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DOI: https://doi.org/10.17648/2238-037X-trabedu-v28n3-12116
O CURRÍCULO DO CURSO TÉCNICO DE MINERAÇÃO NO ALTO
PARAOPEBA/MG: RELAÇÕES ENTRE FORMAÇÃO, POLÍTICAS
EDUCACIONAIS E O MUNDO DO TRABALHO
1
The curriculum of Technical Mining Course in the Alto Paraopeba/MG:
relations among formation, educational policies and the world of work
ALBUQUERQUE, Shahla Cardoso
2
NORONHA, Vânia
3
RESUMO
A presente pesquisa foi desenvolvida na Região do Alto Paraopeba/MG e se refere a um estudo
acerca do currículo do curso técnico em mineração. Tomamos como ponto de partida as seguintes
questões: que concepções de currículo subsidiam a proposta do curso técnico de mineração? Como
o curculo vem sendo organizado nas escolas para formar o cnico em mineração com base nas
exincias legais, bem como dos documentos oficiais, previstos para esta modalidade? O que se diz
e o que se faz em relação à organização curricular deste curso? Nosso objetivo foi analisar as
políticasblicas para a educação profissional docnico em minerão e desvendar como a
instituão pesquisada alinha seu processo de organização, discussão e implantação do currículo a
elas. Buscamos compreender a proposta deste curso, tendo por refencia as contribuões teóricas
sobre o curculo e as mudanças ocorridas na legislação educacional brasileira desde sua
implantação, tendo por referência autores como Michael Apple, Tos Tadeu Silva, Marise Ramos,
Gauncio Frigotto, entre outros. Para contextualizar o estudo, reportamos à história da mineração no
Brasil e da região estudada. O cus de pesquisa foi o Centro de Educação Profissional e Tecnológica
General Edmundo Macedo Soares e Silva CET, o que a caracterizou num estudo de caso. Após a
alise dos dados coletados concluiu-se, dentre outros aspectos, que, embora cada peodo hisrico
apresente documentos e propostas oficiais distintas, os curculos passam por poucas mudanças,
estabelecendo uma cultura escolar tradicional e, ainda, a burocrática adequação às exigências legais
nem sempre conduzem à uma reflexão sobre a ptica escolar.
Palavras-chave: Currículo. Educação Profissional. Curso cnico de Mineração.
ABSTRACT
This research was developed in the Alto Paraopeba Region, Minas Gerais, and it refers to curriculum
of the technical mining course. As the starting point for this study is to analyze the following questions:
which curricular conceptions could subsidize the proposal of the technical mining course? How has the
curriculum been structured in order to respond accordingly to legal requirements and official
information treatment both evidently regard to mining course? What is discussed and what is done
related to curriculum structure of the course in question? Our aim was to go through the public policies
1
O texto foi apresentado e publicado anteriormente no 6º Seminário Educação e Formação Humana | I Simpósio Educação, Formação e
Trabalho (2018) da UEMG; (ii) passou pela avaliação de Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) da PUC-MG; (iii) é resultante da pesquisa
de mestrado: O currículo de um Curso Técnico em Mineração na Região do Alto Paraopeba: hisria, construção e prática na Educação
Profissional.
2
Doutoranda em Educação pela Ponticia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), Mestre em Educação pela PUC-Minas,
Graduação em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Congonhas. Pedagoga no Instituto Federal de Educação,
Cncia e Tecnologia de Minas Gerais IFMG - campus Congonhas. E-mail: shahla.albuquerque@ifmg.edu.br.
3
Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo-USP, Mestre em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG,
Graduação em Educação Física pela Pontifícia Universidade Calica de Minas Gerais- PUC-Minas. Professora do Programa de Pós-
Graduação em Educação da PUC-Minas. E-mail: vaninhanoronha@gmail.com.
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for professionals education and to uncover how the researched institution aligns its processes of
organization, discussion and implementation of those policies. We seek to comprehend the proposal of
this course having as references theoretical contributions on the curriculum and the changes that have
taken place in the Brazilian education since its implementation. Therefore, the authors Michael Apple,
Tos Tadeu Silva, Marise Ramos, Gauncio Frigotto, among others, are considered referecences
for this work. In to order to establish context, we report on history about the mining in Brazil and in the
studied region. The locus of research was the Center of Professional and Technological Education
General Edmundo Macedo Soares e Silva - CET, which it was characterized in a case study. After
analyzing the collected data, it was concluded that, although each historical period presents different
official documents and proposals, the curricula undergo few changes, establishing a traditional school
culture. Bureaucratic compliance with legal requirements does not always lead to a reflection on school
practice.
Keywords: Curriculum. Professional Education. Technical Mining Couse.
INTRODUÇÃO
Neste artigo serão apresentados os resultados de um estudo realizado na Região do
Alto Paraopeba/MG sobre o currículo do curso técnico de mineração, motivado pela
predominância das instrias do setor mínero-metalúrgico na localidade e a
necessidade de compreender o processo de formação/qualificação de pessoas para a
atuação no mesmo. Buscamos compreender as relações educacionais e políticas que
se estabelecem no âmbito do currículo e do mundo do trabalho numa escola
profissional da região.
