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Extensão para a educação: a experiência de capacitação a distância do Espaço do Produtor
EXTENSION TO EDUCATION: ESPAÇO DO PRODUTOR’S DISTANCE TRAINING EXPERIENCE
Texto Livre: Linguagem e Tecnologia, vol. 9, núm. 1, pp. 160-172, 2016
Universidade Federal de Minas Gerais

Educação e Tecnologia


Recepção: 25 Fevereiro 2016

Aprovação: 16 Abril 2016

DOI: https://doi.org/10.17851/1983-3652.9.1.160-172

Resumo: Este artigo apresenta e analisa os resultados da experiência do site Espaço do Produtor, desenvolvido e mantido pela Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância (CEAD) da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Para isso, associaram-se os resultados coletados por pesquisa realizada com os usuários em 2012 a uma revisão literária sobre o tema, particularmente sobre os cursos online oferecidos pelo site. Neles, são utilizados recursos das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), a fim de estimular o autoaprendizado do usuário, dentre outras particularidades da Educação a Distância (EaD). Ao mesmo tempo, pretende-se confirmar a viabilidade técnica e institucional de se desenvolver um site para a realização de atividades de extensão de universidades públicas, fundamentando-as com dados e depoimentos da pesquisa. Entre os empecilhos para o desenvolvimento de atividades e projetos de extensão estão o alto custo e a falta de estímulo para participação de pesquisadores e de alunos. Conclui-se que, com o site, é possível alcançar um grande público, que muitas vezes, por condições geográficas ou falta de tempo, não poderia se dedicar a um curso presencial ou a distância. Além disso, o usuário consegue se aprofundar no assunto, que tem grande importância para a sua tomada de decisões presentes ou futuras na vida profissional e no dia a dia.

Palavras-chave: cursos livres, educação a distância, espaço do produtor, extensão.

Abstract: This article presents and analyzes the results of the experience related to Espaço do produtor’s website (Producer space, in free translation), developed and maintained by Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância (Cead), from Universidade Federal de Viçosa (UFV). For this purpose, we associated the results acquired by researches made with the website users in 2012, and a literature review about the theme, particularly about the online courses offered by the website. In those courses, the information and communication technologies (TIC) were used to stimulate users’ self-learning, among others e-learning particularities. At the same time, we intend to confirm the technical and institutional viability to develop a website to promote extension activities in education public institutions, grounding them with the help of data and research testimonials. Among the obstacles for the development of activities and extension projects, we found the high costs and the lack of incentive for researches and students’ participation. We conclude that it is possible to reach a large audience, that often, due to geographic condition or lack of time, could not dedicate to a classroom or distance course. Besides that, the user can go further in the matter, which has big importance for his decisions, in the present or future, for the professional or everyday life.

Keywords: free courses, distance learning, Espaço do produtor, extension.

1. Introdução

Existem muitas definições, mas, de maneira geral, pode-se dizer que a extensão universitária é a forma de as instituições públicas de ensino superior (Ipes) democratizarem, efetiva e concretamente, o conhecimento gerado com o financiamento da sociedade, beneficiando-a. Sua importância é reconhecida por todos os envolvidos no processo extensionista (professor, técnico, aluno, público etc.) desde o início de sua história no Brasil, com as primeiras experiências na Universidade Livre de São Paulo, de 1911 e 1917. Já em 1931 o Estatuto da Universidade Brasileira esclarecia algumas das finalidades da atividade, que não estariam restritas somente à realização de cursos e conferências, para construir conhecimentos “úteis à vida individual e coletiva”, mas também objetivaria a “apresentação de soluções para os compromissos sociais e a propagação de ideias e princípios de interesse nacional” (BRASIL, 1931, s/p).

Oficializada desde 1968, pela lei n.º 5.540/68, a atividade extensionista está estipulada na Lei nº 9.394 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), de 20 de dezembro de 1996. No artigo 43 dessa lei, determina-se que a educação superior, dentre outras funções, deve: “promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição” (BRASIL, 1996, p. 17).

