproximadamente no ano 85 a.C., a teoria retórica busca averiguar o poder que os discursos possuem como instrumentos de persuasão. Aristóteles, na obra Retórica (2005), propõe a classificação dos discursos em três gêneros retóricos: o deliberativo, o judiciário e o epidítico. Em cada um deles, a imagem do orador, isto é, o seu ethos, se constrói de maneira diversa. Para o autor, a construção do ethos, nesses três gêneros, é de suma importância, pois é ele o principal responsável pelo alcance persuasivo do discurso. “É o ethos (caráter) que leva à persuasão, quando o discurso é organizado de tal maneira que o orador inspira confiança.” (ARISTÓTELES, 2005, p. 68).

Com os estudos recentes, que postulam que os gêneros são esquemas comunicativos por meio dos quais os seres humanos interagem (cf. BAKHTIN, 2003; BRONCKART, 1999; MARCUSCHI, 2008 e 2010; MEURER e MOTTA-ROTH, 2002), pode-se inferir que a constituição do ethos não seja uma exclusividade dos gêneros retóricos, mas que sua apreensão pode se dar em qualquer outro gênero discursivo, se considerarmos a subjetividade presente na produção linguística por meio do processo de criação textual, o qual envolve escolhas lexicais e estilísticas que conduzem para a apreensão do ethos.

Sendo assim, averiguaremos a possibilidade de análise da presença éthica[1] descentralizada dos gêneros retóricos. Durante nossa proposta acerca de tal investigação, nos questionamos sobre onde poderíamos encontrar elementos comprobatórios da presença do ethos do orador em outros gêneros que não os retóricos. A esse respeito, Ferreira (2010) explana que as escolhas linguísticas são produtoras de sentido, uma vez que as marcas do ethos serão deixadas, pelo orador, implícita ou explicitamente no discurso (logos em retórica). Em outras palavras, o discurso se constrói a partir de escolhas feitas pelo orador dentre várias possibilidades linguísticas e estilísticas. Por meio dessas escolhas, podemos captar os elementos evidenciadores do ethos.

Há um gênero em destaque no âmbito da comédia nomeado stand-up comedy. Nele, os comediantes, geralmente sem maquiagem ou adereços, falam ironicamente sobre assuntos corriqueiros. A transposição dos fatos corriqueiros em discurso irônico se dá por meio do orador, ou seja, pela forma com que o comediante apreende os fatos que compõem seu repertório.

O objetivo deste trabalho é encontrar, no stand-up comedy, marcas deixadas pelo orador no discurso que possam caracterizar seu ethos, corroborando, assim, nossa crença da possibilidade de apreensão éthica em outros gêneros, além dos retóricos. Para a execução de nossas reflexões, embasar-nos-emos na teoria retórica a partir dos estudos de Aristóteles e de outros autores que partem do mesmo raciocínio. Ademais, lançaremos mão dos estudos concernentes à Linguística Textual no que se refere aos elementos textuais utilizados em análise, uma vez que as marcas textuais, analisadas sob a óptica dessa teoria, encaminham para o entendimento do ethos aristotélico. Escolhemos, como corpus, uma mostra do comediante Danilo Gentili, reconhecido humorista brasileiro, que se encontra disponível no YouTube e cuja transcrição disponibilizamos no Anexo. O formato vídeo com visualização livre via internet remete-nos à tecnologia e, consequentemente, à modernidade. Tal fato corrobora, mais uma vez, nossa hipótese da presença do ethos nos gêneros hodiernos. Partamos, pois, para as nossas considerações acerca dos gêneros.

2. Os gêneros e sua função

A comunicação se efetiva quando o enunciador consegue transmitir determinada informação e seus enunciatários apreendem-na. A forma de organização e construção dos textos depende da finalidade assumida pelo enunciador, ou seja, seu propósito comunicacional. Com base nesses propósitos, inserem-se os textos em uma formatação específica e reconhecida socialmente. Essa formatação consensual recebe o nome de gêneros discursivos:

Para cada um dos diversos objetivos de comunicação, ou melhor, para cada propósito comunicativo, o individuo possui algumas alternativas de comunicação, com um padrão textual e discursivo socialmente reconhecido, isto é, um gênero do discurso que é adequado ao propósito em questão (CAVALCANTE, 2013, p. 44-45).

