Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.95-109 | jan-abr | 2020
temático Saberes e Práticas Pedagógicas, nove deles discutem as relações entre teoria
e prática, investigando as relações entre universidade e escola. Dentre esses nove
grupos, dois deles anunciaram o foco de investigação na formação de professores dentro
da escola. Para nós, tal destaque mereceu uma atenção especial, por explicitarem, em
seus objetivos, questões bastante emergentes no campo da formação de professores.
Um deles visa o fortalecimento da comunidade escolar e o outro se propõe a discutir o
cotidiano escolar. Ambos os aspectos revelam a preocupação e/ou o resgate da escola
como espaço formativo. Segundo Tassoni e Megid (2015, p. 207)
é importante compreender a escola como um sistema orgânico que pressupõe ações
integradas entre os diferentes atores desse espaço. Compreender a escola dessa forma
significa compreendê-la como um espaço de escuta, de reflexão, de (re)significação e de
planejamento de ações que cheguem à sala de aula, promovendo mudanças no ensino.
Assim sendo, a escola passará a ser um lugar de troca de experiências ao estimular a
reflexão coletiva, contribuindo para a construção do sentimento de pertencer ao grupo e
cooperar para a confirmação da identidade profissional.
Outro levantamento feito por Tassoni e Fernandes (2015, p.142) – sobre as pesquisas,
realizadas no estado de São Paulo, que investigam as políticas de formação continuada
de professores alfabetizadores, buscando identificar o que elas têm priorizado e, de que
forma tais pesquisas vêm discutindo as influências dessas políticas de formação nas
práticas pedagógicas de sala de aula – destacou que “há uma tendência evidente, nas
pesquisas de campo selecionadas, em ouvir o professor alfabetizador e observar sua
prática”. Os autores reuniram 43 pesquisas, entre mestrados e doutorados, no Banco de
Teses e Dissertações da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior). Dessas, 36 eram pesquisas de campo e apenas sete eram pesquisas
bibliográficas. Das 36 pesquisas de campo, 31 delas tiveram como participantes os
professores alfabetizadores. Oito delas envolveram não só os professores
alfabetizadores, mas também outros atores da escola (alunos, equipe gestora e os
formadores dos professores), mas 23 delas tiveram apenas os professores
alfabetizadores como participantes. Por isso, os autores reafirmam, a partir das
pesquisas analisadas,
a necessidade de fortalecimento da escola como espaço legítimo de formação de
professores. O processo formativo que investe em discussão, reflexão e socialização das
práticas pedagógicas de alfabetização pode contribuir de maneira mais efetiva para as
mudanças na própria prática” (TASSONI; FERNANDES, 2015, p 146).
Nessa direção, Pimenta (2002) evidencia a importância da reflexão coletiva e o papel da
teoria nesse processo, possibilitando uma análise das condições concretas da escola.
Ibiapina (2017), por sua vez, ao defender uma formação em serviço pautada na
colaboração, destaca que as possibilidades de transformação nos modos de pensar e
de agir são resultados da negociação de sentidos e significados que emanam do coletivo.
Todos os 645 grupos de pesquisa identificados nesse levantamento sugerem uma forte
preocupação com a melhoria do ensino e das condições de trabalho dos professores,
por meio das investigações e estudos no campo da formação inicial e continuada.
Segundo Gatti (2010, p.1359)
hoje, em função dos graves problemas que enfrentamos no que diz respeito às
aprendizagens escolares em nossa sociedade, a qual se complexifica a cada dia, avoluma-
se a preocupação com as licenciaturas, seja quanto às estruturas institucionais que as
abrigam, seja quanto aos seus currículos e conteúdos formativos.