Embora sua importância seja inegável para as instituições públicas de ensino superior (Ipes) e para a própria sociedade, na prática, a extensão universitária tem-se mostrado aquém do potencial que pode ser desenvolvido pelas universidades brasileiras. Uma vez que a maioria delas defende em seus estatutos a prática do “indissociável tripé ensino-pesquisa-extensão” como fator fundamental para a formação adequada de seus estudantes, era de se esperar que a prática dessas três áreas ocorresse de forma equânime e tivesse o mesmo reconhecimento, mas a realidade tem sido outra. Freire (2000), por exemplo, levanta novos aspectos sobre essa situação, como pode ser visto a seguir:

Há inclusive pouca bibliografia a respeito e raros especialistas. Ainda que o trinômio ensino-pesquisa-extensão seja bradado aos quatro ventos, existe uma hierarquia implícita (mas não explícita), de que em primeiro lugar vem o ensino, depois a pesquisa e, por fim, a extensão (FREIRE, 2000, p. 13).

Apesar de ter uma longa tradição extensionista – desde 1929, promove anualmente a Semana do Fazendeiro –, a Universidade Federal de Viçosa também confirma o comportamento das instituições de ensino superior – independentemente de manter bons e perenes projetos e programas nessa área. Basta comparar os números: dos 6.510 projetos registrados na UFV no período de 2006 a 2010, 5.837 eram de pesquisa e 673 de extensão (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA, 2010).

Diversos estudos apontam aspectos que contribuem para o pequeno desempenho das universidades na atividade extensionista. Dentre outros, os motivos estão relacionados desde o porte e a localização até a idade da instituição. Um fator marcante é o pouco estímulo acadêmico: as atividades de extensão representam pontuação inferior às de pesquisa na carreira do professor, além de proporcionarem menos status e visibilidade ao docente.

Em sua pesquisa, Silva e Speller (2003 apud TORRES, 2003) buscaram definir quais eram os principais empecilhos para a prática periódica e sistemática da extensão universitária na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Como resultado do trabalho realizado entre os professores da instituição, eles constataram que as principais dificuldades seriam: a falta de uma política institucional de extensão, a limitação de recursos financeiros e – curiosamente – a desvinculação entre a extensão, o ensino e a pesquisa, e a não inserção da extensão no currículo.

Essa realidade, porém, começou a dar sinais de mudança no Brasil no início do século XXI, conforme constatações do Fórum de Pró-reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras (FORPROEX). O Fórum analisou as mudanças verificadas em duas décadas, as quais foram registradas no documento intitulado Institucionalização da extensão nas universidades públicas brasileiras – estudo comparativo 1993/2004:

É notório, hoje, que a atividade extensionista nas Ipes é mais convicta de sua função articuladora do ensino e da pesquisa, resultante de um longo período de acúmulo de conhecimentos advindos de uma prática coletiva de pensar e refletir, proporcionada fundamentalmente pelo FORPROEX. Há uma consolidação institucional da extensão e o avanço inequívoco da indissociabilidade entre as práticas acadêmicas da extensão ao ensino e à pesquisa, em uma posição muito distinta de 1993, quando essa articulação apenas foi citada (CORREA, 2007, p. 34).

Por meio da pesquisa, o FORPROEX levantou, dentre outras questões, as maiores dificuldades para o desenvolvimento da extensão universitária, possibilitando, assim, uma rápida compreensão da diferença de realidades de cada década. Por exemplo, em 1993, o principal problema da maioria (67,7%) das instituições pesquisadas era a falta de recursos financeiros para a execução da atividade extensionista (Tabela 1). Cerca de 10 anos depois, essa dificuldade havia se atenuado e se dividido em outras questões. Em 2004, a principal preocupação das instituições públicas de ensino superior passara a ser a insuficiência de recursos em infraestrutura para o atendimento às demandas da extensão (Tabela 2).

Tabela 1
Dificuldades para o exercício da extensão universitária indicadas pelas instituições públicas de educação superior – 1993.

Correa (2007) – Perfil da Extensão Universitária no Brasil (1995).

Tabela 2
Insuficiência de recursos de infraestrutura para o desenvolvimento das ações da extensão nas instituições públicas de educação superior – 2004.

Correa (2007) – Diagnóstico da Extensão Universitária no Brasil (2005).