Essa visão acerca dos gêneros é oriunda de uma evolução de estudos que se baseou nas necessidades comunicacionais pelas quais a humanidade passou e ainda passa. Sob essa perspectiva, é relevante acrescentarmos que as necessidades de comunicação são moldadas pelo contexto histórico, social, político, econômico dos falantes. Tal realidade nos priva de esgotarmos o estudo dos gêneros, pois estes sofrem mudanças constantes a fim de se adequarem às necessidades dos que deles lançam mão, como prevê Bakhtin (2003 apud Viotto, 2008, p. 15):

A riqueza e diversidade dos gêneros do discurso são infinitas porque são inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade humana e porque em cada campo dessa atividade é integral o repertório de gêneros do discurso, que cresce e se diferencia à medida que se desenvolve e se complexifica um determinado campo.

Embora os gêneros sejam relativamente estáveis e socialmente reconhecidos, os mesmos também são flexíveis às mudanças que, por ventura, o orador faça em sua execução. Nessa observação, que ressalta a subjetividade do orador, encontramos espaço para respondermos aos questionamentos de nossa investigação acerca da construção do ethos nos gêneros modernos do discurso. Vejamos como os gêneros se comportam mediante as mudanças subjetivas ocasionadas pelo orador:

Apesar da liberdade de criação, os gêneros impõem certa regularidade, limitando muitas vezes nossa ação na escrita, padronizando-a. Por outro lado, é um campo aberto que oferece possibilidades de escolha permitindo a criatividade, adaptando-se, renovando-se e multiplicando-se, e por isso precisa ser estudado não somente pela forma ou a estrutura, mas pela sua dinamicidade, pelo papel social que desempenha e como forma de interação entre os sujeitos (VIOTTO, 2008, p. 12).

Nossa pesquisa analisará um texto pertencente à esfera humorística na atualidade, em oposição às três modalidades de gêneros retóricos propostas por Aristóteles: deliberativa, judicial e epidítica. Mas por qual finalidade instaurou-se a necessidade da divisão em três gêneros? Segundo Meyer (2007), o entendimento do gênero em que o discurso se enquadra é relevante para o leitor, uma vez que, tanto em retórica como em literatura, os gêneros “definem a priori as questões que são tratadas e, portanto, colocadas pelo auditório ou pelos leitores, permitindo-lhes saber a priori do que se trata e, consequentemente, aquilo que eles aguardam, como forma de respostas” (MEYER, 2007, p. 29).

Como podemos perceber, a proposta de Aristóteles sobre os gêneros, embora tenha sido pensada há muito tempo e, como vimos, estudos posteriores agregaram a ela novas ideias, percebemos que a essência do que são os gêneros se manteve: o propósito de levar os leitores a perceber, previamente, através das características, qual é a finalidade do texto.

Terminadas nossas considerações acerca dos gêneros e sua teoria, partiremos para a especificação do gênero a que pertence o corpus.

3. O gênero stand-up e sua raiz retórica

Encontramos, dentro da esfera do humor, um gênero que se tornou bastante popular na cultura brasileira: o stand-up comedy. Esse gênero possui origem americana e foi introduzido aqui no Brasil por José Vasconcellos na década de 60. Como todos os demais gêneros, o stand-up possui suas características próprias:

  • A apresentação é feita com o comediante em pé, daí o nome stand-up, embora alguns comediantes permaneçam sentados;

  • O humorista se apresenta sem maquiagem ou adereços, ou seja, não há caracterização;

  • O texto é sempre autoral e baseado em situações corriqueiras, vividas pelo comediante.

Apresentamos, com isso, algumas das especificidades do gênero em análise. Como no tópico anterior tratamos da evolução que sofrem os gêneros, mostrando como um determinado gênero pode surgir a partir de outros, é interessante ressaltar a observação feita por Motta acerca da origem do stand-up comedy:

O Stand-Up Comedy é bem menos americano e “colonizado” do que os seus algozes gostam de acusar. Fácil perceber seu parentesco ancestral, vindo lá dos contadores de causos, piadas e monólogos de humor, números de cortina mais antigos que a meia entrada (MOTTA, Portal do stand-up, s/d, s/p).

Essa consideração do gênero, objeto de nosso estudo, como produto de uma evolução, reafirma o que, outrora, consideramos sobre os gêneros e seu processo evolutivo que culmina no nascimento de uma nova modalidade. Portanto, tomando o químico Lavoisier como referência, podemos dizer que, no estudo dos gêneros, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.