Tendo em vista as mudanças legais ocorridas em torno da educação profissional ao
longo de sua história e a compreensão do objeto deste estudo, nos direcionamos pelas
questões: que concepções de currículo subsidiam a proposta do curso técnico de
mineração? Como o currículo vem sendo organizado nas escolas técnicas da região
do Alto Paraopeba para formar o técnico em mineração tendo como base as
exigências legais, bem como, os documentos oficiais, previstos para esta modalidade?
O que se diz e o que se faz em relão à organização curricular deste curso?
Desse modo, foi eleito como lócus de pesquisa o Centro de Educação Profissional e
Tecnológica General Edmundo Macedo Soares e Silva-CET por ser a escola técnica
mais antiga da região, o que caracterizou esta pesquisa como um estudo de caso.
Enquanto pesquisa qualitativa, as cnicas utilizadas para responder às questões
mobilizadoras foram a análise documental e entrevistas semiestruturadas. O objetivo
principal foi o de analisar as políticas para a educação profissional do técnico em
mineração e identificar como a instituição pesquisada alinha (ou não) o processo de
organização, discussão e implantação do seu currículo.
A contextualização do corpus estudado se deu com o entrelaçamento da história da
mineração no Brasil e desta região, desde o ciclo do ouro, arte barroca e os
primórdios da mineração como pano de fundo para análises contemporâneas de
suas relações com o percurso da educão profissional. As teorias do currículo e as
políticas blicas educacionais ampararam a análise do corpus coletado no campo e
possibilitou a triangulão de dados históricos, políticos, teóricos e práticos que
circundam o currículo do curso técnico de mineração.
As contribuições teóricas do currículo de Apple (1999, 2002), Ramos (2002, 2014) e as
documentações internas do CET, em especial as relacionadas ao curso desde a sua
implantação foram referências fundamentais para a realizão deste estudo. Tais
teorias e artefatos foram de suma importância para a compreensão do currículo como
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um campo de disputa, em que as relões de poder interferem na determinação de
qual conhecimento será oferecido aos diversos grupos da sociedade.
Ao se estudar este curso de minerão, considerando o contexto que circunda a
Região do Alto Paraopeba, algumas reflexões surgiram acerca da formação crítica dos
cidadãos desta localidade, quanto aos impactos da mineração nas bacias aquíferas do
quadrilátero ferrífero e também dos ambientais gerados com a exploração mineral e as
atividades siderúrgicas. Estas reflexões se intensificaram no decorrer do
desenvolvimento do estudo diante do rompimento da barragem de rejeitos da empresa
Samarco em Mariana em 2015
4
. A preocupão da populão em relação à segurança
é grande. Consideramos que a formação crítica do profissional se relaciona também
com estes impactos. As abordagens desta educação profissional eso previstas na
Resolão CNE/CEB nº 06/2012 que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educão Profissional e Tecnológica e se caracterizam como uma
especificidade regional sendo apropriada para ser tratada no curso técnico de
mineração. Desta forma, na busca de contribuir para a construção de uma formão
crítica do aluno egresso do curso de mineração, abordaremos o contexto histórico-
cultural da região, o cenário político-ecomico e educacional, a análise dos dados
coletados e considerões.
ALTO PARAOPEBA: RAÍZES HISTÓRICAS
Considerada um dos polos mínero-metalúrgicos mais importantes do Brasil, a região do
Alto Paraopeba é composta pelas cidades de Congonhas, Conselheiro Lafaiete, Ouro
Branco, Belo Vale, São Brás do Suaçuí, Jeceaba, Entre Rios de Minas e os municípios
adjacentes: Piedade dos Gerais, Desterro de Entre Rios, Queluzito, Casa Grande,
Cristiano Otoni, Carnba, Santana dos Montes, Itaverava e Catas Alta da Noruega.
Parte de sua área localiza-se no quadrilátero ferrífero, uma das extensões demarcadas
no espaço brasileiro como a mais rica em minério de ferro puro. A região recebeu este
nome por ser recortada pela bacia do Rio Paraopeba um dos afluentes do Rio o
Francisco e é reconhecida desde o período colonial por sua grande riqueza mineral, o
que levou à sua intensa exploração até os dias atuais.
Vários fatos marcam a sua história e são refletidos nos aspectos culturais e
econômicos. Um deles, responsável pelo crescimento do povoado, é a forte
religiosidade. A constrão das igrejas trouxeram para a região o Mestre Aleijadinho. O
artista é responsável pela construção de uma das mais importantes obras tombadas
pelo patrimônio da humanidade: os Doze Profetas e os Passos da Paixão de Cristo na
cidade de Congonhas. A relevância e importância desta obra enriquecem a história do
país, a arte barroca e a cultura mineira.
Dos acontecimentos que tiveram como palco a Região do Alto Paraopeba destaca-se o
ciclo do ouro, momento em que demarca o icio da exploração da mineração no ps
ocorrido no século XVIII. Esse período foi marcado pela relevância dos ideais liberais
influenciados pelas revoluções burguesas que se opunham ao absolutismo e ao
mercantilismo. A economia se expandiu com o início da exploração das minas de ouro,
o que ocasionou a mudaa de sua estrutura social até então dominada pelos
senhores de engenho cujo poder se fundava na propriedade da terra e na explorão
4
Infelizmente, a tragédia anunciada com o novo rompimento de barragem ocorrido na empresa Vale em Brumadinho (janeiro de 2019) e,
os riscos de tantas outras, atualizam as queses aqui discutidas.