Para se evoluir na tendência de crescimento e contornar as dificuldades na realização das atividades extensionistas, a utilização das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) – dentre elas, a internet – pode ser uma boa alternativa. É o que vem sendo praticado pela UFV, desde 2008, com o site Espaço do Produtor (UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA, 2011).

1.1 Cursos em EAD

Hoje a Educação a Distância (EaD) é vista como uma modalidade de ensino capaz de atender tanto a programas formais e de longa duração, que oferecem diplomas e certificação específicos, quanto a programas informais, livres e de curto prazo, voltados para capacitação e treinamento em atividades profissionais.

Segundo informações do Censo EAD.BR, no Relatório Analítico da Aprendizagem a Distância no Brasil (CENSO EaD.BR, 2013), que apresenta dados do ano de 2013, a maior parte dos cursos a distância se refere a cursos livres (36,6%), destinados ao público em geral. Assim, devido ao aumento da demanda no oferecimento de cursos nessa modalidade, um bom planejamento se torna indispensável para se alcançar um público maior e mais heterogêneo, em termos de formação escolar, perfil social, econômico e profissional.

Para Moran (1995), entretanto, as tecnologias não alteram necessariamente a relação pedagógica: elas tanto servem para reforçar uma visão conservadora, individualista, como também uma visão progressista. Utilizá-las, portanto, não garante um processo de ensino mais dinâmico e facilitador. Há a necessidade de um planejamento adequado para que o uso desses recursos tecnológicos permita o protagonismo dos estudantes, tendo em vista que as tecnologias evidenciam a possibilidade de interação, de comunicação, de acesso à informação e convertem-se em um meio interativo e ativo, não apenas na EAD (TORI, 2002; PUNIE, 2006).

Chermann e Bonini (2000) conceituam a Educação a Distância como uma modalidade que

possibilita a autoaprendizagem a partir da mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados e apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados e veiculados pelos diversos meios de comunicação existentes (CHERMANN e BONINI, 2000, p. 17).

De acordo com a forma como são estruturados nos ambientes online e com a metodologia pedagógica adotada, os cursos podem não ser adequados ao processo de ensino-aprendizagem ativo. Portanto, a adequação pedagógica de todas as informações que são disponibilizadas nos ambientes educativos é importante, a fim de permitir que o estudante sinta-se motivado para a construção do conhecimento (CAMPOS, 2007). Deve-se ressaltar que tais questões foram levadas em conta na criação do site Espaço do Produtor, que buscou incorporar o potencial do uso das TIC às atividades extensionistas.

Assim, o conteúdo dos cursos oferecidos pelo site foi disponibilizado em formatos variados (animações, vídeos, textos e ilustrações), de maneira bem explicativa, assegurando a compreensão e a autonomia do aluno no processo de aprendizagem.

1.2 Da Semana do Fazendeiro ao Espaço do Produtor

A inspiração para o Espaço do Produtor veio da Semana do Fazendeiro da UFV: um dos eventos de extensão rural mais antigos do país, criado em 1929, no campus Viçosa e realizado anualmente. Voltadas para produtores rurais, familiares e colaboradores, suas atividades pretendiam contribuir não só para a melhoria de renda, como também para a qualidade de vida dos participantes.

Em seu início, a Semana do Fazendeiro era o espaço de encontro e troca de informações entre produtores e fazendeiros da região e alunos da Escola Superior de Agricultura e Veterinária (ESAV), origem da UFV.

Nesses eventos, havia a oportunidade de se apresentarem novas técnicas de cultivo e avanços que a Escola desenvolvia, ofertando aos alunos uma valiosa oportunidade de contato com o cotidiano rural através da troca de experiências, criando uma aura de “confiança que os fazendeiros ficavam tendo na Escola, dando-lhes, naturalmente, preferência para a educação de seus filhos” (ENES, 2006, p. 5108).

Com o passar do tempo, a Semana realizou mudanças, em decorrência das transformações da sociedade:

O fortalecimento da sociedade civil, principalmente nos setores comprometidos com as classes populares, em oposição ao enfraquecimento da sociedade política ocorrido na década de 80, em especial nos seus últimos anos, possibilita pensar a elaboração de uma nova concepção de universidade, baseada na redefinição das práticas de ensino, pesquisa e extensão até então vigentes. Do assistencialismo passou-se ao questionamento das ações desenvolvidas pela extensão; de função inerente à universidade, a extensão começou a ser percebida como um processo que articula o ensino e a pesquisa, organizando e assessorando os movimentos sociais que estavam surgindo (SANTOS, 2000/2001, p. 3).