O gênero stand-up comedy insere-se em um domínio mais abrangente, que chamaremos de esfera humorística. O discurso de comédia possui em sua essência traços retóricos, uma vez que seu propósito comunicacional, que é o riso, para ser alcançado, necessita de algumas técnicas argumentativas. Ferraz (2015), em sua dissertação, nos apresenta esta realidade:

À parte as especificidades de cada texto, podemos assumir que o discurso humorístico sempre apresenta um componente de persuasão, já que pretende angariar a adesão intelectual e afetiva do auditório, concretizada no riso. Sendo assim, nada mais interessante do que observá-lo a partir de uma teoria que, historicamente, se ocupe dos meios vinculados à produção e à interpretação de discursos persuasivos eficazes (FERRAZ, 2015, p. 8).

Como pudemos perceber, os gêneros da esfera humorística possuem traços retóricos que, amalgamados, corroboram seu propósito comunicacional. A esse respeito, devemos, ainda, considerar que a retórica possui, conforme proposto por Ferreira (2010, p. 16), três ordens de finalidade, a saber:

  • Docere (relacionado à transmissão de conhecimentos do discurso);

  • Movere (refere-se ao despertar das paixões);

  • Delectare (concerne à função estimulante e de entretenimento do discurso).

O delectare é a finalidade que representa os discursos cujo fim seja o entretenimento. Os gêneros pertencentes à esfera humorística, por sua vez, buscam, tão somente, entreter o auditório. Podemos, por isso, estabelecer que há, entre o texto humorístico e a retórica, uma via de mão dupla que estabelece entre ambas uma estreita ligação. Agora, depois de mostrarmos como o humor e a retórica se interrelacionam, partamos para as considerações da construção do ethos no gênero textual/discursivo em questão.

4. O ethos e seu engendro

Consideradas as relações entre retórica e humor, passaremos à tríade retórica: logos, pathos e ethos. O logos refere-se ao discurso propriamente dito. Nele, as provas são organizadas para que sejam apresentadas ao auditório. Já o pathos relaciona-se ao despertar paixões no auditório. É ele que faz com que seus componentes usem, antes da razão, a emoção ao deliberarem. Um outro elemento, que se manifesta por meio do logos, denomina-se ethos. O ethos é o caráter do orador manifestado no discurso, ou seja, são as marcas deixadas pelo orador que nos permitem apreender sua moral, seus hábitos, seus costumes. Assume tamanha importância que pode aumentar ou reduzir a adesão, por parte do auditório ou juiz, à tese central proposta pelo orador. De acordo com Aristóteles (1991 apud FIORIN, 2015, p. 70):

É o ethos (caráter) que leva à persuasão, quando o discurso é organizado de tal maneira que o orador inspira confiança. Confiamos sem dificuldade e mais prontamente nos homens de bem, em todas as questões, mas confiamos neles, de maneira absoluta, nas questões confusas ou que se prestam a equívocos. No entanto, é preciso que essa confiança seja resultado da força do discurso e não de uma prevenção favorável a respeito do orador.

Inferimos, portanto, que, nos gêneros retóricos, a exposição do ethos seja proposital, explícita, uma vez que é necessário que o orador apresente seu caráter ao auditório com vistas à persuasão. Todavia, nos gêneros hodiernos, a não necessidade de demonstração éthica faz com que sua percepção se dê de forma implícita. Portanto, buscaremos apreender a forma como Danilo constrói seu ethos por meio de escolhas estilísticas e linguísticas, tanto na esteira de Figueiredo (2014) quanto de acordo com Eggs (2005, p. 31): “O lugar de engendro do ethos, é portanto, o discurso, o logos do orador, e esse lugar se mostra apenas mediante as escolhas feitas por ele. De fato, toda forma de se expressar resulta de uma escolha entre várias possibilidades linguísticas e estilísticas”.

Logo no início do stand-up comedy, isto é, assim que Danilo entra no palco para sua apresentação, é perceptível sua primeira mostra de ethos. Nela, o orador faz com que fique claro que ele, como comediante, será capaz de atingir o que se espera de sua apresentação, ou seja, ele cumprirá o acordo estabelecido entre auditório e orador, que é a produção do humor. Essa mostra éthica fica evidente quando ele afirma que está feliz por trabalhar no Comedy Central, que é um grande produtor e propagador, assim digamos, do humor, tanto no Brasil como no exterior. Em outras palavras, ser contratado por uma empresa de renome reafirma sua condição de bom profissional, de renomado apresentador. Vejamos como ele constrói seu ethos nesse momento:

(aplausos – entrada de Danilo G. no palco) Muito obrigado pelos aplausos, e obrigado você que está acompanhando o comedy central apresenta, eu, Danilo Gantili, tô muito honrado em apresentar... em fazer parte de um...de um... de um programa pelo comedy central porque acho que, como comediante, uma das minhas metas era um dia fazer um programa no comedy central,[...] (DANILO, 2012, 00’00” - 00’25” – Anexo).