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agrícola por meio do trabalho escravo. Anos mais tarde, com o esgotamento das minas
de ouro, a exploração mineral se voltou para a extrão do minério de ferro,
demarcando o icio de uma nova etapa da história da minerão no ps.
Com o esgotamento dos recursos minerais decorrentes das limitações técnicas e dos
métodos inadequados para a exploração aurífera, a região herdou uma economia
urbana consolidada. Contudo, os impactos naturais causados pela explorão mineral
se tornava uma preocupão dos viajantes que passavam pela região já no século XIX
(MILANEZ, 2011). Atualmente, a paisagem natural, modificada pela mão humana para
atender interesses do capital, ainda é motivo de preocupões para a população
podendo ser notada ao longo da BR-040 no trecho entre a capital Belo Horizonte e a
região .
Alguns eventos marcaram a passagem do séc. XVIII para o XIX em Minas Gerais
como a decadência da mineração após 1760 e a crise do sistema colonial com a
chegada da Corte Portuguesa ao Brasil em 1808. Nesta transição, a sub-região do Alto
Paraopeba que abrange os munipios de Bonfim, Brumado do Paraopeba, Brumado
do Suaçuí, Moeda, Belo Vale e Brumadinho recuou, passou a empenhar-se à
produção de subsistência e de autoconsumo frente ao enfraquecimento econômico dos
núcleos mineradores. Autoridades como o Conde de Linhares (após 1796) e Dom João
VI (após a chegada da Corte Portuguesa) incentivaram a produção regional de ferro
dando icio a uma nova fase da minerão no ps (SEDRU; CODAP, 2011). Como
forma de solucionar os problemas da mineração, D. João VI determinou a contratação
de naturalistas e engenheiros estrangeiros para o estudo da mineralogia brasileira com
o propósito de desenvolverem novas técnicas de extração do metal precioso. Segundo
Neto (2007, p. 386), o estado de Minas Gerais se abriu ao jovem Barão Wilhen Ludwig
Von Eschwege como umvasto laboratório de ensaio e pesquisa” onde teve a
oportunidade de desenvolver as suas capacidades no donio da avaliação,
experimentão e observação (NETO, 2007, p. 386). Entre as ações desenvolvidas
por Eschwege destacam-se, a fundação da Sociedade Mineralógica de Passagem,
primeira empresa de mineração que tinha por objetivo continuar a lavra da camada
aurífera da margem direita do Ribeirão do Carmo, em Passagem de Mariana e a
Fábrica de Ferro Patriótica de S. Julião (1812). As ruínas da fábrica são conservadas
pelo IPHAN e eso localizadas no terreno da empresa Vale.
Até o início do séc. XX a região passou por um período de estagnação. Com a
economia estabilizada e o esvaziamento das cidades as atividades agrícolas
predominaram. O crescimento da região foi acontecendo aos poucos caracterizado
como um importante centro comercial. Este quadro se alterou após um mapeamento
geológico ali realizado, que constatou uma grande fonte de minério de ferro, o que
permitiu a implantação de diversas empresas mineradoras (BARBIERI; RUIZ, 2010
apud MILANEZ 2011). Barbieri e Santos (2011) vislumbravam que:
[...] a região do Alto Paraopeba, em Minas Gerais, contará nos pximos quinze anos com
investimentos de mais de 20 bilhões de reais no setor minero-siderúrgico. Os empregos
gerados a partir desses investimentos serão fortes motores para a ampliação da renda da
população regional, além de servir como motivação para o deslocamento de pessoas de
outras regiões. Logo, os efeitos resultantes desses investimentos serão traduzidos em
mudanças demográficas, com a ampliação da imigração e, por conseguinte, do
crescimento populacional. Os investimentos também alterarão o padrão de
desenvolvimento regional e impõem aos planejadores o desafio de atender à população
crescente com serviços e infraestrutura. (BARBIERI; SANTOS, 2011, p. 2).
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Com o desenvolvimento local ocorreu uma migração para a região devido à promessa
de oportunidades de emprego. No entanto, ao contrário do esperado, este crescimento
gerou instabilidade na geração de emprego e renda uma vez que, o perfil profissional
para o preenchimento das vagas ofertadas exige um conhecimento especializado.
Para Barbieri e Santos (2011, p. 22), esta migração. [...] pode ser vista como
investimento gerador de desenvolvimento ao beneficiar indivíduos e falias. Contudo,
gera impactos negativos diversos que, ao contrário, podem gerar maior desigualdade e
pressão sobre o desenvolvimento do país.
A não existência de mão de obra especializada para suprir todas as demandas
profissionais das indústrias que se instalaram na região fez emergir a necessidade da
ampliação da oferta de uma formação técnica e humana dos indivíduos para atender
às empresas. É notória a articulão e atuação das multinacionais, siderúrgicas e
mineradoras na busca destes profissionais especializados para a manuteão da
expansão industrial. Estes acontecimentos reforçaram a necessidade de uma
organização maior dos municípios no atendimento da população quanto à assistência
básica e infraestrutura. O panorama demográfico das principais cidades do Alto
Paraopeba em 2010 de acordo com o IBGE era o seguinte:
Quadro 1 Quadro Populacional da Região do Alto Paraopeba
Município
População
Congonhas
48.723
Conselheiro Lafaiete
114.579
Ouro Branco
35.475
Jeceaba
6.036
São Brás do Suaçuí
3.657
Belo Vale
7.470
Entre Rios de Minas
14.548
Total
230.488
Fonte: Albuquerque (2016, p. 49), Dados extraídos de Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE,
2010.
