Trabalho & Educação | v.28 | n.2 | p.51-62 | maio-ago | 2019
mas antes a tentar denunciar essas formas de reconhecimento falseadas à luz da
exigência de um reconhecimento verdadeiro
.
O próprio Honneth tentou considerar este tipo de problema distinguindo formas de
reconhecimento ideológicas e formas de reconhecimento não ideológicas. Há ideologia
do reconhecimento quando uma instituição emite promessas de reconhecimento que ela
não pode satisfazer, e é este tipo de ideologia do reconhecimento que poderia ser
observada na organização atual do trabalho
. O problema não estaria, portanto, na
natureza das demandas por reconhecimento que provém dos indivíduos, mas no fato
que estas não são satisfeitas. O neomanagement seria solidário de um progresso frente
ao taylorismo, uma vez que formula promessas de reconhecimento mais satisfatórias
que aquelas do taylorismo, e o desafio hoje lançado à crítica social seria o de contribuir
para certificar-se de que a organização do trabalho e da sociedade permita satisfazê-las.
Pode-se, entretanto, objetar se o problema assinalado pelo conceito de ideologia pode
ser reduzido àquele de promessas não realizáveis. Classicamente, este conceito
designa igualmente a legitimação das dominações e desigualdades. Ou seja, os
problemas sublinhados por Kocyba conduzem à ideia de que as normas de
reconhecimento têm uma função ideológica neste sentido
, elas fazem aparecer por
isso mesmo o que há de problemático em conceber a passagem do fordismo ao pós-
fordismo como um progresso.
A sociologia do trabalho inspirada por Honneth se apresenta, por conseguinte, como um
espaço de debate mais que como uma escola homogênea. É, portanto, temerário
esboçar uma confrontação com a Psicodinâmica do Trabalho a qual, igualmente, poderia
ser mobilizada em benefício de diagnósticos sociopolíticos divergentes. Entre as duas
perspectivas, um ponto de desacordo diria respeito sem dúvida o ponto de vista a partir
do qual os diagnósticos são estabelecidos. Partindo do par conceitual expectativa de
reconhecimento e fato social do reconhecimento, os approaches Frankfurt anos tendem
a privilegiar a maneira pela qual as normas de reconhecimento estruturam os discursos
gerenciais e os efeitos de subjetivação que eles induzem. Do ponto de vista da
Psicodinâmica do Trabalho, é a própria atividade de trabalho que constitui o objeto de
análise, de sorte que a questão das técnicas de organização do trabalho é colocada em
primeiro plano, enquanto a questão do discurso gerencial aparece como secundária,
senão como mistificadora. A avaliação individualizada das performances e a démarche
da qualidade total constituem o coração do problema, a segunda implicando um
desconhecimento tendencial da realidade e da utilidade do trabalho, enquanto a primeira
oferece tão somente reconhecimento do trabalho pelos pares. Os discursos gerenciais
certamente não podem ser postos como simples discursos de legitimação exteriores às
atividades, na medida em que os indivíduos devem sempre se referir a eles para
descrever seu trabalho, mas a psicodinâmica do trabalho assinala que a experiência do
trabalho coloca os indivíduos em posição crítica frente às práticas discursivas gerenciais
funcionando como prescrição e promessa.
H. Kocyba, «Die falsche Aufhebung der Entfremdung. Über die normative Subjektivie- rung der Arbeit im Postfordismus», in M. Hirsch
(éd.), Psychoanalyse und Arbeit: Krea- tivität, Leistung, Arbeitstörungen, Vandenhoeck & Ruprecht, Göttingen, 2000; H. Kocyba,
«Selbstverwirklichungszwänge und neue Unterverfungsformen. Paradoxen der Kapilalis- mus Kritik», in Arbeitsgruppe SubArO (éd.),
Ökonomie der Subjektivität–Subjektivität der Ökonomie, Édition Sigma, Berlin, 2005.
A. Honneth, «La reconnaissance comme idéologie», in La Société du mépris, op. cit.
Poder-se-ia desenvolver esta discussão interrogando-se sobre a função do dispositivo Vae no pós-fordismo, a este respeito, veja-se D.
Laoppe, «Formes et vécus du déni de reconnaissance : retour sur l’échec en validation des acquis de l’expérience», et E. Renault,
«Reconnaissance ou validation? La reconnaissance entre critique et idéologie», in F. Neyrat (dir.), La Validation des acquis de l’expérience,
Éditions du Croquant, Broissieux, 2007.