Com isso, percebemos que Danilo age como se questionasse o seu auditório, como se dissesse: vocês procuram comédia? Venham, eu ofereço comédia. Meyer (2007, p. 35), ao afirmar que “podemos concluir com segurança: o ethos é o ponto final do questionamento” (grifo do autor), corrobora tal percepção. Depois dessa análise do primeiro momento, isto é, do exórdio do discurso em questão, partamos para as demais mostras éthicas engendradas durante o discurso cômico de Danilo Gentili.

5. O ethos apreendido pela linguagem

Recapitulando, em nosso corpus, temos um orador que necessita alcançar êxito em um determinado propósito comunicativo, a saber: levar seu auditório ao riso. Com vistas a alcançar o êxito, ele lança mão de um gênero textual/discursivo dentre aqueles que estão disponíveis dentro do sistema linguístico. Resolve fazer uso do stand-up comedy, construindo seu discurso conforme as especificidades desse gênero. Como dissemos, embora a formatação do texto seja estabelecida, temos uma gama de outras escolhas linguísticas e estilísticas que, por serem naturalmente subjetivas, permitem-nos apreender o ethos do orador.

Dispostos a empreender esta análise, de cunho qualitativo, selecionamos três trechos do discurso que compõe o nosso corpus. Antes disso, porém, convidamos o leitor a assisti-lo no site do YouTube, sob a denominação “Danilo Gentili comedy central sobre chaves”. Nos trechos, por nós escolhidos, vale ressaltar que o orador conseguiu atingir seu propósito comunicativo, ou seja, logrou fazer com que o auditório risse. Chegamos a essa conclusão por considerarmos as interações entre orador e auditório, conforme Bakhtin (2003 apud FIORIN, 2015) propõe na teoria do dialogismo. As respostas por parte do auditório cumprem papel fundamental na comédia sob a perspectiva retórica, quando consideramos que o ethos somente se efetiva mediante aprovação do auditório. A aprovação, em nosso caso, se manifestou por meio dos risos da plateia:

[...] Os enunciados não são indiferentes uns aos outros nem autossuficientes; conhecem-se uns aos outros, refletem-se mutuamente [...] O enunciado deve ser considerado acima de tudo como uma resposta a enunciados anteriores dentro de uma dada esfera (a palavra ‘resposta’ está empregada aqui no sentido lato): refuta-os, confirma-os, completa-os, supõe-nos conhecidos e, de um modo ou de outro, conta com eles [...] (BAKHTIN, 2003 apud FIORIN, 2015, p. 28).

Por meio dos excertos abaixo, que compõem o discurso de Danilo, apontaremos as marcas linguísticas que possam corroborar o entendimento do ethos.

Trecho 1: Agora... agora, vocês fãs de Chaves, eu preciso revelar uma coisa pra vocês. Eu não sei como vocês vão receber essa informação, mas eu preciso falar. Pessoal, não sei se vocês sabem, mas o Chaves não é uma criança, tá? (risos). É sério. Ele é um senhor de 50 anos, vestindo uma roupa infantil, tipo Supla. (risos). (aplausos) Ahn! é pra mim isso, é? Ahm, obrigado (DANILO, 2012, 00’56” - 01’34” – Anexo).

Trecho 2: E a bruxa do 71, ela ficava puta que falavam que ela era bruxa, mas vamos falar a real, ela não colaborava né? (risos). Ela andava com aquele vestido feio, com aquela cara de “veia” e ainda punha o nome do cachorro dela de Satanás. (risos). E saía gritando na vila: Satanás, cadê você, Satanás? Porra! E não quer que chama de bruxa? (risos). Seria como se o Agnaldo Timóteo colocasse o nome do cachorro dele de Mecome. (risos). Eu não sou viado não, menino! (risos) (DANILO, 2012, 02’24” - 02’56” – Anexo).

Trecho 3: Já reparou que é o seguinte? A dona Florinda mora no 41, vizinha do Seu Madruga, que mora no 42, e a bruxa, que mora do lado, mora no 71? (risos). Quem numerou as casas da vila foi a Carla Peres. (risos). Carla Peres foi lá e falou: “41, 42, o que vem depois? Ai! É 71, só pode ser!” (risos) (DANILO, 2012, 03’05” - 03’26” – Anexo).