Por sua vez, o mero de escolas dos municípios não era compatível ficando aquém
ao de moradores, principalmente ao considerarmos todas as modalidades de ensino:
Quadro 2 Relação de escolas por município
Município
Escolas
Estaduais
Escolas
Municipais
Escolas
Particulares
Instituições
de Ensino
Superior
Congonhas
4
29
2
1
Conselheiro Lafaiete
21
35
4
4
Ouro Branco
6
18
2
-
Jeceaba
1
4
-
-
São Brás do Suaçuí
1
1
-
-
Belo Vale
1
9
-
-
Entre Rios de Minas
4
9
-
-
Fonte: Albuquerque (2016, p. 49), Dados extraídos da Superintendência Regional de Educação de
Conselheiro Lafaiete SRE-CL (2015), Secretaria Municipal de Educação de Belo Vale, 2015.
Ao analisar estes meros, constatamos a concentração de oferta educacional em
Congonhas, Conselheiro Lafaiete e Ouro Branco. Esta realidade pode estar
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relacionada à ampliação dos recursos orçamentários destes municípios, com a
predominância da expansão industrial nestas localidades e também pelos aspectos
demográficos. Desta forma, tornou-se relevante os investimentos públicos e privados
na educação, pelos interesses políticos e econômicos em suprir parte da demanda
educacional. Os demais municípios seguem as normas governamentais previstas na
Constituição Federal quanto à obrigatoriedade de oferta da educação básica, sendo
parte responsabilidade do Estado e a outra do município. Em algumas localidades a
maioria das escolas situam-se na zona rural. Com esta realidade, os jovens que
buscam uma formação profissional e acadêmica precisam se deslocar para outras
cidades para o acesso a outras modalidades de ensino. A expansão da Rede Federal
de Educação Profissional e Tecnológica com a crião dos Institutos Federais em 2008
e a ampliação das universidades no país possibilitou mais oportunidades de estudos na
região com a implantação do Campus Alto Paraopeba da Universidade Federal de São
João Del Rei-UFSJ e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas
Gerais-IFMG nestes municípios. Ambas as instituições fortaleceram a educação
profissional e o ensino superior na região.
Quadro 3 - Relação de Escolas cnicas por cidades do Alto Paraopeba
Cidade
Escola
Características
Congonhas
CET-Centro De Educação Tecnológica General
Edmundo Macedo Soares e Silva
Escola Policnica Ramos
IFMG-Campus Congonhas
Particular
Particular
Pública Federal
Conselheiro
Lafaiete
Colégio Potência
Escola Policnica Ramos de Lafaiete
Escola cnica da Saúde
IFMG-Campus Conselheiro Lafaiete
Particular
Particular
Particular
Pública Federal
Ouro Branco
COOPED-Cooperativa de Profissionais da Educação
de Ouro Branco
IFMG-Campus Ouro Branco
Particular
Pública Federal
Fonte: Albuquerque (2016, p. 60). Dados extraídos da SRECL, 2015.
O LÓCUS, O OBJETO E A ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA
O lócus da pesquisa
Tudo começou no ano de 1958, a partir de um convênio firmado entre a Companhia
Siderúrgica Nacional-CSN, a Prefeitura Municipal de Congonhas-PMC e o Ministério da
Educação e Cultura-MEC. De acordo com os registros da instituição, a ideia da criação
de uma escola industrial surgiu de um encontro entre o General Edmundo Macedo
Soares e Silva Diretor da CSN e do Prefeito da cidade, Sr. José Teorio da Cunha,
visando o desenvolvimento da região e estimulados a resolver problemas relacionados
a impostos e taxas devidos ao município por parte da Mineração da Casa de Pedra
pertencente à CSN. Nesta época a lei de criação do Serviço Nacional de
Aprendizagem dos Industriários-SENAI (Decreto-Lei nº 4048/1942) previa a isenção de
contribuição de impostos dos estabelecimentos que mantivessem aprendizagem
considerada por ele adequada aos seus fins e com recursos próprios.
Uma das primeiras ações da escola após sua construção foi o Acordo CSN-SENAI. O
convênio firmado entre as três entidades MEC, PMC e CSN foi assinado em 1958
prevendo as responsabilidades de cada uma delas. À PMC, coube a responsabilidade
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de doar o terreno onde seria construída a escola; à CSN os encargos da construção e
também da manutenção da escola e ao MEC, a infraestrutura interna necessária tais
como mobiliário, equipamentos das oficinas, laboratórios, refeitório, administração, além
da assistência técnica e pedagógica. Também estabelecia que a administração da
escola fosse de responsabilidade da CSN que, por sua vez, criou uma fundação para
administrar não apenas esta escola, mas qualquer outro estabelecimento de ensino
criado por convênio semelhante e de responsabilidade da empresa, sem fins lucrativos.
