Trabalho & Educação | v.29 | n.2 | p.15-28 | maio-ago. | 2020
ampliação do número de municípios atendidos, matrículas efetivas de estudantes e
número de servidores (as).
Uma terceira conclusão desta pesquisa permite inferir que a Educação Profissional e
Tecnológica está diretamente integrada e sofre influências do padrão de acumulação do
capital, que vem se modificando ao longo da história. Mais recentemente, com o uso de
tecnologias, há mudanças profundas no processo de produção e, com isso, novas
habilidades são exigidas dos trabalhadores. Contraditoriamente, desqualifica-se a
educação pública e se pretende desconstituir a rede de Educação Profissional e
Tecnológica, a qual nos referimos acima; assim como, a educação pública em sua
totalidade. Verifica-se, portanto, um recrudescimento na dualidade apontada em nossa
primeira conclusão.
A partir desta posição, é preciso reconhecer o sistema educativo dual e considerar a
concepção de Fernandes (1989):
Há muitos que pensam na educação para a classe trabalhadora como uma educação
exclusivista. É trabalhador? Então vai ser operário, ele precisa de uma educação técnica,
precisa ser instruído, não educado; ele precisa ser adestrado, não polido, intelectualizado!
[...] Por que os que são proprietários dos meios de produção têm capacidade de comandar,
a arrogância de mandar, etc? Porque eles aprendem nas escolas uma educação de classe
e adquirem uma cultura geral que é uma cultura formativa. Temos de dar ao trabalhador
essa mesma educação. O trabalhador precisa conhecer o mundo, explicar o mundo e, para
isso não basta lhe dar adestramento (FERNANDES, 1989, p. 9).
De acordo com o expresso, a educação não pode ser um sistema dual, um formato para
a elite e outro para as camadas populares/classes populares/classe trabalhadora. A
educação e seu vínculo com o trabalho não pode ser pensada de uma maneira
determinante e limitadora para as massas, para a população em geral e de outra forma
mais científica para as elites. Nem pode apenas favorecer o capital e dar as costas para
a sociedade.
A educação é um bem, um direito público subjetivo, não pode ser uma mercadoria a ser
negociada por interesses particulares, nem deve submissão às regras do mercado. Caso
seja pensada como mercadoria, vira um produto comercializável, entra na lógica das
relações de troca e se transforma em mercadoria, como qualquer outra, servindo a lógica
da acumulação de capital. A educação, como o trabalho, é um direito social, não pode
ser um bem de consumo disponível apenas para quem tem poder aquisitivo de adquiri-
lo. É perceptível, na atualidade, que com o neoliberalismo e a globalização capitalista,
aumentou a mercantilização da educação, a mesma é, cada vez mais, considerada um
negócio, um empreendimento.
Da mesma maneira, como o trabalho, a educação pode ter uma dupla face, como nos
dizem Frigotto e Ciavatta (2002), servindo para a criação ou à destruição da vida. E, nesta
perspectiva, o conhecimento, a ciência não deve apenas ser prática, utilizável e gerar
produtividade para ser eficiente ao capital. A educação neste modelo esquece seu
compromisso social, revela a supremacia dos aspectos econômicos em detrimento dos
princípios sociais. E vimos, nas respostas das pesquisas, como os estudantes acreditam
na importância da educação para a qualificação da vida. Eles, os estudantes, sabem que
a educação impulsiona o crescimento e o desenvolvimento ajudando, inclusive, a
obterem melhores trabalhos. É por essa educação, que emancipa e contribui para a
qualificação da vida, que os movimentos e comunidades devem se engajar em uma luta