Com base nos trechos supracitados, elencaremos, a seguir, as estratégias utilizadas por Danilo com vistas a angariar êxito em seu propósito comunicativo:

  • Intertextualidade

Mediante os excertos do discurso de Danilo Gentili, percebemos que o humor foi gerado com o auxílio do recurso da intertextualidade, mais especificamente a alusão. Segundo Cavalcante (2013, p. 152): “A alusão é uma espécie de referenciação indireta, como uma retomada implícita, uma sinalização para o coenunciador de que, pelas orientações deixadas no texto, ele deve apelar à memória para encontrar o referente não dito”. Quando mencionamos o “referente não dito” nos reportamos ao discurso do qual surgiu a intertextualidade, a saber: no Trecho 2, a especulação acerca da sexualidade de Agnaldo Timóteo e, no Trecho 3, a intertextualidade incide no estereótipo que afirma que toda loira é burra. Ao escolher Carla Perez para protagonizar essa exemplificação, Danilo pode ter associado o fato de ela possuir a característica física de ser loira aliada às suas colocações em público que, algumas vezes, fizeram com que ela fosse vista como uma pessoa desprovida de inteligência.

  • Analogia

Dentre os recursos utilizados pelo orador para alcançar o propósito comunicativo, percebemos também o uso da analogia. Segundo Abreu (2001, p. 74): “a argumentação por analogia é uma das mais frequentes. Trata-se de comparar a situação vinculada à tese que se quer defender com uma outra situação”. A analogia foi detectada na relação proposta entre o caso do cachorro Satanás e o cachorro Mecome, cujos donos são a “Bruxa do 71” e Agnaldo Timóteo, respectivamente. Ainda, elencando os casos de analogia, temos a relação do modo de vestir-se análogo entre o personagem chaves e Supla.

  • Visão analítica do orador

A visão analítica do orador é manifestada quando apresenta seu parecer acerca dos personagens Ressaltamos que tal visão possui um cunho altamente subjetivo. Nos excertos que escolhemos, é possível perceber tal parecer em um caso: no Trecho 2, o orador aponta alguns traços físicos que, segundo ele, fazem com que a senhora Clotilde se pareça com uma bruxa. Tais traços são: a cara de velha e o vestido feio, acrescentando, ainda, o fato de dar ao seu cachorro o nome de Satanás. Podemos inferir que essa visão se baseia na doutrina cristã, que caracteriza, desde sempre, a feitiçaria como um ato demoníaco.

  • Hipotipose – figura retórica

Captamos, também, dentro dos excertos, a construção de uma figura retórica denominada hipotipose. Esta se dá no momento em que o orador descreve a forma como Carla Perez procedeu ao numerar as casas da vila. Cabe-nos a função de ressaltar que tal figura é mais bem percebida quando assistimos ao vídeo que compõe o corpus, uma vez que os gestos e expressões corporais do orador (que buscam simular a angústia da artista ao tentar numerar as casas) concomitantes à sua fala permitem que percebamos, de forma mais efetiva, o uso da hipotipose. A seu respeito, assim comenta Reboul (2004, p. 136):

Existem figuras explosivas. Mas a mais explosiva provavelmente é a hipotipose (ou quadro), que consiste em pintar o objeto de que se fala de maneira tão viva que o auditório tem a impressão de tê-lo diante dos olhos. Sua força de persuasão provém do fato de que ela “mostra” o argumento, associando o phátos ao logos.

O uso da hipotipose assume um caráter persuasivo nos discursos pela visibilidade que confere ao argumento. No gênero comédia, o orador que lança mão desse recurso pretende oferecer ao auditório uma visualização mental do contexto em que a cena cômica se dá. A partir disso, o auditório visualiza a cena conforme sua criatividade, o que amplia as chances do humor acontecer.