A preocupação que se dava, era a de não introduzir seus métodos de administração
empresarial devido às diferentes necessidades da gestão de uma escola. Assim, a
Fundação General Edmundo Macedo Soares e Silva-FUGEMSS foi institda por um
ato público em 20 de abril de 1961, estando a Escola Industrial General Edmundo
Macedo Soares e Silva-EIGEMSS vinculada à CSN por seu intermédio. (FUGEMSS,
1962).
Em consonância com a legislão educacional deste período, a EIGEMSS iniciou seus
trabalhos ofertando gratuitamente os cursos de Ginásio Industrial até o ano de 1974 e
Aprendizagem Industrial a o ano de 1998. Estes cursos foram regulamentados pela
primeira LDB nº 4024/61. O curso ginasial era ofertado como ensino técnico e o curso
de Aprendizagem Industrial foi implantado por meio do Acordo CSN-SENAI e seu
Programa Geral de Ensino e Treinamento da CSN do Setor de Minas Gerais-SMG.
Este programa era voltado para os aprendizes e operários da CSN, com objetivo de
atender à preparação de mão de obra na formação de aprendizes e aperfeiçoamento,
além da promoção socioprofissional do trabalhador, permitindo-lhe acesso e um novo
status socioecomico (CSN; SMG; FUGEMSS, 1968, p. 1 grifo do autor).
Em 1969, o Curso Técnico de Eletromecânica foi implantado e, por se tratar de um
curso do segundo ciclo, levou a gestão da EIMGEMSS a solicitar à Diretoria de Ensino
Industrial de Minas Gerais-DEI-MG a autorização para a sua transformação em Colégio
Técnico Industrial. O parecer elaborado pela inspeção técnica explica que o
estabelecimento ainda não tinha todos os elementos necessários para ser considerado
como tal. No entanto, por haver vários aspectos relevantes a serem considerados em
relação aos resultados alcançados até então, pela excelente qualidade de ensino,
obteve a autorizão a título experimental. A responsabilidade da supervisão e
certificados foi direcionada para Escola Pandiá Calógeras de Volta Redonda (DEI-MG,
1969). Assim, no período entre 1969 e 1973, a EIGEMSS foi denominada Colégio
Técnico General Edmundo de Macedo Soares e Silva-COTEGEMSS. Pouco mais de
quatro anos depois este curso foi extinto e a escola retomou o seu nome de origem.
No passar de diferentes contextos políticos e econômicos do país, na década de
noventa do século passado, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso várias
privatizões de empresas públicas ocorreram. Fato este que definiu novos caminhos
para a CSN (privatizada em 1993) e gerou impactos econômicos no país. Isto, atrelado
à publicação da LDB nº 9394/96, resultou em uma nova configuração da EIGEMSS no
ano 2000. Seu nome passou a ser Centro de Educação Profissional e Tecnológica
General Edmundo Macedo Soares e Silva-CET e assumiu a educação profissional
como sua principal atividade. A FUGEMSS passou a ser denominada Fundação CSN
para o Desenvolvimento Social e a Construção da Cidadania. A partir de então, embora
a mantenedora da escola fosse a CSN por meio da Fundação, a instituição passou a
fazer parte da rede particular de ensino, com a oferta de bolsas de estudo. Atualmente
são oferecidos Cursos de Aprendizagem Industrial-CAI, ensino fundamental, ensino
médio, cursos técnicos nas formas subsequente e concomitante, programas de
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parceria de formação profissional com empresas, cursos de aperfeiçoamento e o
CAPACITAR da CSN. Os fatos históricos e a tradição escolar constituída ao longo de
sua exisncia ainda são presentes.
Esse contexto diz das interferências do meio social no campo educacional e nos faz
concordar com a fala de Apple (2002) costumes, concepções ideológicas e culturais
foram arraigadas em sua história. O autor explica que,
[...] a influência da escola nos planos ideológicos, cultural e econômico é muito complexa,
não podendo ser totalmente compreendida através de fórmula simples. Existem sim
ligações muito fortes entre conhecimento formal e informal dentro da escola e a sociedade
mais ampla com todas as suas desigualdades. Entretanto, uma vez que as pressões e
demandas dos grupos dominantes são intensamente mediatizados pela história de cada
instituição educacional e pelas necessidades ideológicas das pessoas que de fato nelas
trabalham, os objetivos e resultados, serão também frequentemente contraditórios. Sejam
quais forem esses objetivos e resultados, entretanto, o fato é que há pessoas de verdade
tanto sendo ajudadas quanto prejudicadas dentro desses edifícios (APPLE, 2002, p. 46).
O objeto de pesquisa e a análise do corpus coletado
O curso técnico em mineração foi implantado em 2003 no CET. Momento em que as
legislações educacionais vigentes para a Educação Profissional de Nível Técnico eram:
Decreto nº 2208/97, Resolução CNE/CEB nº 04/99 e Parecer CNE/CEB nº 16/99. Para
a implantação do curso, todas as regras contidas nestas normas foram cumpridas e
validadas pelo Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais-CEE-MG. Em
conformidade à Resolução CEE-MG nº 449/2002, o reconhecimento do curso ocorreu
após cinco anos e foi renovado pelas Portarias CEE-MG nº 890/2010 e CEE-MG nº
1410/2010. No momento da coleta de dados da pesquisa a escola estava se
organizando para se submeter a mais um processo de reconhecimento. A sequência
das ações para obtenção da autorizão e reconhecimento do curso é explicada neste
relato de um funcionário:
[...] Porque quando vo manda um projeto, solicitação, projeto de autorização, você tem
que mandar a matriz, vo tem que mandar para cada professor que vai trabalhar com
cada disciplina, antes de começar. Por exemplo, o curso é o ano que vem, 2016. Em 2015
vo entra com o processo de autorização do curso [...] o professor tem que estar com a
habilitação autorizada pela 8a Superintendência de Conselheiro Lafaiete [...] a gente
também costuma cha-los pra esta conversa, já com as informações que a gente
adquiriu junto às empresas. Que a gente não faz nada sem consultar as empresas, senão
a gente vai dar um tiro no escuro. A gente tem que fazer uma coisa que realmente vai fazer
bem feito. (ALBUQUERQUE, 2016, p. 125. Depoimento de um funcionário, dados da
pesquisa).