Ainda que reconheça a importância histórica e social da Semana do Fazendeiro, Silva (1995) afirma que a UFV, durante determinado período, esteve um pouco distanciada dos reais interesses de seus públicos. Para a pesquisadora, que analisou o evento em sua dissertação de mestrado no Programa de Pós-graduação em Extensão Rural, a instituição precisava “aprender a ler” a realidade: “a universidade necessita comunicar-se e ser comunicada para realimentar-se de dinâmica social” (SILVA, 1995, p. 184).

Em função disso, nos últimos 30 anos, houve muitas mudanças na Semana do Fazendeiro, com maior participação do público na definição da relação de cursos e diversificação na oferta de serviços e produtos aos participantes. Alguns exemplos são a Troca de Saberes, considerada como um diálogo aberto entre o conhecimento científico e o tradicional, e a Clínica Tecnológica, a orientação de especialistas a agricultores e produtores rurais, no local e na hora do evento – ambas as atividades enriqueceram a variedade de público e o aprofundamento das discussões.

Apesar das atualizações, a Semana do Fazendeiro ainda ficava restrita a uma área geográfica específica, o que algumas vezes limitava o deslocamento dos participantes a Viçosa. Além disso, acontecia em apenas um período do ano (uma semana de julho), dificultando a presença daqueles que não podiam se afastar de suas cidades nessa época.

Tais preocupações estavam presentes nos debates de um grupo de pesquisadores e extensionistas da UFV, que, por iniciativa da Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância (CEAD), passaram a se reunir, no campus Viçosa, para estudar possibilidades de associar as TIC à extensão universitária. Depois de alguns encontros, em julho de 2008, em uma iniciativa interdepartamental e multidisciplinar, foi inaugurado o site Espaço do Produtor, que disponibilizava conhecimento, informação e serviços aos agricultores familiares e produtores rurais de pequena produção.

Dentre os fatores que vêm endossando o Espaço do Produtor como um dos possíveis instrumentos de socialização do conhecimento para a UFV está o seu potencial de público. Para se ter uma ideia, com apenas três anos de existência, contava com 10.300 usuários cadastrados; ou seja: aqueles que fizeram, pelo menos, um de seus 12 cursos de extensão de curta duração online e periodicamente o consultavam. Hoje, pouco mais de três anos depois, houve um aumento de mais de 50% no número de cadastrados: 16.768 (dado de agosto de 2015).

Atualmente, o site disponibiliza, gratuitamente, para agricultores familiares, produtores de pequena produção e agentes de extensão rural, os seguintes serviços: Cursos de extensão de curta duração ou cursos livres online (capacitação em atividades que possam contribuir para o aumento da renda ou a melhoria da qualidade de vida dos agricultores e familiares); Artigos (elaborados por pesquisadores, extensionistas e alunos de pós-graduação da UFV sobre temas relacionados aos moradores do meio rural); Notícias (informações que possam oferecer atualização ou melhoria ao dia a dia no meio rural); Dica do produtor (saber tradicional – compartilhamento de determinada técnica ou procedimento desenvolvido ou adotado pelos usuários); “Causos” da roça; Receitas culinárias; Eventos. Em 2015, 23.145 pessoas haviam participado desses cursos online (Tabela 3), conforme apurado em pesquisa realizada com os usuários.

Elaborado por pesquisadores e extensionistas de várias áreas do conhecimento da UFV, o conteúdo original dos cursos online é adaptado e desenvolvido por técnicos da CEAD, utilizando o potencial das TIC. Assim, são disponibilizados vídeos, áudios, animações e simulações, dentro de uma estrutura de texto enxuta, organizada e acessível a públicos de níveis diferentes de escolaridade. Os cursos são autoexplicativos e essencialmente práticos, uma vez que não contam com o acompanhamento de tutores, estimulando o autoaprendizado e a construção do conhecimento. Além disso, são utilizados os recursos tecnológicos mais adequados, a fim de que o público tenha acesso ao conteúdo também de forma lúdica, prazerosa e fácil.