A análise dessa figura, aqui em âmbito sincrético, leva-nos a refletir sobre como o orador cômico pode ampliar sua capacidade persuasiva por meio dessa figura.A análise apresentada nos permite vislumbrar o ethos do orador em questão, uma vez que os elementos verbais utilizados revelam-no. Segundo Ferreira (2010, p. 118): “a palavra é fugidia e não se enquadra em sistemas pré-moldados”, ou seja, embora o corpus pertença a um determinado gênero, dotado de características próprias, algumas escolhas, como as linguísticas, por exemplo, são decisões que cabem tão somente ao orador executar e marcam, no texto/discurso, traços demonstrativos de sua cultura, valores e ideias. Quando consideramos que, dentre uma gama de escolhas possíveis, o orador elegeu uma, devemos refletir: por que a elegeu? Quais fatores de cultura influenciaram sua escolha? Qual a influência da visão crítica do orador nessa escolha? Assim, não nesses questionamentos, mas nas respostas dadas aos mesmos, captamos o engendro do ethos, que se manifesta na busca pelo alcance do propósito comunicativo, qual seja: gerar o riso.

6. A arete

Aristóteles (2005), em sua obra Retórica, propõe três modalidades de ethe. Fiorin (2015), em sua mais nova obra, denominada Argumentação, as retoma:

Podemos, então, ter três espécies de éthe: a) a phrónesis, que significa o bom senso, a prudência, a ponderação, ou seja, que indica se o orador exprime opiniões competentes e razoáveis; b) a areté, que denota a virtude, mas virtude tomada no seu sentido primeiro de “qualidades distintivas do home” (latim uir, uiri), portanto a coragem, a justiça, a sinceridade; nesse caso, o orador apresenta-se como alguém simples e sincero, franco ao expor seus pontos de vista; c) a eúnoia, que significa a benevolência e a solidariedade; nesse caso, o orador dá uma imagem agradável de si, porque mostra simpatia pelo auditório. O orador que se utiliza da phrónesis se apresenta como sensato, ponderado e constrói suas provas muito mais com os recursos do lógos do que com os do pathos ou do ethos (em outras palavras, com os recursos discursivos); o que se vale da areté se apresenta como desbocado, franco, temerário e constrói suas provas muito mais com os recursos do ethos, o que usa a eúnoia apresenta-se como alguém solidário com seu enunciatário, como um igual, cheio de benevolência e de benquerença e erige suas provas muito mais com base no pathos (FIORIN, 2015, p. 71, grifos nossos).

Mediante a teoria proposta e os grifos feitos, captamos que a modalidade éthica utilizada por Danilo, de forma mais efetiva, foi a arete, já que dentre as características dessa modalidade temos o traço de sinceridade e franqueza por parte do orador. Inferimos que esse seja também polêmico ao construir seu discurso utilizando-se da imagem de terceiros para aproximar seu auditório da temática em questão. O orador ainda escolhe para isso assuntos que, perante a sociedade, apresentam-se como polêmicos, tais como: a homossexualidade associada a Agnaldo Timóteo, o estereótipo no caso das loiras, a forma de vestir-se de Supla, conforme pudemos visualizar nos excertos que selecionamos. Em todos eles, o orador analisa cada uma das situações de forma bastante subjetiva.

Ressaltamos ainda que, em uma entrevista concedida por Gentili à Marília Gabriela no programa “De frente com Gabi”, ele se considera politicamente incorreto por não se adequar a nenhuma agenda preestabelecida, tendo que criar o seu próprio manual de conduta. Vejamos o trecho da entrevista em que isso fica evidenciado:

Marília: você ainda se sente um politicamente incorreto?Danilo: sem dúvida.Marília: o que qualifica um politicamente incorreto?Danilo: um politicamente incorreto é alguém que não se dobra a correção política, de uma agenda política vigente. Então, eu não posso permitir que uma agenda política de... Assim como eu sou religiosamente incorreto, também. Eu não posso permitir que uma agenda religiosa me diga o que é certo ou o que é errado, que eu estou certo ou errado, que eu sou moral ou imoral de acordo com o código religioso do judeu, do protestante, do cristão, do budista. Dessa forma também não posso permitir que uma agenda política de um esquerdista, de um direitista, de uma feminista possa pautar minha vida e dizer se eu sou moral ou imoral porque eu não estou seguindo os preceitos que pra eles é o que é o certo ou o errado. Então eu prefiro seguir os meus preceitos, que eu acho certo ou errado e não me dobrar a uma agenda política de qualquer ramificação (DE FRENTE..., 2014, 10’02’’-11’04’’).

Com base no excerto acima, podemos observar que Gentili assume uma forma de vida genuína em que as agendas preestabelecidas são deixadas de lado para que ele possa assumir uma filosofia autêntica.