A realização da pesquisa de demanda junto à empresa é fundamental para o icio de
uma discussão acerca da constrão do currículo. É a partir daí que o CET organiza
seus cursos, como se confirma na fala deste entrevistado:
Olha, parte da demanda que nos chega. Nós somos uma fundação, porque oferecemos
bolsas de estudo, 20% de bolsas. Então temos que olhar quando você tem uma demanda
pra curso, vo tem que saber se a gente vai conseguir ter uma estrutura pra atender e a
questão de valores. Mas pra gente fazer isto primeiro a gente tem a demanda. A gente
percebe a demanda do mercado e procura aqui na escola. Vou dar um exemplo:
mineração. Tem procura por mineração. A gente tá numa região de mineradoras, [...]
quando nós definimos, oferecer mineração é porque tem muita demanda de mão de obra.
(ALBUQUERQUE, 2016, p. 121. Depoimento de um funcionário, dados da pesquisa).
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Para a implantação do curso tamm é verificado se a escola dise da estrutura
necessária para o seu funcionamento, conforme previsto na legislação. Outro fator
considerado é o contexto ecomico. Se a procura não for o suficiente para que o
custo financeiro do curso seja garantido o haverá a oferta. No Projeto Pedagógico do
Curso-PPC analisado, a justificativa para a sua oferta compreende em síntese o
contexto histórico da região, a expansão das mineradoras e a consequente
necessidade de técnicos em mineração no mercado dada a demanda da o de obra.
Notamos que a parceria entre a escola e as empresas é concreta em todas as ações
que circundam a elaboração do currículo:
Art. 109 para a organização dos planos de curso, buscar-se-á a cooperação das
empresas que atuam na área de formação profissional em questão, de forma a se
manterem permanentemente atualizados os conhecimentos, as habilidades, as atitudes e
as técnicas necessárias ao exercício dos concluintes dos cursos (CET, 2015, p. 57).
Esta relação com as empresas é destacada em vários depoimentos:
E pra gente montar nossa matriz, a gente ainda tem um trabalho de pesquisa junto a
empresa. A gente tem, é ligado a CSN, temos professores que trabalham conosco eo
funcionários, e a gente procura a empresa, professores ligados a área de mineração,
supervisores da empresa [...] Vai e verifica qual o perfil de profissional de mineração eles
estão precisando pra gente fazer um curso mais atualizado, pra que quando o aluno esteja
aqui formando, ele tenha condições de ingressar numa destas empresas e ter sucesso.
(ALBUQUERQUE, 2016, p. 122. Depoimento de um funcionário, dados da pesquisa).
Como a gente tem estas empresas que são parceiras nossas, a gente pede alguém da
área de mineração da ppria empresa pra ver se aquilo que tá sendo cobrado é o que
está propondo. (ALBUQUERQUE, 2016, p. 122. Depoimento de um funcionário, dados da
pesquisa).
As parcerias firmadas pelo CET permitem refletir sobre alguns aspectos em torno da
relação de poder do sistema capitalista sobre a educação. Podemos começar pelos
valores sociais e econômicos e o corpus formal do conhecimento escolar que são
preservados nos currículos, nos métodos de ensino, princípios, padrões e formas de
avaliação. (APPLE, 1999). Outro aspecto relevante, diz respeito a esta contribuição das
empresas na formulação de um currículo que atenda ao mercado. Se já existe no
currículo um reflexo das relações sociais, culturais, econômicas e políticas, a validão
pelas empresas distancia ainda mais a sociedade das concepções emancipatórias que
permeiam uma possível educação libertária. Desta forma o currículo é fruto da relão
que se trava entre o que é exigido pela sociedade capitalista e o conhecimento
legitimado para tal (APPLE, 1999; RAMOS, 2002; YOUNG, 2010; ARROYO, 2011).
O CET é uma escola muito organizada quanto à infraestrutura e organograma,
respeitando às exigências do MEC, CEE-MG e as condições estabelecidas no
Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos para o funcionamento do curso de mineração.
Notamos que o perfil do egresso do curso definido no PPC, embora atenda às
exigências legais, volta-se também para os interesses empresariais, tendo em vista
que, as demandas empresariais levantadas nas pesquisas que antecedem a
elaboração do curso são consideradas para delinear esse perfil.
A atualização dos documentos internos quanto às mudanças legais ocorrem seguindo
um fluxo semelhante ao da implantação do curso como nos diz os entrevistados:
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[...] geralmente a secretaria que passa pra gente e a gente vai na secretaria da educação.