Tabela 3
Inscritos por curso (*).

Dados extraídos do cadastro da CEAD, em 25/02/2015. O total leva em conta que um usuário pode fazer mais de um curso e, por isso, esse número é superior ao de cadastrados no site.

Obs.: Em julho de 2009, um problema no servidor da UFV fez com que se perdesse parte das informações do cadastro de usuários da CEAD. Portanto, os cursos produzidos antes desta data ainda devem ser acrescidos de cerca de 40% no número de participantes.

2. O usuário e a extensão

Por meio de informações levantadas em pesquisa realizada com os usuários em 2012 e nos dados obtidos pelo Google Analytics, foi possível analisar o perfil e os objetivos do público que frequenta o site do Espaço do Produtor. As informações revelaram, por exemplo, que ele é consultado por usuários do Brasil e do exterior. De outubro de 2008 a março de 2014, o site recebeu 640.403 visitantes. Desse total, 92.8% eram do Brasil, 3.0% de Portugal e 1.0% dos Estados Unidos.

De acordo com dados de 2012, o perfil socioeconômico do público do site, em linhas gerais, era eminentemente masculino (64,8%); sua faixa etária estava entre 40 e 50 anos de idade (30,1%); a maioria tinha curso superior completo (39,0%) ou pós-graduação (32,4%). As cidades que registraram maior número de usuários foram: Viçosa (MG); Belo Horizonte (MG), São Paulo (SP); Uberlândia (MG); Goiânia (GO), Cáceres (MT), Brasília (DF) e Fortaleza (CE).

Muitas desses profissionais revelaram que tinham a agropecuária como segunda atividade ou estavam relacionados, direta ou indiretamente, a ela ou ao meio rural: por trabalharem ou terem trabalhado nessa área; pela formação acadêmica; por terem morado ou manterem interesse econômico ou de pesquisa no campo. Alguns desses entrevistados, inclusive, demonstraram que pretendem, em breve, se dedicar a negócios na agricultura ou pecuária, como pode ser constatado em parte de seus depoimentos:

Sou médica veterinária e trabalho com segurança alimentar, mas sou produtora rural também...

Hoje tiro meu sustento por atividades seculares, representação, e tenho o sítio apenas como lazer, galinhas, árvores frutíferas, plantação de milho, hortaliças...

Possuo uma propriedade rural pequena e que exploro como segunda atividade, em conjunto com minha esposa. Espero, em breve, que seja minha atividade principal.

Em breve, pretendo comprar uma fazenda e investir na área. Por isso, uso o Espaço do Produtor como um ponto de pesquisa e de referência para futuras decisões sobre o que e como investir.

Tenho a proposta de iniciar uma atividade rural lucrativa para desenvolver após aposentar-me (Fonte: pesquisa no site Espaço do Produtor).

A partir desses comentários, pode-se delinear o perfil e os interesses dos usuários do site. Tais características apontam que, para o seu público, o Espaço do Produtor extrapola as funções de um veículo de comunicação ou informação, configurando-se como um espaço de extensão e – mais ainda – de educação informal.

2.1 O usuário e os cursos

A educação informal, de acordo com Furter (1978), seria formada por todas as intervenções educacionais promovidas em dado momento para determinado grupo e em função de necessidades e demandas específicas, delineadas tanto pelos responsáveis dessas ações de formação quanto pelas populações interessadas.

Foi para essa área justamente que convergiram os interesses dos usuários pelo site. Na pesquisa de 2012, entre as seções oferecidas, as preferências ficaram com os Cursos, apontados como a opção “extremamente útil”, com 43,3% das opiniões, enquanto Notícias ficou com 50% de “muito útil”. “Manter-se atualizado” (74,8%) foi a principal finalidade dessas pessoas.