7. Considerações finais

Levando em conta a constituição éthica do orador, de acordo com as proposições aristotélicas, a evolução dos estudos de gênero e as alterações sofridas pelos gêneros que levam ao surgimento de outros, propusemo-nos, no início deste trabalho, a averiguar, em um gênero da esfera humorística, a construção do ethos e o momento do discurso em que ele se daria com maior efetividade. Concluímos que o orador, empenhado em atingir seu propósito comunicacional, cria seu texto e, na produção do mesmo, efetua escolhas linguísticas que atuam como suporte para apreensão de seu ethos.

No corpus analisado, destacamos as escolhas feitas por Gentili que nos permitiram vislumbrar seu caráter. Mostramos, ainda, por meio de análises textuais, que, dentre as três modalidades de ethos (phronesis, arete e eunoia), o orador evidencia sobretudo a modalidade arete, ou seja, ele constrói suas provas muito mais com os recursos do ethos ao formular seu discurso do que com os recursos do pathos e do logos.

O recorte da entrevista concedida por Gentili à Marília Gabriela veio confirmar os aspectos éthicos observados no discurso do orador em questão, uma vez que nela pudemos observar que os traços polêmicos, francos e sinceros são norteadores de sua filosofia de vida. Além disso, as especificidades do gênero stand-up comedy, por considerar sempre os pontos de vista do orador, permite-lhe fazer comédia com essência semelhante à sua filosofia de vida, fator que, talvez, tenha influenciado Gentili a privilegiar o stand-up como meio transmissor de seu discurso, se considerarmos que existem tantas outras formas de se fazer comédia.

Com o presente artigo, acreditamos ter demonstrado que ethos, gênero discursivo e propósito comunicacional, se amalgamam em um complexo indissociável em que o sucesso de um interdepende da forma como o outro se construiu.

Referências

ABREU, A. S. A arte de argumentar: gerenciando razão e emoção. 4. ed. Cotia: Ateliê Editorial, 2001.

ARISTÓTELES. Rhétorique. Paris. Libraire Générale Française, 1991.

ARISTÓTELES. Retórica. Trad. Manuel Alexandre Júnior, Paulo Farmhouse Alberto, Abel do Nascimento Pena. 2. ed. rev. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2005.

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. [1. ed., 1979]

BRONCKART, J. P. Atividade de linguagem, textos e discursos. 2. ed. São Paulo: Educ, 1999.

CAVALCANTE, M. M. Intertextualidade. In: CAVALCANTE, M. M. Os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2013. p. 145-173.

EGGS, E. Ethos aristotélico, convicção e pragmática moderna. In: AMOSSY, R. (Org.). Imagens de si no discurso: a construção do ethos. Trad. Dilson F. da Cruz, Fabiana Komesu, Sírio Possenti. São Paulo: Contexto, 2005. p. 29-44.

FERRAZ, L. Caminhos retóricos e sorrisos incômodos: argumentação e humor em “A encalhada”, de Ingrid Guimarães e Aloísio de Abreu. 2015. 158 p. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Centro de Ciências Humanas e Naturais, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2015.

FERREIRA, L. A. Leitura e persuasão: princípios de análise retórica. São Paulo: Contexto, 2010.

FIGUEIREDO, M. F. Pra morrer de rir: as figuras na constituição do ethos do contador de causos. In: FIGUEIREDO, M. F. et al. (Orgs.). Textos: sentidos, leituras e circulação. Franca: Unifran, 2014. p. 131-150.

FIORIN, J. L. Argumentação. São Paulo: Contexto, 2015.

DANILO Gentili Comedy Central sobre Chaves. 25 fev. 2012. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zUT_dEAhdPg . Acesso em: 15 mar. 2015.

DE FRENTE com Gabi – Danilo Gentili – 14/09/14 – completo – HD. 14 set. 2014. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_uOWdqEfPE4 . Acesso em: 15 jul. 2015.

MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008. (Educação Linguística, 2).

MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: constituição e práticas sociodiscursivas. São Paulo: Cortez, 2010.

MEURER, J. L.; MOTTA-ROTH, D. (Org.). Gêneros textuais. Bauru: Edusc, 2002.

MEYER, M. A retórica. Trad. Marli M. Peres. São Paulo: Ática, 2007.

MOTTA, B. O stand-up comedy. Portal do Stand-up, [s.d.]. Disponível em: http://www.portalstandupcomedy.com.br/historia/ . Acesso em: 10 abr. 2015.

REBOUL, O. Introdução à retórica. Trad. Ivone Castilho Beneditti. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

VIOTTO, M. E. da S. As concepções de gênero textual/discursivo do professor de língua portuguesa. Artigo apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional da Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Goioerê, PR, 2008. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2254-8.pdf . Acesso em: 26 mar. 2015.