[...] Feito isto, a gente tem o conhecimento de tudo o que está sendo cobrado o que tá
pedindo. Aí a gente faz uma reunião onde é envolvido primeiro a parte técnica e a parte
pedagógica. Definido dentro da legalidade a gente chama os professores do curso pra
gente ver qual a melhor maneira pra trabalhar o que está sendo exigido. [...] se realmente
esta dentro da legalidade. E assim a gente desenvolve o plano de curso pra ser trabalhado
na matriz.
Muita coisa que a gente discute aqui, a gente acaba discutindo com base no que a gente
ouve de aluno, de um professor, que a gente ouve de pais. Então assim, existe uma
cooperação de todos, não diretamente. Mas com base no que a gente ouve na conversa
diária, e que a gente tem com eles. Então assim, existe uma contribuição sim por parte de
todos. (ALBUQUERQUE, 2016, p. 124. Depoimento de um funcionário, dados da
pesquisa).
Embora esteja previsto no regimento, que o PPC seja elaborado cooperativamente
pelo corpo docente, pedagogos, coordenão técnica, após ouvir a comunidade [...]
(CET, 2015, p. 57), a fala dos entrevistados mostra que a participação da comunidade
acadêmica nas decisões acontecem por meio do diálogo informal e atendimentos
realizados do cotidiano escolar.
Nos documentos analisados é perceptível a influência das teorias administrativas, bem
como do perfil de competências (influenciadas por Perrenoud, 1999) traçado pela
Resolão CNE/CEB nº 04/99:
Art. 105 a formulação dos planos de curso dos cursos de educação profissional técnica e
de especialização técnica de nível dio, obedecerá as diretrizes estabelecidas pelos
sistemas de ensino que estabelecerão a carga horárianima para os cursos, os
conteúdos nimos, as habilidades e competências básicas por área profissional
conforme legislações vigentes (CET, 2015, p. 56, grifo nosso).
Se o currículo é submetido a uma prova de relevância social, pela dimensão do valor
histórico e social dos conhecimentos, não deveria ser restrito ao desenvolvimento de
habilidades e competências. Isto pois, das transformações sociais e do conhecimento
podem-se extrair aprendizados que estão além do que se propõe esta concepção.
Sendo a sociedade dinâmica, diversificada e em constante mudança, os métodos de
aprendizagem deveriam acompanhar também os fatores externos e conjunturais. Do
contrário, o ensino se torna rígido, focado apenas nos aspectos econômicos, não
ampliando a leitura de mundo dos sujeitos.
Com a publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio e
também para a Educação Profissional e Tecnológica em 2012 (Resoluções CNE/CEB
nº 02/2012 e 06/2012) as escolas teriam que se adequar às novas regras já em 2013.
Assim, esperava-se no momento do desenvolvimento do trabalho de campo desta
pesquisa, as discussões e adequações documentais neste curso tivessem ocorrido
tendo por base as novas perspectivas inseridas na legislação e, por conseqncia, no
currículo quanto à formação dos sujeitos. Constatamos que no plano do curso ou nas
matrizes referentes dos anos de 2013, 2014 e 2015, não foram evidenciadas
discussões, alterações e/ou atualizações que fizessem menção à esta nova normativa.
No entanto, percebemos que, embora não tenham se evidenciado no Projeto Político
Pedagógico da escola e no Projeto Pedagógico do Curso as mudanças legais
ocorridas em de 2012, o currículo do curso técnico em minerão apresentou
alterões constantes em sua prática no período de 2003 e 2015.
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O curso técnico de mineração do CET é oferecido no turno noturno voltado para
trabalhadores e conforme surge demanda, também no diurno. O curso é presencial,
semestral, portanto modular, de ingresso anual. Sua carga horária totaliza mil duzentas
e cinquenta horas distribuídas entre as aulas práticas e teóricas além de quinhentas
horas de estágio. Esta carga horária é organizada com hora-aula de cinquenta minutos,
sendo cinco diárias e vinte e cinco semanais. Assim, semestralmente os alunos têm
quatrocentas e dezesseis e seis horas e vinte minutos, com cem dias letivos. Entre
2003 e 2015 foram elaboradas treze matrizes, as quais não apresentaram grandes
mudanças curriculares. Ao questionar os entrevistados sobre a motivação para a
alterão das matrizes, recebemos como justificativas as mudaas tecnológicas
empregadas pelas empresas na extração do minérios; o déficit na aprendizagem da
matemática e português dos alunos que ingressam na instituição; as orientações da
SRE-CL quanto à nomenclatura do curso ou de disciplinas; as necessidades das
empresas da região e as alterações na legislação.
Quanto à dimensão técnica e as atividades práticas, o projeto pedagógico prevê aulas
nos laboratórios e a exincia de que o estágio supervisionado seja realizado dentro da
indústria. A privatizão das empresas estatais, o crescimento populacional que
rompeu com a tradição de empregar os filhos dos operários, a competitividade atual,
são fatores que interferem na realização do estágio. Sabemos que o acesso às
indústrias para a sua realização é bastante restrito a toda comunidade, pelo grande
número de jovens que eso à procura de oportunidades e pelas responsabilidades das
empresas com os estagiários regulamentadas pela Lei de Estágio de 2008. Para
preenchimento das vagas de estágio, as empresas organizam e promovem processos
seletivos complexos, organizados em várias etapas (alise de currículo, dinâmica de
grupos, entrevistas, psicotécnico, exame médico). No CET o aluno conta com a
Coordenação de Estágio para acompanhar o processo de formalização e com um
professor orientador para a elaboração do relatório. Esta coordenação é responsável
pornegociar com empresas a celebração de convênios de estágio e zelar pelo correto
cumprimento de todos os aspectos legais e educacionais. (CET, 2003, p. 10).