A preocupação em compartilhar o conhecimento adquirido esteve entre as respostas dos usuários como motivo para visitar o site. Dentre outras finalidades, eles apontaram ainda “Conhecimento” (66,7%) e “Repasse a produtor rural” (7,7%). Observou-se, assim, que, no caso do Espaço do Produtor, a informação estava relacionada à construção do conhecimento no indivíduo, valorizando o seu caráter social e emancipatório – benefício compartilhado com outros agricultores. Sobre o conteúdo disponibilizado no site, a receptividade do público pesquisado revelou-se boa: 54,2% dos usuários disseram estar “Muito satisfeitos”.

Os entrevistados também tiveram a oportunidade de redigir – em vez de escolher opções predefinidas – a sua crítica, elogio ou sugestão para o Espaço do Produtor. Desse total, 60,7% dos usuários fizeram elogios à iniciativa. As respostas mostraram que eles aprovaram o conteúdo do site, por meio da boa avaliação principalmente dos Artigos e Cursos online, mas todas as seções obtiveram, pelo menos, pontuações razoáveis. As boas avaliações dos usuários ficaram claras pela leitura das mensagens, que não eram obrigatórias, registradas ao final do questionário. Alguns exemplos são:

Acho que a universidade brasileira foca muito o produtor da sua vizinhança e esquece o [aquele] que está mais distante. O Espaço do Produtor nos permite esta aproximação, ainda que de uma maneira tímida. Minha região necessita que uma universidade instale por aqui um campus avançado para socorrer o produtor em tecnologias de ponta onde nos permitirá produzir mais e com qualidade.

Excelente iniciativa! Venho recomendando-a aos profissionais da agropecuária, produtores e alunos do curso técnico em agropecuária do CETEP - Oeste Baiano. Acredito pela opinião dos meus amigos que o aumento no número e variedade de cursos em muito pode ajudar aos produtores e profissionais da área. Também a informação do tempo mais apurada por regiões produtoras dentro dos estados pode em muito aumentar o acesso do site, ajudando a cumprir o seu papel de informar e disseminar técnicas agropecuárias.

É muito útil para a inclusão social. É um fator indutor na busca do conhecimento.

É evidente que o Espaço do Produtor é fantástico, principalmente os Cursos. É um trabalho sério que merece ser copiado por outras Universidades no Brasil, assim como também no exterior, por países ditos do 3º Mundo. Sugestão: aumentar o número (temas) de cursos.

É um canal de acesso a informações importantes que podemos usufruir com segurança por constar de conteúdos sérios e instrutivos. É preciso manter este Espaço do Produtor sempre com novos cursos. É excelente este site, pois ajuda os agricultores de nosso país a se atualizar e a se instruir sobre assuntos pertinentes à produção agropecuária (Fonte: pesquisa no site Espaço do Produtor).

A partir desses comentários, é possível perceber que tanto a iniciativa do site, como a do oferecimento dos cursos online, utilizando todo o potencial da EsD, têm sido bem aceitos pelos profissionais da área e demais interessados. Tal resultado comprova tendência mundial na área de ensino, que se consolidou com o surgimento, nos últimos anos, dos MOOCs (Massive Open Online Course – Cursos Online Aberto e Massivo) e com o crescimento de cursos de graduação e pós-graduação a distância. Em reportagem no New York Times, o jornalista David Brook afirmava que conceituadas instituições americanas de ensino, como a Harvard e o Massachusetts Institute of Technology (MIT) – da mesma forma que as universidades de Yale e Carnegie Mellon – iriam investir US$ 60 milhões para oferecer cursos online. Segundo o jornalista, a rápida migração para internet, que acontecera com a mídia tradicional (jornais e revistas), tenderia a ocorrer com a educação e, particularmente, com o ensino superior, trazendo também mais responsabilidades para as instituições de ensino que se comprometiam com ela:

A educação a distância ajuda os alunos principalmente na primeira etapa. Como Richard A. De Millo da Georgia Tech argumentou, ela transforma a transmissão de conhecimento num bem que é barato e disponível mundialmente. Mas também obriga a faculdade a se concentrar no resto do processo de aprendizagem, que é onde está o valor real. Num mundo on-line, as faculdades precisam pensar bastante em como irão pegar a comunicação, que acontece pela internet, e transformá-la em aprendizagem, que é um processo social e emocional complexo (BROOK, 2012, s/p).