Anexo (Transcrição do Corpus)

(aplausos – entrada de Danilo G. no palco) Muito obrigado pelos aplausos, e obrigado você que está acompanhando o comedy central apresenta, eu, Danilo Gentili, tô muito honrado em apresentar... em fazer parte de um ...de um... de um programa pelo comedy central porque acho que, como comediante, uma das minhas metas era um dia fazer um programa no comedy central, e a outra era fazer parte do programa do Chaves (risos – plateia). Eu cresci vendo o Chaves, sou fã do Chaves. Tem mais fãs do Chaves aí? (algumas pessoas da plateia levantam a mão e fazem barulho) opa! Eu adoro o Chaves. É muito legal, não é? Eu nunca vou me esquecer daqueles episódios que eu via quando criança. Porque não para de repetir, não é? (risos). (pausa) Nem se eu quisesse eu ia esquecer! O SBT não para de reprisar aquilo. Vou ficar velho, vou ter Alzheimer, vou esquecer meu nome, mas não vou esquecer o que é um churrumino (risos). Agora... agora, vocês fãs de Chaves, eu preciso revelar uma coisa pra vocês. Eu não sei como vocês vão receber essa informação, mas eu preciso falar. Pessoal, não sei se vocês sabem, mas o Chaves não é uma criança, tá? (risos). É sério. Ele é um senhor de 50 anos, vestindo uma roupa infantil, tipo Supla. (risos). (aplausos) Ahn! é pra mim isso, é? Ahm, obrigado. Eu comecei falando do Chaves, mas eu preciso citar aquele que no seriado é meu herói, que é o Seu Madruga. O Seu Madruga é muito foda, o Seu Madruga é muito do caralho, o Seu Madruga não trabalha (risos), o Seu Madruga não toma banho, ele usa sempre a mesma roupa, ele bate em crianças, ele é o pai dos punk. (risos). Eu sou fã do Seu Madruga! E posso falar? Todo mundo fala que Seu Madruga é vagabundo, só porque o Seu Madruga era mexicano. Se ele fosse carioca, ele não era vagabundo, era boêmio (risos) né? Aquela música “quero ver outra vez seus olhinhos de noite serena” ia ser clássico da MPB. (risos). Eles falavam que Seu Barriga tinha bom coração, quer dizer, não tem exame de colesterol no México. (risos). Falaram que o Quico era burro porque ele queria uma bola quadrada. Se ele estivesse na idade média, ia ser gênio, né? Burro ia ser o Galileu. (risos). E a bruxa do 71, ela ficava puta que falavam que ela era bruxa, mas vamos falar a real, ela não colaborava né? (risos). Ela andava com aquele vestido feio, com aquela cara de “veia”, e ainda punha o nome no cachorro dela de Satanás. (risos). E saía gritando na vila, Satanás, cadê você, Satanás? Porra! E não quer que chame de bruxa? (risos). Seria como se o Agnaldo Timóteo colocasse o nome no cachorro dele de Mecome. (risos). Eu não sou viado não, menino! (risos). Já reparou que é o seguinte? A dona Florinda mora no 41, vizinha do Seu Madruga, que mora no 42, e a bruxa, que mora do lado, mora no 71? (risos). Quem numerou as casas da vila foi a Carla Peres. (risos). Carla Peres foi lá e falou: “41, 42, o que vem depois? Ai! É 71 só pode ser!” (risos). Agora, para mim, velha safada é a dona Florinda, Não? Chegava o professor Girafales, ela mandava o Quico: “vai lá brincar”. (risos) “Quer tomar uma xícara de café?” Por que ela oferecia café? Porque ela sabe, depois do café, tem que oferecer uma rosquinha. (risos). Eu acho que aquele nome, mestre Linguiça, foi a Dona Florinda quem colocou no professor Girafales. (risos). Mestre Linguiça é um nome de ator pornô, não é? (risos). É nome de ator pornô, Kid Bengala, e o mestre linguiça em tá tátátátá. (risos).

Notas

1 Utilizamos o adjetivo éthico(a) como um atributo do substantivo ethos, com vistas a diferenciá-lo do adjetivo “ético”, concernente ou próprio da ética. Assim as expressões “presença éthica” e “demonstração éthica” referem-se às construções do ethos no discurso.

Ligação alternative



Buscar:
Ir a la Página
IR
Visualizador XML-JATS4R. Desarrollado por