Aos alunos que já trabalham ou trabalharam na área do curso é dada a possibilidade
de a atividade profissional ser aproveitada como estágio. A instituição também adotou
uma metodologia de projetos como alternativa, para os alunos que não tenham
oportunidade de fazer o estágio dentro da indústria. A proposta desta metodologia é de
que o aluno cumpra a carga horária de estágio desenvolvendo um projeto que
oportunize a aplicação dos fundamentos aprendidos durante o curso e assegure que
as competências técnicas e atitudes exigidas para o perfil profissional seja aplicado.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS
O reconhecimento do CET como uma das principais escolas do Alto Paraopeba se deu
pela importância da EIGEMSS na formão de profissionais para as empresas da
região, o que continuou sendo um prosito após as mudanças político-econômicas
ocorridas no país na década de 90 do século XX. Desde a fundão da escola as aulas
ocorriam tendo como metodologia a relação teoria e prática com a utilização dos
laboratórios. Na época, a maquinaria era mais mecanizada do que computadorizada, o
quadro econômico e político foi marcado pela ditadura, e as grandes empresas do país
eram estatais. As mudanças tecnológicas ocorridas trouxeram novas exigências
reforçando ainda mais o modelo de ensino pautado na relão teoria-pratica.
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Como vimos, o CET organizou e implantou o currículo do técnico em mineração
fundamentando-o pelas legislações educacionais da época e desde o começo sua
proposta curricular voltava-se para atender às necessidades do mercado. Das
conceões que subsidiaram a proposta do curso, destacamos a pedagogia das
competências, a concepção tecnicista e a gestão de pessoas do ponto de vista da
administração. Acreditamos que, não apenas a conceão ideológica da escola, dada
a cultura constituída ao longo de sua existência e os seus objetivos, mas também a
influência ideológica incutida na legislação da época tiveram influência na
predominância destas teorias em sua prática. No currículo do curso ocorreram algumas
alterões quanto à nomenclatura, alternância de disciplinas nas matrizes, aumento e
diminuição da carga horária, respeitando o estabelecido na legislação educacional e as
suas normas complementares, tendo foco em seu objetivo principal que é atender as
demandas do mercado. Isto comprova e mostra que a missão do CET é formar
trabalhadores para a empresa, de acordo com as necessidades sociais e as
exigências do mercado conforme definido no PPP (2014) e no Regimento (2015).
Observamos que as disciplinas de cunho técnico são as mesmas desde a implantação
do curso e que, apesar de ter havido um ajuste de carga horária de algumas
disciplinas, o houve alteração nos conteúdos previstos.
Muito embora exista uma conceão de que na Região do Alto Paraopeba não há o
número de profissionais suficiente para suprir a mão de obra necessária para as
empresas ali implantadas, percebe-se um impasse em relação ao número de pessoas
capacitadas, formadas nas escolas técnicas da região, sobretudo o CET. Se a escola
realiza uma pesquisa quanto à demanda da empresa, se organiza para ofertar um
curso que tenha potencial para formar um profissional aos moldes e regras
determinados por ela, os índices de desemprego na região deveriam ser bem
menores. Além disto, dado que durante o período de abrangência da pesquisa 2005
a 2015 muitos alunos concluíram um curso técnico no CET e em outras escolas,
estima-se que o mercado os absorveria enquanto trabalhadores destas empresas,
frente à escassez de profissionais tão propagada pelo segmento empresarial. Também
há de se levar em conta, o tempo de permancia e produtividade de um sujeito no
mercado de trabalho que é longo. Assim, entendemos que um movimento contrário
deveria ocorrer: o crescimento do número de trabalhadores e o a falta de mão de
obra. Identificamos que as empresas justificam essa realidade alegando a má
qualidade dos cursos ofertados, falta de qualificação e atualizão do trabalhador e
também do perfil exigido para ocupação das vagas disponíveis. Dada esta realidade,
constatamos que, de um modo geral, para atender à indústria e a empresa, a
educação formal é insuficiente diante das demais exigências do mercado de trabalho.
Para ser um profissional que atenda à essas exigências, são necessários outros
atributos que, em sua maioria são específicos a cada empresa ou oportunidade
disponível. De um modo geral, as teorias administrativas que regem a gestão de
pessoas no mercado de trabalho elencam uma série de habilidades que o bom
profissional deve possuir. Ou seja, não basta a este mercado o conhecimento do
trabalhador oferecido pela educação formal de um curso cnico. O perfil profissional
exigido requer habilidades como relacionamento interpessoal, criatividade, proatividade,
solução de problemas, entre outros. No entanto, para as empresas essas habilidades
não estão incutidas de modo eficaz na composição do currículo escolar.
REFERÊNCIAS
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Data da submissão: 01/03/2019
Data da aprovação: 30/11/2019