Antes de mais nada, tem que se pensar que esse é apenas o início de mudanças promovidas pelas TIC – principalmente pela internet – em modelos educacionais, o que já vem ocorrendo em diferentes áreas da sociedade contemporânea, como o futuro ou o próximo estágio do progresso humano:

[A sociedade em rede] É a nossa sociedade, em diferentes graus, e com diferentes formas dependendo dos países e das culturas. Qualquer política, estratégia, projeto humano, tem que partir desta base. Não é o nosso destino, mas o nosso ponto de partida para qualquer que seja o «nosso» caminho, seja o céu, o inferno ou, apenas, uma casa remodelada (CASTELLS, 2005, p. 26).

3. Considerações finais

Diante desses dados e das avaliações dos usuários, pode-se constatar que

a educação sempre tratou da preparação dos indivíduos para seu papel na sociedade. Ao longo da última década, a primazia da educação formal decaiu porque agora vemos o surgimento de uma aprendizagem que se estende por toda a vida e da educação informal, assim como de novas áreas de aprendizagem, que assumem um papel maior na vida dos indivíduos. (VEEN; VRAKKING, 2006, p. 108).

Portanto, com o intuito de levar aos agricultores familiares, produtores rurais de pequena produção e às suas famílias informações e a tecnologia geradas na UFV, os cursos online do Espaço do Produtor têm possibilitado a capacitação de um público amplo e variado geograficamente. Nessa perspectiva, isso corrobora o que afirma Cseh et al. (1999 apud Flach e Antonello, 2010, p. 197), de que “a aprendizagem informal resulta de oportunidades naturais de aprendizagem que surgem no dia a dia das organizações, onde o próprio indivíduo controla o seu processo de aprendizagem”.

Segundo as opiniões dos usuários, também podemos concluir que sites, como o Espaço do Produtor, têm condições de se consolidar como importantes instrumentos auxiliares na prática da extensão universitária. Isso porque o seu formato (com a utilização de animações, vídeos, textos e ilustrações) tem uma boa relação custo-benefício. Ou seja: apesar de os custos de elaboração dos materiais e do próprio curso não serem tão baixos – como qualquer curso em EAD, para ser bem-sucedido, é importante que se tenham bons equipamentos e uma equipe multidisciplinar bem qualificada –, esse valor se dilui com o grande número de pessoas a ser alcançado.

É importante ressaltar, no entanto, que somente o desenvolvimento de um site não irá alterar a situação da prática da extensão em determinada universidade ou mesmo no Brasil. Para isso, por exemplo, entre outros aspectos, há a necessidade de se estimular a participação de professores, por meio do aumento da pontuação acadêmica daqueles que realizam essas atividades; estruturar uma política institucional que consolide efetivamente o trinômio ensino, pesquisa e extensão em cada instituição e ainda a concessão de novas bolsas para os alunos que atuem na atividade.

Independentemente desses aspectos, o fato é que a universidade não pode se isolar do mundo e tem de fazer com que o ensino, a pesquisa e extensão atendam às exigências da sociedade, da forma como preconiza Kunsch (1992), ao apontar que

a Universidade, como centro de produção de conhecimentos, necessita canalizar suas potencialidades no sentido da prestação de serviços à comunidade, revigorando os seus programas de natureza cultural e científica e procurando irradiar junto à opinião pública a pesquisa, os debates, as discussões e os progressos que gera nas áreas de ciências, tecnologia, letras, artes, etc. Isso é possível mediante a comunicação, que viabiliza o relacionamento entre a universidade e seus diversos públicos (KUNSCH, 1992, p. 9-10).

Embora contribua para o entendimento do que propõe a autora e se reconheça seu grande potencial, o modelo extensionista do Espaço do Produtor não está finalizado; ainda há muito o que se elaborar. Por exemplo, no desenvolvimento de aspectos e formas que resultem em maior interatividade, em maior relação site-usuário, tornando mais eficiente a “via de mão dupla” preconizada pela extensão universitária atual. Além disso, o planejamento de um curso a distância, mesmo que com característica de curta duração, apresenta algumas particularidades que exigem atenção: bom planejamento, autoavaliação mais específica dos recursos utilizados, participação maior dos usuários na escolha dos temas, menor periodicidade entre a oferta de novos cursos etc.

Referências

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